segunda-feira, 1 de julho de 2019

283. Direita? Vou ver!


Jober Rocha*


                                         Como dizia o cantor e compositor Lulu Santos, nos idos de 1983:

 “Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará. A vida vem em ondas como um mar, num indo e vindo infinito. Tudo o que se vê não é, igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo. Não adianta fugir, nem mentir prá si mesmo. Agora, há tanta vida lá fora; aqui dentro, sempre como uma onda no mar”...
                                              A partir do ano de 1935 com a malograda Intentona Comunista, durante décadas, os adeptos do comunismo internacional militaram no Brasil tentando implantar, por bem ou por mal, um governo comunista. A doutrina marxista foi, durante todo esse tempo, insistentemente inoculada na mente de estudantes secundários e universitários, de trabalhadores e operários sindicalizados, de militares subalternos e do povo em geral. 
                                              Em inúmeras destas mentes, encontrando-as praticamente vazias, a doutrina vicejou e cresceu, possibilitando o surgimento de um campo fértil para a inoculação, anos mais tarde, de determinados defensivos e pesticidas contra as pragas democráticas; como, por exemplo, aqueles produtos desenvolvidos contra os fungos democráticos no laboratório prisional onde Antonio Gramsci  (filósofo, marxista, jornalista, crítico literário e político italiano, que escreveu sobre teoria política, sociologia, antropologia e linguística) trabalhou durante  os quase dez anos em que permaneceu preso em uma cela na Itália. Um dos principais pesticidas é conhecido como ‘A Cartilha de Gramsci’.
                                             Assim, a partir do ano de 1995, com a ascensão ao poder, em nosso país, de seguidos governos esquerdistas e das orientações emanadas do chamado Foro de São Paulo (organização criada em 1990 por Lula e Fidel Castro, que congregava centenas de partidos e organizações de esquerda de todo o continente sul americano), a doutrina marxista passou a ser livremente ensinada no país e medidas de cunho socialistas foram postas em prática nas universidades públicas e em organismos governamentais dos três poderes da república. 
                                                  Gerações de estudantes brasileiros de universidades públicas, notadamente da área de Ciências Humanas, tiveram suas mentes preenchidas com conceitos ideológicos falsos, inoculados por mestres militantes que se utilizavam dos livros escritos por filósofos marxistas e de suas teorias, para transformar em profissionais reacionários e antiliberais aqueles estudantes que deveriam se tornar profissionais liberais, depois de tantos anos de estudos custeados com o dinheiro do povo arrecadado através de pesados impostos.
                                                      Ao invés de ensinarem sobre as diversas correntes de pensamento existentes nos campos da Economia e da Filosofia, por exemplo, e deixarem a cargo dos alunos a opção de escolherem aquelas que mais lhes afigurassem como corretas e adequadas às nossas realidades, os mestres faziam um verdadeiro boicote às teorias dos economistas e dos filósofos que não fossem marxistas ou que, simplesmente, fossem considerados como “de direita”.
                                                      Por outro lado, professores alcunhados como “de direita” não eram admitidos nas faculdades ou, se já tivessem sido, não lhes davam classes ou turmas de alunos para lecionarem. Esta foi, infelizmente, a realidade brasileira das últimas décadas.
                                                 Nas mídias e nas redes sociais, por sua vez, pessoas de esquerda que se apresentavam como filósofos tentavam incutir nos internautas a visão de mundo do chamado ‘comportamento politicamente correto’, que nada mais é do que uma transvaloração de valores (conforme definição de Friedrich Nietzsche) promovida pela esquerda mundial, tentando modificar valores morais estabelecidos historicamente pela religião, por valores estabelecidos pela ideologia política. Esta cartilha da esquerda, em uma comparação jocosa, assemelha-se a uma Bíblia falsa, produzida e editada pelo Demônio, fazendo a apologia do inferno e a crítica do céu, mediante a denominada transvaloração de valores (quando se apresentam as virtudes como vícios e estes como virtudes).
                                                            Porém, como intuiu Lulu Santos, em 1983, na música ‘Como uma Onda no Mar (integrante do álbum ‘O Ritmo do Momento’ e citada no início deste texto), a maré virou e uma onda direitista começou por se formar na mente dos brasileiros mais esclarecidos e abismados com a degradação dos valores morais promovida pelos governos de esquerda que aqui se instalaram, desde 1995, como uma verdadeira Cleptocracia, interessada, além de implantar o comunismo, em privatizar em benefício do seu grupo de rapina as verbas públicas desviadas através de concorrências fraudadas e superfaturadas; bem como, dos imensos lucros obtidos com as atividades ligadas ao tráfico de drogas e de divisas, como também com o contrabando, etc.
