quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

260. Ativistas ou Mercenários: para onde caminham as nossas Universidades?


Jober Rocha*



                               A história mundial das Universidades encarregadas da formação de profissionais de nível superior, destinados ao atendimento das necessidades daquelas sociedades humanas que se expandiam e enriqueciam com o comércio e as conquistas, remonta à Idade Média; quando nas igrejas, mosteiros e conventos, os sacerdotes passaram a ensinar aos seus discípulos e seguidores outras matérias, além daqueles mistérios revelados nas escrituras e livros sagrados e dos conhecimentos contidos nas sete artes liberais e ciências da antiguidade (ensinadas estas inicialmente nas escolas de cunho esotérico, filosófico e religioso do Egito, da Pérsia e da Grécia) e que eram, respectivamente, a Gramática, a Retórica, a Lógica, a Aritmética, a Geometria, a Música e a Astronomia. 
                                              Quando o número de aprendizes, adeptos e seguidores aumentava muito, os sacerdotes eram autorizados a abrir escolas fora dos perímetros das instituições religiosas. Surgiram, assim, as universidades que passaram a contar com mestres não pertencentes, necessariamente, às ordens monásticas.
                                              Representações alemãs da Idade Média mostram um livro e uma vara, símbolos dos professores de então, supervisionado pela sabedoria alada de três cabeças que cuidavam de sete donzelas. Neste mesmo livro aparecem as mencionadas sete artes liberais e ciências.
                                            Algumas destas artes se confundem com ciências e vice-versa. É o caso da Gramática, que ora é a arte e ora é a ciência das palavras. Da mesma forma, a Música, considerada como uma Arte na atualidade, era estudada como Ciência por Pitágoras. As três primeiras eram conhecidas como ‘trivium’ e as quatro últimas como ‘quadrivium’.
                                           Inicialmente, as profissões sempre foram buscadas como forma de sobrevivência pessoal e familiar. Posteriormente, surgiram algumas profissões que exigiam abnegação, caridade, desprendimento e amor ao próximo, profissões estas que eram voltadas para o atendimento de suas carências e necessidades.
                                              Aos poucos, em razão da expansão do comércio e das cidades, novas necessidades foram surgindo e, com elas, novas profissões voltadas para a aplicação das artes e das ciências.
                                                 Esta introdução teve por objetivo fornecer uma pálida ideia de como as coisas se passaram até os dias atuais, quando proliferam as universidades públicas e privadas nas quais inúmeras faculdades são responsáveis pela formação artística, científica e profissional de milhões de jovens em todo o mundo. Muitas necessidades sentidas pelas massas humanas ainda não dispõem de profissionais de nível superior qualificados para atende-las, da mesma forma que muitas profissões de nível superior, hoje existentes, irão desaparecer em futuro próximo.
                                              Entretanto, o que eu gostaria de destacar neste texto é o fato de que, na atualidade, em muitos países (como no nosso, por exemplo) algumas faculdades, tanto públicas quanto privadas, estão formando ativistas e militantes políticos, religiosos, ideológicos ou, até mesmo, simples mercenários das ciências e das artes.
                                            A arte e a ciência, eventualmente ensinadas e aprendidas nestas faculdades, passam a se constituir em objetivos secundários àqueles para os quais as referidas faculdades foram instituídas. O principal objetivo destas faculdades (ou de alguns de seus professores e muitos de seus alunos) seria agora o ativismo político, religioso e ideológico. Por sua vez, muitos estudantes de pós-graduação (mestres e doutores) que enveredam pelo meio científico e artístico seriam nos dias atuais, por assim dizer, mercenários a serviço de empresas de vários setores (econômico, financeiro, governamental, etc.).
                                       Teses, monografias, relatórios de pesquisa, livros científicos, etc. (da mesma forma como ocorre com pesquisas de opinião, realizadas por organizações e institutos de verificação de intenções eleitorais), podem ser encomendados para apresentarem determinados resultados e conclusões, favoráveis ou desfavoráveis, sobre o que quer que seja. Juízos de valor, em que pesem serem abominados pela Metodologia de Pesquisa, frequentemente fazem parte de muitas pesquisas científicas e de muitas formas de expressão artística.
                                                   Remédios que não passam de placebos, muitas vezes, são vendidos como eficazes para determinadas moléstias com base em estudos científicos previamente encomendados. Determinados alimentos ou produtos agropecuários, milenarmente consumidos, são estigmatizados para que novos produtos químicos industrializados sejam vendidos e consumidos no lugar daqueles.
                                                   Inúmeras inverdades ou meias verdades, com base em estudos, supostamente, científicos encomendados previamente por indústrias à profissionais das ciências, são divulgadas pela Mídia como se verdadeiras fossem, no objetivo de mudar comportamentos, gostos, costumes e preferências dos consumidores.
