quarta-feira, 31 de julho de 2019

288. O que os olhos não veem o coração não sente


Jober Rocha*




                                    Um velho ditado popular, cuja origem se perde na névoa dos tempos, afirma: “O que os olhos não veem o coração não sente”.
                                                   Certamente esta afirmação deve ser bem mais antiga do que a Alegoria da Caverna, de Platão, divulgada em sua obra ‘A República’ e bastante conhecida em todo o mundo, através das gerações de amantes da Sabedoria que se sucederam desde então.
                                                      Resumidamente, a referida alegoria de Platão trata do seguinte:  existia um grupo de pessoas que viviam numa grande caverna, com seus braços, pernas e pescoços presos por correntes, forçando a que seus olhos mirassem, unicamente, uma parede lisa que ficava no fundo da caverna.
                                                   Atrás dessas pessoas existia uma fogueira e vários indivíduos que transportavam, ao redor da luz emitida pelas chamas, objetos e coisas que tinham as suas sombras projetadas na parede da caverna, parede está a que os prisioneiros ficavam observando, ininterruptamente, durante todo o tempo do seu cativeiro.
                                                      Como estavam presos aos grilhões eles podiam enxergar, apenas, as sombras das imagens na parede; imaginando que aquelas projeções consistiam na única realidade das coisas existentes no mundo.
                                                            Em determinada ocasião, um dos indivíduos presos conseguiu se libertar das correntes e fugiu para o mundo exterior. A princípio, a luz do sol e a diversidade de cores e de formas assustou-o, fazendo-o querer retornar para a cova de onde havia saído.
                                                             No entanto, com o passar do tempo, ele acabou por se admirar das inúmeras novidades e descobertas que fez. Assim, quis voltar para a caverna e compartilhar com os outros prisioneiros todos os fatos, objetos e acontecimentos que contemplara no mundo exterior e todas as experiências que haviam sido por ele descobertas e vividas.
                                                          Os prisioneiros que continuavam na caverna, porém, não acreditaram naquilo que ele contava e chamaram-no de maluco ou insano. Assim, para evitar que as ideias do louco atraíssem outras pessoas para os “perigos da fuga e da aquisição de insanidade”, os prisioneiros mataram o ex fugitivo que retornara para o abrigo.
                                                        Os amantes da Sabedoria (filósofos) que interpretaram, posteriormente, a referida alegoria, perceberam que a caverna simbolizava o mundo onde todos os seres humanos vivem, enquanto as correntes significavam a ignorância que, tradicionalmente, prendia as populações e que pode ser representada pelas crenças, pelas culturas e por outras informações de senso comum que são absorvidas pelos cidadãos ao longo de suas existências.
                                                           Assim, os indivíduos, de maneira natural e em todas as épocas, ficavam presos a estas ideias pré-estabelecidas que formavam ao longo da vida e, sendo assim, não buscavam um sentido racional para determinadas coisas, evitando, desta maneira, a tradicional dificuldade do pensar e do refletir; preferindo, portanto, contentar-se com as informações que lhes foram oferecidas ’já mastigadas’ por outras pessoas.
                                                      Este preambulo, meus caros leitores, teve por única finalidade fazer uma ilação entre aquilo que já vigorava nos tempos de Platão (e até mesmo antes dele) e a atualidade brasileira, com a ideologia marxista firmemente acorrentada nas mentes de parcela significativa da nossa população, impedindo-a de perceber a realidade presente e as fogueiras sendo acesas, diariamente, nas redes sociais e na grande mídia, propagando imagens mentirosas desta realidade, os chamados fakes news, nas telinhas das TV’s, dos PC’s, dos Tablets, dos Ipads e dos Smartphones, que constituem as paredes das cavernas digitais, paredes estas que os internautas da atualidade, como aqueles ex prisioneiros de Platão, passam os seus dias contemplando com sofreguidão.
                                                   O efeito deletério da ideologia marxista é tão maléfico e duradouro quanto um verdadeiro câncer; posto que, criando metástases mentais, atinge intimamente aquele ser humano vitimado, através da contaminação de suas crenças, costumes, concepções metafísicas e tradições culturais. Por outro lado, tal qual uma bactéria nefasta instalada em um meio de cultura favorável, traduzido por um indivíduo suscetível ao proselitismo político-ideológico, prolifera-se, descontroladamente, contaminando todos aqueles que dele se aproximam ou com os quais passa a conviver a seguir.
                                                       Estes brasileiros contaminados, como aqueles prisioneiros da caverna, só percebem uma falsa imagem da realidade, mas não a realidade em si mesmo; posto que, como descrito no Mito da Caverna, algumas pessoas presentes veladamente neste cenário, no caso os ideólogos de esquerda, se encarregam de alimentar o fogo do ódio entre pessoas, raças, partidos políticos, classes sociais, etc., e de divulgar uma realidade política, econômica e social distorcida, através de falsas imagens criadas e de notícias mentirosas produzidas e repassadas.
                                                      Ocorre, ademais, que, além do simples proselitismo político-ideológico mencionado, existem, ainda, os interesses espúrios contrariados, de pessoas e de grupos, alimentando ainda mais as fogueiras do ódio. Qualquer um que não reze pela mesma cartilha desses inimigos da democracia (posto que adeptos de uma ideologia totalitária que, logo após atingir o poder, termina com as eleições livres e institui o partido único; isto é, o comunista) é taxado de fascista, de nazista ou, muitas vezes, é simplesmente assassinado, como o ex fugitivo da caverna de Platão, para evitar defecções ou delações.
                                                    Por outro lado, como nos tempos da trágica Guerra do Vietnam (em que os soldados norte-americanos atuando nas principais cidades daquele país, eram vítimas frequentes de atentados partidos de guerrilheiros vietcongs, que em nada se diferenciavam dos civis sul vietnamitas, dificultando, portanto, suas identificações e combate), o atual governo do presidente Jair Bolsonaro, tem sido, constantemente, vitimado por pessoas, instituições e organizações inimigas que, da mesma forma utilizada no passado pelos guerrilheiros vietcongs, camuflam-se no meio de pessoas, instituições e organizações amigas, dificultando suas identificações como inimigos que são e seu severo e eficaz combate.
                                                  Creio que a única maneira do presidente Bolsonaro conseguir minorar os efeitos danosos das notícias mentirosas que, diariamente, são veiculadas contra a sua pessoa e contra o seu governo, seria, ele próprio, estabelecer um canal direto de comunicação com os seus eleitores. Muitos dirão que ele já faz isto através das redes sociais (Twitter, Facebook, etc.). Ocorre que nestas redes o público por ele contatado é relativamente pequeno, da ordem de no máximo cinco milhões de pessoas. 
                                                       Sou de opinião que o nosso presidente deveria requisitar um horário semanal nas redes de televisão, onde teria uma conversa direta com a população brasileira e seus eleitores, estes últimos da ordem de 58 milhões de pessoas, expondo as suas principais realizações; os obstáculos, internos e externos, enfrentados; desfazendo notícias falsas e alertando a população para quem são os verdadeiros inimigos da pátria, os antipatriotas e os traidores, a impedirem com suas manobras e maquinações maquiavélicas o nosso desenvolvimento econômico e social; quer sejam eles pessoas, instituições ou organizações.
                                                        A verdade comunicada diretamente ao povo, sem a intermediação de porta-vozes ou de terceiros, é a melhor maneira de desfazer o trabalho de contrainformação, de desinformação e de sabotagem, partido da esquerda nacional e internacional; bem como daqueles que viram seus interesses escusos e criminosos prejudicados com a instauração da moralidade nas ações governamentais envolvendo recursos públicos.
                                                     Nossos corações de brasileiros precisam, realmente, sentir, através das palavras sinceras e do olhar íntegro do nosso presidente, que estamos trilhando o caminho correto e o mais rápido para vencermos duas décadas de desmandos, de maus governos, de administração temerária, de dilapidação do patrimônio público, de atos e operações de lesa-pátria.
                                                  Que nossos olhos vejam, cada vez mais e mostrados pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, as boas realizações do seu governo; as medidas concretas visando o urgente desaparelhamento da administração pública (inchada de apaniguados políticos marxistas-oportunistas, ao longo das últimas décadas, que ou recebem sem trabalhar ou, quando o fazem, dificultam a implantação das medidas saneadoras e moralizantes impostas pelo novo governo); as providências anticorrupção e desburocratizantes implementadas na administração da coisa pública desde o início do seu governo.
                                                     Que apresente também tudo aquilo que pretende fazer e que nomine as pessoas ou instituições dificultando ou impedindo suas realizações. A população e os seus eleitores necessitam estar informados de tudo o que se passa nos bastidores do poder, com absoluta transparência, de forma a poder ajuda-lo naquilo que deles depender; pois, como diz o velho ditado popular: “Apenas o que os olhos veem os corações podem sentir”.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
     Membro da Academia Brasileira de Defesa.



