144. Desisto, novamente!
Jober Rocha*
Caros amigos leitores, em texto anterior, denominado ‘Desisto!’, eu mencionei inúmeros problemas que afetam o nosso país, problemas estes para os quais não vislumbro solução futura, e que me levou a denominá-lo de ‘O país que não deu certo’.
Hoje, resolvi voltar ao assunto com um tema semelhante e reafirmar que, mais uma vez, desisto.
Normalmente passo meus dias sentado a frente do computador, enviando e recebendo matérias dos meus contatos, via e-mail e Facebook. A lição que aprendi ao longo de todos estes anos contemplando o que circula na WEB, notadamente no Facebook, é bem simples: cinquenta por cento do que circula é simplesmente falso (também conhecido como fake) com relação a todos os assuntos tratados, mentiras estas disseminadas por governos, por empresas, por partidos políticos, por religiões e por particulares, todos com interesses inconfessáveis e escusos; vinte por cento representam matérias sobre laser, esportes, artes e show business; dez por cento consiste em propaganda sobre algum serviço ou produto; dez por cento constitui matéria humorística e de gozação, bem típica do espírito brasileiro e, apenas, dez por cento trata de assuntos sérios e aproveitáveis.
Não sei como se apresenta a WEB em outros países, mas, no nosso, penso que a distribuição de frequências dos assuntos veiculados é esta que apresentei.
Outra constatação que fiz é a de que, nos diversos grupos do Facebook, existem pessoas de nível intelectual baixo, médio, alto e muito alto; todos eles interagindo entre si e ninguém sabendo qual o nível do outro. Em razão disto, as matérias postadas e os comentários feitos são os mais estapafúrdios possíveis, muitas vezes chegando às raias das ofensas pessoais e das difamações, quando os pontos de vista conflitam. Faltam conhecimentos, educação e civilidade por parte de muitos dos participantes dos grupos de discussão, para participar construtivamente de algum debate sobre qualquer assunto.
Todos querem ver seus pontos de vista prevalecendo. Os participantes dos inúmeros grupos, notadamente os de Filosofia, Ciências e Religiões, não estão interessados em aprender, mas, sim, em ensinar; porém, na maioria das vezes desconhecem tudo ou quase tudo acerca daquilo que discutem.
Outro ponto a destacar é a falta generalizada de conhecimentos básicos sobre a língua em que escrevem; no caso a portuguesa. Os erros de ortografia e de gramática são tantos e tão gritantes que, muitas vezes, mesmo com boa vontade, não conseguimos entender o que o internauta quis dizer.
Relativamente às matérias de cunho falso, muitas vezes se torna difícil perceber a fraude, mesmo tomando todo o cuidado, já que são elaboradas por profissionais altamente qualificados, empenhados em enganar e confundir. Organismos secretos, com verbas milionárias, espalhados por todo o mundo, plantam notícias falsas e produzem contra-informação, diariamente, a serviço de interesses políticos, econômicos, militares e psicossociais.
Milhões de internautas são conduzidos, como ovelhas em um rebanho, para onde os seus pastores desejam.
Opiniões são formadas ou desfeitas com base em matérias falsas, divulgadas como verdadeiras. Infelizmente, o internauta não tem, na maioria das vezes, como checar a veracidade ou não da matéria veiculada. Dependendo do seu nível intelectual e da informação de que dispõe, o internauta percebe tratar-se de notícia falsa, mas, na maioria dos casos, em se tratando de pessoas do povo, sem maiores conhecimentos e com pouca informação, a matéria divulgada passa por verdadeira. Milhares, senão milhões, de boatos circulam diariamente pela internet, em suas várias modalidades.
Na realidade, tendo em vista as técnicas atualmente existentes e constantemente aperfeiçoadas, infelizmente, já não mais podemos crer naquilo que vemos, lemos ou ouvimos nesta excepcional ferramenta, que surgiu para aproximar as pessoas, além de transmitir conhecimentos e informações.
Em muitas ocasiões, ao perceber que a matéria é falsa ou tendenciosa, menciono isto nos meus comentários, tentando alertar os incautos. Prá que: imediatamente recebo ofensas e xingamentos desde os nossos limites territoriais do Oiapoque ao Chui. Muitos assuntos que me parecem óbvios e do conhecimento geral, constato que não o são para inúmeros internautas. A disparidade de informações, de níveis sócios culturais e de idades, entre as pessoas que acessam a internet (mais especificamente o Facebook), faz com que os diálogos, quase sempre, sejam sem pé nem cabeça e, muitas vezes, eivados de ofensas mútuas, notadamente quando os interlocutores são mais jovens.
Assim, meus amigos leitores, eu informo a todos que desisti, mais uma vez. Não enviarei nem comentarei mais nada pela WEB. Serei, de agora em diante, apenas um contemplador mudo desta imensidão de informações que são geradas diariamente e que circulam pelos computadores, nos lares e escritórios brasileiros, e também nos WhatsApp, bem aconchegados nas mãos daqueles que os possuem.
Tentarei me conter quando contemplar uma mentira deslavada ou um comentário infame, sobre uma tese corretamente apresentada. Sairei do escritório por alguns minutos, quando presenciar dois internautas se ofendendo com palavras de baixo calão, normais no mundo virtual de hoje em dia. Respirarei fundo quando ler matérias afirmando que a Terra é plana; que devemos parar de comer carne e derivados do leite; que se doarmos tudo o que temos para determinada seita, o Criador nos dará tudo de volta, multiplicado por dez.
Fecharei meus olhos por alguns minutos, quando ler que um imenso asteroide irá se chocar com a Terra e que um Tsunami estará chegando ao litoral brasileiro nas próximas horas. Tomarei uma pequena dose de uísque, após contemplar um Buda da Sorte (que supostamente enriquece quem o passa adiante), uma imagem de santa (que atende a qualquer pedido com uma prece), uma vela acesa para a cura do câncer (que deve ser passada adiante).
Por um lado será até bom, pois pretendo iniciar um programa de caminhadas ecológicas. Caminhando surgem idéias, como afirmava Rousseau. Quem sabe se, a partir de agora, não terei assunto para novas e melhores crônicas?
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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