265. A felicidade não é a nossa praia...
Jober Rocha*
Se conseguíssemos fazer uma enquete entre as pessoas mortas, pouco depois delas terem desencarnado, certamente 99,999% responderiam que não ficaram satisfeitos com a vida que tiveram. Ora, um percentual tão alto de respostas negativas seria indicativo de que a existência humana se constituíra em algo muito bem planejado, em detrimento, evidentemente, da felicidade dos seres humanos e dos seus interesses pessoais. Por sua vez, os resultados de uma nova pesquisa, entre os ainda vivos, não iria diferir muito daquele resultado apresentado na enquete entre os já mortos.
Quais as possíveis razões para tal? Quais os eventuais motivos para tanto? Para tentar responder a estas indagações antes seria necessário que encontrássemos respostas para os questionamentos dos filósofos da antiguidade acerca de quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É o que eu pretendo fazer no presente texto, ‘se a tanto me ajudar o engenho e a arte’, conforme costumava dizer o poeta português Luiz de Camões.
Se o leitor está plenamente satisfeito com o seu destino, enquanto ainda vivo, saiba que o seu se trata de um caso raro, particular e excepcional e, como tal, está fora da Curva Normal (ou de Gauss), curva esta que descreve a Distribuição Normal de eventos na Natureza. O seu caso, portanto, não seria considerado normal, mas, sim, um caso atípico. Mesmo aqueles que eventualmente gozaram, ainda em vida, de fama, fortuna e saúde (e que não são muitos casos, no computo geral da população mundial), gostariam, sem dúvida alguma, de ter tido mais fama, mais fortuna e mais saúde e, sendo assim, não se consideram totalmente felizes.
Como uma primeira aproximação a esse curioso e complicado assunto, poderemos abordá-lo sob três aspectos distintos: o religioso, o científico e o filosófico.
Sob o aspecto religioso, tudo aquilo que se sabe até o presente é o que, supostamente, tem sido revelado aos seguidores das várias seitas e religiões diretamente pelo Criador, por intermédio de espíritos de luz, de oráculos, de profetas, de pensadores religiosos e de sacerdotes.
E em que consistiria estas revelações?
Em síntese, que o universo possuiria uma força criadora ou um princípio criador ou um Deus criador. O objetivo da criação do ser humano, por este princípio criador, seria o de sua evolução espiritual individual, em apenas uma ou em quantas outras existências materiais fossem necessárias. O argumento utilizado é o de que a evolução se daria através de um processo dialético, no qual entre a tese e a antítese se processaria a síntese; sendo está, em última análise, o produto da evolução das duas precedentes. Neste contexto, a infelicidade e o sofrimento consistiriam em algo necessário para a evolução espiritual, ao fazer despertar sentimentos virtuosos adormecidos e ao reprimir sentimentos viciosos existentes no âmago de cada um de nós.
A religião, todavia, não conseguiu provar cientificamente aquilo que afirma como tendo sido fruto da revelação, nem faz nenhuma especulação filosófica sobre os aspectos que estariam por detrás desta concepção divina do universo e da vida; ou seja, com que finalidade o Criador se propôs a fazer o que fez. Por outro lado, muito daquilo que a religião professa depende da existência, no íntimo do fiel, de um sentimento a que se denomina Fé; ou seja, a capacidade de acreditar em algo que não possa ser comprovado.
Sob o aspecto científico, podemos constatar que a Ciência consiste em um processo de descobertas de princípios e de leis matemáticas, físicas, químicas e biológicas, acumulativas e consecutivas, que podem ser consideradas infinitas, e cujo crescimento tende a seguir uma curva exponencial, desde que não seja interrompido, no tempo, por alguma causa maior ou algum efeito superveniente.
Embora os elementos químicos formadores da matéria sejam finitos, suas combinações são infinitas em virtude da infinitude das proporções matemáticas com que podem interagir se combinando (significando estas proporções a igualdade entre duas ou mais razões provenientes das medidas extraídas de grandezas). Seria, portanto, possível a obtenção de infinitas combinações de substâncias a partir de elementos químicos finitos.
Começando, além disto, pelas espécies animais, podemos ver em todas elas, morfologicamente, um desenho objetivo, funcional e artístico, denotando uma mente ou um princípio inteligente por detrás de suas criações e posteriores evoluções; bem como, uma preocupação estética, com respeito às aparências físicas destas criações.
