quarta-feira, 5 de junho de 2019

280. ‘Fake News’ não é nem Tese nem Antítese


 Jober Rocha*


                                      De acordo com os dicionários “a tese é uma afirmação ou situação inicial e a antítese é uma oposição à tese. Do conflito entre tese e antítese surgiria a síntese, que seria uma situação nova que carregaria, dentro de si, elementos resultantes desse embate”. Este processo ou método, conforme mencionado, é conhecido como dialético.
                                                   Dialética, portanto, segundo ainda ensinam os dicionários “tratar-se-ia de um método de diálogo cujo foco seria a contraposição e a contradição de ideias, que, por sua vez, levaria a outras ideias e que tem sido um tema central nas filosofias ocidental e oriental desde os tempos antigos”. A tradução literal de dialética (dialektiké, em grego) significaria, aproximadamente, ‘a arte do diálogo’.
                                                       Ainda em conformidade com os dicionários “a dialética seria uma forma de discurso entre duas ou mais pessoas que, embora possuindo diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto, pretendessem estabelecer a verdade através de argumentos fundamentados” (e não, simplesmente, vencer um debate ou persuadir o opositor, conforme era o objetivo de Arthur Schopenhauer ao ensinar 38 estratagemas para ganhar uma discussão, em sua obra ‘A Arte de Ter Razão’).
                                                   Segundo mencionam, ainda, os dicionários, “muitos historiadores considerariam o filósofo Sócrates (469 a.C - 399 a.C) como o fundador da Dialética; porém, Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) considerava o filósofo Zenão de Eleia (495 a.C – 425 a.C), como o seu fundador”. Foi, todavia, graças ao filósofo Hegel (1770 – 1831) que a dialética passou a ser mais conhecida, principalmente por seu método de aplicação da tese, antítese e síntese.
                                                O filósofo Karl Marx, baseando-se em Hegel, também desenvolveria um método dialético para a explicação da sua teoria (conhecida como teoria marxista). O método foi chamado de Materialismo Dialético e, segundo o mesmo, rezava que o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos tanto modelavam animais irracionais e racionais, suas sociedades e suas culturas, quanto eram modelados por eles, ou seja, que a matéria estaria em uma relação dialética com o psicológico e com o social. 
                                                      Através da sua dialética, Marx tentaria explicar os acontecimentos existentes na História. A tese de Marx, todavia, foi refutada por diversos filósofos não marxistas, que consideraram a teoria marxista como uma pseudociência. Ademais, a dialética de Marx não era a mesma da de Hegel. Marx, tendo tomado emprestada a Dialética de Hegel, a modificou para atender aos seus objetivos pseudocientíficos.
                                                    O único método, na concepção de Hegel, capaz de elevar a filosofia ao saber científico se chamava método dialético e consistia em um movimento que partindo da tese (afirmação); passando, a seguir, por uma antítese (negação); desembocaria na síntese (negação da negação). A síntese já não seria mais nem a tese, nem a antítese, mas algo resultante do embate entre ambas.
                                                        Assim, segundo parece, tudo na nossa vida física, mental e espiritual evoluiria mediante o método ou processo dialético. Na vida espiritual, também, através dos vícios e das virtudes nos chegaríamos a uma síntese evolutiva. Todavia, tanto a tese quanto a antítese deveriam pautar-se por argumentos, fatos ou acontecimentos fundamentados, para que se tivesse uma síntese também fundamentada.
                                                   Por outro lado, segundo o dicionário Merriam-Webster, o termo ‘Fake News’ se trataria de uma expressão usada desde o final do século XIX para referir-se a falsas informações divulgadas na mídia, principalmente nas redes sociais. 
                                                 Fake News, portanto, não se constituiria nem em uma tese nem em uma antítese. Simplesmente se trataria de uma mentira e, como tal, não estaria baseada em argumentos, fatos ou acontecimentos fundamentados, mas seria fruto, tão somente, da imaginação criativa e maldosa de quem a criou. 
                                                   O Fake News (ou a mentira, em português) por não fazer parte do processo dialético, não pertenceria ao diálogo saudável que acarretaria evolução para ambos os oponentes que, através deste diálogo, buscariam ver estabelecida a verdade.
