segunda-feira, 31 de julho de 2017


145. Minha amiga Laura T.


Jober Rocha*



                  Laura T. é minha correspondente no Facebook, a quem conheci através de um amigo de um amigo. Mora em um país distante do meu, com cidades de nomes estranhos, como: Cluj-napoca, Timisoara, Iasi, Brasov. A região mais conhecida do país em que ela vive é a Transilvânia, onde a lenda afirma ter residido o Conde Drácula, personagem inspirado em Vlad III, príncipe da Valáquia, considerado herói por sua luta contra o Império Otomano.
                    Pelos dados que a página dela no Facebook contém e pela sua foto, classifico-a como uma ‘femme fatale’ (aquela mulher que todo homem deseja, mas que não consegue ter); já que, ela, aparentemente, preenche grande parte dos requisitos para tal, se não todos: possui um cabelo sedutor, é misteriosa, é inteligente, sensual sem ser vulgar, possui senso de humor, aparenta ter uma personalidade fascinante, independente, percorre lugares misteriosos, fina, autêntica, não se submete aos homens e tem um ar charmoso.
                    Outras qualidades comuns às ‘femmes fatales’, como um perfume especial, uma bebida característica, um batom vermelho, uma voz sedutora e o fato de maltratar aqueles homens que a admiram, infelizmente, não puderam ser confirmadas através de uma simples comunicação virtual. A intuição e a razão, no entanto, afirmam que elas devem existir; pois, existindo as primeiras características, as segundas forçosamente também existirão.
                      Suas fontes de interesse parecem ser a Fotografia em preto e branco e a Literatura.
                     Escreve bem em Português e, como o seu primeiro nome é Laura, imagino que seja nascida no Brasil e, em alguma ocasião, possivelmente tenha se transferido para aquele distante país; do qual, confesso, sei muito pouco a respeito. Conheço, por já haver provado, um prato típico da culinária local: polenta com queijo cottage e molho azedo, diga-se de passagem, delicioso. Sei também, por declarações de amigos, que os passeios de trem pelo país são muito interessantes; já que o mesmo é totalmente cortado por linhas férreas, que o percorrem de norte a sul e de leste a oeste. 
                       Em algumas ocasiões, como agora ao escrever esta crônica, me vem à mente a mágica proporcionada pela WEB. Quem poderia imaginar, há cinqüenta anos ou mais, que pessoas desconhecidas venceriam, em instantes, os receios, a timidez, o orgulho e o preconceito, existentes até então no âmago de cada um, para se comunicarem com outras pessoas, desconhecidas, residentes nos quatro cantos do mundo, trocando informações e, até mesmo, confidências, sem se conhecerem pessoalmente? 
                         Mediante a revolução da WEB as barreiras das raças, das línguas, dos sexos, das cores e das religiões são transpostas, transformando o mundo inteiro em uma comunidade global, onde todos sabem de tudo que está ocorrendo, no momento exato em que ocorre. A catarse, a purificação ou purgação mundial, com toda a certeza, é feita, na atualidade, através da WEB. 
                         O sentimento de liberdade dos seres humanos, em relação aos sentimentos ou situações opressoras do dia a dia, se expressa através das matérias que os internautas postam na WEB, permitindo ou facilitando a ‘purificação das almas’ através da descarga emocional que isto representa e dos comentários e compartilhamentos por eles feitos.
                          A par do lado bom, entretanto, existe, também, o lado mal da WEB: os fakes, as matérias plantadas com objetivos escusos ou inconfessáveis, os vírus, etc. Estes efeitos perversos, todavia, são plenamente superados pelos efeitos benéficos. Certamente, qualquer um depois de conhecer e de se utilizar de todas as potencialidades da WEB, jamais conseguirá viver sem ela.
                           Quantos novos amigos, quantas informações importantes, quanto conhecimento útil ela proporciona aos seus usuários, diariamente.
                           A WEB, por outro lado, poupa tempo, dinheiro e trabalho dos seus usuários, evita horas intermináveis em filas, simplifica procedimentos, permite o envio de documentos, textos e imagens, em questão de segundos, para qualquer local do mundo servido por ela; possibilitando, até mesmo, o salvamento de vidas humanas.
                              Finalizando, sou grato a todas as Lauras, Renatos, Pedros, Lucias, Marcias, Filipes, etc., que fazem parte do meu dia com as suas interessantes matérias e pertinentes comentários sobre o que quer que seja. São eles que alegram o meu dia e me fazem crer no futuro da espécie humana como uma linhagem colaborativa, em que pese toda a cizânia fomentada e espalhada por políticos e por dirigentes globais objetivando dividir para governar.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.


