segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

 429. Um breve ensaio sobre como os seres humanos corromperam ainda mais o projeto divino, já corrompido em suas origens


Jober Rocha


As religiões, de um modo geral, consideram a criação do Universo como sendo um projeto divino. O Criador teria, pois, criado do nada toda a matéria existente no Universo infinito, cujos átomos, depois de criados, passaram a ser eternos. Posteriormente, ainda, segundo algumas religiões, teriam sido criados os três reinos da matéria: o mineral, o vegetal e o animal. Evidentemente, embora as religiões admitam a perfeição do Criador, as Suas criações também deveriam ser perfeitas por definição (já que um Criador perfeito só criaria coisas perfeitas); porém, na realidade elas não o são.
Milhares ou milhões de estrelas encolhem e explodem, ao terminar a fusão nuclear que as manteve vivas, até então, gerando calor e energia. Seus restos, contendo ferro, ouro e rochas, sob a forma de corpos celestes (Meteoros, que são pequenas pedras ou pedaços de metal que viajam pelo espaço e têm menos de 10 metros. Asteroides, que constituem rochas espaciais de tamanho maior, com até mais de mil quilômetros e cometas, corpos formados de poeiras, rochas e gelo) que viajam a enormes velocidades, por vezes, se chocam com planetas produzindo enormes crateras e causando grandes devastações.
Matéria e Antimatéria se anulam em explosões, ao se encontrarem no espaço; buracos negros absorvem tudo aquilo que deles se aproximam, inclusive a luz. Os próprios planetas sofrem deslocamentos e acomodações das camadas inferiores do solo, aqui chamados de terremotos e que destroem cidades e matam milhares de vidas. O clima do nosso planeta, com suas variações extremas de temperatura também dificulta, impede ou destrói a vida em diversas épocas e locais. Certamente o mesmo deverá ocorrer em outros planetas. A tão propalada perfeição do Universo não é, portanto, como aquela que nós imaginávamos e nem este Universo imperfeito teria sido feito, exclusivamente, por nossa causa e em nosso beneficio, como apregoam as religiões.  
A chamada Entropia é um conceito da termodinâmica que mede a desordem das partículas de um sistema físico. A entropia é uma grandeza na termodinâmica, representada nas formulações da física pela letra S. De acordo com a 2ª Lei da Termodinâmica, quanto maior for à desordem de um sistema maior será a sua entropia. Tal lei aponta que um sistema isolado pode ou permanecer fechado ou evoluir para um estado mais caótico, mas nunca para outro mais ordenado.
Pela 2ª Lei da Termodinâmica, em sistemas isolados onde ocorrem processos irreversíveis, a entropia sempre aumenta, pois sempre é necessário um desperdício irreversível de calor de uma fonte quente para uma fonte fria, para que o sistema volte ao estado original e, assim, continue a produzir trabalho a partir do recebimento de calor da fonte quente. Assim, entropia do Universo; ou seja, a desordem, está sempre aumentando. Isso significa que, em algum momento em um futuro distante, o nosso Universo chegará a um estado de desordem total, de entropia máxima. Os cientistas chamam a isso de "morte térmica". Teria o Criador do Universo infinito e eterno cometido algum erro em sua criação? Seria proposital ou algum lapso?
Segundo Wikipédia, a biblioteca da WEB, “Os seres vivos em sua evolução assumida historicamente foram entendidos como contrariando a lei da entropia física por se evoluírem e se manterem, pelo menos até o envelhecimento, ordenados em meio ao caos, graças a maquinarias moleculares capazes de enfrentar uma tendência a desordem. Contudo, cientistas observaram que a nível populacional, nas descendências, está ocorrendo um acúmulo contínuo e sutil de desordens (mutações deletérias) e alguns autores ao medirem quantas mutações positivas ocorriam para as deletérias negativas, chegaram a números alarmantes como de uma mutação positiva para cada milhão de mutações negativas. Pode-se inferir, com isto, que a proporção de mutações que são benéficas é de cerca de uma em um milhão explicando assim uma queda percentual na saúde e na inteligência humanas”.
Isto, de certa forma, contraria a tese de que os corpos e os espíritos existiriam para evoluir e que tais evoluções, no primeiro caso, seriam no sentido do aperfeiçoamento de suas boas características físicas, melhorando-as e as adaptando às condições meioambientais. Os mais aptos sobreviveriam, segundo a tese evolucionista de Darwin, e as mutações seriam sempre no sentido da maior sobrevivência; o que parece não estar ocorrendo. No segundo caso buscar-se-ia o aperfeiçoamento daqueles sentimentos considerados como pertencendo ao campo das virtudes, segundo as teses teosóficas, mas o que se vê é a expansão e o aperfeiçoamento dos vícios.
A civilização atual, com suas ideologias funestas, como o comunismo, o nazismo o fascismo, o anarquismo e o socialismo, vendidos todos como sendo o paraíso terrestre à populações despolitizadas, crédulas e ignorantes que seguem como um rebanho na direção do matadouro, direção está que lhes é indicada pelos donos do mundo (poucas famílias que controlam toda a economia mundial), só faz corromper o eventual projeto divino, desacreditando-o ainda mais.
Vê-se, pois, que, ademais de a própria Natureza trabalhar contra a perfeição deste Projeto Divino, os próprios seres vivos, também, laboram contra esta suposta perfeição como mostraremos ainda mais, a seguir.
Constata-se que o Criador, entidade que é puro amor segundo as religiões, criou as espécies animais e os seus predadores. Evidentemente que ‘quem pode o mais pode o menos’, como explicam os professores de Direito. Desta forma, todos os animais, inclusive os seres humanos, poderiam ser herbívoros por natureza, não necessitando matarem-se uns aos outros simplesmente para se alimentarem, sem nenhuma outra razão superveniente que o justifique.
Os vírus, as bactérias e os fungos, por sua vez, criados pela Entidade Suprema, existem, em sua maioria, apenas para agirem de forma deletéria contra os seres vivos, obra desta mesma Entidade; embora alguns poucos, como, por exemplo, as bactérias benéficas probióticas Bifidobactérias e os Lactobacilos (gêneros Bacteroides, Bifidobacterium e Lactobacillus), bem como as patogênicas Enterobacteriaceae e o gênero Clostridium, exerçam importantes papéis nos intestinos animais.
Esses poucos “organismos do bem” encontram-se no nosso intestino e recebem o nome de flora ou microbiota intestinal. Tais bactérias atuam no processo de digestão, imunidade, funcionamento cerebral e até influenciam no ganho ou perda de peso, com consequentes benefícios para o nosso corpo. Também algumas bactérias do bem que vivem na pele impedem a entrada de outras malignas. Mas, o fato é que a função principal da maioria destes microrganismos é causar o mal aos seres vivos em geral. Muitos destes microrganismos são obras do Criador, mas outros são criações dos próprios seres humanos, como alguns microrganismos que possuem patentes de propriedade registradas em órgãos governamentais. Para combater os vírus existem as vacinas, para as bactérias os antibióticos e para os fungos existem os antifúngicos. Assim, a indústria milionária dos produtos fármacoquimicos enriquece ainda mais as poucas famílias que tudo comandam.
As pragas agrícolas, por sua vez, criadas pelo Ser Supremo, existem para destruir as espécies do reino vegetal, este também criado pelo mesmo Ser Supremo, segundo as religiões. Estaria à própria Natureza trabalhando contra o seu Criador ou, na realidade, tudo isto não passaria de uma simples ilusão e seríamos apenas personagens virtuais de um jogo virtual, sendo jogado por entidades sobrenaturais sobre as quais nada sabemos nem imaginamos?
Hermes Trimegisto (1500 a.C – 2500 a.C), pensador e legislador que viveu na região de Nimus e autor da Tábua das Esmeraldas, já observando a insatisfação do povo da sua época, buscou divulgar sete princípios que descreveriam como as coisas funcionam neste Universo imperfeito. Seus princípios podem ser encontrados em um documento denominado Caibalion, publicado em 1908.
Os sete princípios que buscam explicar como as coisas se passariam no Universo, dizem:
Principio do Mentalismo: Axioma, “O todo é Mente; o universo é mental.”
A interpretação do axioma quer dizer que todo universo e as coisas que acreditamos são de natureza mental. Tudo que existe faz parte da imaginação do TODO.
Princípio da Correspondência: Axioma, “O que está em cima é como o que está embaixo e o que está dentro é como o que está fora.”
Esse conceito atribui a existência universal com a semelhança entre outros planos astrais e extrafísicos.
Princípio da Vibração: Axioma, “Nada está parado, tudo se move, tudo vibra.”
Essa lei define bem o universo e a movimentação atômica! Tudo que nele existe vibra incessantemente e projeta energia nas outras coisas e pessoas.
Princípio da Polaridade: Axioma, “Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliáveis.”
O equilíbrio é a chave para transpor barreiras e garantir expansão.  
Principio do Ritmo: Axioma, “Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação.”
Esse princípio se popularizou como “Lei do Retorno”, que deriva do conceito indiano para Carma.
Princípio de Causa e Efeito: Axioma, “Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à Lei.”
O sexto princípio esclarece que nada é por acaso. As chamadas: coincidências, nada mais são do que reações de causas ainda desconhecidas.
Princípio de Gênero: Axioma, “O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino; o gênero manifesta-se em todos os planos da criação.”
Toda a criação reproduz em aspectos naturais, mentais e espirituais, as energias que derivam do feminino e do masculino.
Alguns destes antigos princípios atribuídos a Hermes Trimegisto, nos quais muitos seres humanos jamais acreditaram, já podem ser observados na atualidade. O primeiro deles, o do Mentalismo, já está sendo posto em prática através do chamado Metaverso, que é a terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais. É um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de "realidade virtual", "realidade aumentada" e "Internet". A própria ideia do Metaverso significa que uma parte cada vez maior de nossas vidas, trabalho, lazer, tempo, gastos, riqueza, felicidade e relacionamentos estarão dentro de mundos virtuais, ao invés de apenas estendidos ou auxiliados por dispositivos digitais e por softwares. Terrenos, casas e veículos virtuais já são comercializados pela internet. Tais bens só existem virtualmente, mas as pessoas lhes atribuem um valor monetário e os adquirem ou vendem através de moedas virtuais, as criptomoedas. Com a implantação definitiva do 5G e o desenvolvimento da Inteligência Artificial e da robótica, novos princípios de Trimegisto poderão vir a ser, com certeza, confirmados. Estaríamos, pois, na modernidade apenas confirmando aquilo que Trimegisto já imaginava na antiguidade clássica?
O segundo princípio, o da Correspondência, também tem se demonstrado verdadeiro, notadamente quando se observa o cenário político. Na política existem os partidos de esquerda e os de direita, sustentados pela doação de empresários, verbas públicas e contribuições externas. O povo, ignorante de como as coisas se passam no submundo da política, acredita que existem, realmente, políticos e partidos que se opõem entre si. Na realidade, como bem disse Trimegisto, também o que está à esquerda é como o que está à direita. A oposição é apenas ilusória, para o povo crédulo não se dar conta de sua servidão voluntária aos mesmos senhores. O escravo já nascido em cativeiro não se imagina escravo, como dizia Étienne de la Boéthie (1530 – 1563) em sua obra Discurso sobre a Servidão Voluntária. As eleições, assim, são feitas, apenas, para que o povo não se imagine escravo, mas um cidadão liberto que pode escolher entre aqueles candidatos disponíveis. Também, para que pense viver em um regime democrático e não em uma cleptocracia autocrática. Para que pense que a Constituição é algo de valor que protege e resguarda seus direitos e não um simples pedaço de papel, rasgado todos os dias pelos donos do poder.
O quarto princípio, o da Polaridade, tem sido constantemente demonstrado pela Justiça, quando considera que o igual e o desigual são a mesma coisa; que os extremos se tocam; que todas as verdades são meias-verdades; que todos os paradoxos podem ser reconciliáveis; que para tudo existe um jeito e um casuísmo oportunista; que os criminosos podem viver soltos e que os inocentes podem viver presos em determinadas épocas, como as de pandemias, por exemplo. Que as instâncias judiciais para nada valem, pois o criminoso só pode ser preso quando esgotarem todos os recursos, que são incontáveis e que podem levar toda uma vida para se esgotarem.
O sexto princípio, o da Causa e Efeito, ao indicar que não existe o acaso e que toda causa tem seu efeito e todo efeito sua causa, esclarece bem aquelas ações sem nexo e contrárias aos interesses populares, praticadas por políticos e demais autoridades governamentais. As ações, que podem ser consideradas como efeitos, tiveram suas causas em fatos por nós desconhecidos e que podem se tratar, muitas vezes, de suborno, de chantagem, de ambição desmedida, de ausência de valores morais, de traição, etc.
O último princípio, o do Gênero, que afirma que o gênero está em tudo, já que tudo tem seus princípios Masculino e Feminino e o gênero manifesta-se em todos os planos da criação, tem sido combatido pela chamada ideologia de gênero, inventada pela esquerda e que consiste na ideia de que os seres humanos nascem iguais, sendo a definição do masculino e do feminino um produto históricocultural desenvolvido tacitamente pela sociedade. Para os defensores desta "ideologia", não existe apenas o gênero masculino e feminino, mas um espectro que pode ser muito mais amplo do que a identificação somente com masculino e feminino.
Finalizando, podemos imaginar duas hipóteses: ou o Universo e os seres vivos que ele contém surgiram devidos simplesmente ao acaso, contrariando um dos princípios de Hermes Trimegisto ou, embora feitos pelo Criador, em razão de ser o primeiro Universo e os primeiros seres por Ele criados, vieram com alguns vícios de origem difíceis de serem consertados posteriormente; principalmente, em razão das Leis Universais da Natureza criadas também por Ele mesmo. Modificar uma Lei Universal, depois de tê-la promulgado, significaria o reconhecimento do erro, da imperfeição. Imperfeição está que pode ser sentida pelas próprias criaturas que nascem com malformações ou deformações físicas e mentais. Imperfeição que pode ser sentida por aqueles que são marginalizados da vida social em razão da pobreza, da discriminação racial, religiosa, sexual ou de outra qualquer natureza.
Os seres humanos, em que pesem estes eventuais vícios de origem do Projeto Divino, ainda fizeram questão de piorá-lo com as suas maquinações maquiavélicas, de modo a transformar o planeta em que estamos aprisionados em algo muito pior do que poderia ser sem a intervenção humana: o superpovoaram; poluíram rios lagos, lagoas e mares; extinguiram espécies da fauna e da flora; consumiram desnecessariamente e de forma supérflua os recursos naturais; poluíram os ares e valorizaram mais os vícios do que as virtudes.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