Os seres humanos e muitos animais, possuem olhos para ver, nariz para cheirar, ouvidos para ouvir, pernas para se locomover, mãos para pegar, etc. Possuem um órgão respectivo para cada uma das necessidades que têm, ao longo da existência, visando sua sobrevivência em um meio conflituoso e, muitas vezes, inóspito; o que também é verdadeiro para todas as demais espécies vivas.
A existência de três reinos (Mineral, Vegetal e Animal) demonstra, ainda, um planejamento prévio das condições necessárias e suficientes para a manutenção da vida animal e, dentre estas, da vida humana inteligente (que parece ser a mais importante delas e a razão maior de todo este esforço criador). O reino animal se beneficia dos outros dois reinos e tudo leva a crer que estes dois outros foram criados, exclusivamente, para possibilitar a sobrevivência do primeiro. Podemos constatar que na Natureza nada surge ou é feito por acaso e na inexistência do último dos reinos não teriam sentido os dois primeiros.
Tudo tem uma função específica ou uma razão de ser demonstrando ou evidenciando, mais uma vez, um princípio inteligente e criativo por detrás de toda a criação.
A Sucessão ou Sequência de Fibonacci, por sua vez, consiste em uma sucessão de números que, misteriosamente, aparece em muitos dos fenômenos da Natureza. Descrita no final do século 12 pelo italiano Leonardo Fibonacci, ela é infinita e começa com 0 e 1. Os números seguintes são sempre a soma dos dois números anteriores. Portanto, depois de 0 e 1, vêm 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34…
Esta sequência aparece em inúmeros fenômenos nos Três Reinos da Natureza, parecendo indicar a existência de um princípio inteligente por detrás da criação. Evidentemente que esse princípio existe e pode ser constatado através das leis universais, de caráter matemático, físico e químico, com que nos defrontamos diariamente.
O próprio fenômeno da evolução material, seja lá do que for, segue um comportamento que pode ser descrito através de uma equação matemática. Da mesma forma, acredito que a evolução espiritual individual dos seres humanos, também possa ser descrita através de uma curva matemática; já que, se trata de um fenômeno metafísico ocorrendo a cada indivíduo no mundo físico e, assim, portanto, deverá ter também uma curva que o descreva, bastando, para tanto, que conheçamos as variáveis exógenas e endógenas envolvidas no processo e as suas respectivas aferições, pois os métodos econométricos e as equações diferenciais para determinarem tais curvas já existem e estão bastante evoluídos na atualidade.
Dispondo desta curva, com relação a evolução espiritual, por exemplo, e utilizando as ferramentas do Cálculo Integral e Diferencial, talvez pudéssemos descobrir, previamente, coisas interessantes, tais como: o limite matemático da função e, portanto, da vida nesta existência daquele indivíduo objeto de estudo (posto que se encarnamos para evoluir, desencarnaremos quando tal não mais ocorrer); a mudança de concavidade e de convexidade da curva e suas implicações metafísicas também poderiam ser conhecidas; posto que, se passamos a evoluir a taxas decrescentes ou a taxas crescentes, alguma coisa que poderá ser detectada deve ter acontecido em nossa vida material que justificasse aquelas mudanças de inclinação na curva, podendo ser, assim, confirmada ou não a influência do mundo material sobre a evolução do espírito).
De uma perspectiva científica, embora o nosso estoque de conhecimento cresça com o tempo, definitivamente, jamais obteremos respostas para as três perguntas dos antigos filósofos gregos que, mesmo desde muito antes deles, já afligia os seres humanos do planeta e que são: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?
A razão para tal é a de que a Ciência, tendo sido criada, jamais conseguirá explicar através do Método Científico aquele que a criou. Da mesma forma a Religião, tendo sido revelada, pode apenas nos apresentar o desejo, a vontade e o eventual objetivo imediato do Criador; isto é, que para nós, seres humanos, teve e tem aquele que a revelou às suas criaturas. Entretanto, na Religião como na Ciência, jamais chegaremos a conhecer, em definitivo, a própria gênese do Criador.
Evidentemente, tanto a Ciência quanto a Religião contribuem para minorar o sofrimento humano e para proporcionar alivio e bem-estar, individual e coletivo, na passagem dos indivíduos por estas suas existências corpóreas em nosso planeta. Contudo, ambas jamais oferecerão uma explicação, global e definitiva, acerca dos mistérios da Criação e do Criador, por lhes fugirem ao escopo e por não possuírem instrumentos de análise para tal.