                                                   Esta onda cresceu e, como enorme tsunami, alagou todo o país elegendo como presidente Jair Messias Bolsonaro, candidato liberal e de direita, a favor do sistema capitalista, da livre iniciativa, da desburocratização, da desregulamentação e do desaparelhamento da máquina pública (inchada ao longo das últimas décadas de governos de esquerda; mediante a contratação, com altos salários, de apadrinhados e militantes políticos).
                                                    Face a estas constatações, resolvi, portanto, como o título deste texto indica, ver como anda atualmente a direita em nosso país; posto que, a esquerda, embora tenha sofrido um forte golpe nas últimas eleições, ainda não foi ferida de morte e, calmamente, espera suas forças se recomporem para poder voltar, com toda a força que ainda possui, ao combate pelo poder no Brasil e no continente. 
                                                         Vale destacar que os partidos de direita, de uma maneira geral, no Brasil e mundialmente falando, incluem conservadores, democratas-cristãos, liberais e nacionalistas. Os da extrema direita incluem os nacional-socialistas e os fascistas.
                                                          A primeira observação feita foi a de que (em que pese a eleição de Trump nos USA e a de Bolsonaro no Brasil) face a um movimento global de tendência esquerdista, capitaneado pela chamada Nova Ordem Mundial, a maior parte dos países ocidentais ainda possuem governantes que se mostram, publicamente, como sendo de esquerda. Tais países são capitalistas em suas economias (que possuem regras próprias não afetadas pela ideologia), mas socialistas ou comunistas em algumas outras das suas expressões do poder nacional.
                                                       Neste contexto, Filósofos considerados como ‘de direita’ que se apresentam como tal nas mídias mundiais e nas redes sociais são pouquíssimos, em oposição aos considerados ‘de esquerda’ que são vários. Em nosso país tais filósofos, praticamente, inexistem. Existem aqui no Brasil alguns jornalistas, comentaristas e políticos que, por combaterem a esquerda venal, são, por esta, considerados direitistas. 
                                                      Todavia, falando estritamente sobre aspectos filosóficos conceituais, o único brasileiro que se destaca nas redes é um residente fora do país, morador no Estado da Virginia, nos USA, chamado Olavo de Carvalho. Por suas críticas aos militares brasileiros, em razão de terem estes permitido a ascensão ao poder dos ex guerrilheiros que pegaram em armas contra as Forças Armadas, durante o chamado Movimento Militar de 1964, ele tem sido estigmatizado e criticado por uma parcela de militares que vivenciou aquele episódio, muitos já na reserva e somente alguns poucos ainda na ativa.
                                                   A crítica de Olavo aos militares inclui, também, a passividade com que, segundo ele, os militares brasileiros se submeteram à chamada Comissão da Verdade, instituída no Governo de Dilma Roussef (ex guerrilheira, presa e condenada e posteriormente eleita para a presidência da República), cujo relatório final acusava vários chefes militares revolucionários, inclusive o patrono da Força Aérea Brasileira, Marechal Eduardo Gomes.
                                                    Olavo de Carvalho, todavia, é o único filósofo ‘de direita’ que critica o comunismo e suas manobras para se instalar em nosso país e no continente. Foi o primeiro a falar sobre a existência do Foro de São Paulo, muito antes de este ser conhecido dos brasileiros. 
                                                  Olavo possui uma legião de seguidores, inclusive o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. Dois de seus livros, ‘O Imbecil Coletivo’ e ‘Tudo o que você precisa saber para não ser um idiota’, venderam cerca de meio milhão de exemplares; sendo que tais livros vendem cerca de três mil exemplares por mês. Ademais, ele dá aulas de filosofia através do You Tube e comenta diversos assuntos políticos atuais.
                                                         Muitos intelectuais brasileiros, por sua vez, em razão de seus textos, de seus pronunciamentos ou das posições políticas que adotavam, ficaram sendo conhecidos também como de direita. Dentre estes encontram-se economistas, filósofos, jornalistas, cientistas sociais, profissionais liberais, juristas, políticos, empresários, militares, escritores, artistas, etc.
                                            Em uma pesquisa feita no endereço berakash.blogspot.com, pode-se encontrar os nomes de vários destes contemporâneos, considerados no blog como ‘de direita’; alguns deles, todavia, já falecidos, como, por exemplo: Roberto Campos; Octávio Gouveia de Bulhões;  Nelson Rodrigues; Helio Beltrão; Mário Henrique Simonsen; Paulo Francis; Otto Maria Carpeaux; Gustavo Corção; Plinio Corrêa de Oliveira; Armando Falcão; Rondon Pacheco; Magalhães Pinto; Josué Montello;  Augusto Frederico Schmidt; Antônio Olinto; Gilberto Freyre; Pedro Calmon. 
                                                      Ocorre, no entanto, que muitos destes intelectuais mencionados no blog, ainda vivos, não captaram a verdadeira dimensão e o profissionalismo das organizações de esquerda que atuam no país e no continente, apoiadas e assessoradas por agentes de potências estrangeiras interessadas na expansão dos governos de esquerda nos países da América do Sul e do Caribe. 