 428. O Caso número 23

Jober Rocha


- Caso número 23!
Com uma voz de falsete o magistrado, envolto em uma grossa capa preta, chamou o próximo caso a ser julgado.
- O Estado contra o senhor José Manuel da Silva, acusado de ter sido apanhado urinando na rua!
- Confessa senhor José Manuel?
- Claro meritíssimo. Em um país como este é a única coisa que resta ao cidadão comum!
- Como assim?
- Quando votamos e elegemos os políticos municipais (prefeitos e vereadores), não é simplesmente para pagar-lhes um salário e enche-los de mordomias. É para que zelem pelo município: consertem os buracos das ruas, os sinais de trânsito apagados, limpem as praças, varram as ruas e também, dentre outras, que coloquem banheiros públicos para serem usados pela população!
- Em nosso município não existe um único banheiro público nas ruas. Por isso, eu, estando com a bexiga cheia e transitando pela Rua das Ameixas Pretas, onde só existem residências particulares cujas entradas são vedadas a estranhos, resolvi urinar na rua antes que a minha bexiga estourasse. Estou convencido de que fiz a coisa certa, pois, caso contrário, as consequências advindas para mim seriam muito piores. Ficaria meses internado no péssimo hospital municipal, sendo atendido por profissionais mal pagos e sem interesse nenhum pelo meu caso particular. Poderia acabar falecendo com uma septicemia. Para evitar tudo isto, eu urinei na calçada da Rua das Ameixas Pretas, sob os olhares admirados de algumas senhorinhas. Não sei meritíssimo se admirados pelo inusitado do fato ou se pelo ‘tamanho do problema’...!
- Senhor José Manuel da Silva, o seu caso não é tão simples assim. Existem outros fatores em jogo, como a violação da moral pública; a subversão dos costumes; o fato de expor órgão sexual de tamanho anormal aos olhares de crianças e mulheres; molhar a via pública com líquido de odor fétido; fazer suas necessidades fisiológicas na exata hora em que o sino da igreja tocava, chamando os fiéis para a missa, em um flagrante desrespeito às coisas divinas e, finalmente, ter molhado a perna da calça do guarda que foi detê-lo, com um resto de urina que sobrara em sua bexiga!
- Veja, portanto, que você pode ser incluído em vários itens da legislação penal e, embora muitas mulheres do município torçam pela sua liberação, a grande maioria dos homens quer vê-lo atrás das grades, na cadeia!
Nesse exato momento, o promotor levantou-se de sua cadeira e disse:
- Se fosse só pelo inusitado do ‘tamanho do problema’, o Ministério Público não faria carga sobre o fato, mas temos que levar em consideração todas as demais implicações cíveis e criminais que o acontecimento suscita. Temos que pensar na defesa do Estado e nas gerações futuras!
O advogado do Sr. José Manuel da Silva, até então calado, levantou-se, pediu vênia ao juiz e disse:
- Meus senhores e minhas senhoras algum dos presentes já se encontrou, porventura, em uma situação igual a do meu cliente? Com a bexiga cheia no meio da rua de um bairro desconhecido, formado só de casas, sem nenhuma loja onde pudesse haver um banheiro destinado aos clientes?
- Se alguém já passou por esta situação sabe bem da aflição que dominou o meu cliente na ocasião!
- Acredito que todos aqui presentes, na mesma situação, teriam feito exatamente o que ele fez. Em uma hora trágica como esta, passa-se por cima de tudo: moral, costumes, religiosidade, obediência às leis, amizades, respeito, etc. A necessidade fisiológica a tudo isso se sobrepõe, mandatória. Lembrem que, em Jó 8.1-11, Jesus teria dito: - Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!
-Pergunto, pois aos presentes: qual de vós nunca deixou algumas gotas de urina cair na sua cueca ou calcinha, antes de poder aliviar sua bexiga em um confortável banheiro?  
- Recordem que meu cliente estava distante de qualquer banheiro e sua bexiga necessitava ser esvaziada a qualquer custo, após os primeiros pingos começarem a sair descontrolados.
- Aquele que jamais molhou a cueca ou a calcinha, que condene o meu cliente!
O Juiz, então, com a cueca já molhada, pois estava sem ir ao banheiro desde as oito horas da manhã, arquivou o caso e deu por encerrada a seção. A seguir, os presentes começaram a se levantar e caminhar em fila indiana para os dois banheiros existentes no local. Alguns tinham as pernas fechadas e comprimiam o ventre. Outros já aparentavam manchas visíveis de urina nas roupas.




terça-feira, 30 de novembro de 2021

427.  Quo Vades et Quo Vides?

Jober Rocha


“Quo vadis?”, como sabemos, é uma frase latina que significa ‘Para onde vais?’.
A frase deu nome a um filme épico norte-americano de 1951, do gênero drama, dirigido por Mervyn LeRoy e contando com Robert Taylor e Deborah Kerr como artistas principais.
Segundo a Wikipédia, a biblioteca da WEB, “o uso moderno da frase refere-se a um relato do evangelho apócrifo conhecido como ‘Atos de Pedro’ (Manuscrito Vercelli XXXV), no qual, ao fugir de uma provável crucificação em Roma, São Pedro encontra Jesus ressuscitado e pergunta: - Quo vadis?
E Jesus responde: - Romam vado iterum crucifigi (Vou a Roma para ser crucificado de novo).
Prontamente Pedro ganha coragem para continuar seu ministério e acaba por se tornar um mártir, após ser também crucificado; porém, agora, com a cabeça para baixo”.
“Quo vides”, por sua vez, significa ‘Para onde você vê?’ ou, de modo livre, ‘Para onde você olha’. A frase completa que dá título ao presente texto “Quo vades et Quo vides?”, poderia, assim, de forma livre, ser traduzida por ‘Para onde você está indo e para onde você olha?’.
Está frase cai como luva em épocas de pandemias, como esta do Covid 19 que agora vivenciamos; quando quase ninguém sabe para onde estamos indo e poucos enxergam o que nos está vindo pela frente.
Não somente para onde estamos indo, mas, também, para onde a comunidade das nações está indo, é o que muito poucos indivíduos conseguem saber e outros poucos conseguem intuir, já que estes últimos não dispõem das informações dos primeiros.
A maioria da população mundial não faz nem ideia de para onde está indo nem aonde chegará num futuro próximo: se terá um lugar ao sol, com uma renda mínima vitalícia, proporcionada pelo Estado, ou se será simplesmente dizimada pelas elites mundiais, no afã desta em estabelecer uma Nova Ordem Mundial que busque, dentre outras coisas, estabelecer o equilíbrio populacional e o consumo meio ambiental.
Leis, decretos, portarias e regulamentos, feitos a revelia das populações às quais são destinados, quase sempre, têm servido, apenas, para reduzir ou acabar com direitos já existentes, objetivando implantar o mais rápido possível a referida ordem.
Quanto ao que nos vem pela frente, estou certo de que qualquer cidadão comum nem é capaz de imaginar o que mentes malignas maquinam em seus gabinetes e em reuniões secretas, realizadas na calada da noite, fora das agendas de cada um dos seus participantes.
Quando um repórter investigativo levanta alguma hipótese ou recebe denúncia sobre determinados assuntos secretos que são objetos do interesse, apenas, das elites mundiais, estas usam de seus controles e domínios sobre a grande imprensa e sobre a mídia, em geral, para classificar a hipótese levantada ou denuncia apresentada como fazendo parte de uma ‘Teoria da Conspiração’, consistindo está em alguma hipótese fictícia levantada por indivíduos mal intencionados, ignorantes e imaginativos.
A primeira coisa que coloca sob uma névoa o raciocínio lógico e racional das pessoas comuns é o medo, notadamente o medo de algo desconhecido; porém, considerado mortal como um vírus, por exemplo, que pode surpreender qualquer pessoa a qualquer hora do dia e da noite, em qualquer lugar.
Esse vírus, segundo as notícias divulgadas no mundo inteiro, possui a capacidade de rápida mutação, bem como de apresentar novas cepas e variantes, fugindo à ação das anteriores vacinas, supostamente criadas para destruí-lo. A Ciência oficial ao tempo que produz vacinas e induz os seres humanos a tomá-las, demonstra total ignorância sobre as origens e o comportamento do vírus; bem como, evita divulgar publicamente os efeitos colaterais nocivos ou restritivos do uso das vacinas e a sua quase sempre ineficácia. Incontáveis seres humanos morreram de Covid ou de efeitos colaterais das vacinas, após terem tomado as três doses das mesmas recomendadas pela Ciência oficial, que já recomenda uma quarta.
Em muitos países a aplicação da vacina é obrigatória, mesmo que as pessoas estejam morrendo de Covid, após terem tomado as doses obrigatórias, evidenciando, com isso, haver algo desconhecido intrínseco nestas vacinas que as tornam obrigatórias mesmo não surtindo efeito contra o vírus. Aqueles que não se vacinaram por razões próprias de convicção acerca dos malefícios e efeitos colaterais destas, são ameaçados de perderem seus empregos, em uma decisão inédita na história mundial desde a invenção das vacinas.
Por outro lado, legisladores e juristas proibiram médicos de aplicarem preventivamente os medicamentos que julgavam melhor para seus pacientes sujeitos a contaminação ou já contaminados com Covid, em uma verdadeira censura e tirania sobre a profissão médica e os profissionais da Medicina. Apenas as vacinas estavam liberadas, sugerindo, mais uma vez, a existência de algo desconhecido intrinsecamente a estas vacinas.
Ao mesmo tempo os governos dos países do mundo inteiro foram instados a fazer o chamado ‘lockdown’ ou confinamento; Isto é, o bloqueio, imposto pelo Estado, que restringe a circulação de pessoas em áreas e vias públicas, incluindo o fechamento de fronteiras, de fábricas e do comércio, com o intuito de evitar a disseminação do vírus.
Muitos países obedeceram a esta determinação dos organismos da ONU, causando enorme desemprego e acentuado desabastecimento de matérias primas e produtos industrializados, sem, contudo, conseguir conter a disseminação do vírus e seus efeitos danosos sobre as populações.
Informação que circulou recentemente pelas redes sociais, dava conta de que a indústria mundial de vacinas faturava mil dólares por segundo, desde que estas começaram a ser adquiridas pelos governos mundiais.
Enquanto isto, seguimos todos caminhando sem saber para onde vamos e sem saber para onde olhar, guiados por uma elite mundial cujos interesses e objetivos são totalmente distintos daqueles dos demais seres humanos. Somos considerados simplesmente como gado em uma boiada que deve seguir seus pastores, calma e tranquilamente, sem nem imaginar para onde eles a estão conduzindo; mas, acreditando em seus bons princípios, em suas boas intenções e, ainda mais, que aquelas verdes pastagens foram plantadas pelo fazendeiro, exclusivamente, para o deleite daquele rebanho.
Voltando ao início do texto e relembrando o enredo do filme “Quo Vadis?”, encontramos que retornando de uma campanha militar no exterior, o general Marcus Vinicius (Robert Taylor) descobre que uma nova religião se apoderou de Roma: o cristianismo. Quando Vinicius encontra Lygia (Deborah Kerr), seguidora da estranha religião, rapidamente se apaixona e tenta conquistar seu carinho. Lygia está relutante devido às suas crenças divergentes. Para complicar as coisas está o enlouquecido imperador Nero (Peter Ustinov), que culpa os cristãos pelo incêndio de Roma, dando início a uma onda de perseguições.
Em uma simples analogia ao filme podemos imaginar que uma Nova Ordem Mundial se instalou no planeta, objetivando implantar mundialmente o comunismo. Aqueles da elite mundial que, eventualmente, não participaram da sua elaboração, acabaram a ela aderindo após conhecerem seus objetivos e as vantagens que iriam auferir com a sua implantação. Alguns poucos, todavia, mantiveram-se relutantes, devido a crenças em sistemas econômicos divergentes, como o capitalismo por exemplo.
Em nosso país, dois dos poderes da república dão, então, início a uma onda de perseguições aos críticos nacionais desta nova ordem. Para complicar as coisas, um capitão de infantaria assume a Presidência da República e tenta, da maneira como pode e imagina, mudar este cenário caótico.
Conseguirá? (Eritne succedet?)