A Filosofia é a única que pode especular a respeito das três perguntas fundamentais ainda não respondidas, sem nenhum compromisso maior e apenas com a intuição e o raciocínio; posto que, sendo o conhecimento considerado desde a antiguidade um atributo pessoal dos deuses, os filósofos, sabendo que não conseguiriam, jamais, possuí-lo integralmente, buscavam ter a sua amizade como uma forma de chegar mais perto dele (de onde vêm a palavra grega Filosofia, significando amigo da sabedoria ou do conhecimento). Afinal, no âmbito da Filosofia, tudo aquilo que já foi dito pelos seres humanos não passa de simples especulação, que cabe aos filósofos precedentes aceitarem ou, então, renegarem e formularem novas especulações.
Ao longo da história humana, por sua vez, inúmeros filósofos tentaram apresentar provas contundentes sobre a existência real de Deus ou de um Criador. As mais conhecidas são:
O Consenso Comum, dos discípulos de Platão;
O Argumento Teleológico, utilizado por Platão e Aristóteles;
O do Primeiro Princípio, de Aristóteles;
A Prova do Movimento, por Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino;
A Prova da Gradação, sintetizada por Anselmo de Aosta;
A Prova Cosmológica;
A Prova Ontológica, formulada por Anselmo de Aosta;
O Argumento da Simples Presença da Ideia do Criador;
A Prova Moral; e
A Prova de Filon.
Não entrarei em detalhes sobre tais provas, que podem ser encontradas na literatura filosófica disponível na WEB.
Em minha modesta opinião, a principal prova da existência de um Criador tem, talvez, passado despercebida da maioria dos filósofos que tradicionalmente se ocuparam de tentar provar, de maneira insofismável e lógica, a realidade do Criador de todas as coisas.
Causa até estranheza que a prova, por mim apresentada a seguir, não tenha sido percebida e, caso tenha sido, não seja mencionada nos compêndios sobre o assunto. Esta prova consistiria na maneira pela qual os seres humanos se reproduzem.
Uma hipótese para a ausência de qualquer menção a respeito deste assunto, no que tange a eventual prova da existência de um Criador, pode estar vinculada ao aspecto da conotação de pecado e a correspondente repressão sexual advinda com o surgimento e a expansão do Cristianismo. É conhecido que no Oriente os filósofos e religiosos encaravam a sexualidade como uma iluminação espiritual; como, também, no Ocidente antigo, os gregos e os romanos aceitavam a sexualidade sem nenhuma impressão moralista; impressão está, apenas, surgida com o nascimento do cristianismo.
As culturas e as religiões orientais baseiam-se no equilíbrio e na complementaridade entre o masculino (Yang) e o feminino (Yin). Para tais culturas o sexo buscava, principalmente, a transcendência da mortalidade. Segundo vários autores, no próprio Ocidente antigo o sexo era natural, divino e sempre realizado como forma de adoração, não sendo descriminado e sem senso de pudor; já que tudo era divino e natural na sexualidade grega e romana.
O cristianismo, surgido de tradições judaicas, criando a noção de pecado regulou o comportamento moral do Império Romano e, a partir de então, de todo o Ocidente. A visão cristã, impregnada de valores éticos que transcendem o mundo material, acabou por colocar a sexualidade situada no plano material, como fonte de pecado e cujas tentações deveriam ser mantidas afastadas. A própria mãe de Jesus foi considerada como virgem, de modo a reiterar ser ele filho do Criador; mas, também, para torná-la livre do pecado da carne.
Surgiu, assim, uma contradição entre a sexualidade divina e a sexualidade pecado. O cristianismo ficou com a segunda, para justificar a sua origem.
Voltando à prova da existência de um Criador, que queremos demonstrar, vale lembrar uma máxima do Direito que afirma: “quem pode o mais, pode o menos”; isto é, quem pode fazer as coisas mais difíceis, também pode fazer as coisas mais fáceis. Mais à frente, os leitores entenderão a razão da menção desta proposição neste momento.
Os métodos conhecidos de reprodução podem agrupar-se, genericamente, em dois tipos: reprodução assexuada e reprodução sexuada. No primeiro caso, um indivíduo reproduz-se sem que exista a necessidade de qualquer partilha de material genético entre organismos. A divisão de uma célula em duas é um exemplo comum, ainda que o processo não se limite a organismos unicelulares. A maior parte das plantas tem a capacidade de se reproduzir de forma assexuada, tal como alguns animais (ainda que seja menos comum). A reprodução sexuada, por sua vez, implica a partilha de material genético, geralmente providenciado por organismos da mesma espécie classificados, geralmente, de macho e de fêmea, como no caso dos seres humanos.
