terça-feira, 15 de setembro de 2020

 397. Onde estarão os nossos Policarpos Quaresma?


Jober Rocha*



                              Policarpo Quaresma foi um personagem do escritor Lima Barreto (1881-1922), cuja literatura sempre esteve a serviço da indignação, seja contra o preconceito aos pobres e mestiços ou contra a insensibilidade dos mais ricos, a superficialidade dos burocratas, a corrupção dos políticos e a esterilidade criativa dos falsos artistas. Para ele a função mais importante da Literatura era desmascarar os falsos valores e as instituições que exploram a inconsciência popular.
                                 O seu personagem Policarpo Quaresma pode ser identificado com muitos de nós, brasileiros patriotas, que ainda acreditam no futuro do país como potência; em que pese uma parcela importante da nossa sociedade, notadamente ocupando altos postos nos três poderes da república pensar de modo diferente e contrário, preferindo ver nossas riquezas drenadas para potências estrangeiras em troca de dinheiro e de apoio político para seus sonhos megalomaníacos de poder.
                                     Policarpo era um modesto funcionário público que tinha um projeto de desenvolver o país, na época do governo de Floriano Peixoto, através, inicialmente, de uma revolução cultural (que se mostrou impraticável), depois de uma revolução na agricultura (que também se mostrou impraticável) e, finalmente, de uma revolução política, como voluntário na revolta da Armada em 1893, onde encontrou seu fim.
                                     Policarpo, puro de coração e patriota convicto, via o país como um celeiro de farturas, de possibilidades, de amor, de entendimento, de experiências novas.
                                  Infelizmente, tudo aquilo que tentou mostrou-se infrutífero, demonstrando o abismo existente, já naquela época, entre o sonho dos homens bons e do bem e a dura realidade praticada pelos homens maus e do mal.
                                       A obra de Lima Barreto, cujo título é “Triste Fim de Policarpo Quaresma” consistiu, segundo os críticos da época, em uma sátira contra o Brasil oficial, onde dominavam generais sem batalhas e almirantes sem navios. O livro corresponde ao período da história do Brasil, em que o Marechal Floriano Vieira Peixoto governou o país como o segundo presidente do Brasil, desde 23 de Novembro de 1891, com a renúncia de Deodoro da Fonseca, até 15 de Novembro de 1894, com a entrega do cargo para o presidente Prudente de Morais, após as primeiras eleições diretas do Brasil republicano.
                                    A obra, segundo os críticos, consiste em uma alegoria contra a burocracia, formada por pessoas sem consistência moral ou profissional, contra uma política em que predominavam os corruptos e entreguistas, contra a passividade e tolerância do povo (que se deixava conduzir como rebanho ao matadouro), contra a falta generalizada de objetivos de longo prazo. Vivia-se o dia de hoje.
                                        Cerca de cento e vinte anos depois (pois o livro foi publicado em folhetim em 1911) nós podemos afiançar que quase nada mudou, embora a população tenha evoluído de 24 milhões de habitantes para 209 milhões e o Produto Interno Bruto - PIB de 18.481 milhões de reais, de 2008, para 3.338.702. 
                                             O país continua enormemente burocratizado, os corruptos predominam na política nacional e o povo do bem continua tolerante e passivo, as forças armadas sucateadas, as polícias e o Ministério Público impedidos de combater os crimes das elites, embora o povo do mal se mantenha, cada vez mais, violento e ativo.
                                           Um fator novo, todavia, foi introduzido no país neste intervalo de tempo: a ideologia autoritária marxista, que, de forma sub-reptícia e a sorrelfa, dominou corações e mentes de inocentes brasileiros com propostas mentirosas e mirabolantes do alcance de um paraíso terrestre pelas mãos dos ativistas e militantes dos partidos de esquerda, inicialmente clandestinos e depois legalizados. O paraíso ocorreu, sim, mas para os dirigentes, ideólogos e ativistas destes partidos de esquerda, a maioria deles hoje sem problemas financeiros, muitos aposentados com vultosos salários, outros com polpudas contas correntes em paraísos fiscais espalhados pelo mundo. O povo? Continua como sempre, passando necessidades, desempregado ou com baixos salários, sem assistência médica, sem transportes, sem saneamento, sem educação e sem segurança.