sábado, 30 de outubro de 2021

 426. Meu primeiro ato de corrupção

Jober Rocha


Lembro-me muito bem daquele dia. Jamais conseguiria esquecê-lo. Eu tinha oito anos na ocasião e morava numa vila de casas em um subúrbio carioca. Minha casa era a de número dez e ficava no meio da vila.
Nós, as crianças da vila, costumávamos brincar na rua em frente às nossas casas e também nos terrenos baldios das redondezas ou na rua que passava em frente à vila, esta com um tráfego razoável para a época; isto é, um carro a cada quinze ou vinte minutos.
Não havia perigos maiores do que espetar os pés descalços em pregos ou cacos de vidros, levar quedas dos velocípedes, patinetes e bicicletas.
A vila era repleta de crianças. Algumas da minha idade, outras maiores e muitos adultos. Tinha o seu Siqueira e suas três filhas, o seu Léo com duas meninas e um menino, além de outras crianças maiores. Ao lado da minha casa morava um casal sem filhos. A mulher era nova, bonita, elegante e sempre se vestia com roupas caras e que lhe caiam bem. Passarei a chama-la de Madame X, até por que já não me recordo do seu nome. O marido dela trabalhava em algum lugar, onde o expediente iniciava cedo e acabava tarde. Ela, portanto, passava a maior parte do tempo sozinha, em sua casa.
Em uma bela tarde de verão, eu me encontrava na calçada da rua que passava em frente à vila, brincando com outros amigos, quando um automóvel preto parou perto de mim. Dele desceu um homem bem apessoado, vestido com um belo terno claro e um chapéu na cabeça. O homem me chamou e perguntou se eu conhecia a Madame X. Ante minha afirmativa, estendeu-me a mão e me entregou uma moeda de 25 centavos, dizendo: - Isto é para você ir correndo a casa dela e dizer-lhe que o Roberto está no automóvel esperando.
Embora com apenas oito anos, eu, como sempre fui ‘galinha’, percebi logo que havia algo de estranho no ar: um homem desconhecido, sem querer ser notado na vila, pagar a uma criança para chamar uma bela mulher que com ele iria sair de automóvel na ausência do marido. Mesmo nos meus oito anos, já percebia que havia alguma coisa de errado nisto tudo.
De qualquer forma, ao mesmo tempo, me veio à mente a enorme quantidade de balas com figurinhas que poderia adquirir com aqueles 25 centavos. Talvez, até, completar o álbum que a duras penas vinha preenchendo.
Sem pensar duas vezes sai em desabalada carreira para o interior da vila, em direção à casa de Madame X. Quase atingindo a casa, pelo excesso de velocidade em que vinha, escorreguei e fui ao chão. Ralei o joelho e a palma das mãos no pavimento do solo. Todavia, a moeda continuava no fundo do bolso da curta calça que vestia.
Toquei a campainha. Madame X veio atender a porta. Dei o recado e pude sentir no ar um agradável cheiro de perfume. Ela já estava pronta, mas, talvez por charme, mandou que eu retornasse e dissesse que estava se aprontando e logo sairia.
Voltei correndo na mesma velocidade da ida. Quase chegando a calçada onde estava parado o homem, novamente fui ao chão. Desta vez, porém, a moedinha saiu do meu bolso e foi rolando em direção a uma boca de lobo que recolhia as águas da chuva, caindo lá dentro.
A tal boca de lobo era de ferro e estava firmemente presa. O homem vendo minhas tentativas frustradas de levantá-la veio me ajudar. Também não conseguiu. Dei-lhe o recado de que Madame X já estava vindo e tentei, mais algumas vezes, pegar de volta a moeda. Não consegui. Aquela tampa pesada de ferro não se movia.
Finalmente chegou Madame X, toda elegante e perfumada. O homem sorriu e deu-lhe um beijo na boca, por ela correspondido. Entraram no automóvel e partiram, não sei para onde.
A partir daquele dia, toda vez que eu passava pelo bueiro, olhava para dentro e contemplava a moedinha, ainda quieta no mesmo lugar. Fiquei imaginando que aquilo fora obra do Criador de Todas as Coisas: vendo uma criança se corromper por vinte e cinco centavos, para participar de uma traição conjugal, resolvera fazer com que eu não pudesse aproveitar o fruto do meu ato de corrupção.
Os anos se passaram, me formei e como era muito popular no bairro entrei para a política. Fui eleito vereador e, mais tarde, deputado.
Hoje sou uma autoridade na capital federal, ocupando um cargo proeminente, com autoridade para mandar e desmandar.
Fiquei multimilionário, pois, aprendendo aquela lição que tive quando criança, eu jamais deixei qualquer valor, ganho de forma fraudulenta, escapar de minhas mãos, aplicando-o sempre fora do país em algum paraíso fiscal.
Hoje, na velhice, tendo conhecido e provado de tudo, meus únicos prazeres são os vinhos caros de boas safras, as viagens aos bancos internacionais nas Ilhas Cayman para conferir meus saldos e extratos e as rachadinhas, tanto no meu gabinete  quanto fora dele...


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 425. O País do Passado

 

Jober Rocha*


Com a ascensão ao poder do regime militar e o consequente desenvolvimento pelo qual o Brasil passou a partir de então, costumava-se dizer, interna e externamente, que este seria o País do Futuro.
Tudo levava a crer que sim, pois com a paz social reinante, com os novos empreendimentos promovidos pelo governo federal, com um grande número de empresas estrangeiras aqui querendo se instalar para produzir os mais variados produtos, com o empresariado nacional sendo abastecido de crédito para a expansão de seus negócios e a justiça e o parlamento se atendo às suas atribuições, o executivo podia planejar e executar os projetos de interesse do país e de sua população.
Sim, meus jovens amigos leitores, nós já tivemos um país pujante, defendido por um braço bem forte e uma mão bem amiga, durante as décadas de 60,70 e 80.
Lembro-me bem da época em que as nossas Forças Armadas eram consideradas das melhores do continente, tanto em pessoal como em adestramento, aprestamento militar, doutrina e material de guerra.
Nossos estaleiros produziam embarcações civis (SD-14, Petroleiros, Panamax, Rebocadores, Embarcações Off Shore) e militares (Fragatas, Corvetas, Embarcações fluviais, de treinamento, etc.); nossa indústria de material de defesa (Engesa e outras) produzia veículos como o Cascavel, blindado que alcançou enorme sucesso internacional desde que começou a ser feito, em 1980. O transporte de tropas Urutu, que transportava até 12 soldados – além do motorista e do comandante.  Jararaca, um veículo de reconhecimento de 4,16 metros de comprimento e ampla autonomia que, graças ao tanque com capacidade para 140 litros de diesel, podia rodar até 700 quilômetros.  O Ogum, blindado leve transportador de tropas movido por esteiras (mais eficientes que as rodas em terrenos off-road), com características similares às do alemão Wiesel. O Sucuri, baseado na plataforma do Urutu e do Cascavel, era um caça-tanques sobre rodas criado nos anos 80 e que abria mão de parte de sua capacidade de proteção para surpreender em termos de velocidade e autonomia. O Ozório, carro de combate pesado submetido a testes no deserto, onde superou os concorrentes do Reino Unido, França e Itália e ficou em pé de igualdade com o famoso tanque M1 Abrams, dos Estados Unidos.
O Sistema de Defesa Astros, um dos mais bem-sucedidos modelos militares brasileiros mundo afora. Desenvolvido em 1983, pela Avibras Indústria Aeroespacial, ele é um lançador de foguetes de saturação capaz de lançar múltiplos foguetes, de diferentes calibres, a distâncias que variam entre 09 e 300 quilômetros e teria uma versão chamada de Astros 2020, compatível com mísseis de cruzeiro. O Marruá, que atuava como veículo de carga, de transporte de pessoal e ambulância. O Gaúcho, veículo que possui autonomia de 500 quilômetros e velocidade máxima de 120 km/h. Comporta até quatro ocupantes, e oferece como opcionais uma metralhadora calibre 7,62mm. O Guarani, o mais moderno blindado de transporte médio do Exército Brasileiro, teve suas primeiras unidades entregues em 2014, e deve substituir gradualmente o Urutu. Com capacidade para até 11 ocupantes, o Guarani é um 6×6 com alcance operacional de até 600 km e que pode alcançar os 110 km/h de velocidade máxima. Seu armamento principal é um canhão automático de calibre 30 mm em uma torre estabilizada controlada remotamente.
Durante as décadas mencionadas, os nossos militares evitaram que o país fosse tomado de assalto pelo comunismo internacional fazendo uso dos inocentes úteis tupiniquins. Foram as décadas em que o país cresceu e se desenvolveu, ocorrendo o chamado Milagre Brasileiro.
Os militares de então no governo, com uma visão de futuro, possuíam um compromisso com o país e a sua gente. Foi época das grandes obras, como as usinas hidrelétricas, as extensas rodovias ligando os quatro pontos cardeais do país, o surgimento de grandes empresas industriais, comerciais e de serviços, o desenvolvimento do agro negócio, a descoberta de novas jazidas minerais e a expansão da extração e exportação de minérios.
Foi nessa época que a indústria aeroespacial se desenvolveu e o país construiu uma base para lançamento de foguetes, almejando a construção de veículos lançadores de satélites. A EMBRAER iniciou a fabricação do avião Bandeirante que, como o velho “Fusca” e substituindo os obsoletos C-47, desbravou o país decolando e pousando dos mais distantes rincões da pátria.
Nossa Força Aérea possuía uma boa quantidade de interceptadores Mirage, de caças F-5, de Xavantes e de AMX; além de Tucanos e de outras aeronaves. Os pilotos militares, de então, voavam muito mais do que os atuais.
Os militares, após passarem para a reserva, ainda continuavam colaborando com as suas experiências para o nosso desenvolvimento, seja no governo ou na iniciativa privada.
O país crescia, havia empregos para todos. Nas universidades eram formados os profissionais destinados ao mercado de trabalho e não ao ativismo ideológico e à militância política, como nas décadas seguintes (de 90 e primeira e segunda décadas de 2.000) com a ascensão ao poder da nefasta esquerda venal.
Quem queria trabalhar, produzir, empreender e criar, naquele tempo a que me refiro, jamais foi incomodado em seu labor pelas autoridades. Quem vivia do roubo, do estelionato, das falcatruas, do tráfico de drogas e conspirando contra o Estado, era combatido por uma polícia dura e uma justiça justa.
Assim, com o retorno das eleições promovido pelo presidente João Figueiredo, o povo brasileiro influenciado por uma máquina de propaganda gerida por hábeis marqueteiros e contando com dinheiro de fontes externas e internas, elegeu sucessivos governos de esquerda, objetivando alcançar o tão decantado futuro que nos conduziria ao Primeiro Mundo definitivamente.
Depois de tudo aquilo que os brasileiros constataram na própria carne, ao longo das três últimas décadas: fraude em concorrências públicas; em eleições; desvio de dinheiro público; contrabando de divisas; formação de quadrilhas; roubos; concussões; nepotismo; sinecuras; aparelhamento da máquina pública com ativistas ideológicos de esquerda, sucateamento e desmotivação das forças armadas, etc., cada vez ficou mais distante a chance de nos tornarmos um país do Primeiro Mundo.
Parece que a atual elite não foi feita da mesma matéria que a antiga. Hoje pensam muito no dia presente e não mais no futuro. Faltam estadistas e homens públicos comprometidos com o Brasil e com a nossa gente. Patriotas decididos a oferecerem as suas próprias vidas em defesa da pátria, do povo e das nossas instituições. A maioria da nossa elite pensa apenas em si próprio, em sua família e em seu grupo. As chamadas mordomias, os altos cargos nos três poderes da república são o que atraem estas últimas gerações de brasileiros. Depois de anos de advocacia em causa própria, no que se referem a salários, vantagens e mordomias, nossas autoridades públicas vivem melhor do que os mais ricos empresários; pois, além de riqueza dispõem de poder.
O atual presidente, em que pese suas boas intenções e honestidade, tem contra si a mídia e a classe artística, desmamadas ambas das verbas oficiais; os parlamentares da velha política do “é dando que se recebe”, acostumados que estavam a indicar seus apadrinhados para os cargos de chefia dos ministérios e das empresas do governo, com o intuito destes desviarem os recursos públicos para os seus partidos e suas contas particulares em paraísos fiscais; muitos empresários que preferiam as concorrências fraudulentas dos antigos governos (onde superfaturavam seus preços) do que as honestas do governo atual; as facções criminosas e os movimentos terroristas do campo, que contam ainda com a leniência de certas autoridades judiciárias; as autoridades da suprema corte, que resolveram ficar do lado da inconstitucionalidade em muitas das matérias que julgam; aqueles mestres encastelados em suas cátedras vitalícias que não desejam a volta às aulas com o fim da pandemia, preferindo passar seus dias em casa, recebendo seus altos salários e doutrinando os alunos pela via das redes sociais na internet; muitos militares que fazem meio expediente por faltar comida nos quartéis e que esperam com ansiedade o dia das suas aposentadorias, já que os equipamentos bélicos que possuem são precários ou estão sucateados.
Outros militares, mais esclarecidos e em cargos elevados, temem a mídia internacional e as ameaças veladas que esta faz contra os patriotas nacionalistas, ameaçando-os com julgamentos por tribunais internacionais caso resolvam defender o território nacional, a soberania brasileira e os nossos interesses econômicos, políticos, militares, psicossociais e tecnológicos. Louvam-se tais militares no episódio da chamada Comissão da Verdade (iniciada em 2011 e terminada em 2014), na qual muitos integrantes do Movimento Militar de 1964 foram interrogados e condenados pela referida comissão, da qual só participavam pessoas vinculadas aos movimentos de esquerda que tentaram implantar um governo comunista no país e foram vencidos pelos militares, com o apoio do povo honesto e trabalhador. O próprio povo que incentivou o Movimento Militar de 64 e as próprias autoridades militares na ativa, quando dos trabalhos da referida comissão, abandonaram ao seu próprio destino aqueles heróis da pátria que correram risco de morte para defendê-los, nos idos das décadas de 60 e 70.
Outros militares, ainda, também em elevados cargos, assimilaram a doutrinação promovida nas três décadas de governos de esquerda, aos quais imaginam dever o sucesso de suas promoções e carreiras. O mesmo ocorre no judiciário, onde muitas autoridades foram guindadas aos mais altos cargos pelas mãos de ex presidentes de esquerda, aos quais ainda hoje servem sem nenhum pejo.
Em vista disto tudo, meus queridos leitores, já não desejo mais que o Brasil seja o país do futuro; o que dificilmente irá ocorrer com a permanência deste aparelhamento do Estado e com a manutenção da conjuntura internacional, que tem guindado ao poder, da maioria dos países, presidentes comunistas ou socialistas. Sofremos, ademais, a possibilidade da interferência de países estrangeiros em nossas próximas eleições, em nossa economia, em nossas forças armadas e em nossa vida política e psicossocial. Portanto, desejo mais é que sejamos o país do passado; um passado que já vivemos e no qual éramos felizes, podendo dormir com as janelas abertas, andar pelas ruas nas madrugadas sem correr risco de morte, ter emprego com facilidade, programar nosso destino e imaginar que algum dia nós seriamos o país do futuro.