A reprodução sexuada está, portanto, relacionada com processos que envolvem troca e mistura de material genético entre indivíduos de uma mesma espécie. Esse modo de reprodução, apesar de mais complexo e energicamente mais custoso do que a reprodução assexuada, traz grandes vantagens aos seres vivos e é o mais amplamente empregado pelos diferentes grupos. Mesmo organismos que apresentam reprodução assexuada podem, também, se reproduzir de forma sexuada, embora existam algumas espécies em que a reprodução sexuada não ocorra.
Do ponto de vista estritamente biológico, a reprodução assexuada seria muito mais vantajosa, pois preservaria, sem modificações, as características dos organismos, dada certa condição ecológica. Essa, entretanto, nem sempre é a realidade. O meio ambiente pode apresentar alterações. Sobreviver a elas depende, em grande parte, de o patrimônio genético conter soluções as mais variadas possíveis.
Entretanto, muitas espécies de animais, incluindo invertebrados e vertebrados (como alguns répteis, peixes e, muito raramente, aves e tubarões), capazes de reprodução sexual, também têm a capacidade de se reproduzir de forma assexuada, nomeadamente através da partenogénese (do Grego parthenos, virgem, genesis, criação), que consiste na formação e desenvolvimento de um embrião sem necessidade de fertilização dos óvulos por parte do macho. Algumas espermatofitas, em que a norma é a reprodução sexuada, podem igualmente produzir sementes sem que haja fertilização dos óvulos, através de um processo conhecido por apomixia. Nos organismos unicelulares, como as bactérias e as leveduras, a norma é a reprodução assexuada, através da fissão binária das células. Outras formas de reprodução assexuada incluem a esporogênese, no caso da formação de mitoesporos (esporos resultantes da mitose) e a fragmentação clonal. A reprodução dos vírus também pode ser considerada como assexuada.
Nos hermafroditas pode ocorrer autofecundação; ou seja, a fecundação do óvulo pelo espermatozoide do mesmo indivíduo. Ocorre em algumas espécies vegetais. Entretanto, geralmente existem mecanismos que impedem a autofecundação. Nesses casos, os óvulos de um indivíduo são fecundados pelos espermatozoides de outro indivíduo da mesma espécie. Fala-se, então, em fecundação cruzada. A fecundação pode ser externa, quando ocorre fora do corpo, no meio ambiente, ou interna, quando, ocorre no corpo do indivíduo que produz os óvulos. Algumas espécies de anfíbios possuem a fecundação externa. O macho estimula a fêmea a liberar os óvulos no ambiente e o macho libera os espermatozoides em cima deles.
A maior parte dos animais (incluindo o ser humano) e das plantas reproduz-se de maneira sexuada.
Caso a vida fosse fruto, simplesmente, do acaso, por ser mais vantajosa e mais simples, a reprodução dos seres vivos tenderia a ser assexuada ou mediante a autofecundação hermafrodita. Entretanto, esta não foi a maneira escolhida para a reprodução da maior parte dos animais e da totalidade dos seres humanos. Ademais de discutíveis questões de ordem ambiental (os organismos geneticamente idênticos seriam mais suscetíveis as alterações ambientais, o que poderia não ocorrer com populações formadas por indivíduos que se reproduzem de forma sexuada), penso que a razão principal pela qual nos reproduzimos da maneira sexuada, sendo necessário um macho e uma fêmea para que tal se dê, é a prova cabal da existência de um Criador; isto é, esta maneira de reprodução visa deixar bem claro a importância do amor, do carinho e da afeição, que deve unir as criaturas.
Esta forma de reprodução destaca, também, a necessidade da existência da família, núcleo de união, proteção, amor e demais virtudes necessárias à evolução espiritual. Por outro lado, ela garantiria, de maneira mais eficaz, a permanência da criação contra adversidades climáticas, que poderiam, eventualmente, extingui-la.
Como já mencionamos anteriormente, a máxima de “quem pode o mais, pode o menos” aplica-se perfeitamente a existência de um Criador. Quem programou a reprodução sexuada do gênero humano poderia programar a mesma reprodução de forma assexuada, conforme o fez para algumas outras espécies, sem nenhuma dificuldade ou como certamente teria sido feita pela própria Natureza (na ausência de um Criador), caso a vida fosse fruto apenas do acaso (pois esta forma de reprodução é mais vantajosa e menos complexa).
Só que, neste caso, os seres daí resultantes não possuiriam laços de união e de afeto entre si, necessários para a evolução espiritual e só obtidos através de uma reprodução sexuada, onde o pai e a mãe permanecem sempre (ou quase sempre) junto aos filhos, constituindo uma família na qual seus integrantes se ajudam, se protegem e se amam.