sexta-feira, 21 de julho de 2017


144. Desisto, novamente!


Jober Rocha*


          Caros amigos leitores, em texto anterior, denominado ‘Desisto!’, eu mencionei inúmeros problemas que afetam o nosso país, problemas estes para os quais não vislumbro solução futura, e que me levou a denominá-lo de ‘O país que não deu certo’.
                      Hoje, resolvi voltar ao assunto com um tema semelhante e reafirmar que, mais uma vez, desisto. 
                   Normalmente passo meus dias sentado a frente do computador, enviando e recebendo matérias dos meus contatos, via e-mail e Facebook. A lição que aprendi ao longo de todos estes anos contemplando o que circula na WEB, notadamente no Facebook, é bem simples: cinquenta por cento do que circula é simplesmente falso (também conhecido como fake) com relação a todos os assuntos tratados, mentiras estas disseminadas por governos, por empresas, por partidos políticos, por religiões e por particulares, todos com interesses inconfessáveis e escusos; vinte por cento representam matérias sobre laser, esportes, artes e show business; dez por cento consiste em propaganda sobre algum serviço ou produto; dez por cento constitui matéria humorística e de gozação, bem típica do espírito brasileiro e, apenas, dez por cento trata de assuntos sérios e aproveitáveis. 
                    Não sei como se apresenta a WEB em outros países, mas, no nosso, penso que a distribuição de frequências dos assuntos veiculados é esta que apresentei.
                Outra constatação que fiz é a de que, nos diversos grupos do Facebook, existem pessoas de nível intelectual baixo, médio, alto e muito alto; todos eles interagindo entre si e ninguém sabendo qual o nível do outro. Em razão disto, as matérias postadas e os comentários feitos são os mais estapafúrdios possíveis, muitas vezes chegando às raias das ofensas pessoais e das difamações, quando os pontos de vista conflitam. Faltam conhecimentos, educação e civilidade por parte de muitos dos participantes dos grupos de discussão, para participar construtivamente de algum debate sobre qualquer assunto.
                      Todos querem ver seus pontos de vista prevalecendo. Os participantes dos inúmeros grupos, notadamente os de Filosofia, Ciências e Religiões, não estão interessados em aprender, mas, sim, em ensinar; porém, na maioria das vezes desconhecem tudo ou quase tudo acerca daquilo que discutem. 
                         Outro ponto a destacar é a falta generalizada de conhecimentos básicos sobre a língua em que escrevem; no caso a portuguesa. Os erros de ortografia e de gramática são tantos e tão gritantes que, muitas vezes, mesmo com boa vontade, não conseguimos entender o que o internauta quis dizer.
                         Relativamente às matérias de cunho falso, muitas vezes se torna difícil perceber a fraude, mesmo tomando todo o cuidado, já que são elaboradas por profissionais altamente qualificados, empenhados em enganar e confundir. Organismos secretos, com verbas milionárias, espalhados por todo o mundo, plantam notícias falsas e produzem contra-informação, diariamente, a serviço de interesses políticos, econômicos, militares e psicossociais.
                          Milhões de internautas são conduzidos, como ovelhas em um rebanho, para onde os seus pastores desejam. 
                         Opiniões são formadas ou desfeitas com base em matérias falsas, divulgadas como verdadeiras. Infelizmente, o internauta não tem, na maioria das vezes, como checar a veracidade ou não da matéria veiculada. Dependendo do seu nível intelectual e da informação de que dispõe, o internauta percebe tratar-se de notícia falsa, mas, na maioria dos casos, em se tratando de pessoas do povo, sem maiores conhecimentos e com pouca informação, a matéria divulgada passa por verdadeira. Milhares, senão milhões, de boatos circulam diariamente pela internet, em suas várias modalidades.
                      Na realidade, tendo em vista as técnicas atualmente existentes e constantemente aperfeiçoadas, infelizmente, já não mais podemos crer naquilo que vemos, lemos ou ouvimos nesta excepcional ferramenta, que surgiu para aproximar as pessoas, além de transmitir conhecimentos e informações.
                       Em muitas ocasiões, ao perceber que a matéria é falsa ou tendenciosa, menciono isto nos meus comentários, tentando alertar os incautos. Prá que: imediatamente recebo ofensas e xingamentos desde os nossos limites territoriais do Oiapoque ao Chui. Muitos assuntos que me parecem óbvios e do conhecimento geral, constato que não o são para inúmeros internautas.                                 A disparidade de informações, de níveis sócios culturais e de idades, entre as pessoas que acessam a internet (mais especificamente o Facebook), faz com que os diálogos, quase sempre, sejam sem pé nem cabeça e, muitas vezes, eivados de ofensas mútuas, notadamente quando os interlocutores são mais jovens. 
                         Assim, meus amigos leitores, eu informo a todos que desisti, mais uma vez. Não enviarei nem comentarei mais nada pela WEB. Serei, de agora em diante, apenas um contemplador mudo desta imensidão de informações que são geradas diariamente e que circulam pelos computadores, nos lares e escritórios brasileiros, e também nos WhatsApp, bem aconchegados nas mãos daqueles que os possuem. 
                       Tentarei me conter quando contemplar uma mentira deslavada ou um comentário infame, sobre uma tese corretamente apresentada. Sairei do escritório por alguns minutos, quando presenciar dois internautas se ofendendo com palavras de baixo calão, normais no mundo virtual de hoje em dia. Respirarei fundo quando ler matérias afirmando que a Terra é plana; que devemos parar de comer carne e derivados do leite; que se doarmos tudo o que temos para determinada seita, o Criador nos dará tudo de volta, multiplicado por dez. 
                       Fecharei meus olhos por alguns minutos, quando ler que um imenso asteroide irá se chocar com a Terra e que um Tsunami estará chegando ao litoral brasileiro nas próximas horas. Tomarei uma pequena dose de uísque, após contemplar um Buda da Sorte (que supostamente enriquece quem o passa adiante), uma imagem de santa (que atende a qualquer pedido com uma prece), uma vela acesa para a cura do câncer (que deve ser passada adiante).
                    Por um lado será até bom, pois pretendo iniciar um programa de caminhadas ecológicas. Caminhando surgem idéias, como afirmava Rousseau. Quem sabe se, a partir de agora, não terei assunto para novas e melhores crônicas?


