284. Os Impérios Modernos e os Novos Bárbaros
Jober Rocha*
O vocábulo bárbaro, segundo nos informam os dicionários, passou a ser empregado pelos romanos após o primeiro século da era cristã, quando estes começaram a chamar de bárbaros todos aqueles que não se submetiam ao seu Império, não falavam o latim e não adotavam por religião o cristianismo. Tanto aqueles bárbaros quanto os romanos, de então, eram gente violenta, amante das conquistas, dos roubos, das pilhagens e acostumada a resolver pelo combate homem a homem as suas pendências e divergências.
Os bárbaros da época eram constituídos por três grupos principais: os Mongóis, os Eslavos e os Germanos.
Afora os grupos principais outros grupos menores existiam. Alguns deles eram subconjuntos destes grupos principais. Era o caso dos Hunos, migrantes da Ásia, de origem mongol e conhecidos por sua violência e crueldade; dos anglo-saxões constituídos pela união de três povos – Anglos, Saxões e Jutos – que migraram da atual Alemanha para a Grã-Bretanha; dos Francos, povo de origem germana que no século V, tirando proveito da invasão dos Hunos, conseguiu o domínio do território da Gália, controlando a Europa Central até o século VIII, quando ocorreu a sua divisão que originou várias nações, dentre elas a França.
Os Vândalos, por sua vez, fugindo dos Hunos foram para o Norte da África com suas frotas piratas e no século V saquearam Roma. Estiveram um período na Andaluzia ibérica, cujo nome se originou deste povo. Seu reino foi, finalmente, destruído no século VI pelos Bizantinos. Os Ostrogodos, que habitavam a Península Itálica, no século V se mesclaram com os Hunos e com os Bizantinos, ocorrendo a sua fragmentação. Os Visigodos eram habitantes da Península Ibérica e foram destruídos após uma invasão muçulmana no século VIII.
Segundo o que nos relatam os historiadores, portanto, a partir de fins do século IV, pressionados pelos Hunos, as tribos germânicas migraram em massa e de uma forma quase sempre violenta para o interior do Império Romano do Ocidente.
Dentre estas tribos, os Suevos, os Alanos, os Burgúndios, os Francos, os Vândalos e os Visigodos penetraram, saquearam e ocuparam a Gália, a Península Ibérica, a África e a Península Itálica. Anglos, Saxões e Jutos tomaram a Britânia.
Para defenderem Roma dos sucessivos ataques de determinadas tribos, os Imperadores costumavam recorrer, muitas vezes, ao auxílio de outros chefes bárbaros, ficando, em razão disto, à mercê destes. Assim, as invasões dos povos germânicos trouxeram desordem, destruição, fome e pilhagem ao já decadente Império Romano, precipitando a sua desintegração no final do século V.
Nas primeiras trinta linhas deste texto, portanto, encontram-se resumidos vários séculos de invasões, pilhagens, traições, sofrimentos e mortes de seres humanos. Todavia, nas próximas linhas mostraremos que nada disso mudou até os dias atuais.
No século XXI, portanto dezesseis séculos depois, tendo a população mundial evoluído de cerca dos 500 milhões de indivíduos, ao final do século V, para perto de 7,7 bilhões atuais, o comportamento violento que caracterizava os denominados povos bárbaros e as invasões que estes faziam de território alheio, seja qual fosse a razão que os motivasse, ainda continuam ocorrendo; apenas, com atores diferentes e oriundos de outros povos e de outras raças, que seguem hoje desempenhando o papel de novos bárbaros.
Da mesma forma, as razões que impeliam o Império Romano para a conquista de novos territórios e para a obtenção de mais poder e de mais riqueza, são as mesmas que ainda motivam os atuais impérios; ou seja, em síntese, a ambição e o egoísmo humanos.
As invasões dos bárbaros modernos, evidentemente, ocorrem por motivos diversos da velha e já mencionada pressão dos Hunos. Um desses motivos se deve ao aumento da miséria nos países mais pobres, cujas populações tentam emigrar para os países mais ricos em busca de melhores oportunidades de vida.
Outro motivo consiste nas levas de refugiados de países destruídos pela guerra, que buscam reconstruir suas vidas em países desenvolvidos onde ainda existe paz. Outra razão pode ser encontrada no fato de parcela significativa de estudantes de países cientifica e tecnologicamente fracos, buscarem o conhecimento e uma oportunidade de sucesso e reconhecimento nos países cientifica e tecnologicamente mais fortes.
Uma outra se deve a tentativa dos milhões de desempregados, existentes nos países pobres ou em recessão econômica, emigrarem, legal ou ilegalmente, para países desenvolvidos com grande oferta de empregos, em busca de uma oportunidade de trabalho e de um lugar ao sol.
Uma outra, ainda, pode ser devida ao fato de muitos habitantes de países com governos autoritários de natureza marxista, emigrarem para países democráticos onde os direitos humanos são respeitados. As causas, portanto, como podemos ver, são várias.