Esta maneira pela qual nos reproduzimos, por si só, demonstra, também, a necessidade da evolução espiritual, alcançada apenas desta forma; pois, propicia o surgimento dos sentimentos virtuosos de amor, generosidade, compaixão, coragem, dedicação, altruísmo, bondade, caridade, etc. etc. etc.
Alguns leitores, mais perspicazes, dirão: - Mas, também, propicia o surgimento dos vícios!
Concordo, plenamente, com os leitores e direi a razão de ser assim: o motivo, por detrás de tudo isto, é o fato de que a evolução humana ocorre mediante um processo dialético conforme já mencionado, no qual são necessárias a Tese e a Antítese, para que, finalmente, ocorra uma Síntese. Assim, oscilando entre a virtude e o vício, os seres humanos e a humanidade como um todo sintetizam, em cada período de tempo, a sua necessária evolução.
Alguns denominam esse processo de Princípio do Contraditório, que vigora na Natureza e na vida social dos indivíduos: a Verdade aparece sempre por intermédio das contradições humanas e tudo na Natureza, que necessita de evolução, evolui dialeticamente. Logo, se não existissem contradições, a humanidade não evoluiria material e espiritualmente e a Verdade não seria conhecida. Esta é a razão pela qual o Criador ou o Grande Arquiteto do Universo (cuja existência eu considero provada, com este argumento apresentado), que não necessita evoluir, pode ser considerado a fonte de todas as virtudes e a ausência de todos os vícios.
Quanto ao porquê de haver patrocinado toda esta Sua criação, posso, apenas, especular o seguinte, considerando que nada na Natureza é feito por acaso:
A existência de um Universo, contendo incontáveis Nebulosas, infinitas Galáxias e enumeráveis Sistemas Solares, deixa evidente que a vida não é um privilégio do nosso planeta. Assim, inúmeras espécies inteligentes deverão existir por este vasto Universo e muitas delas, certamente mais desenvolvidas que a nossa, já estarão nos visitando desde há algum tempo (conforme os milhares de relatos de observação visual e de constatações feitas através da história; bem como, mediante equipamentos tais como radares, filmadoras, etc.).
Estes seres alienígenas podem ou não possuir características antropomórficas. De nenhuma das raças que nos visitam, segundo material divulgado por entidades públicas, privadas e pesquisadores individuais, se conhece oficialmente o que pensam sobre Religião e Filosofia; aspectos estes que devem com certeza, de um modo ou de outro, fazer parte da vida de qualquer ser vivo racional existente em qualquer parte do Universo. Entretanto, acredito que algumas considerações possam ser feitas sobre tais aspectos, utilizando, tão somente, o raciocínio e a razão.
Em primeiro lugar, em sua maioria, tais seres (observados em diversas ocasiões e contatados algumas vezes) possuem características antropomórficas, indicando que esta parece ser a forma que predomina no Universo (outras formas de vida, porventura existentes e contempladas em menor escala pelas observações visuais, podem se tratar de robôs e, sendo assim, não necessitariam possuir a característica antropomórfica).
O antropomorfismo, evidentemente, tendo uma razão de ser, indicaria um desenho básico do Princípio Criador, cujos objetivos seriam aqueles já mencionados: poder sobreviver em um meio inóspito e evoluir material e espiritualmente. O cérebro, menos ou mais desenvolvido em tamanho, poderia indicar o estado de evolução científica e tecnológica alcançado pela espécie.
Informações esparsas, até então obtidas sobre as raças extraterrestres que supostamente nos visitam, destacam que a maneira como se estruturaram socialmente difere da nossa: Cada uma destas distintas civilizações, são formadas por uma única raça que habita um ou mais planetas, sem a existência de países nestes planetas. Suas estruturações política, administrativa e organizacional não adotaram a forma piramidal, como a nossa: uma elite, no topo da pirâmide, detendo todo o conhecimento e o poder, e o povo na base da pirâmide, sem conhecimento e sem poder. A forma por eles adotada, segundo relatos, é a holográfica; isto é, não existem segredos nem elites predominantes. Todos os seres sabem de tudo (talvez uma explicação para as grandes cabeças que possuem, relatadas por vários observadores) e estão aptos a desempenhar qualquer função em qualquer lugar.
