244. Andando entre ruínas às vésperas das eleições de outubro
Jober Rocha*
A história humana já viu, e ainda verá por muito tempo, surgir alguns seres predestinados a antever (ou a prever) o futuro, tanto de pessoas quanto de reinos, de impérios e de países.
Desde os mais remotos tempos os indivíduos têm buscado orientação sobre as suas vidas, nos oráculos, nas profetizas, em videntes e nos adivinhos.
O oráculo consistia na resposta dada por uma divindade a uma questão pessoal, através de artes divinatórias. Com o passar do tempo o termo também passou a designar o intermediário humano consultado, que transmitia a resposta da divindade e, até mesmo, o local que era considerado como solo sagrado previamente preparado para tal prática.
Tais oráculos só podiam ser dados por certas divindades, em determinados lugares, por pessoas determinadas e respeitando-se rigorosamente os rituais. Além disto, interpretar as respostas da divindade, que se exprimia de diversas maneiras, exigia uma iniciação daquele a transmitir as respostas.
Alguns deuses se expressavam por intermédio das entranhas e pelo fígado das vítimas sacrificadas (humanas ou animais); outros através de cascalhos, búzios e ossadas. Alguns através dos sonhos futuros daqueles que os consultavam.
A profetisa, por sua vez, era aquela mulher que falava em lugar do Deus e era escolhida entre as mais velhas da região. Ela se exprimia em versos ou, ao menos, se exprimiu assim por longo tempo, conforme alguns historiadores nos relatam.
Da mesma forma se expressavam os videntes, sendo um de seus maiores expoentes o francês Michel de Nostradamus (1503-1566), reconhecido por suas acertadas previsões e cuja principal obra foi ‘As Centúrias’, quadras em versos métricos decassílabos reunidas em grupo de cem.
Por sua vez, um grande poeta português chamado Antero de Quental (1842-1891), segundo a minha opinião pessoal, ademais de poeta era outro que também possuía o privilégio da vidência (ou a maldição desta, segundo alguns curiosos, cujos futuros previstos se apresentavam terríveis, assim consideravam o dom daqueles que o possuíam). Em versos feitos no século XIX, Quental já previa situações que ocorreriam em nosso país e no Continente Sul Americano no século XXI.
Em seu belíssimo poema denominado ‘Tentanda Via’ (em uma tradução descompromissada: 'O caminho deve ser tentado') o escritor retrata, com extrema fidelidade, segundo a minha particular interpretação, a situação do Brasil atual e de sua gente, após quase duas décadas de governos de esquerda (2003 à 2018) que deixaram o país arrasado e em ruínas, vendido e entregue a sanha estrangeira, com empresas falidas e o povo desempregado; em razão da má administração, dos desmandos, do aparelhamento do Estado por políticos e seus partidos objetivando a implantação do chamado Socialismo Bolivariano, do nepotismo, das sinecuras, dos apadrinhamentos e do desvio de recursos públicos para partidos políticos e para contas particulares de políticos, executivos, empresários, etc. Menciona, também, o poeta, segundo minha interpretação, fatos recentes vividos por todo o Continente Sul Americano.
Após a passagem destes governos de esquerda mencionados, o saldo deixado em nosso país foi de 13,7 milhões de pessoas desempregadas (13,1%); um déficit orçamentário da ordem de 200 bilhões de reais; 341,6 mil empresas tiveram suas atividades encerradas nos últimos anos, sendo que destas 13,8 mil eram indústrias; a desnacionalização de setores como a geração e a distribuição de energia, a agroindústria, a aviação comercial; as telecomunicações, etc, etc, etc.
O coordenador da Operação Lava a Jato (ação policial e do Ministério Público brasileiro que desbaratou um esquema bilionário de corrupção no país envolvendo políticos, empresários e servidores públicos), procurador da república Deltan Dallagnol, declarou que cerca de 200 bilhões de reais são desviados anualmente dos cofres do governo pelas quadrilhas que agem nos poderes da república.