sábado, 20 de julho de 2019

287. Os paradoxos e as armadilhas do prazer e da felicidade

Jober Rocha*


                                             O prazer e a felicidade são, tradicionalmente, considerados como emoções da psique dos seres humanos, fazendo parte, portanto, da chamada Teoria Geral das Emoções. O prazer, segundo esta teoria, seria considerado como uma condição temporária e restrita de satisfação, enquanto a felicidade seria considerada como um estado constante e duradouro de satisfação total.
                                         A felicidade (mais completa, pois, que o prazer), segundo definição clássica, poderia ser entendida como um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude seriam substituídos por emoções ou sentimentos, que iriam desde o contentamento até a alegria intensa ou o júbilo. A felicidade teria, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior. Estaria, a felicidade, todavia, sempre associada ao prazer; pois não existiria felicidade no sofrimento e na dor (a não ser para aqueles indivíduos portadores de determinada patologia conhecida como Masoquismo). 
                                                  Desta forma, a Felicidade (e também o seu irmão menor, o prazer) poderia ser abordada pela ótica da Filosofia, da Ciência, da Religião ou de vários outros aspectos Psicossociais. 
                                            Resumidamente, sob a ótica da Filosofia, o primeiro filósofo a tratar da felicidade foi Zoroastro (VII A.C.) na Pérsia, atual Irã, ao afirmar que no final dos tempos o bem venceria sobre o mal. O bem incluía a beleza, a justiça, a saúde e a felicidade. Quase na mesma época, na China, Lao Tse afirmava que a felicidade poderia ser obtida tendo como modelo a Natureza. Outro filósofo chinês, Confúcio (também da mesma época) afirmava que a felicidade poderia ser atingida mediante o disciplinamento das relações sociais.
                                               Três séculos depois, o filósofo grego Aristóteles (IV A.C.) associou a felicidade à virtude, pois a vida virtuosa seria uma vida feliz. A felicidade consistiria, pois, em uma atividade da alma. Assim, um homem feliz seria uma pessoa virtuosa.
                                                    Outros filósofos gregos também discorreram sobre o tema, como Epicuro (criador do Epicurismo) e Pirro de Elis (criador do Ceticismo). 
                                                  O Epicurismo, segundo os dicionários nos informam, consistiria em um sistema filosófico que pregava a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo (com a ausência de sofrimento corporal), pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Assim, quando os desejos se tornavam exacerbados poderiam ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da felicidade (que, para o autor do Epicurismo, era manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito). Epicuro de Samos, conhecido como o pai deste sistema, foi um filósofo ateniense do século IV a.C.
Sua filosofia, no entanto, era de cunho materialista, não havendo nela espaço para a imortalidade da alma. Todavia, tanto na filosofia não materialista quanto na religião, o prazer e a felicidade são também considerados como emoções reais e necessárias dos seres humanos. 
                                              O Hedonismo, por sua vez, mais antigo do que o Epicurismo, consistiria em uma doutrina filosófico-moral que afirmava ser o prazer o supremo bem da vida humana. Surgiu, também, na Grécia e seu mais célebre representante foi Aristipo de Cirene (435-335 a.C.)  O Hedonismo filosófico moderno (que originou o Utilitarismo de vários autores, dentre eles Stuart Mill) procura, por sua vez, fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer, entendida está como a felicidade para o maior número possível de pessoas.
                                              A escola grega conhecida como Estoicismo, criada por Zenão de Citio (340-264 a.C), afirmava que a felicidade seria alcançada através da tranquilidade e que esta poderia ser atingida pelo autocontrole e pela aceitação do destino.
                                                Mais recentemente, Jean Jacques Russeau, filósofo francês, afirmava que o ser humano foi originalmente feliz, mas que a civilização havia destruído este estado de felicidade. Para retomá-lo, a educação humana deveria conduzir o homem à sua simplicidade original.
                                                  Auguste Comte, com sua Escola Positivista, nomeou a Ciência e a Razão como os elementos fundamentais para se atingir a felicidade.
                                            Sintetizando, segundo a ótica religiosa, para o Budismo (doutrina surgida na Índia e criada por Sidarta Gautama no século VI a.C.) a felicidade suprema seria atingida, apenas, pela superação dos desejos do EGO. A felicidade consistiria, assim, na ausência ou libertação do sofrimento.
                                                   Para o Cristianismo (religião sobre Jesus Cristo surgida a partir do Concilio de Nicéia em 325 D.C.), o amor fraternal seria o elemento fundamental da harmonia, necessária para o estado de felicidade. Alguns pensadores cristãos afirmavam que a felicidade era a visão da essência de Deus.
                                                   É conhecido que, no Oriente, os filósofos e religiosos encaravam o prazer da sexualidade como uma iluminação espiritual; como, também, no Ocidente antigo, os gregos e os romanos aceitavam o prazer da sexualidade sem nenhuma impressão moralista, impressão está apenas surgida com o nascimento do cristianismo. As culturas e as religiões orientais baseiam-se no equilíbrio e na complementaridade entre o masculino (Yang) e o feminino (Yin). Para tais culturas, o prazer sexual buscava, principalmente, a transcendência da mortalidade. Segundo vários autores, no próprio Ocidente antigo, o sexo era natural, divino e sempre realizado como forma de adoração, não sendo descriminado e sem senso de pudor; já que tudo era divino e natural na sexualidade grega e romana.
                                                      O Cristianismo, originado de tradições judaicas, criando a noção de pecado, regulou o comportamento moral do Império Romano e, a partir de então, de todo o Ocidente. A visão cristã, impregnada de valores éticos que transcendem o mundo material, acabou por colocar a sexualidade, situada no plano material, como fonte de pecado e cujas tentações deveriam ser mantidas afastadas. A própria mãe de Jesus foi considerada como virgem de modo a reiterar ser ele filho do Criador; mas, também, para torná-la livre do pecado da carne.
                                                  Surgiu, assim, uma contradição entre a sexualidade divina e a sexualidade pecado. O Cristianismo ficou com a segunda, para justificar seus pressupostos e a sua origem. Abandonou, assim, o amor sexual para ficar, apenas, com o amor fraternal.
                                                No Islamismo, religião fundada por Maomé, a caridade e a esperança em uma vida após a morte seriam os elementos fundamentais da felicidade.
                                                   Filosoficamente, como também religiosamente, o prazer, sob todos os seus tipos e formas, poderia servir para humanizar os indivíduos, quando buscado de forma comedida (tornando-os senhores do prazer); bem como, também poderia servir para desumanizá-los, quando buscado de maneira imoderada e desregrada (tornando-os escravos do prazer).
                                             Com respeito à abordagem psicológica, o psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), considerado como o criador da psicanálise, defendia que todo ser humano é movido pela busca da felicidade, através daquilo que ele denominou de Princípio do Prazer. Esta busca, entretanto, seria fadada ao fracasso, devido à impossibilidade de o mundo real satisfazer a todos os nossos desejos. A isto, Freud deu o nome de "Princípio da Realidade". Segundo Freud, o máximo a que poderíamos aspirar seria uma felicidade parcial. A psicologia positiva - que dá maior ênfase ao estudo da sanidade mental e não às patologias - relaciona a felicidade com as emoções e as atividades positivas.