Entretanto, por mais desenvolvidos que sejam, científica e tecnologicamente (o que implicaria em serem também desenvolvidos econômica e socialmente), com certeza, saberão que não foram os criadores do Universo, embora possam constituir civilizações bem mais antigas que a nossa e também terem criado outras espécies vivas em diversos outros planetas de inúmeros Sistemas Solares. Saberão, também, que não foram os criadores das Ciências e de suas leis; pois estas sempre existiram e eles, da mesma forma como nós, apenas as descobriram e as utilizaram em benefício próprio. Sendo assim, poderão ou não prestar alguma forma de homenagem ao Criador do Universo, mesmo que não venham a adorá-lo ou venerá-lo como fazem os adeptos das nossas religiões.
No entanto, é mais razoável supor que acreditem em um Criador, como seres evoluídos e de boa índole (conforme são descritos por muitos daqueles que com eles mantiveram alguma forma de contato), embora algumas destas raças não demonstrem possuir emoções, como alegria, tristeza, raiva, etc.
Considerando a evolução que demonstram, se seus objetivos para conosco fossem os da maldade e da dominação para nos escravizar, com certeza, já o teriam feito. É fato que colhem material biológico de seres humanos e de animais, mas isto pode se tratar, apenas, de obtenção de informações científicas sobre o nosso planeta e suas formas de vida. Quanto ao fato de se darem ou não a conhecer, perante as populações do nosso planeta, parece ser este o desejo deles (tantas são as suas aparições e os contatos que já mantiveram), mas não o das elites globais e regionais que comandam o nosso planeta. Tanto é assim que o assunto OVNI é, ainda, mantido em completo sigilo por parte das autoridades de todos os países, que trocam informações entre si, mas não as divulgam para as suas populações.
Apenas o bom senso seria suficiente para acreditar que não estamos sós. Considerando a vastidão do Universo, consistiria um enorme desperdício de tempo, de espaço e de recursos, a existência de vida inteligente e racional apenas em nosso pequeno planeta, perdido no espaço infinito. O Criador de incontáveis mundos, certamente também foi o Criador de incontáveis raças de seres inteligentes e racionais, espalhados pelo Universo da Criação.
Os adeptos das igrejas cristãs, do islamismo e do judaísmo (religiões que situaram o Criador como existindo fora do nosso planeta), sempre afirmaram que os Seres Humanos, feitos a imagem e semelhança do Criador, constituíam a única espécie racional existente na imensa vastidão do Universo, e que este havia sido criado apenas para o eterno usufruto de tais seres. Os praticantes do Budismo, do Hinduísmo, do Bramanismo e de outras religiões orientais, por possuírem uma visão Panteísta do Criador (este, segundo eles, estaria em todas as coisas vivas e inanimadas existentes), sempre acreditaram que não estavam sozinhos no Universo.
Muitos pesquisadores da Ufologia utilizam-se, na atualidade, da meditação budista para contatar alguns destes seres extraterrestres.
Vários pesquisadores informam em congressos realizados por todo o mundo, que diversos governos já mantiveram contatos com tais seres, deles já tendo extraído conhecimentos tecnológicos sobre micro-ondas, laser, ligas metálicas, circuitos eletrônicos, fibras óticas, sensores de visão noturna, desenho de aeronaves, invisibilidade aos radares, etc. Podemos imaginar que nossas atuais elites desejam obter os fantásticos conhecimentos dos alienígenas sem perder o domínio sobre as populações do planeta; razão pela qual, não divulgam oficialmente as suas presenças. Evidentemente, ao tomarmos ciência de que eles existem e que já estão aqui, os eventuais novos conceitos religiosos e filosóficos que poderíamos vir a absorver destes seres, faria, certamente, com que mudassem, para sempre, as relações entre os dominadores e os dominados em nosso planeta.
Segundo o meu modo de ver filosoficamente está questão, algumas características seriam comuns a todas as civilizações inteligentes e racionais, porventura existentes no Universo.
A Filosofia, sendo o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem, com toda certeza, fará parte da vida de todos os seres vivos inteligentes e racionais.
Os nossos filósofos empenham-se em responder, racionalmente, questões acerca da realidade última das coisas, das origens e características do verdadeiro conhecimento, da objetividade dos valores morais, da existência e natureza de Deus (ou dos deuses).
Muitas das questões levantadas pelos primeiros pensadores terrestres são, ainda, temas importantes da nossa Filosofia contemporânea (e suas ramificações, como a epistemologia, a ontologia, a ética, a metafísica, a filosofia social, a filosofia política, a estética e a lógica); e, certamente, também farão parte da existência de civilizações extraterrestres, que, com toda certeza, possuirão atitudes filosóficas perante o Universo e perante elas mesmas. Tais atitudes poderão, eventualmente, divergir das nossas; porém, se tudo houver partido de um mesmo centro Criador, amoroso para com as suas criaturas, a possibilidade de que haja um sentimento comum que permeie a todas as civilizações é, sem dúvida, bastante provável e razoável.