Assim, a cada verso do poema de Antero de Quental, podemos fazer alusão à episódios da vida nacional e do continente, desde o início dos anos 2000. Aqueles que acompanharam a vida brasileira e possuem boa memória poderão fazer as analogias necessárias.
Entre um verso e outro procurei, eu mesmo, entre parênteses, da mesma forma como fazem aqueles que tentam interpretar os versos de Nostradamus, buscar uma alusão de Quental à acontecimentos brasileiros passados e presentes, bem como aos desejos e esperanças futuras do nosso povo, ainda não concretizadas; mas que, de alguma forma, se relacionassem com os belíssimos versos escritos. No vigésimo quarteto, cujo título deste meu presente texto a ele alude, fiz questão de escrever os versos em letras maiúsculas para dar-lhes maior destaque, por me afigurar como sendo um dos mais belos sonetos já escritos em língua portuguesa.
Que os leitores acompanhem os versos do poeta e vejam se tenho ou não razão sobre aquilo que afirmo:
Tentanda Via
Antero de Quental
(I)
Em busca dos destinos encobertos!
Como se estão volvendo olhos incertos!
Como esta geração marcha sozinha!
(Alude a marcha da nova geração brasileira tentando se livrar do mesmo destino trágico da Venezuela, que, tendo adotado o socialismo bolivariano, está com sua economia falida, com o povo à mingua, passando fome e fugindo para países vizinhos, dentre os quais o Brasil)
(II)
A noite é longa! O dia, duvidoso!
Vai o giro dos céus, vem vagaroso...
Vem longe ainda a praia do futuro...
(Em razão do aparelhamento do Estado brasileiro pela esquerda, segundo o autor, a possibilidade de nos livrarmos do mesmo destino do grande país vizinho, a Venezuela, ainda, é um sonho distante)
(III)
Sobre os destinos dum porvir, que é treva...
É o escuro terror de quem nos leva...
O futuro horrível que das almas pende!
(Comenta, ainda, sobre a história recente do país e da própria América do Sul, com organizações como o Foro de São Paulo, URSAL e UNASUL, cujas estratégias visam a implantação do bolivarianismo em todo o continente, com todas as suas mazelas e sequelas)
(IV)
Que pela mão conduz... não sei aonde!
– Quanto pode sorrir, tudo se esconde...
Quanto pode pungir, mostra-se tudo.
(Menciona o papel dúbio da Mídia, subserviente às verbas públicas de propaganda, que ora censura ou impede a divulgação das más notícias contra os políticos venais, governantes e suas falcatruas, ora divulga notícias inverídicas sobre possíveis candidatos honestos e de ficha limpa da oposição)
(V)
No chão da Pátria, à clara luz da História...
Nem o gladio de César, nem a glória...
É um misto de pavor e de cansaço!
(VI)
Que o solo, amado, beijam quando caem...
Crentes que traz um Deus, e à guerra saem,
Por não dormir no leito dos escravos...
(Volta ao mesmo assunto, tratando da luta inglória e da ação ineficaz dos milhares de agentes da lei e da ordem, caídos pela pátria em defesa do povo e das instituições democráticas e cujas ações são, frequentemente, combatidas pela Mídia de Esquerda, que apoia os criminosos a quem denominam, eufemisticamente, de pobres vítimas do Sistema Econômico Capitalista)
(VII)
Por uma oculta, súbita fraqueza!
Um desalento, uma íntima tristeza
Que à morte leva... sem se ter vivido!
(Fala sobre a ação da polícia, do Ministério Público e das demais autoridades patrióticas e honestas que, com frequência, desalentados, veem todo o seu trabalho ruir face a decisões esdrúxulas de magistrados, muitas vezes, indicados para seus altos cargos pelos próprios réus que julgam)
(VIII)
Nem há já glória no ficar prostrado –
São os tristes suspiros do Passado
Que se erguem desse chão, por toda a parte...