Tais emigrantes modernos, todavia, como os antigos bárbaros, carregam com eles, para os novos territórios que passarão a ocupar, um potencial de violência, latente e inaudito. A violência de que são potenciais portadores pode eclodir, de uma hora para outra, por razões várias.
Isto está ocorrendo nos dias atuais com os refugiados de guerra vindos de países islâmicos, que chegaram aos países da União Europeia como imigrantes. Por qualquer motivo agridem pessoas, depredam bens, etc. Julgam-se cidadãos dos países onde foram acolhidos, com os mesmos direitos dos naturais locais. E mais, querem implantar nestes locais (para todos os habitantes que ali vivem), os seus costumes e hábitos, os seus modos de vida e a sua religião. Aqueles que não seguem as suas regras sofrem diversos tipos de violência, desde verbal até física. A França e a Alemanha, recentemente, passaram por situações de graves conflitos sociais e raciais, iniciados pelos refugiados que para lá se dirigiram.
Ocorre o mesmo com os imigrantes, chegados à União Europeia, vindos das antigas colônias africanas, asiáticas e sul americanas. Estes trazem consigo seus costumes locais e tribais, distintos, muitas vezes, daqueles dos novos locais onde passaram a viver. Surgem daí desavenças, mal entendidos e conflitos, que têm gerado vítimas de ambos os lados. Atentados de ambas as partes, com vítimas fatais, têm ocorrido em diversos locais onde estes novos bárbaros se instalaram.
Nos USA, o atual presidente Donald Trump, deu início às obras de construção de um muro, separando o território do México do dos Estados Unidos. Pela fronteira entre os dois países, anualmente, milhares de emigrantes de todo o Continente Sul americano e do Caribe, além de mexicanos, adentram os USA como imigrantes ilegais, passando a viver, se reproduzir, violar as leis, impor seus costumes, delinquir e cometer crimes; ademais de trabalhar, quando conseguem algum emprego. O muro de Trump serviria para tentar conter esta invasão indesejável de migrantes, segundo as autoridades norte-americanas declararam.
Recentemente, no nosso continente, em decorrência da situação de convulsão social existente na Venezuela, milhares de refugiados daquele país vizinho buscaram abrigo no Brasil.
Nos governos brasileiros anteriores, de esquerda, as autoridades liberaram as nossas fronteiras para imigrantes oriundos de inúmeros países, notadamente de países comunistas e islâmicos, sem a necessidade de vistos de entrada. Isto fez com que enormes contingentes populacionais aqui ingressassem, praticamente, sem nenhum controle por parte das autoridades brasileiras.
A própria tentativa de instituir uma placa única para veículos de países pertencentes ao Mercosul, bem como o livre trânsito de pessoas e veículos entre estes países; a criação da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina) e da UNASUL (União das Nações Sul americanas, que previa a integração econômica, social, política e militar dos países da América do Sul), facilitaria a emigração e a imigração descontrolada entre os países do continente.
Felizmente, o novo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, retirou o nosso país destas duas organizações, pois o Brasil, como o país mais rico e com maior potencial de crescimento da América do Sul, tenderia a receber grandes contingentes populacionais de desempregados dos demais países, caso ainda continuasse a pertencer a estas organizações. A maior parte deste contingente iria sobrecarregar as nossas periferias urbanas, já sobrecarregadas, fazendo com que a violência e a criminalidade aumentassem sensivelmente.
O nosso país, com um crescimento pífio como o atual (quase em vias de recessão, após a má gestão dos governos de esquerda e devido ao imenso roubo de recursos públicos praticado, nas duas últimas décadas, por integrantes destes governos) e com alto índice de desemprego, estaria, caso pertencesse ainda àquelas organizações, recebendo hoje enormes contingentes de imigrantes que disputariam com os brasileiros as poucas novas oportunidades de empregos aqui disponíveis.
Voltando ao aspecto da violência que caracterizava os bárbaros de antanho, podemos constatar que aquela mesma violência ainda continua existindo na atualidade. Dezesseis séculos depois cabeças continuam sendo cortadas, corações arrancados dos peitos de cadáveres, corpos esquartejados e queimados em fogueiras humanas pelo mundo afora.
Em que pese o desenvolvimento científico e tecnológico experimentado pela raça humana desde a antiguidade, os velhos e violentos costumes continuam existindo e persistindo entre os novos bárbaros; como, também, entre os senhores dos novos impérios que surgiram desde então. Os impérios desenvolvem, cada vez mais e com maior intensidade, novas e mortíferas armas prontas para serem empregadas contra a menor ameaça inimiga. Inúmeros países já são potências atômicas e muitos outros trabalham para vir a se tornar uma delas. Os arsenais nucleares mundiais são suficientes para destruir o planeta dezenas de vezes, se isto fosse possível.
O mundo hoje é palco de alguns conflitos reais, localizados, e de diversos outros conflitos, potenciais e difusos, em vias de se transformarem em conflitos reais, na medida em que os novos impérios que surgem competem entre si pela hegemonia do poder mundial.