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

domingo, 16 de julho de 2017

143. Desisto!


Jober Rocha*



           Caros leitores, eu peço a todos que me perdoem este desabafo, mas, infelizmente, cheguei à triste conclusão de que é inútil despender qualquer esforço maior, tentando mudar o atual quadro psicossocial brasileiro.
                Tudo por aqui caminha mal. Tudo, ou quase tudo, aquilo que parte da iniciativa do governo (municipal, estadual e federal) é mal feito, por ignorância ou de forma proposital. Estamos regredindo diariamente, sob os olhares complacentes de autoridades que deveriam ser as promotoras e guardiãs das leis, da ordem e do desenvolvimento.
                    Muitos cidadãos, fanatizados por suas ideologias, criticam o que ainda existe de bom e de certo e elogiam o que vigora de mau e de errado (que buscam generalizar para o país inteiro), em uma transvaloração de valores. Apenas no Estado em que nasci e onde vivo, morre um policial quase que diariamente, assassinado por marginais. Os combustíveis são fraudados e dezenas, senão milhares, de veículos estão nas oficinas, com sérios problemas de motor, em razão dos efeitos danosos dos solventes misturados ao álcool e a gasolina por empresários desonestos e inescrupulosos.
                  Rouba-se por todos os lados, em todas as horas do dia e da noite. As ruas, estreitas em sua maioria, estão constantemente engarrafadas de veículos durante o dia inteiro, dificultando o ir e vir das pessoas para os seus trabalhos, para as suas casas e para os seus lazeres. Os transportes coletivos, sempre apinhados de passageiros, jamais cumprem seus horários.
                  Os hospitais e postos de saúde, congestionados de pacientes, carecem de médicos, de enfermeiros, de materiais e de equipamentos. Por outro lado, profissionais de saúde, mal remunerados, perdem o estímulo que tinham e, na falta de apoio institucional, limitam-se apenas ao trivial, sem nenhuma dedicação maior ou interesse pela situação dos impacientes pacientes. 
                  Nas escolas públicas professores com os salários aviltados e, muitas vezes, recebendo-os com atraso de alguns meses, sofrem nas mãos de alunos totalmente desinteressados em aprender algo de útil, que possibilite os seus ingressos futuros no mercado de trabalho. Em vários setores da máquina estatal, pessoas normalmente despreparadas profissionalmente ocupam funções técnicas ou de chefia, às quais foram guindadas pelo nepotismo ou pelo apadrinhamento político-partidário.
                No setor empresarial, a regra, quase sempre, é apenas a de visar o ganho de lucros máximos, sem nenhum compromisso com a qualidade ou a com a durabilidade dos itens produzidos. Os azeites são fraudados, conforme denunciam os órgãos de imprensa. Frauda-se nos pesos, nos tamanhos, nos componentes e ingredientes dos produtos. Remédios são feitos apenas com farinha e não com os sais químicos informados nas bulas. Injetam-se bolhas de ar dentro das embalagens, para caber menos produtos; colocam-se os biscoitos inclinados dentro de seus pacotes, para caber menos; constantemente diminui-se a quantidade oferecida nas embalagens, mantendo-se o mesmo preço.
            Agentes fiscalizadores do Estado, em muitas ocasiões, fazem vista grossa a estas irregularidades em razão de propinas recebidas. Muitos afirmam que a nossa agropecuária e o setor energético já pertencem, em sua maioria, aos chineses, que os adquiriram bem barato em época de recessão econômica. Os setores industriais se desnacionalizam a olhos vistos em razão da falta de recursos e da queda nas vendas, motivadas pela má administração de governos sucessivos. A recessão está batendo a nossa porta e qualquer um pode constatar a quantidade de lojas, empresas, consultórios, salas de profissionais liberais, fechadas nestes dois últimos anos em todas as cidades e capitais do país. Cerca de 20 milhões de pessoas estão desempregadas e o déficit orçamentário do governo federal é da ordem de quase duzentos bilhões de reais.
