418. A Humanidade precisa de novas religiões ou as religiões precisam de uma nova humanidade?
Jober Rocha*
Em um texto anterior, lembro-me de tê-lo iniciado com a seguinte afirmação:
“Na sociedade humana dos dias atuais, entorpecida em virtude da corrupção, dos males da pobreza e do desemprego, da degradação ambiental, da extinção de recursos naturais, das epidemias e enfermidades, da violência, etc., muitos indivíduos sentem-se inclinados a abraçar alguma religião ou, até mesmo, a se dedicarem a uma vida monástica, de modo a se subtraírem de um mundo cuja estruturação e modo de administração não lhes agrada, cuja repartição das riquezas lhes repugna a razão e cuja existência quotidiana não lhes oferece senão padecimentos”. “O caminho natural para estes indivíduos é o da busca por uma religião que realmente os reconforte, tanto para os que são ateus quanto para aqueles que já possuem alguma religião; religião esta, porém, que não satisfaz plenamente aos seus anseios”.
O que se nota é que muitas pessoas religiosas seguem uma tendência da raça humana, qual seja, a de acreditar em um Criador de todas as coisas e de prestar-lhe homenagens, reconhecimento e servidão, entregando aos seus sacerdotes a responsabilidade por fazer a ponte entre ambos. Dependendo do continente onde hajam nascido e da religião de seus pais, o costume natural deles, desde criança, é o de adotarem esta mesma religião dos pais, devido a pressão que sofrem na família e na sociedade.
Ocorre que todas as religiões existentes no planeta, pregam aos seus seguidores, que, somente por intermédio dela e de suas práticas, conseguirão a cura de enfermidades, o sucesso nas vidas particular e profissional; um lugar no céu das divindades; em suma, promessas de felicidade plena que nenhuma delas está apta a cumprir. Em retribuição por esta suposta prestação de serviços, são regiamente remunerados pelos fiéis. De uma maneira geral, as religiões que servem a um mesmo Deus, deveriam se ajudar mutuamente e se unir em prol de um objetivo comum. Paradoxalmente, são inimigas entre si e cada uma se proclama como a única verdadeira, aquela que conduzirá o adepto ao reino dos Céus.
Aqueles que as seguem, por sua vez, apresentam-se como pessoas corretas, honestas, caridosas, humildes, bondosas etc. , virtudes estas que a maioria delas não possui e que está longe de possuir. Ao não alcançarem o sucesso que almejavam, o seu insucesso passa a ser creditado à pouca fé que possuíam ou ao pouco recurso que desembolsaram para consegui-lo junto às divindades.
O cenário atual, no meu modo de ver, transformou-se, com o passar do tempo, em um jogo de faz de conta: As religiões em seus cultos, a troco de dinheiro, prometem aquilo que não podem cumprir e seus seguidores fazem de conta que são boas pessoas e que desejam prestar homenagens ao Criador de todas as coisas, através dos cultos daquela religião, em troca dos favores que pensam irão receber deste mesmo Criador.
Desta forma, as consciências culpadas, tanto de um lado quanto do outro, se aplacam e todos podem colocar suas cabeças nos travesseiros e dormir em paz, sonhando com um futuro glorioso...
Imagino, todavia, que grande parcela da humanidade atual já não acredita em mais nada. De tanto ver as autoridades se locupletando e agindo contra o povo, de tanto ver religiosos se aproveitando da crendice, ingenuidade e ignorância popular, de tanto ver a justiça vendendo sentenças e o parlamento se prostituindo, a Mídia propagando mentiras diariamente e produzindo desinformação e contrainformação a favor daqueles que pagam mais; qualquer ser humano, por mais medíocre que seja, percebe que algo está errado e que este sistema atualmente implantado já não o satisfaz.
O tão falado Contrato Social, que no passado foi firmado entre as autoridades e o povo, hoje já não faz mais sentido devido às suas clausulas leoninas, onde um lado pode tudo (Três Poderes) e o outo lado não pode nada (povo).
Ocorre-me, nesta hora, uma famosa frase atribuída a Santo Agostinho: "Se não há Justiça, o que é o governo senão um bando de ladrões”?