                                                      Em decorrência muitos deles viviam, e alguns ainda vivem, se criticando e se atacando, mutuamente, em um ‘fogo amigo’ causador de dissenções, de mal entendidos e de cizânia entre a direita. Enquanto a esquerda se mantem fortemente unida, buscando a sua sobrevivência em uma conjuntura adversa, na qual é combatida fortemente pelo atual presidente e seus eleitores; a direita encontra-se, muitas vezes, dividida e a própria equipe governamental apresenta vozes dissonantes e destoantes, além de serem comuns e constantes episódios e crises internas envolvendo vários de seus membros.
                                                      Parece que em nosso país muitas autoridades, em todas as expressões do poder nacional, ainda preferem o velho sistema político ao novo sistema que o presidente eleito Jair Bolsonaro e seus eleitores ambicionam implantar. No velho sistema o povo sempre perdia e as autoridades, notadamente as políticas, sempre saiam ganhando. No novo, o povo já percebeu que ele ganha e os políticos já perceberam que perdem; razão pela qual, praticamente, imobilizaram o Presidente da República impedindo ou dificultando as reformas que ele pretende ver implantadas. Na atualidade, por força da constituição cidadã, de 1988, embora teoricamente independentes, na prática, vigora a predominância do Legislativo e do Judiciário sobre o Executivo. 
                                                      O Poder Legislativo, de forma velada, através de um denominado parlamentarismo branco, retirou poderes do Poder Executivo, notadamente com o chamado Orçamento Impositivo, no qual emendas parlamentares passam a ter prioridade no Orçamento da União, fortalecendo os parlamentares em suas bases e facilitando-lhes a reeleição. Muitas matérias afetas, exclusivamente, às decisões do Executivo, foram transformadas em lei pelo Legislativo. Desta forma, o Executivo tem perdido, cada vez mais, o poder de realizar aquilo que pretende. 
                                                  O Poder Judiciário, por sua vez, usando a interpretação que dá às leis como argumento, torna inconstitucional muitos atos do Executivo, impedindo-o de exercer o seu poder. Como já declarou o próprio presidente, o Legislativo e o Judiciário pretendem transformá-lo em uma ‘Rainha da Inglaterra’; monarca que reina, mas não governa.
                                                    Os militares oficiais de carreira (outrora oriundos de famílias pertencentes às classes de renda A e B e formados nas escolas militares com base em uma doutrina notadamente anticomunista; principalmente após o episódio da Intentona Comunista de 1935), hoje em dia, com as mudanças curriculares e de orientação ocorridas nas escolas de formação, durante as duas últimas décadas de governos de esquerda (além do fato de a quase totalidade dos oficiais atuais serem oriundos de famílias das classes de renda B e C), já não pensam mais como os que vivenciaram o Movimento Militar de 1964, a maioria daqueles, hoje, ou já tendo falecido ou estando retirado, na reserva remunerada. 
                                           Os atuais oficiais militares se dizem constitucionalistas; mas, nas últimas décadas, a constituição já foi por tantas vezes rasgada, de fato e de direito, sem nenhuma reação concreta por parte deles, que parece já terem sido, definitivamente, suprimidos da vida pública brasileira aqueles antigos episódios de intervenção militar, constitucionalistas ou não.
                                                 Imagino, pelo que observo, que a chamada ‘direita brasileira’ somente se fará presente ostensivamente no cenário nacional, deixando de lado o receio de se mostrar e a retórica de suas declarações, assumindo verdadeiramente a condição de direita e com disposição para pegar em armas e lutar pelo seu país, mediante uma eventual reação violenta iniciada, antes, por parte da esquerda. Enquanto isto não ocorrer, a guerra entre esquerda e direita, no Brasil, será apenas de declarações e de acusações mutuas nas redes sociais.
                                                  Se o governo Bolsonaro conseguir bons resultados econômicos, efetuar as reformas que se fazem necessárias, conseguir sucesso no combate ao crime organizado e na redução da corrupção, o Brasil voltará ao antigo rumo e poderá, novamente, aspirar a se tornar uma potência mundial. 
                                                    Ao contrário, se seu governo continuar sendo boicotado pelo Legislativo e pelo Judiciário, se não conseguir implantar as reformas necessárias e o país continuar em recessão, teremos um próximo governo de esquerda. No caso desta última hipótese se concretizar, o nosso destino irá depender do cenário geopolítico e estratégico definido pelas grandes potências mundiais, na ocasião. Se não viermos a contar, nesta eventual possibilidade, com a ajuda dos USA para eliminarmos a ameaça comunista no Brasil e no continente, o nosso destino de país subdesenvolvido estará selado para sempre.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
       Membro da Academia Brasileira de Defesa.

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