                Relativamente aos indivíduos eleitos para nos representar nas assembleias legislativas, na câmara e no senado, dá até desânimo comentar, tantos são os casos escabrosos relatados pela mídia envolvendo a maioria destes políticos. Mais da metade dos cerca de quinhentos e poucos deputados, integrantes da Câmara, respondem a processos na justiça. No senado deve ser a mesma coisa.
             No que respeita às religiões, constata-se que muitas delas transformaram-se em negócios altamente lucrativos, tendo em vista uma população inculta, despolitizada e ingênua como a nossa. Muitos sacerdotes praticam verdadeiros atos de estelionato com os seus seguidores, obrigando-os, através de ações psicologicamente formuladas, a venderem seus bens e doarem o valor apurado nas vendas a estes sacerdotes, com a promessa de que receberão do Criador muito mais do que aquilo que doaram.
                  O contrabando tornou-se algo corriqueiro, vendido nas ruas e praças das cidades. Pelas fronteiras desguarnecidas do país entram armas, munições, cigarros, perfumes, roupas, bebidas, etc. etc. etc. Os dois primeiros itens abastecem o crime organizado e também o desorganizado. Os demais abastecem as populações pobres em razão dos baixos preços, já que não pagam impostos.
                As chamadas ‘balas perdidas’ são encontradas nos corpos de cidadãos pacatos que tentam conviver com a guerra civil urbana não declarada de direito, mas existente de fato. Facções criminosas trocam tiros, entre si, pela disputa de pontos de venda de drogas e também com a polícia, que apenas ‘enxuga gelo’ ao reprimi-las, pois logo seus integrantes presos estarão nas ruas novamente.
               Milhões de desempregados perambulam pelas ruas do país buscando alguma alternativa que lhes permita sobreviver: vendendo balas nos sinais de trânsito ou fazendo malabarismos; trabalhando como camelôs; guardando ou lavando veículos (os chamados ‘flanelinhas’); distribuindo folhetos de publicidade, etc. etc. etc. Epidemias de dengue, chigungunha, zika, febre amarela, etc. povoam as nossas cidades e campos, fazendo milhares, senão milhões, de vítimas anuais. Vetores outros, como ratos, moscas e baratas também povoam as cidades aos milhões, trazendo com eles mais enfermidades e mais vítimas.
                   As nossas forças armadas, empobrecidas e desmotivadas, muitas vezes, operam em regime de meio expediente, por não terem condições de fornecer comida para os seus integrantes. Os equipamentos estão sucateados e os treinamentos e exercícios profissionais também são reduzidos, por medida de contenção e economia. Bases Aéreas e quartéis foram alienados para a iniciativa privada. O projeto do submarino movido a energia nuclear parou por falta de recursos. Dizem que as forças armadas, em conjunto, teriam munição apenas para um dia de combates.
                    Em grupos do Facebook destinados ao comentário de assuntos filosóficos, científicos e religiosos, seus integrantes se digladiam trocando ofensas quando possuem pontos de vista contrários sobre qualquer assunto. A competição atual não é mais apenas por empregos, mas também por idéias e pontos de vista. Todos querem a prevalência dos seus e, quando isto não ocorre, partem para as ofensas pessoais, injúrias e difamações.
                  As agências dos bancos e as repartições públicas, em suas maiorias, apresentam filas colossais. As filas dos primeiros, certamente, não são devidas à carência de recursos financeiros, como alegado pelos responsáveis pelas segundas. Nestas filas, muitas vezes, perdemos uma boa parte do dia, quando não o dia inteiro. As fraudes são muito comuns e sobejamente conhecidas: aparelhos que retém os cartões magnéticos dos clientes nos caixas eletrônicos; boletos de pagamento falsos, que enviam os recursos pagos para contas diferentes das verdadeiras.