                                                       O prazer, segundo eu entendo, se trataria, pois, de uma emoção mais fortemente vinculada aos sentidos físicos e a felicidade constituiria uma emoção mais ligada ao intelecto e ao espírito.
                                                                A abordagem social atribui a felicidade do indivíduo à posse de um emprego, de moradia, de alimentação suficiente, de segurança, saúde, laser, diversão, etc.
                                                          Cientificamente, segundo a Wikipédia, estudos recentes têm procurado achar padrões de comportamento e pensamento nas pessoas que se consideram felizes. Alguns padrões encontrados são: Capacidade de adaptação a novas situações; buscar objetivos de acordo com suas características pessoais; riqueza em relacionamentos humanos; possuir uma forte identidade étnica; ausência de problemas; ser competente naquilo que se faz; enfrentar problemas com a ajuda de outras pessoas; receber apoio de pais, parentes e amigos; ser agradável e gentil no relacionamento com outras pessoas; não dar grande dimensão às suas falhas e defeitos; gostar daquilo que se possui; ser autoconfiante; pertencer a um grupo; independência pessoal.
                                                        Economicamente, alguns pensadores vinculam a felicidade a aspectos tais como pertencer ou não a determinadas classes sociais, viver ou não em determinados sistemas econômicos, etc. O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes, como elemento fundamental para se atingir a felicidade humana. Adam Smith (1723-1790) achava que a iniciativa privada e a livre concorrência, eram a base para a riqueza das nações e a felicidade de seus habitantes.  J. M. Keynes (1883-1946) propunha uma política intervencionista do Estado, através de medidas fiscais e monetárias, para reduzir os efeitos dos Ciclos Econômicos que, em épocas de depressão, deixavam as populações empobrecidas e infelizes.
                                                         Vê-se, portanto, caros amigos leitores, que existem diversas concepções acerca do prazer e da felicidade, ambos podendo ser analisados sob diversas óticas e distintas formas de abordagem. Embora a Psicologia mencione que os seres humanos estejam sempre buscando a felicidade, em razão do Princípio do Prazer que comandaria as suas existências terrenas, podemos perceber inúmeras armadilhas em seus caminhos, que, supostamente, de forma ardilosa e no sentido de um alerta, teriam sido colocadas pelo Criador de todas as coisas em seus trajetos, de modo a que pagassem o preço requerido, caso viessem a se tornar escravos do prazer e da felicidade.
                                                          Evidentemente que Aquele que tudo pode, isto é, o Criador de todas as coisas, poderia ter feito seres humanos sem a necessidade do prazer e da felicidade. Mas, da mesma forma como ocorre nos sistemas econômicos, para haver empreendedorismo, interesse no trabalho e no progresso torna-se mandatória a perspectiva de lucros, bem como, a obrigatoriedade de levar em consideração os desejos e as necessidades dos seres humanos enquanto produtores e consumidores. Assim, para que a raça humana continuasse a procriar e a se desenvolver continuamente, tornaram-se necessários os incentivos do prazer e da felicidade. 
                                                         Intuitivamente percebemos que sem o Princípio do Prazer (físico e espiritual) a nortear as nossas vidas, todos nós, seres humanos, estaríamos inexoravelmente fadados a não progredir, material e espiritualmente, e até mesmo a nos extinguirmos como espécie. Paradoxalmente, ainda, as fontes de prazer físico estariam vinculadas aos vícios e não às virtudes e as fontes de prazer espiritual vinculadas às virtudes e não aos vícios (em conformidade com os critérios estabelecidos pela religião para a definição dos vícios e das virtudes). 
                                                        Segundo Margaret Mead (1901-1978), antropóloga cultural norte-americana, “a principal característica da virtude é que nesta, primeiro se tem a dor e em seguida o prazer; enquanto a característica marcante do vício é que neste se tem primeiro o prazer e em seguida a dor”. Ou seja, em última análise, o virtuoso teria o prazer como prêmio por ter enfrentado o sofrimento e a dor e o vicioso possuiria como recompensa o sofrimento e a dor, por ter buscado excessivamente o prazer.
                                                        Ocorre que ambos os tipos de prazer, o físico e o espiritual ou intelectual, são importantes para os seres humanos, desde que buscados e obtidos de forma moderada. Exageradamente eles passam a ser prejudiciais; razão para a existência das armadilhas anteriormente mencionadas, colocadas pelo Criador (ou pela própria Natureza, como queiram) no caminho humano como cordéis de tropeço ou alertas de segurança de que algo tem andado errado com aquele indivíduo. 
                                                O próprio prazer de ser excessivamente virtuoso pode constituir-se em um vício. Todavia seria necessário que o próprio indivíduo se inteirasse, realmente, e acreditasse, verdadeiramente, de que o problema físico, psicológico ou de qualquer outra ordem, que lhe ocorre no momento, se trataria de um alerta relativo ao seu imoderado comportamento pregresso na busca pelo prazer e pela felicidade.
                                                       Mas quais seriam estas armadilhas mencionadas? Posso imaginar algumas, para o caso daqueles denominados ‘sete pecados capitais’, que acometem aos que buscam o prazer físico desmedido, através da Soberba, da Avareza, da Luxúria, da Vaidade, da Gula, da Ira e da Preguiça.
. Gula (o prazer de comer em quantidade superior à necessária para o bem-estar do corpo): por exemplo, as altas taxas de colesterol, de trigliceridios, de ácido úrico, que entopem as artérias com placas de ateroma e que produzem a gota, respectivamente. Diabetes, hipertensão, etc. Para o caso dos alcoólicos (que buscam o prazer imoderadamente nas bebidas alcoólicas): por exemplo, as altas taxas de Transaminase Oxalacética e a Transaminase Pirúvica, que tornam o fígado gorduroso; a hepatite e a cirrose hepática, além da pancreatite e de patologias neurológicas e psíquicas. Para o caso dos dependentes químicos (aqueles que buscam o prazer no consumo de drogas ou substâncias estupefacientes): por exemplo, as patologias neurológicas e psíquicas, ademais daquelas demais enfermidades comuns também aos alcoólicos.
. Luxuria (a busca do prazer através do apego aos contatos sexuais, a promiscuidade e a lascívia): por exemplo, as conhecidas DST (doenças sexualmente transmissíveis).
. Avareza (a busca do prazer através do apego aos bens materiais e ao seu acúmulo, como se fossem fins em si mesmos ao invés vez de meios para finalidades mais nobres): por exemplo, além de hipertensão; processos cíveis e criminais por furtos, roubos e desvios de dinheiro público; afastamento de amigos e parentes.
. Vaidade (a busca do prazer mediante uma preocupação excessiva com o próprio aspecto físico, por causa da admiração e até da inveja que pode despertar nos outros): por exemplo, além se se expor ao ridículo em algumas situações; enfermidades causadas por excesso de exercício físico; pelo excesso de produtos químicos anabolizantes e suas funestas consequências; artrite.
. Soberba (a busca do prazer mediante um excessivo orgulho e uma grande arrogância): por exemplo, afastamento de amigos e parentes; problemas de coluna; problemas no joelho.
. Ira (a busca do prazer através de um sentimento na raiva desmedida, frequentemente sentindo prazer no desejo de vingança): por exemplo, alergias e doenças do fígado.
. Preguiça (a busca do prazer na rendição à falta de vontade para a realização dos próprios deveres e para a superação das suas limitações prejudiciais): por exemplo, obesidade e suas consequências, como altas taxas de colesterol e  de triglicerídeos; depressão.
                                                     Louise Hay, autora do método “Você pode curar sua vida”, afirma que todas as enfermidades constituem reflexos do padrão de comportamento dos indivíduos. Sem concordar integralmente com ela; mas, reconhecendo a importância dos caracteres psicológicos individuais no início e no agravamento de muitas enfermidades, reproduzo, a continuação, as causas das principais enfermidades, segundo a autora do método citado:

Alergias: aparecem naqueles que estão sempre nervosos e irritados com as atitudes das outras pessoas. Se você tem alergias, procure ser mais calmo e compreensivo com aqueles que o rodeiam; Anemia: está relacionada à falta de confiança em si mesmo; Doenças respiratórias: se desenvolvem em pessoas que estão sempre desesperadas, correndo e que gostam de fazer tudo ao mesmo tempo; Artrite: está associada à mania de perfeição. Pessoas muito insistentes e críticas, tendem a desenvolver este problema; Asma: complexo de culpa; Problemas na bexiga: aparecem em pessoas que ficam guardando suas dores; Bulimia: ódio de si mesmo e crença de não ser bom o suficiente; Câncer: associado a ressentimentos profundo; Problemas na coluna: geralmente aparecem em pessoas que gostam de fazer tudo sozinhas; Doenças do coração: desenvolvidas por pessoas que não vivem do amor e da felicidade; Problemas dentários: os dentes estão associados à família e, em geral, pessoas que se responsabilizam por todas as decisões familiares são propensas a ter problemas nos dentes e gengivas; Dores: estão associadas à culpa e ao medo de ser punido; Problemas digestivos: estão relacionados à dificuldade de assumir novas ideias e experiências; Doenças do fígado: são apresentados por pessoas que acumulam raiva e rancor; Problemas na garganta: associados ao medo das mudanças, dificuldade de falar o que pensa e frustração; Gastrite: se manifesta em pessoas que guardam os problemas apenas para si, são introvertidas e demonstram uma falsa calma e tranquilidade; Problemas no joelho: inflexibilidade, ego inflado e medo de mudanças; Obesidade: insegurança; Problemas nas pernas: medo de enfrentar as coisas novas do dia a dia; Doenças nos pés: dificuldade em compreender a si próprio; Retenção de líquidos: intuição forte e que não é respeitada; Problemas nos rins: acúmulo de mágoas, tristeza e dor; Tumor: feridas antigas que não foram curadas; Úlcera: medo de não ser bom o suficiente; Varizes: associadas à incapacidade de aceitar as condições que são impostas.
                                                Constatamos, assim, que prazer e felicidade dependem de fatores internos e externos ao indivíduo. Muitos são felizes e sentem prazer na total carência e na adversidade, dependendo apenas de como encaram a Metafísica da vida e da morte. Outros tantos são infelizes e não sentem prazer, mas apenas tédio, na total abundância e na ventura, em razão de suas convicções Metafísicas relativas à mesma vida e à mesma morte.
                                                Aqueles seres mais preocupados com o aspecto de Ter (matéria, posses, bens), normalmente, tenderiam a ser mais infelizes que os preocupados com o aspecto de Ser (intelecto, espírito, conhecimentos), já que os primeiros sentiriam mais as perdas materiais que os segundos. Contraditoriamente, aqueles indivíduos mais ignorantes (mais pobres de espírito, menos esclarecidos ou mais inocentes), que tendem a contentar-se com o pouco que sabem, por desconhecerem quase tudo (sendo incapazes de uma avaliação do contexto geral), neste particular, se considerariam relativamente felizes em suas existências de pouco saber.        
                                                   Em vista do exposto podemos imaginar que a felicidade consistiria em um fluxo de sentimentos (mais ou menos duráveis no tempo) de satisfação consigo mesmo e com o mundo ao seu redor; fluxo de sentimentos este, gerado por vários fatores que incidiriam interna e externamente aos seres humanos. Os fatores com maior ou menor peso dependeriam da concepção Metafísica de cada indivíduo, acerca de questões tais como: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?
                                        Aqueles que entendem a existência humana como uma escola de aprendizado visando à evolução espiritual, mesmo passando por grandes adversidades poderiam não se sentir infelizes. Aqueles materialistas, que vêm a existência humana como um simples acidente ocorrido na vasta extensão de um Universo sem Criador, mesmo desfrutando das delícias e prazeres proporcionados pela fortuna, pela beleza e pela saúde, poderiam, paradoxalmente, não se sentir felizes.


-*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
      Membro da Academia Brasileira de Defesa.

domingo, 14 de julho de 2019

286. Sobre a instituição de um novo Prêmio de Artes Cênicas para determinados atores nacionais


Jober Rocha*



                                    Segundo notícias obtidas na WEB, o conhecido Prêmio Molière de teatro foi criado no Brasil em 1963, sob o patrocínio da empresa aérea Air France e, infelizmente, extinto em 1994 por falta de patrocínio. 
                                                 Desde a sua primeira edição, as vésperas do Movimento Militar de 1964, o prêmio reuniu a nossa classe artística, premiando os principais protagonistas das artes cênicas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Por conta disso, mesmo extinto em 1994, ainda é lembrado com saudades, hoje, como o ‘Oscar’ do teatro nacional.
                                              Molière (1622-1673), para aqueles que não sabem, chamava-se Jean-Baptiste Poquelin e foi o dramaturgo francês considerado um dos principais mestres da comédia satírica, não só naquele país, mas mundialmente; além de ser também ator e encenador. Teve um papel de destaque no desenvolvimento da dramaturgia francesa.
                                                 Vendo a atual cena política brasileira, deparo-me com autoridades dos três poderes da república que, pelos seus desempenhos nos palcos e palanques nacionais, poderiam, muito bem, vir a ser premiadas com um novo galardão, a altura do famoso Prêmio Molière, caso este novo prêmio viesse a ser instituído sob o patrocínio de alguma empresa privada, dentre as tantas que foram beneficiadas com expressivas verbas públicas ao longo das duas últimas décadas.
                                                Muito mais pendor estas autoridades mencionadas possuem para as artes cênicas, do que para as ciências exatas e humanas ou para a política.
                                                Suas vidas consistem em um eterno representar. Acordam e deitam representando seus papéis, muitas vezes, apenas, para si mesmo, seus familiares ou assessores; na ausência de um público maior assistindo os seus pronunciamentos ao vivo ou pela televisão.
                                                   Muitos deles possuem a característica de serem artistas natos. Sem jamais terem estudado artes cênicas, já nasceram profissionais na dramaturgia e na arte de representar fingindo que não representam. 
                                                Outros, ambicionando desde jovens carreiras na política e na magistratura, tiveram, na surdina, aulas particulares de Antropologia e Cultura Brasileira; de Cenografia e Indumentária; de Comunicação e Expressão; de Consciência Corporal; de Dramaturgia; de Estética do Espetáculo; de Expressão Vocal e de Fundamentos da Interpretação.
                                                     Na atualidade, em seus pomposos cargos na Capital Federal (mas, também, nas capitais dos Estados e nos Municípios), agem como se estivessem em um palco, representando ora um drama ora uma comédia; mas, quase sempre, uma farsa bem urdida por algum teatrólogo e empresário da elite nacional, que custeia as despesas do espetáculo e que estabelece o enredo, o roteiro e os diálogos.
                                                       O grande público trabalhador, pagador de impostos e comprador de ingressos, em sua maioria inocente e ignaro, que nada sabe das técnicas teatrais, acredita nas palavras que ouve, ditas por aqueles personagens tão bem vestidos, tão cheios de maneirismos e de empáfia, com ares tão doutorais, com vocabulários tão escorreitos e, muitas vezes, tão herméticos que se tornam incompreensíveis (quer propositalmente, para demonstrar sapiência; quer naturalmente, por serem eles  verdadeiramente ignorantes e incultos, alguns até analfabetos). 
                                                    O nosso público, infelizmente, em sua maioria, não é capaz de distinguir a realidade da ficção; de discernir um bom texto teatral de um mau texto; de perceber a diferença entre um bom ator e um ator medíocre.
                                              Tais autoridades com suas técnicas de representação tentam, publicamente, justificar o injustificável, dar credibilidade ao descrédito, certeza à dúvida, mérito ao demérito, abonar o desabonado e honrar o desonrado.
                                               Os críticos deste tipo de teatro, por se tratarem de pessoas com mais cultura e experiência do que a média, acostumados a assistir dramas, comédias e farsas de melhores qualidades sendo desempenhados, todos os dias, nas ribaltas mundiais, não se deixam impressionar por estas representações caboclas, pois já viram artistas mais gabaritados representando peças mais elaboradas, em espetáculos memoráveis por esse mundo afora.
                                                  Nossas autoridades, no entanto, por lhes faltarem a ‘cultura dos grandes espetáculos’ e devido ao número reduzido de críticos com coragem suficiente para apupa-las e desnudá-las no próprio palco onde se encontram representando, fazem o que querem durante seus espetáculos, saindo, até mesmo, fora do texto ou ‘script’ original; certos de que, ao final, serão ovacionadas por uma plateia que, tradicionalmente, aplaude qualquer coisa; desde que se lhe ofereça gratuitamente, na entrada ou saída, um copo d’água gelada e um cafezinho.
                                                     Os demais coadjuvantes e figurantes desses dramas, comédias e farsas são, quase sempre, familiares dos atores principais, que, mediante sinecuras e nepotismos (típicos destas grandes famílias periodicamente residentes na capital federal), obtiveram lugares cômodos e de pouco trabalho, embora bem remunerados com verbas públicas, nas peças diariamente em cartaz.
                                                O país inteiro contempla, ao cair da noite, em horário nobre e nos principais canais de televisão, alguns destes atores em suas representações quotidianas. Quantos rapapés, quantos  revirar de olhos e olhares de soslaio, quantos meneios de cabeça, balançar de cachos, topetes e melenas; quantos ademanes, trejeitos, cofiar de barbas e bigodes fazem, ao se sentirem observados pelos telespectadores de todo o país.
                                                   Quantos acessos simulados de indignação e de fúria em que reverberam contra as ‘injustas’ críticas populares que recebem periodicamente; quantas demonstrações de bonomia, de bondade, de compreensão e de compaixão pelo ‘enorme e injustificável sofrimento popular’, eles demonstram nas telinhas de nossas casas, de nossos locais de trabalho e nas telonas dos shoppings e dos restaurantes que frequentamos. 
                                            Quantos monólogos e diálogos, previamente decorados e acertados com os repórteres e os jornalistas, são apresentados ao público como sendo conversas espontâneas de alguém que foi pego de surpresa, na hora exata em que rumava para a sua mansão, no Lago Sul da Capital Federal, após um dia estafante ou para o seu gabinete de trabalho, no Plano Piloto, em uma manhã ensolarada.
                                           E assim, meus queridos leitores, somos os espectadores diários destas peças teatrais que têm sido, nas últimas décadas, encenadas nos palcos e palanques nacionais por grandes artistas, porém de mentes medíocres. Alguns destes grandes atores costumam se aposentar nos palcos, ainda representando após anos de bela e tranquila vida na ribalta. Outros, mais medíocres que estes, se revezam de quatro em quatro anos por não conseguirem mais arrancar aplausos da plateia com suas velhas e já gastas piadas e são substituídos por outros, com piadas e caras novas. 
                                            As peças, todavia, costumam ser sempre as mesmas e pertencentes a um dos três gêneros mencionados: drama, comédia ou farsa. Algumas delas começam como dramas e viram comédias; mas, todas elas, invariavelmente, nada mais são do que simples farsas, nas quais alguns espertos se apropriam, ao final, de tudo daquilo que a bilheteria conseguiu arrecadar.
                                                   Creio que encontrar alguma empresa que pudesse custear a instituição deste novo prêmio proposto não seria difícil, tantas foram aquelas que enriqueceram nas últimas décadas em que o Tesouro Nacional abriu as suas torneiras em busca de apoio político para o governo e de propinas para muitas de suas autoridades. 
                                                   O prêmio, segundo penso, não deveria passar de uma pequena estatueta e de um diploma, pois, estou certo que de dinheiro em espécie nenhum dos eventuais e possíveis homenageados carece. Resta saber qual o nome que o novo prêmio deveria ter; já que são tantas as personalidades nacionais que poderiam ser homenageadas dando-lhes seus nomes ao referido galardão.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
     Membro da Academia Brasileira de Defesa.