As Virtudes (embora muitos de nós não as pratiquemos com frequência), da forma como as conhecemos, são formadas por todos os hábitos, constantes que levam o homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente, quer coletivamente. Por sua vez, os Vícios constituem aqueles hábitos repetitivos, que degeneram ou causam algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Assim, os conceitos de Vícios e Virtudes são universais, embora possam diferir em épocas e locais.
Por outro lado, considerando o lado espiritual dos seres inteligentes e racionais, que necessitariam desta evolução espiritual (além da evolução material), para desenvolverem-se, aperfeiçoarem-se e atingirem patamares cada vez mais elevados na escala de evolução edificada pelo Criador, concluímos ser esta a única razão pela qual encarnam para viver uma existência material, aonde quer que seja neste vasto Universo. A evolução espiritual dar-se-ia pelo processo dialético já mencionado (comum a toda evolução). É através do contraditório que se atinge a verdade e se galga um novo patamar na escala da evolução. A síntese, originária do confronto entre a tese e a antítese, representa, pois, uma evolução em face destas duas proposições. A vida material possibilita, assim, a evolução espiritual; logo, todo ser vivo inteligente e racional encarnou para evoluir material e espiritualmente.
Concluindo, podemos imaginar que, embora o surgimento da vida racional possa haver se dado em épocas muito distintas nas diversas constelações com planetas habitados (e algumas civilizações serem milhares de vezes mais desenvolvidas científica e tecnologicamente do que outras), esta evolução não deverá ser muito diferente no que respeita aos aspectos filosóficos. Poderá, todavia, se diferenciar quanto aos aspectos religiosos; já que, embora podendo acreditar possuir um ou vários Criadores, podem não prestar reverência a nenhum deles. Podem também não acreditar na existência deste, o que denotaria, com certeza, uma espiritualidade inferior à nossa.
Um exemplo prático nós temos em nosso próprio planeta. Embora por muitos milênios, diversas raças, povos e nações vivessem em isolamento e sem o conhecimento da existência uns dos outros, todos eles possuíam uma interpretação para a criação do Universo, que coincidia com o fato de nenhum deles aventar-se como sendo o seu criador.
O Criador podia ser um ou mais deuses, que viviam em altas montanhas ou fora do planeta. Por outro lado, o assassinato sempre foi considerado como algo errado, bem assim o roubo e o furto. Leis muito antigas, como o Código de Hamurabi, escrito aproximadamente em 1.700 A.C., já estabeleciam penalidades para certas ações contra o indivíduo e contra a tribo. O referido código estabelecia a lei de Talião (olho por olho e dente por dente), além de punir o falso testemunho, o roubo e a receptação, o estupro, a ajuda a fugitivos e o assassinato. Isto certamente é Universal. “Não faça aos demais aquilo que não deseja que lhe façam”: esta parece ser uma regra de ouro para toda a vida inteligente e racional, onde quer que se encontre.
Evidentemente, os alienígenas (em que pese à boa índole que deverão ter aqueles espiritualmente evoluídos que nos visitam), caso se defrontem em seus planetas com cataclismos ou escassez de água ou de alimentos, em primeiro lugar colocarão a sobrevivência de sua espécie sobre quaisquer outros sentimentos que possam ter com respeito às demais espécies. Quanto a isto, precisamos estar atentos para evitar surpresas.
O termo Exopolítica, muito empregado atualmente pelos pesquisadores da Ufologia, trata do estabelecimento de um arcabouço jurídico que venha a estabelecer regras sobre a ocupação do nosso Sistema Solar; bem como, acerca do nosso contato com civilizações extraterrestres. Evidentemente, para tanto, deveremos antes efetuar contatos com estas raças; já que, tudo terá que ser fruto de um acordo entre nós e eles. Com seus incomensuráveis avanços tecnológicos, podem respeitar ou não nossa posição sobre os diversos assuntos da pauta.
Astronautas americanos que visitaram a Lua, bem como sondas e robôs que estiveram na Lua e em Marte, reportaram, filmaram e fotografaram instalações, bases e veículos extraterrestres naquele satélite e naquele planeta (entrevistas, filmes e congressos, relativos a estes fatos, podem ser obtidos no You Tube). Embora pensemos que o nosso Sistema Solar nos pertence, na realidade, ele poderá já ter outros donos há muito tempo.