                 Assaltos e roubos, nas vias públicas, ocorrem infinitas vezes; já nem sendo mais comunicados às autoridades policiais pelas vítimas, notadamente o roubo dentro de coletivos e o furto de celulares. Nosso país é o maior, mundialmente, em número de roubos de veículos e roubo de cargas.
               A burocracia estatal aumenta a cada dia. Dezenas de certidões (com firma reconhecida) e de cópias autenticadas são solicitadas para tratar de assuntos corriqueiros. Para abrir uma empresa, contratar um empregado, mudar de atividade, fabricar alguma coisa, exercer qualquer atividade, têm-se que recolher diversas guias de impostos e taxas aos cofres públicos. A burocracia é tão grande que se têm, com frequência, de contratar despachantes para obter aquilo que poderia ser resolvido de forma simples e imediata. O Estado não tem prazo para responder as solicitações do contribuinte, mas os contribuintes têm prazo para solicitar ao Estado, seja lá o que for.
                Se algum leitor acredita que este quadro possa, eventualmente, vir a ser modificado no futuro, eu respondo que penso haver um vício intrínseco ou uma falha de origem a permear a chamada ‘civilização brasileira’, contaminando nossa gente e nossas instituições. Uma entropia, que se apresenta ciclicamente, parece desorganizar e destruir parte daquilo de bom que havia sido feito, até então, deixando incólume o que de mal foi realizado e que ainda existe.
                     Se pedissem uma receita ao Prêmio Nobel de Economia, sobre a forma de consertar o país, antes de se pronunciar sobre problemas econômicos, ele, com certeza, diria: em primeiro lugar construam presídios e façam cumprir a lei, inexoravelmente. Nada de prisões domiciliares, indultos de natal, de páscoa, do dia dos pais, do dia das crianças, de São João, etc. Criminosos condenados a trinta anos de cadeia deveriam cumpri-los integralmente e não cumprir apenas seis anos, como na atualidade. Em segundo lugar, acabem com os privilégios dos políticos e das autoridades: nada de veículos oficiais, planos de saúde no exterior, aposentadoria após o segundo mandato, foro privilegiado, verbas de gabinete, emendas parlamentares, assessores, abonos, residências oficiais, empregados domésticos, auxílios moradia, creche, etc. etc. etc. Os políticos são empregados do povo e não patrões. Em sua maioria, em nosso país, eles ganham tanto ou mais que muitos empresários de sucesso, dirigentes e donos de grandes empresas, para o pouco que fazem. As imagens feitas no plenário da câmara e do senado mostram, quase sempre, a maioria das cadeiras vazias ou diversos políticos dormindo. 
                   Finalizando, quero dizer a todos que cansei de esperar por alguma mudança na triste realidade do nosso país. Não vejo nenhuma possibilidade desta mudança ocorrer no futuro; pelo contrário, a situação deve se agravar com a entrada de milhares, senão milhões, de imigrantes e refugiados políticos vindos de distantes países islamitas, do Haiti, da Venezuela, etc. Não pretendo tomar parte na guerra fratricida que, sem dúvida alguma, acabará por se instalar definitivamente no país. Pretendo mudar-me para outro lugar, distante daqui. Portugal é uma boa alternativa para os aposentados. De lá, passeando por ruas e avenidas tranquilas e seguras, saboreando bolinhos de bacalhau e tomando vinho em algum restaurante lisboeta, estarei sempre ligado, acompanhando de perto o sofrimento dos brasileiros no país que não deu certo.

_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.