Creio que grande parte dos seguidores das religiões o faz, na atualidade, por uma ou mais destas razões; por ingenuidade; por desconhecimento histórico de suas origens; pela necessidade de uma crença em dias melhores, nesta época de crise; objetivando receber benesses e favores do Criador; etc.
No texto de número 267 deste blog, existe um resumo sobre todas as religiões, onde os leitores interessados poderão melhor se informar sobre os diversos aspectos de cada uma.
Entretanto, a se acreditar nos princípios 4, 5 e 6 do Caibalion, princípios estes herméticos que regeriam todas as coisas do Universo e que foi atribuído a Hermes Trismegisto, que exerceram grande influência na filosofia grega do século III e voltaram à tona durante a Idade Média e o Renascentismo, podemos, seguramente, imaginar, para o futuro da raça humana, novas formas de religião.
4 - O Princípio da POLARIDADE: "Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliáveis”.
(Na quarta lei hermética, entendemos que vivemos em um mundo polarizado. Tudo tem uma dualidade: o quente e o frio, o claro e o escuro, esquerda e direita, bem e mal... Quando associamos o princípio da polaridade com o da vibração, porém, compreendemos que as dualidades são duas faces da mesma moeda - em graus diferentes. O escuro não é nada além da luz ausente; a saúde é ausência de doença. A dualidade é, também, a unidade).
A se acreditar neste principio, mal e bem, virtude e vício, crença e descrença são a mesma coisa. Todos os paradoxos são reconciliáveis; ou seja, não existem. Logo, todas as religiões nada mais são do que fábulas, mitos ou mitologias criadas pelo homem. Assim, nada impede que surjam outras no futuro.
5 - O Princípio do RITMO: "Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação”.
(Na quinta lei hermética, entendemos que vivemos em uma dinâmica de ciclos. Tudo o que vai, volta, e vivemos em uma vibração eterna de atração e repulsão, de inspiração e expiração. Assim como podemos estar por cima, certamente voltaremos para baixo, e isso vale tanto para movimentos físicos como o dos astros, frequências mentais e padrões de relacionamento. Por meio da Neutralização, é possível conquistar maior estabilidade dos ritmos).
A se acreditar neste principio, as épocas e seus costumes sempre mudam. O que já ocorreu retorna e o que hoje ocorre retornará algum dia; logo, novas religiões poderão surgir futuramente enquanto as atuais poderão fenecer.
6 - O Princípio de CAUSA E EFEITO: "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à Lei”.
(Na sexta lei hermética, compreendemos que as coincidências nada mais são do que acontecimentos nos quais as causas ainda não foram esclarecidas. Toda ação tem uma reação e nada é por acaso. Ao dominar os princípios desta lei, é possível ser o agente causador e não apenas sentir os efeitos, de modo que possamos propagar o bem. Quando tal mecanismo é dominado, nos tornamos mestres de nós mesmos).
A se acreditar neste principio, vemos que nada acontece por acaso e que toda ação possui uma reação. Logo, a vida humana estará sempre em mudança e nada do que hoje ocorre durará para sempre, inclusive as religiões.
Ainda, segundo este princípio, imagino que a própria raça humana deverá evoluir física e mentalmente, transformando-se em uma espécie distinta da atual. Qualquer efeito atual, embora tenha uma causa, provocará a causa para novo efeito e assim sucessivamente.
Finalizando, creio que ambas as coisas deverão ocorrer futuramente, A Raça humana se modificará e as religiões também. Muitas delas já não resistem às novas questões suscitadas pela Ciência, pela Tecnologia e pela Filosofia, demonstrando que se fossem criadas por um Deus seriam, para sempre, coerentes e atuais. Como elas foram criadas por seres humanos; possuem inúmeros erros factuais e conceituais atinentes ao nível de conhecimento da época em que foram escritas, que são encontrados nos diversos livros considerados sagrados pelas várias religiões, e explicações que não convencem e, por isso, são consideradas como dogmas (ponto fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível; porém, sem nenhuma prova).
Espero que a espécie humana caminhe para a sua expansão com respeito à conservação e a preservação do planeta que habitamos e das demais espécies que conosco convivem. Espero que a nova religião atinja o coração e a mente de todos nós e não de somente alguns. Que aqueles que nos governam parem de pensar, apenas, no bem estar de si mesmo e de seus grupos, para pensar no bem estar de todos os habitantes.
_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Excelente texto vô!
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