(Volta a mencionar a lembrança popular sobre o período em que o país esteve submetido ao Movimento Militar de 1964 e a falta de ação atual dos próprios militares, ao conviverem com tantos e tamanhos descalabros que levaram o país à ruína)
(IX)
E gasta, como à pedra a gota d'água...
Depois, a compaixão, a íntima mágoa
De olhar essa tristíssima ruína...
(É a continuação da ideia contida no verso anterior, onde o povo recorda com saudade os tempos do crescimento econômico, da abundância de empregos, das altas taxas de crescimento econômico, comparando-o com o legado de crise e desemprego dos governos de esquerda)
(X)
E causa dó olhá-las – a vontade
Amolece nas águas da piedade,
E, em meio do lutar, treme e falece.
(Menciona sobre o papel dos intervencionistas, que clamam sem sucesso pelo retorno dos militares ao poder, após toda esta destruição da economia e das instituições democráticas promovida pelos sucessivos governos de esquerda)
(XI)
Do trêmulo castelo do passado,
Deixa um peito partido, arruinado,
E um coração aberto em dois pedaços!
(Fala sobre o esfacelamento das instituições democráticas, do ensino, dos transportes, da segurança pública, das posições de destaque que já tivemos em vários setores econômicos e que perdemos, após a devastadora passagem dos governos de esquerda)
(XII)
De folhas secas e mirradas flores...
Eu não vejo que os céus sejam maiores,
Mas a alma... essa é que eu vejo mais minguada!
(Menciona que, ademais dos prejuízos de ordem material e moral impingidos ao nosso país e a nossa gente pelos governos de esquerda, preocupa-o o ânimo do nosso povo em procurar mudar o quadro atual. Nota um certo desânimo popular, motivado pelo descrédito no patriotismo e na honestidade de nossas elites e autoridades)
(XIII)
Onde uma Lei terrível nos domina!
Onde é força marchar pela neblina...
Quem só tem olhos para a luz do dial
(Trata aqui da ditadura do judiciário, que, muitas vezes passa por cima do legislativo, e no qual a lei, em determinadas ocasiões, é aplicada de forma distinta, segundo aqueles que a julgam e segundo os réus que são julgados)
(XIV)
É de noite que os tristes se procuram,
E paz e união entre si juram...
Irmãos! Irmãos! Amemo-nos agora!
(Protesta contra a técnica gramscista adotada pelos governos de esquerda, de dividir a população em negros e brancos, pobres e ricos, homo e heterossexuais, nordestinos e sulistas, católicos e protestantes, visando desunir e criar falsos antagonismos para, com isso, promover a luta de classes e poder implantar mais facilmente o socialismo bolivariano em meio ao caos reinante. Pede que nos unamos todos em busca de um destino comum)
(XV)
Que mais sabeis à Via do Calvário
Os desvios do giro solitário,
E tendes, de sofrer, largos os peitos;
(Fala sobre os cristãos e demais religiosos, muitos desanimados ao verem alguns dos sacerdotes da suas religiões apresentarem posições ideológicas comunistas ou socialistas, sobre o título eufemístico de Teologia da Libertação (ou outro qualquer nome que lhe atribuam), e incentivarem, liderarem e até mesmo participarem de movimentos campesinos de invasão a propriedades rurais produtivas e a consequente destruição maldosa de instalações, equipamentos, culturas permanentes e temporárias, além do abate de animais de criação)
(XVI)
Que sois os loucos... porque andais na frente...
Que sabeis o segredo da fremente
Palavra que dá fé – ó vós, poetas!
(Conclama todos os escritores e intelectuais, patriotas, honestos e preocupados com os destinos do nosso país a se manifestarem, sem medo, buscando esclarecer o povo e favorecer mudanças no atual quadro deplorável de falência moral e econômica pelo qual passamos)
(XVII)
Sobre a cabeça deles... e do peito
Fazei-lhes um degrau, onde com jeito
Possam subir a ver os astros santos...