Enquanto isto, os novos bárbaros seguem emigrando de seus países natais em busca de melhores condições de vida, sem se darem conta que nada mais são do que simples escravos a buscarem um senhor melhor e mais compreensivo para quem servir, em uma eterna servidão consentida, da mesma forma como ocorre com todos os demais habitantes do planeta que, por terem tido mais sorte na vida, ainda permanecem em seus países de origem sem necessidade de emigrar.
Na antiguidade, populações inteiras eram dizimadas pela ação das armas, quer dos invasores quer dos invadidos. Hoje os métodos empregados para a redução de grandes contingentes humanos são mais sofisticados e dissimulados. Existem os Chemtrails (rastros químicos contaminantes do ar, do solo e das águas); os aditivos e conservantes alimentares, cancerígenos; os hormônios, vacinas e antibióticos dados aos rebanhos, que contaminam suas carnes e são absorvidos por aqueles que as ingerem; os alimentos transgênicos, cujos efeitos a longo prazo sobre os seres humanos são desconhecidos; a radiação nuclear e seus efeitos danosos sobre a saúde humana; a radiação eletromagnética cancerígena, emitida pelos aparelhos celulares; os vírus desenvolvidos em laboratórios; os efeitos colaterais de muitos dos medicamentos receitados e a própria violência urbana, incentivada pelas autoridades de alguns países, pegando de surpresa uma população previamente desarmada e sem possibilidades de defesa.
Não imaginem que isto faz parte de alguma Teoria da Conspiração, pois se trata de fato real. Os seres humanos estão sendo deliberadamente executados, de forma a manter-se uma população global compatível com a atual produção de alimentos e com o consumo meio-ambiental.
Todavia quando a guerra se torna necessária, segundo o ponto de vista dos atuais imperadores, ela é desencadeada mediante algum argumento moralmente justificável e politicamente correto, que faz com que seja aceita pela população que irá custeá-la e arcar com seus eventuais prejuízos materiais, sofrimentos físicos e mentais.
A Mídia, neste contexto, exerce um importante papel, qual seja o de legitimar para o público alvo, mediante a massificação da informação e a propagação da contrainformação e da desinformação, a ação quase sempre ilegal e descabida destes novos imperadores.
Outra coisa que se manteve com o passar do tempo e que ainda não foi mencionada, foram as vassalagens dos reinos e cidades-estados mais fracos para com os reinos e impérios mais fortes. Tais vassalagens eram tratadas diretamente pelos chefes, monarcas e imperadores que estabeleciam, entre si, os montantes anuais a serem pagos pelos vassalos. As populações, em sua totalidade, desconheciam estas obrigações. Parte daquilo que produziam era, sob a forma de impostos, destinada ao seu próprio monarca e outra parte ia para o monarca do seu monarca.
Isto ainda continua ocorrendo nos dias atuais, só que de forma mais sofisticada, como, por exemplo, através da criação de monopólios, oligopólios, cartéis, trustes, holding's, dos países centrais, que estabelecem tanto os preços dos insumos por eles comprados, quanto os preços dos produtos por eles vendidos aos países periféricos.
Através dos carteis (como a OPEP, uma organização criada pelos países produtores e exportadores de petróleo) são estabelecidas quais serão as quantidades anuais produzidas de determinados produtos e quais os seus preços no mercado internacional. Uma pesquisa efetuada nos Estados Unidos evidenciou o controle, principalmente no ocidente, exercido por dez grandes conglomerados internacionais que controlam quase tudo o que consumimos, estabelecendo seus preços. Embora cartéis, monopólios, oligopólios e trustes costumem ser proibidos em alguns países, todos fazem vistas grossas para as suas existências.
Assim, destas formas mencionadas (através do estabelecimento dos termos de trocas; isto é, das cotações dos preços dos produtos primários importados versus os preços dos produtos industrializados exportados; bem como do déficit ou superávit da Balança Comercial) os países centrais arrecadam as respectivas vassalagens dos países periféricos. Da mesma forma como ocorria na antiguidade, as populações atuais continuam sem se dar conta da vassalagem a que estão submetidas.
Como romper este ciclo vicioso que nos persegue desde a antiguidade? Como impedir que os seres humanos continuem ambiciosos, gananciosos e violentos? Como impedir a servidão e a vassalagem? Serão estes, males com os quais teremos que conviver eternamente? Passam-se os anos, os séculos e os seres humanos continuam, intrinsecamente, os mesmos? E a tão falada evolução espiritual pregada pelas religiões, será que não passará de simples retórica, de enorme falácia e de esperto engodo para adquirir seguidores e mantenedores?
Estas são boas perguntas para serem respondidas pelos teóricos das Ciências, da Filosofia e da Religião. Será que algum pensador, dentre estes imaginados, já terá vislumbrado a derradeira resposta?
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Membro da Academia Brasileira de Defesa.
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