 
_*/ Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha e membro da Academia Brasileira de Defesa.

 


segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 424. Um breve ensaio sobre a feiura humana


Jober Rocha


Recentemente, em uma roda de amigos, discutia-se acerca do casamento de um jovem das vizinhanças com uma mulher horrivelmente feia. A crítica era geral: todos falavam mal de alguma particularidade física ou psicológica da vítima. Ninguém entendia a razão pela qual o vizinho, jovem bem apessoado, elegante e rico, houvesse escolhido como consorte logo aquela mulher por todos criticada pela sua feiura.

Saí dali pensando no assunto e, chegando a casa, fui direto para a biblioteca, onde fica meu gabinete de trabalho, e dei início a este breve ensaio sobre a feiura e as razões pelas quais muitos preferem unir-se afetivamente, para sempre, aos feios.

Para que não me chamem de parcial, tudo aquilo que aqui for dito para as mulheres vale também para os homens e para aqueles que não se enquadram em nenhum destes dois gêneros. 

Em primeiro lugar, sua parceira jamais será cobiçada em reuniões sociais ao ar livre ou em ambientes fechados, deixando-o livre para algumas incursões pelos arredores sem medo de que ao retornar ela esteja conversando amigavelmente com algum desconhecido.

Em segundo lugar, a feia, por saber-se feia, costuma ser carente de afeto e é capaz de dedicar-se de corpo e alma ao primeiro que demonstre não se importar com sua feiura e demonstrar interesse pelo seu espírito, mais do que pela sua aparência.

Em terceiro, por que a sábia Natureza jamais coloca todas as feiuras em um mesmo corpo, da mesma forma que não coloca também todas as belezas. A de nariz e de boca feias possui, quase sempre, olhos maravilhosos e cabelos lindos.

A toda feia de rosto possui, quase sempre, um corpo escultural. E por aí vai...

Vejam que as culturas mais antigas como a árabe, por exemplo, costumam proteger as feias colocando burcas ou véus em todas as mulheres. Assim, os homens só podem ver os olhos delas, olhos estes que procuram transmitir malícia, desejo e beleza aqueles que os fitam. 

Com este simples costume, tanto as feias quanto as bonitas arranjam seu par; pois o homem só irá conhecer, verdadeiramente, a cônjuge com a qual se uniu para sempre após o casamento efetivado.

 Por vezes, os pais destas jovens mulheres costumam colocar tabuletas, nas portas de suas casas, nas quais se lê: “Não aceitamos reclamações posteriores”.

Pensando bem, as vantagens da união com mulheres feias quase sempre supera as desvantagens. Uma mulher bonita certamente ficará feia no futuro. Uma mulher feia jamais passará por isso.

A feia será de uma dedicação integral e compulsiva, pois sabe que foi contemplada na loteria do amor e isto é o que mais lhe importa.

As feias, por outro lado, como passaram, sempre, a maior parte do tempo dentro de seus quartos, sem frequentar festas ou reuniões sociais, costumam ter uma bagagem literária muito maior do que as bonitas, que de tantas festas e passeios jamais tiveram tempo para a leitura.

Você poderá se instruir e manter conversas agradáveis com uma mulher feia. Com uma bonita isto já não é possível, pois você só pensará em sexo o tempo todo.

A mulher bonita sabe que arranjará outro homem melhor que você, basta ela querer. A feia sabe que você foi o único que se interessou por ela e que se perdê-lo não conseguirá outro facilmente.

Em geral, além de costumar ter um corpo escultural, as feias são boas cozinheiras e boas donas de casa, pois passaram a maior parte de suas vidas em casa e, evidentemente, aprenderam a cozinhar com suas mães.

As belas, além de passarem suas vidas em festas, bailes, passeios e praias, jamais se interessaram por essas coisas caseiras, pois, dada a sua beleza, sempre imaginaram casar com alguém rico que manteria diversas pessoas ao seu serviço e só comeria em restaurantes, razão pela qual não sabem fritar um ovo.

As feias, com seus magníficos corpos, costumam ser excelentes e sensuais amantes. Como na maioria das vezes as luzes estão apagadas, é só deixar a imaginação seguir livre que você terá incontáveis noites de luxúria.

As belas, ao contrário, por pensarem apenas em si e na sua beleza dispensam pouco interesse para o seu parceiro, que se sentirá frustrado na maior parte do tempo.

A manutenção de uma mulher feia, por sua vez, será muito menor, em termos financeiros, do que uma mulher bonita. A bela necessita de cremes caros e tratamentos caríssimos para manter a beleza no mesmo patamar. A feia não mudará nunca com cremes e tratamentos. Como ela sabe disso, é pouco exigente quanto a despesas dessa ordem.

A verdade é que na velhice ambas se equipararão em feiura. Com a despesa extra que você teve com uma mulher bonita ao longo do casamento, poderia, caso tivesse casado com uma feia, ter viajado pelo mundo, comprado um apartamento em Nova York, possuir um iate de luxo, etc. Na velhice, ninguém acreditará que a sua mulher que era bonita já foi bonita, mas todos acreditarão que a sua feia já foi bonita.

E por último, saibam que filhos de mulheres feias costumam ser bonitos, pois o gene da feiura, segundo Mendel, é recessivo.

Finalizando, segundo meu modo de ver a questão, mulheres bonitas são para serem vistas e apreciadas nas fitas de cinema, nas novelas, nas revistas e nas ruas e avenidas do mundo. Mulheres feias são para um relacionamento duradouro e feliz, longe da cobiça alheia...




segunda-feira, 30 de agosto de 2021

 423. Um breve ensaio sobre a Profissão de Carrasco


Jober Rocha*


Ao longo da História, muito já se escreveu sobre os condenados à morte e sobre os encarcerados. O escritor Victor Hugo, no ano de 1829, publicou a obra ‘Le dernier jour d'un condamné’. Vários outros escritores publicaram obras sobre o dia a dia de um prisioneiro, como Graciliano Ramos (Memórias do Cárcere), Dostoievski (Recordações da casa dos mortos), etc. Todavia, são raras ou inexistentes obras tratando da profissão de carrasco, o indivíduo responsável por executar uma sentença de morte.

O meu objetivo, neste breve ensaio, é discorrer sobre esta estranha profissão ao longo da história, sobre os principais carrascos que se tornaram conhecidos mundialmente e sobre as eventuais motivações ideológicas, religiosas e psicológicas que conduzem alguns indivíduos a buscar esta profissão. 

O carrasco, também conhecido como algoz ou verdugo, é aquele indivíduo incumbido pelo Estado de executar, oficialmente, as sentenças capitais e recebem um salário, às vezes, bem elevado pelo trabalho que executam. Existem, ainda, os carrascos que trabalham por conta própria; isto é, como profissionais autônomos, executando, de forma mercenária, pessoas em troca de dinheiro e servindo a diversos senhores na execução de sentenças de morte oriundas das justiças particulares destes e os carrascos que o são sem o saberem, como os soldados na guerra, os policiais quando em confronto com criminosos e os assassinos, todos estes executando sentenças de morte ditadas por eles mesmos. Todos aqueles que matam alguém são os verdugos de suas vítimas. Uns o fazem por profissão, outros por ideologia, outros por religião, outros ainda por distúrbios psicológicos, outros por prazer e outros como uma simples profissão, como qualquer outra.

Dentre os carrascos que deixaram seu nome e sua fama gravados na História, os principais foram:

. Hajj Abd Al-Nabi, que realizou mais de 800 execuções;

. Lady Betty, uma irlandesa que trabalhou mais de 30 anos nesta profissão;

. Albert Pierrepoint, inglês que matou pelo menos 400 pessoas em uma carreira que começou em 1932 e durou mais de duas décadas;

. Charles-Henri Sanson, francês que chegou a executar três mil vítimas durante o reinado do rei Luís XVI.

. Antonina Makarova, russa que chegou a executar cerca de 1.500 alemães nazistas usando uma metralhadora, durante a Segunda Guerra Mundial;

. Franz Schmidt, alemão que foi o executor oficial de Nuremberg de 1578 a 1618. Chegou a executar quase 400 pessoas;

. Souflikar, otomano que no século 17 realizou mais de cinco mil execuções.

Nesta relação não estão incluídos os carrascos que executaram pessoas por motivos religiosos, os serial killers e os assassinos por dinheiro (mercenários). 

Relativamente às motivações que conduzem alguém a adotar tal profissão, destaco em primeiro lugar a de ordem religiosa, em seguida a ideológica, em terceiro a psicológica e em quarto a mercenária, com certeza a única que pode causar futuramente arrependimento e sentimento de culpa pelos atos praticados, já que nas motivações anteriores os carrascos ou estão convencidos de que operam do lado do bem ou sofrem de distúrbios psicológicos que os impedem de avaliar os atos que cometeram. 

É de todos os leitores conhecido o episódio da Inquisição. A Inquisição, ou Santa Inquisição foi um grupo de instituições dentro do sistema jurídico da Igreja Católica Romana cujo objetivo era combater a heresia, a blasfémia, a bruxaria e os costumes considerados desviantes. No Concílio de Verona, em 1184, foi criado o Tribunal da Inquisição, sendo que a instituição da Inquisição persistiu até o início do século XIX.