                                                 Mas, voltando ao ponto que nos interessa, podemos constatar que em nosso país, nas últimas décadas de governos esquerdistas, o ativismo que mais se destacou foi o de cunho político. Professores, notadamente os de universidades públicas, venderam aos seus alunos a falsa ideia de que eles deveriam ser, antes de tudo e acima de qualquer coisa, ativistas encarregados de difundir, perante seus públicos alvo, conceitos e posicionamento ideológicos e político-partidários.
                                                   Assim, muitos dos profissionais formados em universidades públicas, sem gastar um centavo pelo curso e pela profissão que alcançaram às custas dos impostos arrecadados de toda a população brasileira, ao invés de se aterem às praticas da profissão que escolheram, ligadas à Ciência ou à Arte e que lhes foi, ou deveria ter sido, ensinada, tentam incutir, após formados ou mesmo durante suas formações, posições políticas e ideológicas na mente de seus clientes, pacientes, patrões, empregados, estagiários, alunos, contratantes, etc; bem como, a expressá-las em seus relatórios, pareceres, laudos, documentos, petições, defesas, sentenças, artigos, textos, etc; posições estas, muitas vezes, contrárias às daqueles que custearam as profissões destes estudantes, isto é, os cidadãos brasileiros pagadores dos escorchantes impostos cobrados pelo governo em seus três níveis. 
                                                     Em algumas profissões nota-se que gerações de profissionais agem e pensam de uma mesma e idêntica forma com respeito a determinados problemas, considerando a doutrinação política e ideológica que receberam de seus mestres e professores.
                                                    Recentemente diversos episódios ocorreram, em nosso país, de médicos fazendo proselitismo político em seus consultórios, para pacientes que os procuraram objetivando ter os seus males curados e não para discutir assuntos de ordem político-partidária ou ideológicos. 
                                                   Por outro lado, profissionais de nível superior do Direito, do Ministério Público e da Justiça, muitas vezes, tratam os criminosos (de alta e de baixa renda) com uma visão que contém um viés político e ideológico. Os de baixa renda são considerados como vítimas marginalizadas de um sistema capitalista injusto, desigual e selvagem. Os de alta renda envolvidos em episódios de corrupção, podendo pagar bem pelas suas defesas, contam com as melhores firmas que, dispondo dos melhores profissionais do ramo, usam os melhores argumentos e as melhores estratégias para absolve-los ou postergar seus julgamentos, sem se importarem de onde vem os recursos financeiros que recebem em pagamento pelos serviços que prestam aos acusados de corrupção e de desvio de dinheiro público.
                                                     Os jornalistas que deveriam, apenas, fornecer imparcialmente as notícias para que o público tirasse delas as suas próprias conclusões, são os primeiros a tentar impor suas posições políticas e ideológicas aos leitores, de modo a cooptá-los para suas correntes ideológicas ou partidos políticos. Mentiras (ou os chamados fakes) são divulgadas por muitos profissionais do jornalismo sem nenhum pudor ou, mesmo, remorso pelo mal que podem causar.
                                                   Balanços contábeis de pequenas e de grandes empresas são constantemente fraudados por profissionais da Contabilidade e de empresas de auditoria, a serviço de seus clientes. Algumas dessas grandes empresas, que possuem ações na Bolsa de Valores, em virtude de fraudes em seus balanços contábeis, foram processadas judicialmente por detentores de ações das mesmas e tiveram que arcar com indenizações milionárias aos autores destas ações.
                                             Desvio de verbas públicas em órgãos governamentais, concorrências fraudadas, excesso de mordomias e de vantagens para funcionários dos três poderes da república, são acobertados ou apresentados em balanços, prestação de contas, relatórios de acompanhamento, etc., por profissionais da Economia, da Contabilidade ou da Administração, de forma a parecerem operações normais perante os organismos estatais controladores e fiscalizadores.
                                                 Obras públicas, equipamentos e bens destinados aos governos federal, estadual e municipal, construídos com materiais diferentes daqueles constantes do projeto e das especificações, de pior qualidade, eficiência e durabilidade, são frequentemente aprovados por profissionais da Engenharia por razões que sabemos quais são, mas que só são apuradas quando algum escândalo aparece na Mídia ou algum imóvel, ponte ou viaduto desaba causando vítimas.
                                                   Projetos empresariais, programas de governo e planos econômicos são idealizados por Economistas e financiados, interna e externamente, com recursos públicos, com os únicos objetivos de fazerem uso de um dinheiro barato (quase sempre com juros subsidiados e, por vezes, até mesmo à Fundo Perdido); de proporcionarem o fortalecimento da ideologia marxista no continente e de proporcionarem ganhos financeiros aos seus idealizadores, aos empreiteiros executores e aos fornecedores de equipamentos, bens e serviços. 