Voltando, pois, ao questionamento formulado no início deste ensaio: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Creio que já podemos afirmar que nós somos uma das inúmeras manifestações de vida criadas e espalhadas pelo Universo. Viemos de um Princípio Criador, que criou a nós e a tudo o mais existente no Universo. Vamos em direção à evolução, quer seja ela material ou espiritual.
Quanto ao porque disto tudo, a única explicação lógica que me ocorre é a seguinte: O Princípio Criador, certamente, já existia antes da Criação do Universo por ele mesmo. Caso não existisse ou teria sido criado por outro Criador ou teria criado a si mesmo (sendo, assim, criador e criatura, o que se trata de uma contradição e, com certeza, de uma impossibilidade técnica). Qual motivo o terá levado a criar um Universo, com várias espécies diferentes, em vários locais da sua criação onde antes nada existia? A única resposta que encontro é a da solidão e do tédio. De que vale tudo poder, sem a presença de seres inteligentes que admirem, dividam e compartilhem parte deste poder de criação? De que vale tudo poder, sem ter o que fazer em um Universo inexistente. Veja o leitor que solidão e tédio não são virtudes nem vícios, são, apenas, estados da alma ou condições espirituais. Da mesma forma que a solidão e o tédio podem ocorrer (e ocorrem) com as criaturas, fruto da Criação; com certeza, também poderão ocorrer com o Criador que tudo pode.
Qualquer criatura inteligente ao criar alguma coisa, coloca nesta criação parte de si mesmo; isto é, as suas emoções, o seu estado de espírito no momento, as suas preocupações e temores, os seus anseios e esperanças, o seu senso estético; em suma, o seu próprio Eu interior. O Criador, da mesma forma, possuiria em seu íntimo estes estados da alma (a solidão e o tédio, por exemplo) que inseriu em todas as suas criaturas. Até porque, como entender o comportamento das criaturas sem possuir a capacidade de entender as suas decisões, os seus sentimentos e os seus valores?
Não devemos confundir solidão com o simples fato de estarmos sós; posto que, àquela é uma condição psicológica, um estado da alma (ou espírito enquanto encarnado) ou uma condição espiritual (dos espíritos enquanto desencarnados) e este é uma realidade concreta.
O Criador de todas as coisas, não sendo uma Entidade material, mas, sim, espiritual, embora não possua vícios e possua todas as virtudes, também possuirá estas condições espirituais de solidão e tédio, comuns às almas e aos espíritos.
Creio, assim, terem sido estes os sentimentos que motivaram o Princípio Criador a iniciar esta monumental obra de criação do Universo conhecido, pois, se o Principio Criador já existia antes e existia só, alguma razão lógica deve ter havido para que desejasse deixar de ser só, ao empreender a obra da criação. Se Ele estivesse totalmente feliz com a Sua condição de ser só, não teria necessidade de criar aquilo que não existia (e se algo não existia era porque não havia sido necessário, até então).
A razão última desta magnífica e monumental obra de criação, portanto, em meu ponto de vista, foi, simplesmente, a solidão do Criador. Por outro lado, como em um jogo que nunca termina, a possibilidade e a necessidade de evolução material e espiritual da criação forneceria o meio de minorar ou eliminar o tédio do Criador (e também das suas próprias criaturas); posto que, a cada dia, estas condições materiais e espirituais estariam se modificando e tornando o Universo, a cada momento, sempre diferente daquilo que fora anteriormente. Podemos imaginar como seriam tediosas as nossas existências se não houvesse a possibilidade de evolução, tanto material quanto espiritual.
Estas são, portanto, caríssimos leitores, minhas opiniões sobre as três grandes questões que, desde os primórdios do homem sobre a superfície do planeta, têm atormentado a mente de todas as criaturas inteligentes e racionais. Por estas razões mencionadas, podemos entender a razão pela qual, na maioria dos casos, as nossas vidas raramente são felizes e, quando muito, apresentam, apenas, momentos de felicidade, logo substituídos por períodos maiores de sofrimento, desgosto e desilusão, seguidos, ainda, de solidão e tédio. Não fomos feitos para desfrutar da felicidade, pois ela dificultaria o nosso progresso. Apenas a recebemos em pequenas doses, como o açúcar colocado no café, de forma a tornar a vida mais doce e palatável. Definitivamente, a felicidade não é a nossa praia...
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_*/ Da Academia Brasileira de Defesa.
_*/ Da Academia Brasileira de Defesa.
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