A chamada inquisição medieval durou do século XIII ao final do XIV e a feroz Inquisição moderna, concentrada em Portugal e Espanha, durou do século XV ao XIX.

A pena de morte foi empregada não somente na Inquisição, mas praticamente em todos os outros sistemas judiciários da Europa.

Os historiadores divergem quanto às estatísticas de morte durante a inquisição, mas alguns consideram que os inquisidores portugueses fizeram 40 mil vítimas, das quais 2 mil foram mortas na fogueira. Na Espanha, até a extinção do Santo Ofício, em 1834, estima-se que quase 300 mil pessoas tenham sido condenadas e trinta mil executadas. Na Alemanha, durante a inquisição, aproximadamente 25 mil pessoas foram mortas.

Isto, sem falar nas execuções por motivos religiosos, perpetradas entre católicos e protestantes ou pelos islâmicos, ao longo da História.

Estou convencido que os verdugos que operaram durante a inquisição estavam certos de que suas vítimas eram bruxos e feiticeiras que mantinham contato com demônios, visando destruir as obras da igreja. Por esta razão faziam o seu trabalho com convicção de que trabalhavam do lado certo; isto é, estavam do lado do bem. Em razão disto não tinham piedade pelas vítimas, nem remorsos sobre os atos cruéis que praticavam, ficando em paz com suas consciências não importa a quantidade de vitimas que tenham sacrificado. O mesmo ocorre com os muçulmanos quando sacrificam os hereges; isto é, aqueles que não adotam a religião islâmica.

Relativamente à motivação ideológica, podemos constatar as ações praticadas pelos comunistas para a implantação do comunismo na Rússia em 1917.

Para conseguirem implantar o Comunismo na Rússia (primeiro país onde esta experiência foi tentada), apenas no período de 1937-38, três milhões de pessoas foram fuziladas. Oito milhões estiveram presos em campos de trabalhos forçados. Cerca de vinte milhões de pessoas tiveram suas existências devastadas em nome dos “mais belos ideais da humanidade”. Na Revolução Cubana, de ideologia comunista, calcula-se em cerca de 85.675, o número de vítimas entre assassinados, desaparecidos, feridos e fugitivos para o exterior. Adicionalmente, cerca de dezesseis mil mortes, ocorreram em combates durante a revolução. Ao final, a ideologia marxista e a forma de governo comunista acabaram ruindo na URSS, após a Glasnost e a Perestroika, ficando restrita à Rússia, Cuba e alguns países africanos.

No referente à implantação do Nazismo, na Alemanha, informações disponíveis indicam a morte, por assassinato, desnutrição, trabalhos forçados e doenças, de cerca de seis milhões de judeus, dois milhões de poloneses, um milhão de ciganos, quatro milhões de prisioneiros soviéticos, duzentos mil deficientes físicos e mentais, cem mil maçons e cinco mil testemunha de Jeová. Note-se que estes dados são estimativas, pois os valores reais podem chegar ao dobro. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Nazismo deixou de existir como forma de governo no mundo.

Com relação ao Capitalismo, Gilles Perrault, em seu “O Livro Negro do Capitalismo”, estima em 58 milhões, o número de mortos na Primeira e na Segunda Guerra Mundiais; além de mortes nas várias guerras coloniais, repressões, conflitos étnicos e vitimas da fome e da desnutrição, chegando a uma cifra estimada da ordem de cem milhões de mortes atribuídas ao Capitalismo e a sua implantação no mundo, durante o século XX. O Capitalismo tem sobrevivido em meio a crises cíclicas, tem consumido o meio ambiente de uma forma sem precedentes na história da humanidade, tem proporcionado inúmeras guerras motivadas por disputa de matérias primas e de mercados consumidores, tem acumulado déficits fiscais na maior parte dos países e gerado uma legião de pobres e miseráveis nos países periféricos do Terceiro Mundo.

Relativamente ao Fascismo, após 1922 diversos países foram influenciados pela sua ideologia: Itália, Hungria, Suíça, Bulgária, Áustria, Albânia, Brasil, África do Sul, Espanha, Portugal, Romênia, Finlândia, Bélgica, Grã Bretanha, Japão, China, Iraque e Argentina. Embora não disponhamos do número total de mortes causadas pelo Fascismo em todo o mundo, apenas na Campanha da Abissínia (atual Eritréia), meio milhão de africanos morreram, além de cinco mil italianos. Formalmente, o Fascismo como forma de governo não mais existe; existindo alguns governos Neo-Fascistas, que se escondem por detrás de uma capa democrática.

No relativo ao Anarquismo, movimento inspirado pelo russo Mikhail Bakunin, em meados do século XIX, o mesmo influenciou diversos acontecimentos políticos, como as Comunas de Lyon e de Paris, a Insurreição Anarquista de 1918, no Rio de Janeiro, e a Revolução Espanhola de 1936. Não saberíamos dizer quantos morreram ou foram sacrificados na tentativa vã de sua implantação, que não chegou a concretizar-se.

Movimentos de cunho Nacionalista têm se verificado, ao longo da história, em diversos países do mundo. Na Europa, destacam-se o Pan-Eslavismo, o Pan-Germanismo e o Revanchismo Francês. Na Irlanda, o Movimento Nacionalista Irlandês, colocou em lados opostos católicos e protestantes (dominados e dominadores). Desde 1846, milhares de vítimas têm sido contabilizadas, nesta disputa pelo poder naquele país. Os movimentos nacionalistas antiocidentais, surgidos no oriente Médio, na África, na Ásia Meridional (incluindo Índia, Paquistão e Sudeste Asiático), têm suas origens nos grupos fundamentalistas existentes no século XIX. No século XX, os Estados Unidos da América e o Reino Unido, no âmbito da Guerra Fria, apoiaram a ascensão destes grupos no Oriente Médio e na Ásia Meridional, como forma de oposição à expansão soviética na região. Após a ascensão destes movimentos, voltaram-se eles contra os países ocidentais. Ainda durante o período da Guerra Fria, na América Latina, surgiram diversos Movimentos de Libertação Nacional que, embora de cunho nacionalista, tinham por base a ideologia comunista.

O Socialismo existe em alguns poucos países desenvolvidos da Europa que, no entanto, ainda fazem uso do sistema capitalista de produção. Nestes países, a renda é bem distribuída, os serviços sociais e de infraestrutura funcionam bem; principalmente, por serem países ricos, com poucas populações e com elevados níveis educacionais, características estas encontradas em apenas poucos países ao redor do mundo.

Se levarmos em consideração os holocaustos indígenas (durante a colonização do Continente Americano); a Revolta Circasiana, de 1860 (Cáucaso e Chechênia); o Massacre dos Hererós e dos Namaquas (1904/1907), na África; o holocausto Ucraniano (1932/1933), pelos soviéticos; o holocausto dos Curdos (1937/1938), pela Turquia; o massacre dos Armênios (1915/1917), pela Turquia; o massacre dos Sérvios, pelos Alemães, durante a Segunda Guerra Mundial; o genocídio dos Bengalis (1971), pelo Paquistão; o massacre do Timor - Leste (1975/1999), pela Indonésia; o genocídio da Bósnia (1992/1995), pelas forças da Sérvia; o massacre dos Tutsis (1994), em Ruanda; o massacre dos Tibetanos (a partir de 1950), pela China; o genocídio Cambojano (1975/1979), pelo Khmer Vermelho; a Guerra do Vietnam; a Guerra do Afeganistão; a Guerra do Golfo Pérsico e a Guerra da Palestina; além de inúmeras outras não consideradas, veremos que milhões de seres humanos têm perdido a vida em nome de ideologias e de suas implantações em todo o mundo. Os carrascos que matam por ideologia, igual àqueles que matam por religião, não sentem remorsos nem imaginam ter praticado um crime; mas, apenas, um justiçamento necessário de um inimigo ideológico que faria o mesmo com eles.

No que respeita ao lado psicológico da questão, todos nós conhecemos a existência dos chamados ‘serial killers’, os assassinos em série psicóticos, sádicos e bárbaros.

No artigo ‘O perfil psicológico dos assassinos em série e a investigação criminal’ encontramos: “A maioria das pessoas tende a imaginar o serial killer como uma pessoa louca ou doente mental, o que se verifica não ser verdade na maioria dos casos. Há, no entanto, consenso de que os assassinos seriais possuem ligações íntimas com a psicopatia e a psicose, que são desvios mentais distintos. A psicose é uma doença mental que provoca uma alteração na noção da realidade, onde um mundo próprio se forma na mente do psicótico, ou seja, ele vive num delírio e sofre alucinações, ouvindo vozes e tendo visões bizarras. As formas mais conhecidas de psicose são a esquizofrenia e a paranoia. Apenas uma reduzida parcela dos assassinos em série se enquadra no lado dos psicóticos, o que derruba a crença popular de que todo serial killer é louco. Por outro lado, a psicopatia afeta a mente do assassino de forma diversa. Não cria nenhum tipo de ilusão na mente, ou seja, o indivíduo vê claramente a realidade e sabe que é proibido matar, porém suas perturbações mentais os fazem ser frios e sem empatia. Basicamente o serial killer psicopata vive uma vida dupla, mantendo uma aparência voltada para a sociedade, muitas vezes sendo uma pessoa gentil, racional e que interage com o meio social, porém, sua verdadeira identidade é mostrada somente para suas vítimas: um ser dissimulado e incapaz de sentir pena e de obter satisfação com tortura, estupro e assassinato”.

Vigora, pois, um instinto assassino nestas pessoas, que matam sem sentir prazer em matar, mas, somente, por uma compulsão interna incontrolável.

Existem, ainda, aqueles indivíduos que sentem prazer em matar; talvez em razão da descarga de adrenalina que se produz antes e durante o ato e do sentimento de poder que experimentam na ocasião. É o caso de muitos policiais em seus enfrentamentos com criminosos, de muitos soldados em operações de guerra, de criminosos durante suas ações, etc.

Ademais, pessoas também são levadas a cometer abusos por não saberem dizer não a uma ordem recebida ou por não terem coragem de contrariar um superior hierárquico que temem.

Uma experiência científica desenvolvida pelo psicólogo Stanley Milgram, relativamente à execução de tortura e a morte do torturado, tinha como objetivo responder à questão de como é que os participantes observados tendem a obedecer às autoridades, mesmo que as suas ordens contradigam o bom-senso individual. A experiência pretendia inicialmente explicar os crimes bárbaros do tempo do Nazismo. Em 1964, Milgram recebeu por este trabalho o prémio anual em psicologia social, atribuído pela American Association for the Advancement of Science. Os resultados da experiência foram apresentados no artigo Behavioral Study of Obedience no Journal of Abnormal and Social Psychology (Vol. 67, 1963 Pág. 371-378) e, posteriormente, no seu livro Obedience to Authority: An Experimental View 1974.

Milgram resume o seu experimento da seguinte maneira:

“Os aspectos jurídicos e filosóficos da obediência têm enorme significado, mas dizem muito pouco sobre como as pessoas realmente se comportam numa situação concreta e particular. Eu projetei um experimento simples em Yale, para testar quanta dor um cidadão comum estaria disposto a infligir a outra pessoa somente por um simples cientista ter dado a ordem. Foi imposta autoridade total à cobaia [ao participante] para testar as suas crenças morais de que não deveria prejudicar os outros, e, com os gritos de dor da vítima ainda zumbindo nas orelhas das cobaias [dos participantes], a autoridade falou mais alto na maior parte das vezes. A extrema disposição para seguir cegamente o comando de uma autoridade mostrada por adultos foi o resultado principal do experimento, e que ainda necessita de explicação”.

O último aspecto da questão, o do verdugo mercenário, trata daqueles que matam por dinheiro, como se a sua fosse uma profissão como qualquer outra. A principal característica deste carrasco é que não se interessa em saber o crime que o condenado cometeu, ficando alheio aos pedidos de clemência da vítima. Apenas exerce o seu trabalho como forma de se manter e a sua família, conseguindo dormir tranquilamente à noite. Sua própria esposa (se a tem), quase sempre não sabe a profissão do marido, que viaja com frequência executando a pena capital em várias localidades.

Exerce sua profissão sem qualquer problema, até que o envelhecimento e a maturidade façam despertar sua consciência para os atos que praticou. A partir de então passa a se constituir em uma pessoa amargurada e corroída pelo remorso.

Eu, certa feita, presenciei uma entrevista com um ‘Sniper’ norte americano responsável pela morte de centenas de Vietcongs durante a guerra do Vietnam. A entrevista foi realizada nos USA, anos depois de seu retorno do teatro de guerra. 

O ‘Mariner’ declarou que não conseguia conciliar o sono à noite. Em sua mente via sempre as centenas de cabeças que explodiu com seu fuzil de franco atirador. Tinha plena convicção de que, após a sua morte, responderia, junto ao Criador, por aqueles atos que havia cometido. Tinha, naquela ocasião, que tomar tranquilizantes e remédios para poder dormir, somente, algumas horas por dia.

