sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

358. Socorro! É Fake! É Fake! É Fake!


Jober Rocha*



                            Uma antiga lenda popular conta que em distante povoado vivia um menino muito mentiroso. Todos os dias, ao fazer o caminho para o colégio, ele passava por um lugar deserto de pessoas, onde existiam árvores e um pequeno bosque. Ali ele se escondia e gritava bem alto, para ser ouvido pelos eventuais passantes: 

- Socorro! É o lobo! É o Lobo! É o lobo!

                                                    Quando alguém acudia aos seus gritos encontrava o menino sentado no chão, gargalhando, rindo na cara de quem chegava.
                                                   Muitos aldeões lhe explicavam que assim procedendo quando o fato ocorresse de verdade, talvez ninguém o acudisse por pensar tratar-se de mais uma mentira.
                                                        Certo dia o fato realmente aconteceu. Um grande lobo cinzento apareceu na trilha do menino. Ele gritou bem alto, mas ninguém o acudiu.
                                                      Nas comunidades formadas pelas redes sociais, existem, também, muitos meninos que ainda não se deram conta da luta político-ideológica que é travada diuturnamente na WEB. 
                                                Esta luta faz parte da chamada Guerra Assimétrica, Hibrida, Irrestrita, de Zona Cinza, de Quinta Geração, conforme é conhecida em várias partes do mundo por diversos estrategistas militares. 
                                                             No dizer do General Carlos Alberto Pinto Silva em sua obra “Guerra de Nova geração – Brasil e a paz relativa na Guerra política Permanente”:

                                            -  “A Guerra de Nova Geração, que o mundo vive hoje, é caracterizada pela presença de Estados e grupos não estatais, pelo aumento considerável do poder de entidades pequenas, mas marcadas pela lealdade cega à sua causa, que extrapolam qualquer fronteira internacional e desafiam o poder das grandes nações. É calcada, primordialmente, na explosão tecnológica da era da informação, nos meios de comunicação em massa para o recrutamento de pessoal e disseminação de ideologias e na biotecnologia. Guerra que muitos chamam de Quinta Geração”.
                                                          - “O mundo vive, portanto, com a Guerra de Nova Geração, uma fase de guerra política permanente: sem frente de batalha e sem regras de engajamento. Apaga-se a linha divisória entre o estado de guerra e de paz. Emprega um conjunto de habilidades estratégicas (Ferramentas à disposição do Poder Nacional) para anular as vantagens do inimigo num conflito armado (Assimetria)”.
                                                               Dentre os aspectos marcantes da Guerra Hibrida ou de Nova Geração, ao par de outros fatores, destaca o General Pinto Silva:
                                                -  “O centro de gravidade da ação deve estar voltado a desestabilizar o governante, desacreditar autoridades, e em criar o caos na sociedade, sucedendo-se a crise política”.
                                                       - “Um conflito no qual os atores, estado ou não-estado, exploram vários modos de guerra simultaneamente (guerra financeira, guerra cultural, guerra midiática, guerra tecnológica, guerra psicológica, guerra cibernética, o amplo espectro do conflito, empregando armas convencionais avançadas, táticas irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade, visando desestabilizar a ordem vigente)”.
                                                      Ainda, em conformidade com o General em sua obra mencionada:
                                                  - “Os generais Eduardo Villas-Boas e Alberto Cardoso afirmaram, na noite de 5 de julho de 2019, na apresentação da palestra “Intérpretes do pensamento estratégico militar”, durante evento organizado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHG-DF), em Brasília, que o Estado brasileiro está sendo alvo de um ataque indireto de nações estrangeiras que, em suas concepções, utilizam o discurso pela defesa da preservação da Amazônia em favor de seus interesses pelas riquezas do país”.
                                                    - “Por sua vez, André Luís Woloszyn, Analista de Assuntos Estratégicos, O Brasil, está sob Ataque da Guerra Psicológica: “Já não bastasse a radicalização política e ideológica, o país vem sofrendo constantes ataques de factoides criados como estratégia para intimidar e causar pânico em segmentos específicos da sociedade, notadamente, parlamentares e autoridades de alto escalão do governo, superdimensionados, pela ampla exposição na mídia nacional”.