sexta-feira, 12 de julho de 2019

285. Oscilando entre virtudes e vícios


Jober Rocha*



                                 Um dia destes, ouvindo o ‘Samba da Benção’, de Baden Powell, Marcelo Peixoto e Vinícius de Moraes, que começa pela estrofe mencionada mais abaixo, comecei a meditar sobre as razões pelas quais alguns seres humanos escolhem seguir o caminho das virtudes e outros preferem seguir a trilha dos vícios, pois, a rigor, conforme pregam muitos, é melhor ser virtuoso do que vicioso:

                          “É melhor ser alegre que ser triste
                           Alegria é a melhor coisa que existe
                           É assim como a luz no coração”.

                                    Evidentemente, alegria e tristeza não se constituem, respectivamente, em virtude e vício, mas, apenas, tratam de simples estados da alma ou sentimentos íntimos. 
                                            Todavia, na minha maneira de ver a questão, creio que existem, realmente, dependendo das épocas e das chamadas transvalorações de valores implantadas na sociedade, razões para esta preferir trilhar, algumas vezes, o caminho do que é considerado como virtude e, em outras ocasiões, a senda daquilo que é considerado como vício. Ainda mais convicto fico desta assertiva, sabendo que existe uma verdadeira conspiração matemático-filosófica nos impelindo para a prática de ambos (principalmente, na medida em que a população mundial aumenta e a evolução material e espiritual se processa).
                                              Percebo que muitos leitores estranharam estes meus comentários, não entenderam o meu ponto de vista, nem aonde eu quis chegar com estas afirmações e penso, portanto, que devo me explicar melhor nas páginas seguintes.
                                                Começarei, pois, pelo início. Virtudes, segundo a definição dos dicionários, consiste em uma capacidade qualquer ou excelência, possuindo alguns significados específicos, quais sejam os de: capacidade ou potência em geral, capacidade ou potência própria do homem e capacidade ou potência moral do homem.
                                          As virtudes, ao longo da história, foram classificadas como Platônico-Aristotélicas (Justiça, amizade, coragem); Jacobinas (Liberdade, igualdade, fraternidade); Cardeais (assim chamadas, por Santo Ambrósio, as quatro virtudes de prudência, justiça, temperança e fortaleza); Éticas (as que correspondem à parte da alma, quando esta é moderada ou guiada pela razão. Consistem no meio termo e são: a coragem, a temperança, a liberalidade, a magnanimidade, a mansidão, a franqueza e a justiça); Teologais (na Idade Média a fé, a esperança e a caridade, que dependeriam de dons divinos e que visariam a obter a bem-aventurança. As virtudes a que o homem não poderia chegar só com as forças da sua natureza, constituíam, portanto, as virtudes teologais); Dianoéticas (segundo Aristóteles, seriam aquelas próprias da parte intelectual da alma, ao contrário das virtudes éticas e morais, ligadas à razão. Seriam elas a arte, a ciência, a sabedoria, a sapiência e o intelecto).
                                             Vicio, por sua vez, na falta de uma definição melhor e mais completa, é considerado, simplesmente, como o oposto da virtude. A genealogia da moral e as definições de quais sejam os vícios e as virtudes são, respectivamente, constituídas e estabelecidas ao longo dos tempos e variam de épocas para épocas, mediante a chamada transvalorações de valores, bem definida está pelo filósofo Friedrich Nietzsche.
                                              Todavia, desde o surgimento da raça humana, a natureza do homem sempre foi e sempre será a mesma, tendo ele vindo ao mundo com todos os defeitos e qualidades (vícios e virtudes) necessários para sobreviver em um meio inóspito, rude e violento, no qual vigora a ambição, a competição e o espírito de sobrevivência individual e grupal.
                                              O ser humano, segundo o Imperativo Categórico, muito bem explicado pelo filósofo Immanuel Kant em sua obra ‘Crítica da Razão Prática’, reconhece, intimamente e na teoria, que deveria pautar sua vida pelos sentimentos e ações virtuosos, percebendo que não deve fazer aos outros aquilo que não deseja que façam com ele mesmo. Ademais, sabe muito bem quando seus sentimentos e ações são viciosos, mesmo que não evite cometê-los. Entretanto, na prática, segundo eu penso, as injunções psicossociais são de tal ordem que, em muitas ocasiões, os sentimentos mesmo sendo viciosos acabam por prevalecer sobre os virtuosos. 
                                                   Quando o ser humano se encontra isolado, existe bastante lugar em seu íntimo para todos os sentimentos virtuosos. Basta, entretanto, que outro ser humano dele se aproxime para que aqueles espaços, que antes eram preenchidos pelos bons sentimentos, sejam, logo a seguir, ocupados por sentimentos de medo, de inveja, de temor, de desconfiança, de ciúme e de rejeição com relação ao intruso. 
                                                  Isoladamente o ser humano é uma criação perfeita, já que só tem qualidades para consigo mesmo. Seus defeitos só aparecem quando está inserido em algum grupo. Dentro dos grupos é que surgem as competições, as desavenças, as ganâncias, as luxúrias, os ódios, as violências, as paixões, etc., e o ser humano pode assim, em tais ocasiões, abrir totalmente as portas do seu coração e mostrar ao mundo quem ele realmente é, permitindo que seus maus caracteres se manifestem. Os bons caracteres ele demonstra sozinho, no trato consigo, já que ninguém é mau para si mesmo; os maus ele só demonstra quando se encontra acompanhado.
                                                   Mesmo entre aqueles indivíduos considerados virtuosos encontraremos, por vezes, sentimentos viciosos de orgulho, de inveja, de raiva, etc.; como também entre aqueles seres humanos considerados viciosos encontraremos, por vezes, sentimentos virtuosos de amor, de amizade, de perdão, de compaixão, etc.
                                             Em qualquer grupo normal de indivíduos, portanto, a maioria de seus membros nunca será totalmente virtuosa, como também nunca será totalmente viciosa.  
                                                 Não que isto ocorra por vontade dos participantes do grupo, mas, sim, porque seus comportamentos, descritos por uma “Lei de Distribuição Matemática”, obedecem ao ‘Processo Dialético da Evolução’.
                                                  Este processo dialético, segundo Aristóteles, teria sido expressado pela primeira vez por Zenão de Eleia (490-430 a.C), mas outros consideram o seu pai como sendo o próprio Aristóteles (469-399 a.C). Diferentes correntes filosóficas, ao longo da história, utilizam a dialética com distintos significados; no entanto, atualmente, ela é entendida como a história das contradições, pois tudo está sempre em processo de constante devir (vir a ser, tornar-se, transformar-se).
                                            Seguindo adiante com a nossa tese, constatamos que a maior parte dos fenômenos probabilísticos de natureza continua e alguns de natureza discreta, podem ser representados por uma Lei Matemática conhecida por ‘Lei de Distribuição Normal’. O seu uso é geral, em todas as Ciências, bastando dizer que mais de oitenta por cento dos fenômenos da Natureza, possuem comportamentos com a característica desta ‘Distribuição Normal’.