Embora se tratasse de um soldado voluntário, imagino que não estivesse plenamente convencido de que lutava do lado do bem, razão do seu tardio remorso.   

_*/ Economista, MS e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.



terça-feira, 6 de julho de 2021

 422. Sobre juramentos, tratados e acordos 

Jober Rocha


No ano de 1939, pouco antes de começar a Segunda Guerra Mundial, Hitler e Stálin assinaram um acordo de paz e de não agressão, com duração de dez anos, denominado Pacto Germano-Soviético; entretanto, o pacto foi rompido pelos nazistas em 1941. 

Dizem muitos historiadores que alguns assessores de Hitler, na ocasião dos preparativos para a invasão da União Soviética, teriam lembrado ao líder nazista sobre a existência do tratado de não agressão. Hitler, naquela oportunidade, teria declarado: - Para que servem os acordos senão para serem rompidos?

Antes deste fato inúmeros líderes de reinos, impérios, cidades estado, países, nações, tribos e bandos, já haviam agido da mesma forma. Depois dele, ainda, continuam agindo. A atitude de Hitler, portanto, não chegou a me surpreender, evidentemente.

Da mesma forma ocorre com os juramentos, como aqueles proferidos, por exemplo: 

Pelos amantes católicos que se casam (Eu aceito você como meu legítimo esposo/esposa e prometo amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe); 

Por profissionais de algumas atividades liberais, como a Medicina (Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação. Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado. Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica), o Direito (Prometo manter, defender e cumprir os princípios e finalidades da minha organização, exercer com dedicação e ética as atribuições que me são delegadas e pugnar pela dignidade, independência, prerrogativas e valorização da advocacia), a Economia (Perante Deus, eu juro fazer da minha profissão de Economista um instrumento de não valorização pessoal, mas sim utiliza-la para a promoção do bem-estar social e econômico do meu povo e minha nação, cooperar com o desenvolvimento da Ciência Econômica e suas aplicações, observando sempre os postulados da ética profissional), outras profissões liberais;

Por organizações esotérico-religiosas (Juro e prometo de minha livre vontade e por minha honra e pela minha fé, em presença de Deus e perante esta assembleia, solene e sinceramente, nunca revelar quaisquer dos mistérios que me vão ser confiados; nunca os escrever, gravar, imprimir ou empregar outros meios pelos quais possa divulgá-los);

Pelos militares (Incorporando - à Marinha; ao Exército; ou à Força Aérea - prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado, respeitar os meus superiores hierárquicos, tratar com afeição os irmãos de armas, com bondade os subordinados e dedicar-me inteiramente ao serviço da pátria; cuja honra, integridade e instituições, defenderei com o sacrifício da própria vida);

Pelos políticos (Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo e sustentar a união, a integridade e a independência do país).


Tais juramentos, com algumas variações locais decorrentes das idiossincrasias de cada povo, são repetidos, anualmente, por aqueles que contraem matrimônio católico, por todos os profissionais liberais que se formam ou por todos os militares que iniciam a carreira das armas, nos 195 países do mundo, fato que não os impede de serem rompidos tão logo se apresentem razões supervenientes ou que a vida se encarregue de demonstrar, a cada um de seus atores, que juramentos, pactos e acordos, nada mais representam que demonstrações momentâneas de intenções.

Tanto é assim, que os desquites, divórcios e separações ocorrem frequentemente em todos os países, em que pesem os juramentos feitos pelos noivos com os olhos brilhantes e, por vezes, rasos d’água e o coração batendo forte de emoção.

Tanto é assim que médicos, advogados, economistas, etc., violam, diariamente, em todos os países, os juramentos profissionais que, com voz embargada, efetuaram em suas formaturas; sem culpa e sem remorso de atos praticados depois e que conflitam com o velho e já esquecido juramento. 

Tanto é assim que, com o advento da WEB e das redes sociais, todos aqueles considerados segredos esotérico-religiosos podem ser encontrados na Internet;

Tanto é assim que militares observam as constituições de seus países sendo rasgadas por políticos e magistrados, diariamente, sem nenhuma reação; como se a manutenção da integridade da Carta Magna não fosse atribuição suas e em defesa da qual ofereceram a própria vida em um passado distante.

Tanto é assim que muitos políticos trabalham contra os interesses dos seus eleitores e da nação, preocupados que estão, apenas, em angariar para si dinheiro público e privado e em conspirar contra o presidente e seus ministros, rasgando a Constituição, tornando-nos dependentes do exterior e conspirando contra a nossa integridade territorial.

Tanto é assim que os países conspiram uns contra os outros visando seus interesses particulares, que se sobrepõem, fazendo com que, muitas vezes, cheguem ao auge de iniciarem guerras entre si; embora possuam acordos comerciais e tratados de não agressão com o novo inimigo.

Todos os dias a Mídia divulga alguma notícia sobre tais fatos, aos quais já nos acostumamos e deixamos, a muito, de sentir revolta e de demonstrar nossa indignação publicamente.

O silêncio das maiorias honestas, porém acomodadas e desinteressadas por política, é que permite a ocorrência de fatos desta natureza, que, quase sempre, as prejudicam e que só beneficiam seus autores e os grupos de interesses ideológicos e/ou quadrilhas de assaltantes dos cofres públicos das quais alguns fazem parte.

É preciso que como consumidores, eleitores, fiéis, telespectadores, leitores, contribuintes, trabalhadores, alunos, cidadãos façamos valer os nossos direitos, exigindo que as autoridades cumpram com seus deveres e obrigações. Somos nós que mantemos as engrenagens, que muitas vezes nos massacram, funcionando. Temos o poder de pará-las, mas nos falta coesão necessária e entendimento sobre como proceder para tanto.

Devemos ser menos crédulos com respeito a promessas e juramentos alheios, sabendo que os interesses pessoais e de grupos têm o poder de transformá-los em pó. Devemos procurar fazer escolhas melhores, notadamente em se tratando de candidatos a cargos políticos eletivos. Devemos ser mais céticos com respeito às notícias veiculadas pela mídia venal, cuja verdade proclamada é aquela de quem paga mais. Devemos nos precaver contra os estelionatários da fé e contra os vendilhões do templo, que vêm na religião e no esoterismo simplesmente uma forma de ganhar dinheiro. 

Os militares e servidores do Estado devem ter sempre em mente aquilo que já vigora no ordenamento jurídico; isto é, a determinação de que ordem manifestamente ilegal não se cumpre. Tal situação configura causa excludente de culpabilidade, qual seja, inexigibilidade de conduta diversa, conforme preconiza o artigo 22 do Código Penal Brasileiro, que tem como rubrica legal “Coação irresistível e obediência”.

Lembremo-nos que o filósofo guerreiro e general estrategista chinês Sun Tzu (544 a.C – 496 a.C), em sua obra ‘A Arte da Guerra’, já mencionava: "Os generais são servidores do Povo. Quando seu serviço é completo, o povo é forte. Quando seu serviço é defeituoso, o povo é débil”. 


domingo, 6 de junho de 2021

 421. Considerações Extemporâneas* 



Jober Rocha**


Um dia desses li no Whatsapp um artigo escrito por um coronel de infantaria, da Turma Marechal Castelo Branco, falando acerca do pronunciamento de um general. O coronel criticava uma nota do general divulgada pela grande mídia e o acusava de arrogância, deslealdade, desunião, desrespeito e ingratidão com relação ao exército, aos seus comandantes e ao Presidente da República.

As forças armadas, todos sabemos, sempre tiveram, ao longo da nossa história, papel importante na manutenção da soberania brasileira, da união nacional, da ordem e do progresso. Algumas vezes funcionou como um quarto poder, moderador, visto que naquelas ocasiões a sua intervenção tornou-se necessária para colocar o país no rumo.

Embora sejam vedados aos oficiais generais pronunciamentos políticos e a politização das forças sob seus comandos, é óbvio que o generalato se trata de um cargo político. Como tal, nem sempre os melhores e mais aptos são os escolhidos, pois esta escolha é feita pelo Presidente da República do momento em uma lista tríplice onde, normalmente, coronéis opositores e ideologicamente contrários ao seu governo, não costumam entrar.

Muitas vezes, excelentes coronéis operacionais não fazem parte desta lista, preenchida que é por coronéis medíocres (no sentido de estarem na média da turma a que pertencem), mas bajuladores e afinados ideologicamente com o partido no governo. Essa é a verdade, com inúmeras e honrosas exceções que faço questão de destacar, embora muitos se recusem a nela acreditar. Em países mais desenvolvidos, o generalato é muito mais um cargo técnico que político, ao contrário daqui onde é muito mais político do que técnico.

A explicação é simples: tais países, desde o fim da Segunda Guerra Mundial até os dias atuais, sempre estiveram envolvidos em guerras localizadas onde puderam testar seus próprios equipamentos bélicos e suas novas tecnologias táticas e estratégicas. Neste contexto, os generais devem ser mais técnicos que políticos. A política fica para o parlamento e a diplomacia, já que em democracias fortes não existe a necessidade de um quarto poder moderador.

O Brasil, depois de pequena participação naquele conflito mundial já mencionado, só se envolveu, desde então, em umas poucas e eventuais missões de paz promovidas pela ONU. A nossa doutrina constitucional (Art.4º, VII, da Constituição Federal) repudia a guerra, quando reza: “Defesa da paz e solução pacífica dos conflitos”. Ao contrário da dos USA, que diz: “Defender os interesses norte americanos em qualquer lugar do planeta”. Estes se tratam, como podemos ver, de pontos de vista totalmente opostos.

Por esta razão, as indicações ao generalato, aqui, dão-se ao luxo de serem políticas e não técnicas. País que não se envolve em guerras não necessita de generais “técnicos em guerra”. Ademais, durante os quase trinta anos de governos de esquerda, os governantes se ocuparam em sucatear as forças armadas, tanto em equipamentos bélicos quanto em pessoal. Objetivavam enfraquecer militarmente o país para a implantação, sem reação, de um governo comunista. Tanto é assim que, mesmo contra a vontade do povo manifestada em um plebiscito, os governos de esquerda desarmaram a população e deixaram as facções criminosas se armarem e controlarem partes do território nacional; ou seja, as comunidades periféricas aos grandes centros urbanos.

Ao mesmo tempo, os governantes de esquerda também politizaram o STM e o STF com suas indicações de ministros, muitos dos quais jamais foram juízes, desembargadores ou mesmo chegaram a advogar. Em poucos anos, todo o estamento burocrático do Estado, que comanda o ramo civil e militar da administração, com aparelhamento próprio, invadiu e dirigiu as esferas econômica, militar, judicial, política e financeira do país.

O governo Bolsonaro, embora contasse com o apoio do povo que o elegeu, defrontou-se, de início, com um enorme contingente de servidores muito bem remunerados, dos três poderes, totalmente contra o seu governo de moralidade e honestidade. Aos poucos, todavia, o presidente foi se livrando das más companhias que havia escolhido para ajuda-lo a administrar o país e conseguindo vencer inúmeras barreiras que lhe impunham os demais poderes, impedindo-o de governar. Suas obras falam por si mesmo. Em pouco tempo conseguiu terminar obras inacabadas dos governos de esquerda, que consumiam rios de dinheiro. O próprio jornal Wall Street, que tantas críticas fez ao governo Bolsonaro, recentemente relatou em matéria na página principal que a economia brasileira voltou ao patamar de antes do Covid 19, com a criminalidade despencando aos níveis mais baixos da história recente do país, recordes na produção de grãos e tendo-se tornado o maior exportador de carne do mundo. Empresas estatais que antes davam prejuízos hoje estão dando lucros jamais vistos, obras estruturais de ferrovias e rodovias em pleno vapor.

A grande imprensa nacional, que costuma vender sua opinião aos que pagam mais, ao ver estancarem-se as verbas públicas para divulgação dos atos do governo, como era tradicional nos governos passados, começou uma campanha firme para derrubar o presidente através de impeachment.

Esta campanha ainda está em andamento; mas já não conta com a força inicial de que dispunha segundo penso.  O povo brasileiro está mais consciente das armadilhas contra o presidente e percebe que ele é a pessoa indicada para fazer o país retornar ao crescimento e livrar-se, de vez, dos corruptos e dos comunistas ainda encastelados no poder.


_*/ Título de uma obra do filósofo Friedrich Nietzche

_**/ Da Academia Brasileira de Defesa. Economista, M.S e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.


quinta-feira, 6 de maio de 2021

 420. A Visão de Michel de Nostradamus


 Jober Rocha*


    Nestes tempos de pandemia, em uma noite quente em que havia tomado um tranquilizante para poder dormir, tive a sensação de que caia em um precipício e, logo a seguir, que acordava sobressaltado na cidade do Rio de Janeiro, onde realmente morava. Não saberia dizer se estava verdadeiramente acordado ou se sonhava, pois o que passarei a narrar foi, para mim, tão real que até hoje ainda estou em dúvida se não se tratou de um sonho ou de uma premonição acerca de algo que, certamente, está bem próximo de ocorrer no futuro ano de 2025.