                                                                  Portanto, meus caros leitores, um dos principais campos onde está sendo travada a atual Guerra de Nova Geração, em nosso país, são as chamadas redes sociais, que ocuparam o lugar da grande mídia entre o povo brasileiro.
                                                    A maior parte das matérias consideradas Fakes News, publicadas nas redes sociais no nosso país, são produzidas e divulgadas pela esquerda e demais inimigos do governo atual, liberal, capitalista, a favor da livre iniciativa, do combate a corrupção, da desburocratização do Estado e de um Estado Mínimo. 
                                                O dicionário Merriam-Webster, menciona que o termo ‘Fake News’ se trataria de uma expressão usada desde o final do século XIX para referir-se a falsas informações divulgadas na mídia. 
                                                             Fake News, portanto, não se constituiria nem em uma tese nem em uma antítese, tão ao gosto dos marxistas. Simplesmente se trataria de uma mentira e, como tal, não estaria baseada em argumentos, fatos ou acontecimentos fundamentados, mas seria fruto, tão somente, da imaginação criativa e maldosa de quem a criou. 
                                                              O Fake News (ou a mentira, em português) por não fazer parte do processo dialético, não pertenceria ao diálogo saudável que acarretaria evolução para ambos os oponentes que, através deste diálogo, buscariam ver estabelecida a síntese, que mais se aproximaria da verdade do que a tese e a antítese.
                                                           Digo isto, por que a técnica de espalhar Fake News nas redes sociais, conforme já mencionado, é bastante adotada pela esquerda, adepta e divulgadora do método dialético, notadamente do materialismo dialético inventado por Karl Marx. É, no mínimo, contraditório o uso frequente da mentira por aqueles que se julgam portadores da verdade. 
                                                            O que buscam os esquerdistas, na realidade, é a disseminação do ódio do cidadão comum contra o regime democrático, contra o liberalismo econômico, contra a livre iniciativa e contra o empreendedorismo. Em troca, tentam vender os regimes socialistas e comunistas como o paraíso dos trabalhadores, onde estes se verão livres de seus patrões exploradores e se tornarão proprietários dos meios de produção.
                                                                A direita, quando eventualmente divulga algum Fake News, o faz sempre em resposta ou a reboque dos Fakes da esquerda, pois a militância e o ativismo político-ideológico desta, estruturado e implantado em nosso país há mais de meio século, é muito mais organizado e profissionalizado do que qualquer ativismo oriundo da direita. Os integrantes da direita, normalmente, estão sempre trabalhando, em suas empresas em suas profissões liberais ou de forma assalariada, para o enriquecimento e para progresso deles próprios e do país; enquanto seus oponentes de esquerda militam, apenas, para destruir o sistema capitalista, para implantar no seu lugar a ideologia comunista e para serem os seus novos dirigentes, para cuja consecução não hesitam em roubar, matar e aliar-se, até mesmo, ao crime organizado, conforme já tomamos ciência através de declarações na mídia dos promotores e juízes da equipe que trabalhou na Operação Lava a Jato, que acabou condenando muitos deles.
                                                  No entanto, analisando pragmaticamente a questão, constatamos que em uma guerra de Nova Geração, como a que vivemos na atualidade, a primeira coisa a ser ferida de morte é sempre a verdade. Ainda usando do pragmatismo, afirmo que devemos combater os inimigos utilizando as suas próprias armas ou, até mesmo, armas mais poderosas que as deles; pois, caso contrário, sendo as deles mais poderosas que as nossas, iremos fatalmente perecer, em que pese estarmos lutando pela prevalência do bem e o inimigo pela do mal, segundo opinião da maioria que elegeu o atual governo, depois de décadas de governantes de esquerda que destruíram o país e sua economia e desviaram trilhões de reais dos cofres do tesouro nacional.
                                               O Fake (ou a mentira) não é considerado uma virtude, mas, sim, um vício. Através de uma transvaloração de valores (mencionada pela primeira vez pelo filósofo Friedrich Nietzsche em sua obra Genealogia da Moral, editada em 1887) promovida pela esquerda mundial, como muitos já se deram conta, as virtudes tradicionais cristãs passaram a ser consideradas vícios e os vícios considerados virtudes (ou, no mínimo, coisas normais a serem aceitas pela sociedade), através de um maligno, maquiavélico e sorrateiro processo conhecido como Comportamento Politicamente Correto. Assim é que nas novelas de grande audiência popular, os vícios da traição, do roubo, de mentira, da covardia, do consumo de drogas, das aberrações sexuais, por exemplo, passaram todos a ser considerados como coisas normais na vida em sociedade, primeiro passo para perderem a classificação de vícios e alcançarem a de virtudes.
                                               Com o advento da era da informática, da eletrônica, da inteligência artificial, torna-se muito simples para organismos estatais, para organizações privadas, pessoas individuais ou para os serviços secretos de países comunistas, através de grupos criados somente com essa finalidade e localizados em diversos países do mundo, divulgarem matérias falsas antes, durante e depois de processos eleitorais realizados em países democráticos visando prejudicar candidatos de partidos democráticos e beneficiar candidatos de partidos de esquerda.
                                                Por operarem, quase sempre, em uma rede denominada ‘Deep Web’, torna-se impraticável aos mecanismos de busca existentes localizarem de que país e região eles estão atuando e em consequência denunciá-los e reprimi-los pelas vias legais.
                                                 Através da criação de páginas e de perfis falsos e da disseminação de um volume muito grande de informações, pessoas honestas e bem intencionadas recebem e acabam repassando matérias falsas produzidas por esses grupos, em um círculo vicioso que tende a contaminar toda a rede social com as mentiras divulgadas.
                                                         Na impossibilidade de evitar as mentiras nas redes sociais (como de evitar os lobos nas florestas), creio que os internautas liberais de direita deveriam denunciar aquelas produzidas pela esquerda (as mentiras que atacam o atual governo, o capitalismo, o liberalismo econômico, a livre iniciativa, etc.) e deixar quietas as eventuais mentiras que atacam a ideologia marxista, as ditaduras comunistas e seus governantes autocráticos, etc., seguindo a máxima da velha Medicina Homeopática que já previa: “Similia Similibus Curantur”; ou seja, “Os semelhantes curam-se pelos semelhantes”.
                                                             Evidentemente, a inflação de notícias falsas, da mesma forma que a inflação da moeda, não interessa a ninguém. Quando todos os internautas não mais acreditarem naquilo que veem, que leem ou que ouvem, como os velhos aldeões da história do menino e do lobo mencionada no início do texto, a raça humana inteira sairá perdendo e o que poderia ser um excelente meio de disseminação de teses e de antíteses, visando sínteses construtivas, se transformará, em razão dos ‘Fake News’, em um simples mecanismo para divertimento de adultos e crianças, em busca de distração, através dos conhecidos e tão disputados joguinhos eletrônicos.
                                                   Nada mais do que isso...


_*/ Economista e Doutor pela universidade de Madrid, Espanha. Membro titular da Academia Brasileira de Defesa – ABD e do Centro Brasileiro de Estudos estratégicos – CEBRES.


Nenhum comentário:

Postar um comentário