                                                       Digo isto, por que a técnica de espalhar Fake News nas redes sociais é bastante adotada pela esquerda, adepta e divulgadora do método dialético, notadamente do materialismo dialético inventado por Karl Marx. É, no mínimo, contraditório o uso frequente da mentira por aqueles que se julgam portadores da verdade. 
                                                 O que buscam, na realidade, é a disseminação do ódio do cidadão comum contra o regime democrático, contra o liberalismo econômico, contra a livre iniciativa e contra o empreendedorismo. Em troca, tentam vender os regimes socialistas e comunistas como o paraíso dos trabalhadores, onde estes se verão livres de seus patrões exploradores e se tornarão proprietários dos meios de produção.
                                                   Não lhes dizem, os esquerdistas, que apenas trocarão seus atuais patrões pelo Estado totalitário, proprietário, estes sim, dos meios de produção nos regimes socialistas e comunistas. Não dizem, também, que quem dirigirá de maneira vitalícia este Estado totalitário, com todas as mordomias, vantagens e direitos, serão eles, os dirigentes (os novos patrões que ascenderão ao poder sem possuir, previamente, nem capital, nem espírito empreendedor, nem conhecimento técnico sobre como produzir; tratando-se de simples políticos que apenas possuem a vontade de alcançar o poder e a determinação para toma-lo pela força ou pela via pacífica das eleições, mediante o sufrágio universal existente nas democracias, eliminando estas, todavia, tão logo chegam ao poder).
                                                Como exemplo do que afirmei, cito o fato de que recentemente o Departamento de Justiça Norte Americano denunciou três agências russas, afirmando que elas teriam espalhado informações falsas na internet de forma a influenciarem as eleições norte-americanas de 2016. 
                                             Com o advento da era da informática, da eletrônica, da inteligência artificial, torna-se muito simples para organismos estatais ou para os serviços secretos de países comunistas, através de grupos criados somente com essa finalidade e localizados em diversos países do mundo, divulgarem matérias falsas durante processos eleitorais sendo realizados em países democráticos, visando prejudicar candidatos de partidos democráticos e beneficiar candidatos de partidos de esquerda.
                                                   Por operarem, quase sempre, em uma rede denominada ‘Deep Web’, torna-se impraticável aos mecanismos de busca localizarem de que país e região eles estão atuando e, em consequência, denunciá-los e reprimi-los pelas vias legais.
                                             Através da criação de páginas e de perfis falsos e da disseminação de um volume muito grande de informações, pessoas honestas e bem intencionadas recebem e acabam repassando matérias falsas produzidas por esses grupos, em um círculo vicioso que tende a contaminar toda a rede social com as mentiras divulgadas.
                                                 A legislação, na maioria dos países, normatizando regras e procedimentos; bem como, estabelecendo penalidades para a divulgação de ‘Fake News’, é falha e não atualizada para a importância destes tipos de crimes, permitindo que os mesmos continuem sendo divulgados. O público usuário, ávido por repassar notícias novas para os seus contatos virtuais, não atenta para o mal que está sendo propagado cada vez que uma mentira é repassada.
                                             Creio que os usuários da WEB deveriam ser conclamados, principalmente por organizações de direitos humanos (que se preocupam muito com os supostos abusos sofridos pelos criminosos, partidos das autoridades policiais), para que, antes de repassarem qualquer notícia importante sobre os três poderes da república (principalmente se versarem acerca da honra e da dignidade de pessoas), verificassem a veracidade das mesmas em alguns sites existentes para tal. Existem endereços na WEB especializados em analisar a veracidade de notícias divulgadas na mídia.
                                                A inflação de notícias falsas, da mesma forma que a inflação da moeda, não interessa a ninguém. Quando todos internautas não mais acreditarem naquilo que veem, que leem ou que ouvem, a raça humana inteira sairá perdendo e o que poderia ser um excelente meio de disseminação de teses e de antíteses, visando sínteses construtivas, se transformará, em razão dos ‘Fake News’, em um simples mecanismo para joguinhos eletrônicos entre crianças e adultos em busca de diversão.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

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