(Continuando o pensamento anterior, o poeta pede que os intelectuais ajudem o povo a entender as opções que se apresentam para as próximas eleições: a continuação do 'status quo', com a eleição de um candidato de esquerda, do atual quadro de miséria, desemprego, censura, obscurantismo, desvio de recursos públicos, descumprimento das leis, leniência com o crime, etc. ou a mudança radical de tudo isto, com a eleição de um candidato liberal progressista e anticomunista)
(XVIII)
Os que perdidos vão com passo incerto!
Sede vós a coluna de deserto!
Mostrai-lhes vós a Via dolorosa!
(Conclama, ainda, os escritores e intelectuais não contaminados pela ideologia de esquerda, a alertarem o povo para a Via dolorosa por que passa o povo venezuelano e que deverá ser a mesma por que iremos trilhar no futuro, caso persistam governos de esquerda em nosso país)
(XIX)
Andar! Passar por cima dos soluços!
Como quem numa mina vai de bruços
Olhar apenas uma luz distante!
(Incentiva a todos a seguirem confiantes, a deixarem de lado o passado com suas ideologias espúrias e ultrapassadas, em busca de uma nova solução para nossos graves problemas econômicos, políticos e sociais, que teremos de enfrentar a partir do próximo governo)
(XX)
COMO QUEM VAI PISANDO UM CHÃO DE FLORES!
OUVIR AS MALDIÇÕES, AIS E CLAMORES,
COMO QUEM OUVE MÚSICAS DIVINAS!
(Neste belo verso, o poeta diz que não devemos renunciar ao nosso destino de potência, que embora tendo sido reduzidos a uma deplorável situação por governos venais e incompetentes, a esperança de um futuro promissor ainda brilha no coração dos brasileiros. Não devemos dar ouvidos àqueles que são contra a ordem e o progresso e que apostam no quanto pior melhor, buscando implantar ideologias avessas ao nosso passado e a nossa índole)
(XXI)
Sem contrair o lábio palpitante!
Atravessar os círculos do Dante,
E trazer desse inferno o olhar sereno!
(Diz que tendo sofrido o que sofremos nos últimos governos, devemos ter o bom senso de fazer uma boa escolha nas próximas eleições, elegendo um candidato liberal, pró desenvolvimento, aliado às potências capitalistas que deram certo e não às comunistas, empobrecidas por anos de engodo e de escravidão de suas populações)
(XXII)
Para cobrir as trevas da miséria!
Ter a vara, o condão da fada aérea,
Que em ouro torne estas areias densas!
(Conclama o povo a seguir acreditando em um poder supremo, atemporal, que ilumine nosso novo presidente e sua equipe, deixando de lado os tradicionais e conhecidos políticos venais e identificados com ideologias ateístas, totalitárias e de partido único)
(XXIII)
Puderdes, dentre o pó dessa ruína,
Erguei o olhar à cúpula divina,
Havereis de então ver a nova claridade!
(Conclama o povo a votar naquele candidato identificado com os valores tradicionais de nossa gente, candidato este que irá superar nossas dificuldades presentes e proporcionar um futuro melhor ao país, à sua economia, à sua gente e às suas instituições democráticas)
(XXIV)
Bem como o cumprimento de um agouro,
Abrir-se, como grandes portas de ouro,
As imensas auroras do Futuro!
(Finalizando, o poeta afirma, com sua visão premonitória, que do resultado destas próximas eleições brasileiras estarão selados, para sempre, os destinos do nosso país. Acredita ele que, sob a orientação do novo presidente e da sua competente equipe, nosso futuro será promissor, deixando para trás, de uma vez por todas, a desfaçatez, a mentira, a venalidade e o mau agouro que sempre caracterizaram o nosso ambiente político)
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Bela análise, amigo! No metafísico as ideias se encontram, tornando-se irmãs e convergindo para um mesmo ponto, e este ponto caminha... até voa!
ResponderExcluirExcelente análise, que nosso povo consiga ter a clareza do entendimento para votar certo e não à idolatria de um ignorante esperto em manipular e se apropriar de forma pérfida e sorrateira da misérável ignorância idólatra de um povo desesperançado .
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