    Acordei com estampidos vindos da rua. Isso já era uma coisa normal em todos os bairros da cidade; mas, naquela manhã, os tiros eram tantos e acompanhados de muita gritaria, razão pela qual resolvi olhar por trás da persiana fechada do meu quarto e ver do que se tratava.

  Antes, porém, quero dizer que meu nome é Michel de Nostradamus de Castro e Silva e moro com a família, mulher e dois filhos, em um apartamento de três quartos em um bairro de classe média alta, na cidade do Rio de Janeiro.

  A última eleição presidencial havia transcorrido três anos antes, em 2022. Nela havia sido eleito um candidato de extrema esquerda. O anterior presidente, um liberal de direita candidato a reeleição, embora tenha feito um bom governo, por haver se recusado a utilizar os recursos do Fundo Partidário nas eleições de 2022, não conseguiu mobilizar seus tradicionais eleitores nem aqueles outros que lhe faziam oposição. 

  Sua campanha foi pobre e totalmente superada pela dos partidos de esquerda, que se uniram em torno do nome de um único candidato. Este candidato, tendo sido anteriormente condenado e preso, por casuísmos das mais altas cortes do país fora solto e tivera a sua condenação anulada. Os demais processos a que respondia foram todos paralisados e arquivados, possibilitando, com isso, que ele se apresentasse candidato nas eleições de 2022.

     Naquela eleição, o dinheiro do fundo correu solto para a mídia venal e para a compra de corações e mentes dos formadores de opinião, fazendo com que a população ignorante, submissa e interesseira, mais uma vez, fosse engambelada com promessas do paraíso terrestre construído pelas mãos daquele candidato esperto e bem falante, dono de uma retórica invejável  com a qual ainda supera todos os demais políticos de esquerda, oportunistas, do país.

     Enfim, foi eleito aquele velho candidato da esquerda que, paradoxalmente, além dos votos dos mais pobres, contou também com os votos e o apoio de grandes empresários, de autoridades religiosas, de intelectuais, de artistas e de militares graduados das mais altas patentes.

     Tendo transcorrido três anos da posse do candidato eleito, em 2025, praticamente, já vivíamos em um governo ou regime narco-comunista. Os líderes das facções criminosas, até então presos incomunicáveis em presídios federais, haviam sido todos soltos, seus negócios haviam prosperado e se expandido. Plantações de maconha e destilarias de cocaína funcionavam abertamente em vários Estados da Federação, depois que tanto a produção quanto o consumo de drogas haviam sido liberados pelas autoridades parlamentares.

     Os militantes e os ativistas da esquerda, que estavam infiltrados no governo anterior, de direita, sabotando decisões do presidente e de sua equipe de governo e fornecendo informações privilegiadas para seus partidos e que, por isso mesmo, haviam sido demitidos, retornaram todos no novo governo de esquerda eleito, agora com muito mais força política e um ódio muito mais intenso contra o capitalismo.

  As facções criminosas que agiam livremente, haviam recrutado milhares de ‘soldados’, que intimidavam a inoperante polícia e amedrontavam a população trabalhadora, temerosa de sair às ruas e vivendo trancada em suas casas, por força do chamado lockdown, torcendo para que dela se esquecessem.

     Esses ‘soldados’ do crime, anteriormente desunidos e em guerra entre eles mesmos, já haviam superado suas divergências e se unido em torno de um líder único, conhecido como Mariozinho Beira Rio, que chefiava com mão de ferro aquele exército de criminosos.

  Nas reuniões e solenidades no palácio do novo governo de esquerda, na capital federal, via-se, constantemente, a presença de inúmeros assessores fardados de alguns países comunistas, tanto do nosso continente quanto de fora dele.

    Os uniformes visíveis, nestas ocasiões, cada qual mais colorido que o outro, demonstravam que nossas autoridades nada mais eram que simples representantes fantoches e lacaios de países comunistas mais antigos e mais poderosos, que, aproveitando-se da saída dos USA dos acordos e foros internacionais; do protecionismo e do fechamento daquele país em torno de suas fronteiras; da ausência de ideólogos de direita que contrabalançassem os ideólogos de esquerda junto ao meio intelectual e artístico (que, tradicionalmente, orientam a juventude e as massas trabalhadoras) e do trabalho desenvolvido por entidades internacionais e pelos representantes de algumas religiões que adotaram as chamadas Teologia da Libertação e a Ecoteologia ou Teologia Ambientalista (está última uma forma disfarçada de panteísmo, mas, que, visava, na prática, assenhorear-se dos recursos naturais da Região Amazônica para grupos econômicos a elas ligados), visando à implantação da Nova Ordem Mundial, tinham, finalmente, conseguido chegar ao poder em inúmeros países sul americanos e africanos.

  Assim, tendo eu feito uma breve síntese dos fatos ocorridos após a derrota nas urnas do candidato liberal de direita, seguirei com a narração do que ocorreu naquele dia e nos demais que se seguiram ao meu ‘suposto’ sonho.

  Olhando por detrás da persiana, vi muitas pessoas armadas saqueando os transeuntes e as lojas abertas, algumas delas já cerrando-as rapidamente. Resolvi descer até a portaria do prédio e ver como estavam as coisas lá embaixo, isto é, nas ruas.

  No térreo fui alertado pelo porteiro a não sair do prédio, mas minha curiosidade era grande demais e resolvi sair e caminhar pelas ruas.

     A primeira coisa que notei foi a total ausência da polícia. Está havia, simplesmente, sumido. Caminhando por várias ruas não vi nenhum policial, como, também, nenhum bombeiro para combater os inúmeros incêndios que grassavam pelo bairro, ateados com coquetéis Molotov jogados pelos criminosos e revoltosos.

     Pelo que pude perceber, as facções criminosas haviam ordenado aos moradores das comunidades pobres que se rebelassem contra as autoridades constituídas e fossem às ruas para roubar e saquear o comércio e as residências particulares, visando a instauração do caos social. 

     Essas facções agiam sob ordem do partido político no poder, que encontrou forte resistência da parte de alguns civis e militares patriotas, que não compactuam com a tentativa de implantação do comunismo no país. O objetivo dos criminosos era implantar o caos nas cidades e no campo para que o governo pudesse agir com mão forte, reprimindo os patriotas com o auxílio das forças armadas e das forças policiais cooptadas.

     Notei, caminhando pelas ruas, as lojas fechadas, a ausência de transportes públicos e, apenas, um ou outro veículo circulando. Muita fumaça partindo dos prédios incendiados e as ruas quase todas desertas.

    Ao longe eu ouvia rajadas de fuzis e de metralhadoras e disparos de pistolas. Resolvi retornar para casa, me esgueirando rente às paredes das lojas e dos edifícios.

     Fiquei cerca de três ou quatro dias em casa com meus familiares, comendo aquilo que tínhamos na despensa. A situação nas ruas, pelo que imagino, não se modificará. Nenhuma polícia, nem elementos das forças armadas eram vistos circulando pela cidade. As lojas permaneciam fechadas e os gêneros alimentícios já faltavam em todas as residências. Uma ocasião, durante a noite, a luz foi cortada em um ato de sabotagem junto às torres de distribuição, segundo fiquei sabendo por intermédio do porteiro. Pouco depois, cortaram o fornecimento de água.

     Resolvi que não valia mais a pena esperar ali, no apartamento, a normalização da situação, pois, pelo visto, ela jamais se normalizaria.

     Decidi que tentaria me deslocar com a família para uma casa de fim de semana que comprara a prestação, localizada em região montanhosa do interior, afastada da capital.

     Antevendo eu a possibilidade de uma futura convulsão social no país, há alguns anos adquiri esta casa em região montanhosa isolada, onde poderia estocar alimentos, armas e munições, em um porão previamente construído, e tentar sobreviver com o que dispunha.

  Ali eu poderia resistir durante muito tempo, até as coisas se definirem e o país voltar ao seu rumo, com ordem e segurança.

  Com calma e tempo, eu preparei previamente uma horta, plantei árvores frutíferas, montei um galinheiro onde viviam cerca de trinta e poucas galinhas e iniciei uma criação de coelhos. O terreno possuía em seus limites um pequeno córrego de águas limpas, que abastecia a casa.

     A energia da casa vinha de células captadoras de energia solar. O gás da cozinha vinha de uma pequena usina produtora de gás, a partir de rejeitos orgânicos. Havia também estocado diesel para a caminhonete. 

    Em suma, se eu conseguisse chegar até a minha propriedade nas montanhas, ali poderia sobreviver durante muito tempo, resistindo pela força das armas a alguma invasão ou assalto de bandos ou turbas revoltosas.

  O grande problema era chegar até lá, pois a convulsão social havia se estendido por todos os Estados da Federação e, naquela situação, transitar pelas ruas das cidades transformou-se em uma aventura arriscada, ainda mais com mulher e filhos.

    De qualquer forma, dei início a preparação para sair daquele apartamento. Minha caminhonete Toyota estava estacionada na garagem do prédio com o tanque de diesel cheio. 

     Recolhi os mantimentos que ainda restavam em casa, enchi várias garrafas de plástico com água potável, apanhei vários cobertores, meus documentos e os dos demais membros da família e coloquei tudo na parte de trás do veículo.

    Peguei minha pistola Beretta mod. 92, calibre 9mm, com quatro carregadores de 15 tiros cada, cheios; minha pistola Colt 1911, calibre .45, com cinco carregadores de 7 tiros cada, cheios; uma escopeta Mossberg, calibre 12, semiautomática, com capacidade para 10 cartuchos, carregada, e diversas caixas de munição que possuía em casa.

    Coloquei as caixas com as munições no porta luvas, as pistolas na cintura, os carregadores nos bolsos da calça e a escopeta ao meu lado no banco da caminhonete, reuni a família e deixei a garagem do prédio sem nem olhar para trás e sem saber quando ali voltaria novamente.

    Sai do prédio e transitei por várias ruas desertas, tomando o rumo do Aterro do Flamengo. Avisei aos familiares que, quando me vissem sacando alguma das armas, eles deveriam se jogar no chão do veículo e dali só sair com ordem minha. 

     Pretendia atravessar a Ponte Rio Niterói, seguir pela Avenida do Contorno, já em Niterói, até atingir a BR 101, passando pelo município de Itaboraí e, mais adiante, seguir pela RJ 116 em direção ao município de Nova Friburgo. Dali, depois de atingir Muri no quilômetro 73, pegaria a estrada à direita em direção ao município de Lumiar. 

    Minha propriedade fica próxima de São Pedro da Serra, em uma alta montanha, quase sempre coberta pela cerração, entre este município e o de Benfica.

  Pelo caminho por onde passávamos, o panorama era de uma guerra declarada: casas, lojas e edifícios em chamas ou enegrecidos pelo fogo já apagado. Buracos de balas em muitas paredes, ruas desertas, esparsos veículos circulando, nenhuma viatura policial ou das forças armadas.

     Entrei no Aterro do Flamengo e segui em direção ao Aeroporto Santos Dumont, de onde seguiria através do túnel Marcello Alencar até a Praça Mauá.

     Nas proximidades do aeroporto, ainda de longe, notei que haviam feito uma barreira na pista e algumas pessoas armadas faziam sinais para que eu parasse. Parar, naquela situação, significaria morte certa. Mandei que todos no veículo se abaixassem, saquei a pistola 9 mm e desci os vidros da frente do veículo. Fiz que ia parar na barreira, o que tranquilizou os seus integrantes.

     Com os olhos procurei rápido o ponto mais fraco da barreira e logo o encontrei. Alguns caixotes de madeira jogados na pista bloquearam o lado esquerdo da via e percebi que por ali poderia passar, quebrando aqueles caixotes com as rodas do veículo.

    Quando um dos que ali estavam se aproximou pela direita, atirei em seu peito com a pistola. Ele caiu e os outros se aproximaram. Descarreguei meio carregador neles, joguei o veículo em direção aos caixotes e, passando por eles, pisei fundo no acelerador, pois eles começaram a atirar em minha direção. Felizmente não acertaram nenhum tiro. 

     Entrei no túnel Marcello Alencar e rumei célere em direção à Praça Mauá. Ali chegando, tomei a direção da subida da Ponte Rio Niterói. Eventualmente, cruzava com algum veículo em sentido contrário, pois aquela parecia uma cidade fantasma, embora possuísse cerca de 6,2 milhões de habitantes.

    A travessia da ponte foi tranquila. De cima dela pude avistar partes da cidade do Rio de Janeiro, que ficavam para trás e parte da cidade de Niterói, para onde eu me dirigia. Em ambas a fumaça negra dos incêndios turvava o céu azul daquele belo dia de sol.