                                                       Muitos destes projetos, planos e programas não trarão nenhum retorno significativo aos brasileiros pagadores de impostos, notadamente aqueles que foram realizados em outros países com os nossos recursos financeiros, recursos estes que jamais retornarão aos cofres públicos. A este respeito, diversos inquéritos correm na justiça brasileira e nas de alguns outros países e podem ser facilmente consultados na WEB por aqueles leitores que se interessarem em conhece-los. 
                                                 Quantas assinaturas de advogados, economistas, contadores, engenheiros, arquitetos, etc. constam nestes projetos, planos e programas? Será que foram coagidos a assinar tais projetos, planos e programas, que originaram os inquéritos judiciais já apurados e aqueles ainda em andamento? Pelo teor das delações premiadas de executivos e de empresários, até agora divulgadas, a promiscuidade entre membros do governo, políticos e empresários era total. Acredito que a maioria dos profissionais, envolvidos nestas operações fraudulentas descobertas em passado recente (que assinaram pareceres, estudos de viabilidade, planos, projetos, prestação de contas, liberações de recursos, etc. agia ou por total inocência acerca dos objetivos dos mesmos, caracterizando, em alguns casos, um desconhecimento culposo (negligencia, imprudência, imperícia) ou por ideologia (neles incutida por alguns de seus mestres quando ainda na Universidade) no sentido do fortalecimento do comunismo no continente sul-americano, vários deles somente por dinheiro e outros, ainda, por mais de uma ou por todas as razões mencionadas. 
                                                 A existência de profissionais de nível superior, como os que aqui foram mencionados, face a totalidade de profissionais existentes no país que desempenham suas atividades compromissados, apenas, com os verdadeiros ensinamentos e propostas dos antigos mestres, sábios e inventores, que durante suas vidas contribuíram para o surgimento e o aperfeiçoamento das profissões de nível superior hoje existentes, felizmente, não é proporcionalmente muito elevada. No entanto, grande parte deles ocupa posição de destaque no cenário nacional e possui poder de decisão, razão pela qual torna-se necessária uma ‘dança das cadeiras’ nos organismos e instituições públicas, a ser promovida pelo novo governo que se inicia em primeiro de janeiro de 2019.
                                               Ademais destas medidas saneadoras, faz-se necessário, também, a despolitização das faculdades públicas (a não ser da Faculdade de Ciências Políticas), que são aquelas custeadas pelo povo com os impostos que recolhem ao governo, onde os alunos nada pagam apenas para estudar e obter uma profissão e não para se tornarem ativistas e militantes políticos ou mercenários, a conspirarem contra os interesses do povo que custeou os seus estudos e lhes proporcionou uma profissão de nível superior.
                                                Os professores destas faculdades, identificados como disseminadores de ideologias espúrias e contrárias à índole pacífica e conservadora da maioria da população brasileira, conforme ficou demonstrado pelo resultado da recente eleição que colocou na presidência da república o deputado Jair Bolsonaro, liberal de direita, religioso e ex militar, deveriam ser imediatamente afastados de suas classes, por contrariarem a missão para a qual foram contratados, qual seja a de ensinar matérias da grade curricular necessária a formação profissional dos estudantes sob suas orientações. Os diretores e reitores que fossem contrários ao afastamento destes professores deveriam ter o mesmo destino.
                                                   O que precisa ficar bem claro é que a universidade pública é um benefício concedido pelo Estado para determinadas pessoas (bem preparadas e aprovadas em concurso público) prestarem, em troca de suas formações gratuitas, serviços para a sociedade do país em que nasceram e não um direito que, supostamente, todas as pessoas teriam. Universidade pública gratuita não deve ser considerada como um meio de ascensão social, como ideologicamente muitos imaginam e a maioria deseja, mas, apenas, um benefício que algumas mais qualificadas recebem em função do trabalho que, futuramente, prestarão aos seus semelhantes. Educação superior, em qualquer país do mundo, é um privilégio e não um direito.
                                                 Por outro lado, a ética profissional deveria ser algo a merecer destaque nas universidades públicas, de forma a que os estudantes compreendessem bem as suas missões, como profissionais que estavam sendo instruídos e formados com recursos retirados do trabalho do povo, e, desta forma, não se deixassem seduzir pelos interesses egoístas de caráter financeiro e da busca pelo poder, visando a ascensão social e o acumulo de riqueza. 


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.




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