                                                O matemático belga Quetelet chegou a afirmar em seu “Tratado sobre o Homem e o Desenvolvimento de suas Faculdades”, que tudo no homem e no mundo se distribui segundo a Curva Normal. 
                                                Atualmente, entre os matemáticos, vigora a ideia de que, praticamente, todos os eventos se distribuem assim, razão da hegemonia da Curva Normal nas análises estatísticas realizadas em pesquisas conduzidas pelos homens de Ciência. A normalidade ocorre, naturalmente, em muitos (senão em todos) eventos representativos de situações físicas, biológicas e sociais.
                                               Assumir que um evento se distribui normalmente está baseado em dois fundamentos: o primeiro ocorre quando a distribuição da própria população de eventos é Normal e o segundo ocorre quando a distribuição da população não for Normal, mas o número de casos for muito grande.
                                                Os valores mais frequentes; isto é, os valores que correspondem as maiores probabilidades de virem a ocorrer, se encontram em torno da média da variável considerada. Quanto mais afastados os valores estão da média, quer acima quer abaixo desta, menos frequentes são as suas ocorrências.
                                                 Esta interpretação da Lei de Distribuição Normal é coerente com o que se passa na maior parte dos fenômenos que sucedem na Natureza. Ora, as características dos fenômenos que ocorrem com os seres humanos, podem, também, ser representadas através de uma ‘Função de Distribuição Normal’.
                                                     Assim, frente à determinada situação com que se defronta um grupo (ou uma amostra ou uma população) normal, podemos afirmar que sessenta e oito por cento dos indivíduos deste grupo (ou desta amostra ou desta população), apresentará um comportamento considerado Normal e que estará a menos de um desvio padrão da média da variável que se está pesquisando. Noventa e cinco por cento dos indivíduos do grupo apresentará um comportamento que estará a menos de dois desvios padrões da média e noventa e nove, vírgula sete, por cento, dos indivíduos, apresentara um comportamento que estará a menos de três desvios padrões com relação à média.
                                                  Com isto, quero deixar claro que, no que respeita a virtudes e vícios, os comportamentos extremos, totalmente virtuosos ou totalmente viciosos, por exemplo, face à determinadas situações vivenciadas pelos grupos (ou pelas amostras ou pelas populações) normais, constituem-se em exceções ao comportamento médio e, como tal, não são seguidos pela maioria, mas, apenas, por 0,3 por cento dos indivíduos; ou seja, 0,15 por cento seriam totalmente virtuosos e 0,15 por cento seriam totalmente viciosos, em um conjunto total constituído, cem por cento, de indivíduos normais.
                                                     Os comportamentos totalmente virtuosos ou totalmente viciosos constituiriam, ambos, os extremos da curva representativa da Distribuição Normal.
                                                     Isto ocorre, não porque os indivíduos assim o queiram, mas, porque suas condutas, que podem ser descritas por esta Lei Matemática, são, invariavelmente, regidas pelo ‘Processo Dialético da Evolução Humana’. 
                                                Nenhum grupo normal pensa e age, unanimemente, de uma determinada maneira, sobre uma determinada questão, principalmente, quando o número de seus integrantes for grande o bastante; pois, sempre, existirão pontos de vista opostos ou conflitantes (motivados pelas distintas inteligências, diversas maturidades e, principalmente, pela maior ou menor prevalência dos sentimentos viciosos ou virtuosos, presentes em todos os seres humanos), que, considerados no conjunto de todo o grupo (ou da amostra ou da população), fornecerão uma média, uma moda, uma mediana e uma variância para qualquer evento. Quanto maior seja o grupo (a amostra ou a população), mais a Curva Normal representará o evento em questão.
                                                  A razão, por detrás de tudo isto, é o fato de que a evolução humana ocorre mediante um processo dialético, no qual são necessárias a tese e a antítese, para que, finalmente, ocorra uma síntese. Tese é uma proposição, antítese a sua negação e a síntese é a resultante de ambas, diferente, portanto, destas duas.
                                                    Assim, oscilando entre as virtudes e os vícios, a humanidade sintetiza, dialeticamente, em cada período de tempo a sua necessária evolução. Alguns denominam esse processo de Princípio do Contraditório, que vigora tanto na Natureza quanto na vida psicossocial dos indivíduos: a verdade aparece por intermédio das contradições humanas e tudo na Natureza, que necessita de evolução, evolui dialeticamente. 
                                               Logo, se não existissem contradições, a humanidade não evoluiria e a verdade não seria conhecida. Está é, pois, a razão que encontro para os vícios e as virtudes presentes em todos os seres humanos. Também é, segundo penso, a razão pela qual o Criador ou o Grande Arquiteto do Universo, que não necessita evoluir, pode ser considerado a fonte de todas as virtudes e a ausência de todos os vícios.
                                                Assim, comportamentos totalmente virtuosos ou totalmente viciosos, serão, sempre, considerados como extremos em um grupo (amostra ou população), enquanto a espécie humana continuar habitando a superfície do planeta em busca de sua evolução.
                                                    O normal para os integrantes desta nossa espécie (isto é, aquilo que a maior parte fará, buscando o seu progresso) será, sempre, pautar sua conduta por procedimentos que incluam virtudes e vícios, em doses consideradas aceitáveis pela moral e pelos bons costumes de cada época; já que, os sentimentos virtuosos (como, por exemplo, os de misericórdia, de bondade, de amor, de compaixão, etc.) não constituem leis que, obrigatoriamente, tenham que ser seguidas por todos os indivíduos; como, também, os sentimentos viciosos (aqueles contrários aos virtuosos), representados, por exemplo, pela ira, raiva, egoísmo, inveja, maldade, etc., não constituem crimes, a menos que sejam  transformados em ações concretas que violem as leis.
                                                       Por outro lado, as transvalorações de valores, segundo definição do filósofo Friedrich Nietzsche, já ocorreram algumas vezes durante a história da humanidade (mais recentemente, com a tentativa de implantação do chamado Comportamento Politicamente Correto), ocasião em que as virtudes, até então vigentes, passam a se constituir em vícios e os vícios se transformam em virtudes. 
                                                      Lembremo-nos de que, historicamente, sob a ótica exclusiva da sobrevivência pessoal ou grupal, em diversos períodos ou ocasiões críticas, por exemplo, entendeu-se que era melhor e mais sábio ser covarde do que corajoso, avaro do que pródigo, injusto do que justo, falso do que franco.
                                                     E la nave va...


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Membro da Academia Brasileira de Defesa.

domingo, 7 de julho de 2019

284. Os Impérios Modernos e os Novos Bárbaros


Jober Rocha*


                                             O vocábulo bárbaro, segundo nos informam os dicionários, passou a ser empregado pelos romanos após o primeiro século da era cristã, quando estes começaram a chamar de bárbaros todos aqueles que não se submetiam ao seu Império, não falavam o latim e não adotavam por religião o cristianismo. Tanto aqueles bárbaros quanto os romanos, de então, eram gente violenta, amante das conquistas, dos roubos, das pilhagens e acostumada a resolver pelo combate homem a homem as suas pendências e divergências.
                                                        Os bárbaros da época eram constituídos por três grupos principais: os Mongóis, os Eslavos e os Germanos. 
                                                          Afora os grupos principais outros grupos menores existiam. Alguns deles eram subconjuntos destes grupos principais. Era o caso dos Hunos, migrantes da Ásia, de origem mongol e conhecidos por sua violência e crueldade; dos anglo-saxões constituídos pela união de três povos – Anglos, Saxões e Jutos – que migraram da atual Alemanha para a Grã-Bretanha; dos Francos, povo de origem germana que no século V, tirando proveito da invasão dos Hunos, conseguiu o domínio do território da Gália, controlando a Europa Central até o século VIII, quando ocorreu a sua divisão que originou várias nações, dentre elas a França.
                                                     Os Vândalos, por sua vez, fugindo dos Hunos foram para o Norte da África com suas frotas piratas e no século V saquearam Roma. Estiveram um período na Andaluzia ibérica, cujo nome se originou deste povo. Seu reino foi, finalmente, destruído no século VI pelos Bizantinos. Os Ostrogodos, que habitavam a Península Itálica, no século V se mesclaram com os Hunos e com os Bizantinos, ocorrendo a sua fragmentação. Os Visigodos eram habitantes da Península Ibérica e foram destruídos após uma invasão muçulmana no século VIII.
                                            Segundo o que nos relatam os historiadores, portanto, a partir de fins do século IV, pressionados pelos Hunos, as tribos germânicas migraram em massa e de uma forma quase sempre violenta para o interior do Império Romano do Ocidente. 
                                               Dentre estas tribos, os Suevos, os Alanos, os Burgúndios, os Francos, os Vândalos e os Visigodos penetraram, saquearam e ocuparam a Gália, a Península Ibérica, a África e a Península Itálica. Anglos, Saxões e Jutos tomaram a Britânia. 
                                                     Para defenderem Roma dos sucessivos ataques de determinadas tribos, os Imperadores costumavam recorrer, muitas vezes, ao auxílio de outros chefes bárbaros, ficando, em razão disto, à mercê destes. Assim, as invasões dos povos germânicos trouxeram desordem, destruição, fome e pilhagem ao já decadente Império Romano, precipitando a sua desintegração no final do século V. 
                                                        Nas primeiras trinta linhas deste texto, portanto, encontram-se resumidos vários séculos de invasões, pilhagens, traições, sofrimentos e mortes de seres humanos. Todavia, nas próximas linhas mostraremos que nada disso mudou até os dias atuais.
                                                               No século XXI, portanto dezesseis séculos depois, tendo a população mundial evoluído de cerca dos 500 milhões de indivíduos, ao final do século V, para perto de 7,7 bilhões atuais, o comportamento violento que caracterizava os denominados povos bárbaros e as invasões que estes faziam de território alheio, seja qual fosse a razão que os motivasse, ainda continuam ocorrendo; apenas, com atores diferentes e oriundos de outros povos e de outras raças, que seguem hoje desempenhando o papel de novos bárbaros. 
                                                          Da mesma forma, as razões que impeliam o Império Romano para a conquista de novos territórios e para a obtenção de mais poder e de mais riqueza, são as mesmas que ainda motivam os atuais impérios; ou seja, em síntese, a ambição e o egoísmo humanos.
                                                As invasões dos bárbaros modernos, evidentemente, ocorrem por motivos diversos da velha e já mencionada pressão dos Hunos. Um desses motivos se deve ao aumento da miséria nos países mais pobres, cujas populações tentam emigrar para os países mais ricos em busca de melhores oportunidades de vida. 
                                                       Outro motivo consiste nas levas de refugiados de países destruídos pela guerra, que buscam reconstruir suas vidas em países desenvolvidos onde ainda existe paz. Outra razão pode ser encontrada no fato de parcela significativa de estudantes de países cientifica e tecnologicamente fracos, buscarem o conhecimento e uma oportunidade de sucesso e reconhecimento nos países cientifica e tecnologicamente mais fortes. 
                                                    Uma outra se deve a tentativa dos milhões de desempregados, existentes nos países pobres ou em recessão econômica, emigrarem, legal ou ilegalmente, para países desenvolvidos com grande oferta de empregos, em busca de uma oportunidade de trabalho e de um lugar ao sol. 
                                                         Uma outra, ainda, pode ser devida ao fato de muitos habitantes de países com governos autoritários de natureza marxista, emigrarem para países democráticos onde os direitos humanos são respeitados. As causas, portanto, como podemos ver, são várias.
                                                       Tais emigrantes modernos, todavia, como os antigos bárbaros, carregam com eles, para os novos territórios que passarão a ocupar, um potencial de violência, latente e inaudito. A violência de que são potenciais portadores pode eclodir, de uma hora para outra, por razões várias.
                                                    Isto está ocorrendo nos dias atuais com os refugiados de guerra vindos de países islâmicos, que chegaram aos países da União Europeia como imigrantes. Por qualquer motivo agridem pessoas, depredam bens, etc. Julgam-se cidadãos dos países onde foram acolhidos, com os mesmos direitos dos naturais locais. E mais, querem implantar nestes locais (para todos os habitantes que ali vivem), os seus costumes e hábitos, os seus modos de vida e a sua religião. Aqueles que não seguem as suas regras sofrem diversos tipos de violência, desde verbal até física. A França e a Alemanha, recentemente, passaram por situações de graves conflitos sociais e raciais, iniciados pelos refugiados que para lá se dirigiram.
                                                      Ocorre o mesmo com os imigrantes, chegados à União Europeia, vindos das antigas colônias africanas, asiáticas e sul americanas. Estes trazem consigo seus costumes locais e tribais, distintos, muitas vezes, daqueles dos novos locais onde passaram a viver. Surgem daí desavenças, mal entendidos e conflitos, que têm gerado vítimas de ambos os lados. Atentados de ambas as partes, com vítimas fatais, têm ocorrido em diversos locais onde estes novos bárbaros se instalaram.
                                                           Nos USA, o atual presidente Donald Trump, deu início às obras de construção de um muro, separando o território do México do dos Estados Unidos. Pela fronteira entre os dois países, anualmente, milhares de emigrantes de todo o Continente Sul americano e do Caribe, além de mexicanos, adentram os USA como imigrantes ilegais, passando a viver, se reproduzir, violar as leis, impor seus costumes, delinquir e cometer crimes; ademais de trabalhar, quando conseguem algum emprego. O muro de Trump serviria para tentar conter esta invasão indesejável de migrantes, segundo as autoridades norte-americanas declararam.
                                                              Recentemente, no nosso continente, em decorrência da situação de convulsão social existente na Venezuela, milhares de refugiados daquele país vizinho buscaram abrigo no Brasil.
                                                      Nos governos brasileiros anteriores, de esquerda, as autoridades liberaram as nossas fronteiras para imigrantes oriundos de inúmeros países, notadamente de países comunistas e islâmicos, sem a necessidade de vistos de entrada. Isto fez com que enormes contingentes populacionais aqui ingressassem, praticamente, sem nenhum controle por parte das autoridades brasileiras. 
                                                       A própria tentativa de instituir uma placa única para veículos de países pertencentes ao Mercosul, bem como o livre trânsito de pessoas e veículos entre estes países; a criação da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina) e da UNASUL (União das Nações Sul americanas, que previa a integração econômica, social, política e militar dos países da América do Sul), facilitaria a emigração e a imigração descontrolada entre os países do continente. 
                                                    Felizmente, o novo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, retirou o nosso país destas duas organizações, pois o Brasil, como o país mais rico e com maior potencial de crescimento da América do Sul, tenderia a receber grandes contingentes populacionais de desempregados dos demais países, caso ainda continuasse a pertencer a estas organizações. A maior parte deste contingente iria sobrecarregar as nossas periferias urbanas, já sobrecarregadas, fazendo com que a violência e a criminalidade aumentassem sensivelmente.
                                                     O nosso país, com um crescimento pífio como o atual (quase em vias de recessão, após a má gestão dos governos de esquerda e devido ao imenso roubo de recursos públicos praticado, nas duas últimas décadas, por integrantes destes governos) e com alto índice de desemprego, estaria, caso pertencesse ainda àquelas organizações, recebendo hoje enormes contingentes de imigrantes que disputariam com os brasileiros as poucas novas oportunidades de empregos aqui disponíveis.
                                                  Voltando ao aspecto da violência que caracterizava os bárbaros de antanho, podemos constatar que aquela mesma violência ainda continua existindo na atualidade. Dezesseis séculos depois cabeças continuam sendo cortadas, corações arrancados dos peitos de cadáveres, corpos esquartejados e queimados em fogueiras humanas pelo mundo afora.
                                                   Em que pese o desenvolvimento científico e tecnológico experimentado pela raça humana desde a antiguidade, os velhos e violentos costumes continuam existindo e persistindo entre os novos bárbaros; como, também, entre os senhores dos novos impérios que surgiram desde então. Os impérios desenvolvem, cada vez mais e com maior intensidade, novas e mortíferas armas prontas para serem empregadas contra a menor ameaça inimiga. Inúmeros países já são potências atômicas e muitos outros trabalham para vir a se tornar uma delas. Os arsenais nucleares mundiais são suficientes para destruir o planeta dezenas de vezes, se isto fosse possível.
                                                      O mundo hoje é palco de alguns conflitos reais, localizados, e de diversos outros conflitos, potenciais e difusos, em vias de se transformarem em conflitos reais, na medida em que os novos impérios que surgem competem entre si pela hegemonia do poder mundial.
                                                    Enquanto isto, os novos bárbaros seguem emigrando de seus países natais em busca de melhores condições de vida, sem se darem conta que nada mais são do que simples escravos a buscarem um senhor melhor e mais compreensivo para quem servir, em uma eterna servidão consentida, da mesma forma como ocorre com todos os demais habitantes do planeta que, por terem tido mais sorte na vida, ainda permanecem em seus países de origem sem necessidade de emigrar.
                                                      Na antiguidade, populações inteiras eram dizimadas pela ação das armas, quer dos invasores quer dos invadidos.  Hoje os métodos empregados para a redução de grandes contingentes humanos são mais sofisticados e dissimulados. Existem os Chemtrails (rastros químicos contaminantes do ar, do solo e das águas); os aditivos e conservantes alimentares, cancerígenos; os hormônios, vacinas e antibióticos dados aos rebanhos, que contaminam suas carnes e são absorvidos por aqueles que as ingerem; os alimentos transgênicos, cujos efeitos a longo prazo sobre os seres humanos são desconhecidos; a radiação nuclear e seus efeitos danosos sobre a saúde humana; a radiação eletromagnética cancerígena, emitida pelos aparelhos celulares; os vírus desenvolvidos em laboratórios; os efeitos colaterais de muitos dos medicamentos receitados e a própria violência urbana, incentivada pelas autoridades de alguns países, pegando de surpresa uma população previamente desarmada e sem possibilidades de defesa.
                                                Não imaginem que isto faz parte de alguma Teoria da Conspiração, pois se trata de fato real. Os seres humanos estão sendo deliberadamente executados, de forma a manter-se uma população global compatível com a atual produção de alimentos e com o consumo meio-ambiental.
                                                        Todavia quando a guerra se torna necessária, segundo o ponto de vista dos atuais imperadores, ela é desencadeada mediante algum argumento moralmente justificável e politicamente correto, que faz com que seja aceita pela população que irá custeá-la e arcar com seus eventuais prejuízos materiais, sofrimentos físicos e mentais. 
                                                     A Mídia, neste contexto, exerce um importante papel, qual seja o de legitimar para o público alvo, mediante a massificação da informação e a propagação da contrainformação e da desinformação, a ação quase sempre ilegal e descabida destes novos imperadores.
                                                        Outra coisa que se manteve com o passar do tempo e que ainda não foi mencionada, foram as vassalagens dos reinos e cidades-estados mais fracos para com os reinos e impérios mais fortes. Tais vassalagens eram tratadas diretamente pelos chefes, monarcas e imperadores que estabeleciam, entre si, os montantes anuais a serem pagos pelos vassalos. As populações, em sua totalidade, desconheciam estas obrigações. Parte daquilo que produziam era, sob a forma de impostos, destinada ao seu próprio monarca e outra parte ia para o monarca do seu monarca.
                                                      Isto ainda continua ocorrendo nos dias atuais, só que de forma mais sofisticada, como, por exemplo, através da criação de monopólios, oligopólios, cartéis, trustes, holding's, dos países centrais, que estabelecem tanto os preços dos insumos por eles comprados, quanto os preços dos produtos por eles vendidos aos países periféricos.
                                                     Através dos carteis (como a OPEP, uma organização criada pelos países produtores e exportadores de petróleo) são estabelecidas quais serão as quantidades anuais produzidas de determinados produtos e quais os seus preços no mercado internacional. Uma pesquisa efetuada nos Estados Unidos evidenciou o controle, principalmente no ocidente, exercido por dez grandes conglomerados internacionais que controlam quase tudo o que consumimos, estabelecendo seus preços. Embora cartéis, monopólios, oligopólios e trustes costumem ser proibidos em alguns países, todos fazem vistas grossas para as suas existências.
                                                   Assim, destas formas mencionadas (através do estabelecimento dos termos de trocas; isto é, das cotações dos preços dos produtos primários importados versus os preços dos produtos industrializados exportados; bem como do déficit ou superávit da Balança Comercial) os países centrais arrecadam as respectivas vassalagens dos países periféricos. Da mesma forma como ocorria na antiguidade, as populações atuais continuam sem se dar conta da vassalagem a que estão submetidas.
                                                         Como romper este ciclo vicioso que nos persegue desde a antiguidade? Como impedir que os seres humanos continuem ambiciosos, gananciosos e violentos? Como impedir a servidão e a vassalagem? Serão estes, males com os quais teremos que conviver eternamente? Passam-se os anos, os séculos e os seres humanos continuam, intrinsecamente, os mesmos? E a tão falada evolução espiritual pregada pelas religiões, será que não passará de simples retórica, de enorme falácia e de esperto engodo para adquirir seguidores e mantenedores?
                                                             Estas são boas perguntas para serem respondidas pelos teóricos das Ciências, da Filosofia e da Religião. Será que algum pensador, dentre estes imaginados, já terá vislumbrado a  derradeira resposta?


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
       Membro da Academia Brasileira de Defesa.