     O posto de pedágio estava vazio e as cancelas todas abertas. Não vi nenhum funcionário no local. Tomei o rumo da Avenida do Contorno, local perigoso pois passava por cerca de quinze comunidades carentes, a pior delas entre os quilômetros 307 e 309 da BR 101 (Rodovia Niterói-Manilha), chamada Complexo do Salgueiro e mais conhecida como Faixa de Gaza.

     Nesta rodovia parei o veículo e pedi a minha esposa que ocupasse o volante. Passei para o banco de trás da caminhonete, arriei ambos os vidros laterais, segurei nas mãos a escopeta Mossberg semiautomática, engatilhei o mecanismo e fiquei atento à estrada.

     Mais à frente, justamente na altura da Faixa de Gaza, duas motocicletas atravessadas na pista impediam o trânsito de veículos. Minha mulher ficou nervosa, sem saber o que fazer. Mandei que seguisse devagar e mirasse com a nossa caminhonete a parte do meio da pista que separava ambas as motos, pois entre elas havia um espaço de cerca de um metro.

    Em volta das motocicletas haviam cerca de dez pessoas conversando, algumas com fuzis nas mãos e outras com suas armas penduradas nos ombros pelas bandoleiras. No acostamento da rodovia notei mais algumas pessoas.

     Nenhuma delas esperava reação, pois foram completamente surpreendidas pelos meus disparos repetidos em suas direções. Muitos deles, atingidos pelos inúmeros chumbos projetados dos cartuchos, caíram ao chão. Minha mulher jogou o veículo entre as duas motos, que foram atiradas para o lado. Ao mesmo tempo eu seguia disparando em todas as direções, vendo gente cair por todos os lados, todos atingidos pelos meus disparos.

    Mais uma vez passamos incólumes por uma barreira de revoltosos sublevados. Seguimos até perto de Itaboraí, quando pedi a ela que parasse o veículo e eu assumi o volante. Recarreguei todas as armas e seguimos em frente.

    Meus filhos, dois meninos, um com doze anos e o outro com quatorze, participavam daqueles acontecimentos como se estivessem vivendo na vida real algum dos jogos de guerra que costumavam acessar com seus Smartphones. Eu me recordava dos velhos filmes de faroeste em que os colonizadores, em carroções puxados por parelhas de cavalos, eram assediados pelos índios revoltosos.

  Lembrei-me, naquela ocasião, do maquiavelismo dos governantes de esquerda que desarmaram a população do país, já prevendo a chegada destes dias trágicos que viveríamos. Os cidadãos desarmados tornavam-se presas fáceis das organizações criminosas que importavam fuzis, pistolas e munições em quantidade, pelas fronteiras desguarnecidas do país.

     Eu, desde longa data, havia me filiado a um clube de tiro e caça e, como atirador desportivo e caçador, havia adquirido diversas armas e munições, além de praticar com frequência o tiro sob as mais diversas modalidades.

  Sempre achei que a esquerda não desistiria enquanto não tomasse o poder em nosso país. Os episódios da Intentona Comunista de 1935 e da Guerrilha Urbana e Rural, iniciada após o Movimento Militar de 1964, reforçaram esta minha crença e fizeram com que eu me preparasse pessoalmente para essa eventualidade. 

     Aprendi técnicas de sobrevivencialismo e procurei construir um refúgio isolado e distante dos centros urbanos, para viver com a família em uma eventualidade como a que agora se apresentava. Quantos cidadãos de bem irão perecer nessa convulsão social, por não terem feito o mesmo?

     Uma coisa que notei agora, e que jamais pensei que fosse ocorrer, é que os primeiros a sumirem das ruas nas convulsões sociais são as autoridades públicas. As ruas tornam-se desertas de uma hora para a outra. A polícia, os bombeiros, os militares, os serviços públicos, todos desaparecem da vida da cidade. O transporte público para de funcionar, os lixos não são mais coletados e se amontoam pelas ruas, a luz e a água são cortadas, o comércio fecha as suas portas, surge o desabastecimento e com ele a fome.

    Quem antecipadamente não se preparou para uma eventualidade deste tipo é apanhado de surpresa e, infelizmente, acaba perecendo. A situação geral de destruição é muito parecida com aquela que ocorre nos grandes cataclismos; todavia, nestes existe um espírito de cooperação entre os sobreviventes. Na convulsão social e na guerra civil o espírito é de antagonismo e de guerra entre os participantes dos dois lados em contenda.

    Você seguirá vivendo tão somente enquanto dispuser de armas, munições, água e comida. Ninguém estará preocupado com a sua situação, a não ser você mesmo.

     Minha mulher é uma pessoa prática e fatalista. O que tiver de ser será, segundo ela pensa. Vive bem com aquilo que tiver, não sendo ambiciosa nem gastadeira. Se adapta perfeitamente à vida simples do campo, como eu também. Espero que possamos seguir sobrevivendo enquanto durar esta terrível situação pela qual estamos passando, exclusivamente, por descaso de algumas autoridades, políticas, militares, econômicas e religiosas, não comprometidas com a ideologia marxista nem com o narcotráfico, nas últimas décadas de governos esquerdistas, mas ineficientes e desinteressadas.

     Tais autoridades sempre acharam que, em nosso país, as coisas poderiam ser negociadas entre os grupos que disputavam o poder, visando chegar a um acordo que fosse bom para todos os grupos; sempre foram pacifistas; sempre tiveram receio da opinião mundial. 

     Pouco ou nada entendiam de política, de ideologia, de estratégia geopolítica e se deixaram iludir pelo canto das sereias marxistas-gramscistas, que almejavam alcançar o poder, inicialmente de forma pacífica, subvertendo a moral e os bons costumes como fizeram na realidade nos anos em que governaram, antes de partir para o golpe final na democracia mediante a revolta que ora vivenciamos envolvendo, de um lado, as facções criminosas e o povo pobre das periferias, armados e incentivados pelos ideólogos e intelectuais de esquerda, e do outro a população dos profissionais liberais e dos empresários da classe média (os pequenos burgueses odiados pelos comunistas), desarmados pelos governos de esquerda. 

     As elites envolvidas com o narcotráfico, com o desvio de dinheiro público, com concorrências fraudadas, com a compra de leis e decretos que os favorecia, com a compra de sentenças quando julgadas pelos crimes cometidos, eram declaradamente favoráveis aos governos de esquerda venais, que roubavam e deixavam roubar.

     Com o início da convulsão social, os ricos e oportunistas seguiram em seus aviões particulares para as grandes capitais no exterior e para os paraísos fiscais, onde aguardariam a poeira assentar, vivendo nababescamente, para retornarem, futuramente, com seus esquemas e maquinações tradicionais, tão logo os novos e poderosos governantes comunistas controlassem totalmente  a situação.  

    Terminada esta digressão, face a impaciência que já percebo em alguns leitores para conhecer o desenrolar dos acontecimentos daquele dia, seguirei narrando a nossa viagem. 

    Após atravessarmos o município de Itaboraí, viramos à esquerda e seguimos pela RJ 116 em direção a Nova Friburgo. Já estávamos, praticamente, bastante longe dos principais focos de rebelião, que eram os centros urbanos populosos, como o Rio de Janeiro e Niterói.

     Passamos por Sambaetiba, Agrobrasil, Papucaia e Cachoeiras do Macacu, antes de atingir Nova Friburgo. Esse trajeto foi feito sem nenhum incidente, pois a estrada estava praticamente deserta. 

  Não vimos nenhum veículo da Polícia Rodoviária, nem pessoas andando nas margens da estrada. Parecia que éramos os únicos habitantes vivos do planeta. Nos municípios em que penetramos, as lojas estavam todas fechadas e as ruas vazias. Notamos alguns veículos queimados e marcas de disparos de armas de fogo nas paredes das casas. A situação, realmente, parecia muito grave.

     Os pedágios da estrada, da mesma forma que o da Ponte Rio Niterói, estavam vazios e com as cancelas abertas.

     Finalmente, mais tranquilizados, pudemos apreciar um pouco da bela paisagem que se descortinava e respirar aquele ar puro que sentíamos ao subir a serra. Matas com grandes árvores se perdiam no horizonte. Por vezes, ao fazer alguma curva, avistávamos um fio de água escorrendo pelas encostas rochosas que a estrada margeavam. Aspirávamos um cheiro de essências florestais quando descíamos os vidros das janelas do veículo.

    Os meninos brincavam no banco de trás, minha mulher dormia no assento do meu lado. Aquele parecia mais com um dia de férias do que com um dia de guerra, no qual eu já havia matado e ferido diversas pessoas. Chegamos ao alto da serra de Friburgo e começamos a descer.

     Passamos pelo posto fechado da Polícia Rodoviária, na entrada do município, e seguimos em frente. Pouco depois de Muri, viramos à direita e entramos na estrada que conduzia a Lumiar.

     Esta estrada, como as demais, estava totalmente deserta. Pensei comigo mesmo: será que só eu tive a ideia de construir um abrigo fora de casa na cidade e afastado, para me esconder e tentar sobreviver? Todos os demais se escondiam em suas próprias casas nas cidades? Só podia ser isto, para as estradas se acharem todas desertas.

     Depois de rodar algumas horas, nos aproximamos da minha propriedade. A casa ficava na parte alta da montanha e era acessada por uma estrada de terra. Na época das chuvas, mesmo usando a tração nas quatro rodas era difícil chegar ao alto, pois o barro ficava escorregadio.

     Chegamos a casa em um dia de semana, de surpresa. Todavia, quem foi surpreendido fui eu, pois um indivíduo estava sentado na varanda.

    Ao descer da caminhonete, notei que ele portava um revólver na cintura, de um lado, e um facão, do outro. Já desci com a Colt .45 na mão, engatilhada, e mandei que deitasse no chão com as mãos na nuca. Ele, vendo a minha disposição, seguiu a ordem que recebeu. Perguntei o que fazia ali e ele respondeu que a casa estava vazia e que ele resolveu pegá-la para si, pois o país estava em guerra e o comunismo havia sido implantado. Segundo ele, tudo era de todos e aquela propriedade agora era dele.

     Percebi que corria um risco enorme ao deixá-lo ir embora, naquela situação de guerra civil em que nos encontrávamos; pois ele poderia voltar com outros companheiros seus e tomar a casa pela força, matando a mim, minha mulher e meus filhos. Mandei que a esposa e os filhos permanecessem na caminhonete, aproximei-me e, com ele ainda deitado de costas no chão, apontei para a sua nuca e disparei. A morte foi instantânea e eu diria que até indolor. A varanda ficou, imediatamente, toda suja de sangue.

    Arrastei o corpo dele, segurando-o pelas pernas, para fora da varanda, em direção ao chão de terra, vendo um rastro de sangue que escorria da sua cabeça esfacelada seguir o mesmo trajeto do seu corpo.

     Minha mulher e as crianças, saindo correndo do carro, entraram na casa pela porta dos fundos e eu fui cavar um buraco razoavelmente grande para depositar aquele corpo.

     Escolhi um local distante da casa e, com uma picareta, uma pá e uma enxada comecei a cavar. Depois de horas, o buraco estava com uma profundidade razoável. Arrastei o corpo até lá e joguei-o dentro. A seguir comecei a tapá-lo, jogando terra com a pá. Em breve o buraco estava totalmente fechado. Coloquei alguns troncos secos e arbustos em cima, bem como algumas pedras.

     Voltei para a casa, guardei as ferramentas e fui limpar a varanda e os rastros de sangue.

     Em breve tinha terminado tudo e estava com as costas e os braços doloridos. Descarreguei a caminhonete, acendi as luzes da casa, pois já escurecia, e preparei-me para comer algo. Minha mulher já tinha feito um arremedo de jantar e as crianças já haviam comido e estavam dormindo.

    Tomei um banho rápido e sentei-me à mesa, junto com ela.

 Minha mulher me olhou e vi que dos olhos molhados escorriam lágrimas. Peguei em sua mão e, depois de algum tempo, disse baixinho olhando-a firme nos olhos: 

     - É a vida. Temos de sobreviver. Não temos mais a quem recorrer neste país do salve-se quem puder. As autoridades deixaram de existir. Estamos por nossa própria conta e risco.  

    No dia seguinte começaria a vida da minha família no campo, que duraria cerca de três anos; período este que durou a guerra civil em nosso país. 

    Pouco depois acordei no apartamento do Rio de Janeiro, com uma forte dor de cabeça. A casa estava ainda às escuras e no maior silêncio. Teria eu feito uma viagem ao futuro enquanto dormia? Seria aquilo tudo verdade?

    Aquilo tudo me parecia mais um conto de ficção, destes que lemos em revistas especializadas no assunto; todavia, estou convencido de que no Brasil e no mundo de hoje, ninguém poderá distinguir, sem medo de errar, o que é ficção daquilo que é a pura realidade...

_*/ Da Academia Brasileira de Defesa