                                           A partir dos primeiros governos de esquerda no país, em 1995, até o último, em 2018, a administração pública, nos três poderes, foi inflada com militantes e simpatizantes dos partidos de esquerda, em um verdadeiro aparelhamento visando à implantação de um regime comunista no país, eufemisticamente chamado de socialismo bolivariano nos demais países do continente.
                                                Em que pese tudo isto ocorrido nas últimas três décadas, acrescido do roubo, puro e simples, do dinheiro público, através de concorrências fraudadas; dos crimes de lesa pátria e de traição cometidos por muitas autoridades, da sonegação fiscal, do contrabando de divisas; da formação de quadrilhas exclusivamente destinadas à pilhagem da coisa pública; da formação de uma cleptocracia que governa o país, extraoficialmente, tolhendo as ações do presidente eleito que começou a governar em 2019; ainda existem,, no mínimo, cinquenta e sete milhões de Policarpos Quaresma em nosso país e que, com seus votos, elegeram Jair Bolsonaro presidente. 
                                       Estes são aquelas pessoas do bem que acreditam na possibilidade de nos desenvolvermos e chegarmos a fazer parte do Primeiro Mundo, tanto econômica quanto socialmente. São aqueles que trabalham e se esforçam para que progridamos econômica, política, militar e psicossocialmente. Fazem parte de uma multidão silenciosa que necessita de um líder tão patriota quanto eles, disposto a enfrentar todo um exército do mal infiltrado e treinado, durante décadas, nas táticas subversivas dos costumes e dos valores da nacionalidade.
                                          Este exército do mal que terão de enfrentar está acostumado ao desvio de recursos públicos; às sinecuras; ao nepotismo; ao apadrinhamento político; às mentiras; as sabotagens; a venda de terras, empresas e consciências a países estrangeiros; bem como, a traições e crimes de lesa pátria. Algum dia, que espero não demore muito, todos eles serão levados aos bancos dos réus e pagarão por seus crimes perpetrados contra o povo brasileiro.
                                             Como disse Abraham Lincoln: “Pode-se enganar a todos, por algum tempo; se pode enganar alguns, por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos, durante todo o tempo”.
                                                  Em breve o povo brasileiro se dará conta de que tem sido enganado, ao longo de décadas, por gente má, traiçoeira e vil cujo único objetivo na vida é enriquecer de modo fácil através da política, desviando dinheiro público em benefício próprio. Esta é a verdadeira causa da miséria e da pobreza existentes em nosso Brasil, “país rico por natureza” como costumava dizer Policarpo Quaresma, que imaginava um governo forte, respeitado, inteligente, que removesse todos esses óbices e entraves ao nosso desenvolvimento econômico e social.
                                          As eleições se aproximam. Este ano teremos que escolher os novos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.
                                        Que saibamos selecionar os nossos novos representantes, não reelegendo ninguém. Política não é profissão. Um mandato é mais do que suficiente, principalmente, por que os políticos, votando em causa própria, estabeleceram suas aposentarias após dois mandatos. Aposentam-se com elevados salários e diversas 'mordomias' em apenas oito anos, muitos deles sem jamais terem apresentado nenhum projeto de lei ao parlamento e diversos tendo apoiado projetos contrários aos interesses do povo e do Estado brasileiros. 
                                           Que não votemos em candidatos que sempre tomaram partido contra os interesses de seus eleitores e do povo, em geral. Que não votemos em candidatos de partidos que, historicamente, em vários países do mundo, se aproveitam da democracia neles existente para instaurar regimes ditatoriais que, logo após eleitos, extinguem os demais partidos e instauram o partido único, comunista.
                                           Que sejamos todos nós, cidadãos de bem, espalhados por todo o território nacional, novos Policarpos Quaresma em defesa do nosso país, das nossas instituições republicanas, de nossos tradicionais costumes e da nossa tradicional moral, fazendo com que, desta vez, proporcionemos, com os nossos votos em urnas livres de fraudes, um final diferente daquele da obra de Lima Duarte.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário