404. Ensaio sobre uma possível Teoria da Evolução da Alma- Parte 2
O filósofo Ludwig Wittgenstein disse em
uma de suas obras que filosofar é como tentar descobrir o segredo de um cofre:
cada pequeno ajuste no mecanismo parece levar a nada. Apenas quando tudo entra
no lugar a porta se abre. A empreitada a
que me propus é idêntica à tentativa de abrir um cofre que esteve fechado desde
o início da criação humana. Cada ajuste pertence a um ramo do conhecimento.
Existe o primeiro ajuste religioso, o segundo filosófico e o terceiro
científico, como todo cofre que só abre sua porta após três movimentos: o
primeiro para a esquerda, o segundo para a direita e o terceiro, novamente,
para a esquerda.
Considerando que o judaísmo, o
catolicismo, o islamismo e o protestantismo creem todos na imortalidade do
espírito e tendo em mente, segundo rezam estas doutrinas, que o período em que
o ser humano passa encarnado é de apenas uma gota no oceano da sua existência
espiritual eterna, alguns leitores poderiam levantar as seguintes questões:
Qual a necessidade do espírito encarnar esta única vez? Apenas uma única
encarnação, de uns poucos anos, seria suficiente para que o espírito obtivesse
toda a evolução de que necessitaria (considerando que este não encarnaria já
evoluído, mas encarnaria ignorante e simples, segundo preconizam estas
doutrinas)? E se não conseguisse obter essa evolução, em sua única passagem por
este mundo, por escolhas erradas feitas em razão, talvez, do que consideraria
como seu livre arbítrio? Não teria
outras oportunidades, amorosa e compreensivelmente concedidas pelo
Criador? Não seria, talvez, um
menosprezo, pelos desígnios desconhecidos do mundo espiritual, achar que apenas
uma breve passagem pelo mundo material seria suficiente para que o espírito
evoluísse tudo aquilo de que necessitaria? Ocorre, ainda, que, sendo Deus o
único ser não criado, e tendo ele criado todos os demais seres, como se
explicaria o fato de haver criado espíritos já evoluídos (os anjos, que não
necessitariam encarnar na Terra) e espíritos ainda não evoluídos (nós outros,
que teríamos de encarnar para evoluir)? Teria o Criador adotado dois pesos e
duas medidas para suas criaturas? Por que não sermos, todos nós, espíritos de
luz ou, todos nós, espíritos sem luz? Será que o fato de possuir luz (ou
evolução) não seria, apenas, uma quantidade maior de encarnações vivenciadas?
Por sua vez, ao pregar o juízo final
(quando os mortos ressuscitariam) não estariam, todas estas religiões,
aceitando implicitamente a ideia da reencarnação, pois os mortos ao
ressuscitarem passariam, sem dúvida, na ocasião, a ter uma alma, já que não há
corpo humano vivo sem uma? Esta alma, certamente, não seria a sua própria (e
não outra), que teria deixado o mundo espiritual para penetrar no mundo
material novamente; isto é, reencarnando em um corpo de matéria?
Por outro lado, alguns leitores
poderiam, também, questionar: - Se acreditarmos que a ressurreição dos mortos
refere-se apenas a ressurreição do espírito e não a do corpo físico (até porque
a dimensão espiritual onde, certamente, encontraremos o Criador e os demais
Espíritos de Luz, não deverá ser uma dimensão material, de modo a que nela
possam habitar corpos físicos ressuscitados convivendo com espíritos); ou seja,
que tão somente os espíritos dos mortos iriam reviver na ocasião do juízo
final, não estaríamos diante de uma contradição, já que o espírito, segundo
afirmam, é imortal?
Pelo exposto, constata-se que todas
as religiões creem na existência de uma alma (ou de um espírito) e que esta é
parte integrante do ser humano. Várias acreditam na existência do destino (ou
carma) ou na predestinação para a salvação.
Todas acreditam na evolução da alma (ou espírito). Algumas creem na
reencarnação, outras não. A ‘Curva do Destino’, a rigor, iria ao encontro,
basicamente, do preconizado pelo budismo, pelo espiritismo, pelo hinduísmo,
pelo confucionismo e pelo taoísmo religiões estas que creem no determinismo e
na reencarnação e, apenas, parcialmente, ao pregado pelo Islamismo no que tange
a existência do destino.
As correntes filosóficas e os
principais filósofos que estudaram o assunto, por sua vez, alternam-se,
aceitando ou não o determinismo, reconhecendo ou não o livre-arbítrio. As
culturas mais antigas, orientais, sob a influência do budismo e do hinduísmo,
optaram por uma visão determinística da existência humana, que beneficiaria a
evolução da alma.
As culturas ocidentais, sob a
influência do judaísmo/ catolicismo/protestantismo, optaram por uma visão de
livre-arbítrio, que beneficiaria a satisfação dos desejos do ego. Estas duas visões parecem justificar o
estagio de desenvolvimento econômico e científico mais elevado no ocidente que
no oriente.
No próprio ocidente cristão os países
de religião protestante, que consideram ademais a importância do sucesso
material para a entrada no reino dos céus, desenvolveram-se mais (econômica e
cientificamente) que aqueles de religião católica, para os quais a riqueza
importa menos quando se trata de fazer parte deste reino. Em Mateus, 19,16 a
22, Jesus diz: “... um rico dificilmente entrará no reino dos céus... é mais
fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino
de Deus”.
Em que pesem possíveis erros de
tradução e de interpretação daquilo que disse Jesus, pode-se notar, no entanto,
a importância crucial que a escolha, dentre um destes dois tipos de visão
(determinística ou de livre-arbítrio), teve, até agora, na história do
desenvolvimento econômico e científico da civilização humana.
O próprio trato com a natureza e a
visão acerca do meio ambiente, têm sido influenciados por estes dois tipos de maneira
de encarar a vida. A ideia filosófica, básica, sobre Deus, das culturas
orientais, é a de que este é imanente a nós e a todos os demais seres; enquanto
a cultura ocidental o considera como um ser transcendental e distante de
nós. A ideia de Deus imanente em
todos os seres fortaleceu-se de tal modo no oriente, que acabou por surgir á
ideia de que tudo é Deus, o que se denominou de panteísmo. Conforme o
panteísmo, todos os seres e toda a existência de Deus são concebidos como um
todo. Deus é a cabeça da totalidade e o mundo é seu corpo. As mais importantes
religiões orientais (hinduísmo e budismo) são panteístas. O panteísmo oriental
acentua o caráter intrinsecamente religioso da natureza; isto é, toda ela está
animada pelo alento divino e, por isso, é como se fosse o corpo da divindade
que, como tal, deve ser respeitada e venerada.
No ocidente, os críticos do panteísmo o
acusam de ser uma espécie de ateísmo que nega a personalidade de Deus, como
externo ao próprio universo. O catolicismo afirma que o panteísmo questiona não
somente a fé católica, mas, segundo ele, o bom senso e a sã razão. Com efeito,
para o catolicismo, Deus não poderia (nem parcialmente) identificar-se com o
mundo, pois, por definição, é absoluto, necessário e ilimitado; ao passo que o
mundo é relativo, contingente e limitado. Além disto, afirma que não pode haver
evolução ou progresso em Deus, pois toda evolução pressupõe ou aquisição ou
perda de perfeição; o que, em qualquer caso, implica em imperfeição, o que é
absurdo em Deus.
Assim, para o catolicismo, Deus é,
essencialmente, distinto do homem, do mundo e da realidade, visíveis, já que é
absoluto e eterno, ao passo que as criaturas sensíveis são relativas,
transitórias e temporárias. As principais religiões e doutrinas religiosas
ocidentais são monoteístas (catolicismo, protestantismo e espiritismo).
Por sua vez, a crença politeísta das
populações indígenas da América do Norte, Central e do Sul manteve preservada a
natureza no novo continente, até a chegada do colonizador europeu. Considerando
que a natureza era povoada de deuses (Deus das águas, dos animais, da terra,
das colheitas, do sol, do ar, etc.), destruí-la era destruir os deuses ou
destruir aquilo que a eles pertencia.
O Sistema Capitalista, que se iniciou
no ocidente com a revolução industrial, trouxe ao mundo a ideia de que a
redenção da humanidade estaria no crescimento econômico e no progresso,
atendendo aos anseios do ego. Mais qualidade e quantidade de bens duráveis,
bens de consumo de todo tipo, bens de produção, etc.
Na ânsia pela produção destes bens,
muitas vezes supérfluos, que, supostamente, visariam atender as necessidades
dos seres humanos, a natureza é vista como uma fonte de recursos inesgotável e,
muitas vezes, gratuita. Com isto, a
pilhagem, a destruição e o desperdício, em escala mundial, têm se intensificado
em nome do progresso.
Muito desta destruição atual se deve
à maneira como os seres humanos encaram a natureza. Ao considerá-la, em razão
de crenças religiosas, como tendo sido criada por Deus apenas para a satisfação
de nossos desejos, como acontece no ocidente, passamos a consumi-la sem culpa,
sem remorsos e sem cuidados.
Caso vigorassem aqui visões
panteístas ou politeístas da divindade, certamente, o consumo do meio ambiente
seria menor; já que, filosoficamente, pensaríamos diferente com relação à
natureza da divindade.
A globalização da economia, com a
expansão do Sistema Capitalista para o oriente, tem feito (e continuará
fazendo) com que aumente a destruição do meio ambiente e que o consumo da
natureza, nesta parte do globo terrestre, cada vez mais, deixe de ser feito de
maneira sustentável.
Com base no que dizem as religiões e
a filosofia, podemos, então, estabelecer as seguintes hipóteses: 1. A
existência humana é determinística e Deus está em toda a natureza (Budismo,
Hinduísmo, Sufismo, Confucionismo, Taoísmo e Xintoísmo); 2. A existência humana
é determinística e Deus está fora da natureza (Islamismo, Espiritismo); 3. A
existência humana possui total livre-arbítrio e Deus está em toda a natureza
(nenhuma religião comunga com esta hipótese, pois, aparentemente, se trataria
de uma contradição religiosa); e 4. A existência humana possui total
livre-arbítrio e Deus está fora da natureza (Catolicismo, Protestantismo).
Cada uma destas hipóteses implicaria
em uma maneira diferente, para seus seguidores, de encarar a vida e os demais
fenômenos metafísicos.
A primeira hipótese seria a que mais
nos aproximaria do Criador (que estaria na própria natureza) e, portanto,
implicaria em uma menor necessidade da intermediação por parte de organizações
religiosas entre Deus e os homens, além de induzir a uma maior pratica das
chamadas virtudes, por parte dos cidadãos, em razão da visão determinística da
existência.
A última delas seria a que mais nos
distanciaria do Criador, criando, assim, uma necessidade maior da presença de
instituições religiosas para servir de ponte entre o Criador e as criaturas e
induziria a uma maior pratica dos chamados vícios (pecados), por parte dos cidadãos,
em razão da visão religiosa de livre arbítrio e do constante apelo do Sistema
Capitalista para a satisfação dos desejos do ego. Em que pesem os avanços
obtidos pela ciência, de um modo geral, nós ainda estamos bem longe de poder
encontrar explicações para os fenômenos metafísicos que, há milênios, ocupam
constantemente o pensamento daqueles que se interessam pelo assunto. As teorias
religiosas, filosóficas e cientificas têm-se sucedido, umas as outras, em um
perpétuo embate ideológico pela primazia da posse sobre a verdade metafísica. A
maior parte delas tenta esconder seu total desconhecimento sobre como as coisas
ocorrem naquela realidade, através de textos muitas vezes rebuscados,
ininteligíveis ou herméticos.
Pelo que podemos deduzir, com base em
todas as informações a que até agora tivemos acesso, parece que tem sido
constantemente negado ao ser humano, desde o inicio dos tempos até os dias
atuais, o conhecimento irrefutável de como as coisas se passariam no território
em que penetramos após a morte. As únicas instituições a se aventurarem a
alguma incursão a respeito, neste campo, são as religiosas, que, todavia, o
fazem não através de uma comprovação científica, mas, sim, da chamada
‘revelação’, que necessita da fé para se transformar em verdade aceita.
Considerando que a espécie humana é portadora de características muito
especiais, que lhe conferem um lugar de destaque entre as demais espécies,
através do seu desenvolvimento intelectual e do acumulo de conhecimento
proporcionado pelo progresso das ciências, chegaremos, com certeza, a descobrir
como as coisas ocorrem do outro lado; mesmo porque, em conformidade com o nosso
ponto de vista, grande parte dos fenômenos metafísicos de hoje serão, apenas,
simples fenômenos físicos amanhã. Pelo fato de desconhecermos, no presente, as
verdadeiras explicações para estes fatos, os colocamos para além da Física.
Entretanto, todos eles não passariam de simples fenômenos pertencentes ao campo
das ciências, conforme constataremos, com certeza, futuramente.
Miriam Patitucci em seu trabalho “A
Matemática da Reencarnação”, fornece algumas interessantes estatísticas sobre o
fenômeno da reencarnação:
*
Existem cerca de 30 bilhões de espíritos, encarnados e desencarnados, ligados
ao planeta Terra; sendo, destes, 6,9 bilhões encarnados (1/5) e 23,1 bilhões
desencarnados (4/5);
*
Dentre os espíritos encarnados, 4 bilhões são de almas doentes em processo de
reeducação, 2 bilhões são de almas em busca de recuperação e 500 milhões são de
almas missionárias coletivas para o progresso e bem-estar social.
*
Dentre os espíritos desencarnados, 12 bilhões encontram-se, ainda, em lutas e
sofrimentos, sem condições de reencarnar.
Seis bilhões se encontram em tarefas regenerativas e 5,5 bilhões
constituem espíritos elevados, guias espirituais, espíritos superiores,
avatares, auxiliares galácticos, etc., em sua maioria liberados de
reencarnações.
*
Dentre os espíritos desencarnados, ¼ não têm mais condições de reencarnar e
serão enviados, compulsoriamente, para planetas mais atrasados. ¼ constituem
espíritos evoluídos que não reencarnam mais e trabalham pelo progresso
espiritual da terra. ¼ são formados por espíritos que ainda terão uma chance de
reencarnar (são os refratários que se negam a reencarnar por mais de 2 ou 3
séculos). ¼ são formados por espíritos em regeneração.
*
Uma estimativa da evolução da população encarnada e desencarnada, desde o
início da era cristã, é a seguinte:
Ano
0 (Jesus Cristo)
300
milhões de encarnados
19,5
bilhões de desencarnados
Ano
476 D.C.(Inicio da Idade Média)
200
milhões de encarnados
19,8
bilhões de desencarnados
Século
XV (Início dos descobrimentos)
500
milhões de encarnados
19,5
bilhões de desencarnados
Século
XX (1900)
1,6
bilhões de encarnados,
18,4
bilhões de desencarnados.
Século
XXI (2000)
6,5
bilhões de encarnados,
23,5
bilhões de desencarnados.
Seres
em processo de dor e doenças do espírito e do corpo:
* 16 bilhões (encarnados e desencarnados),
sendo:
4 bilhões (encarnados),
12 bilhões (desencarnados).
Existiria,
assim, uma média de três espíritos em crise, para cada alma encarnada em
sofrimento.
* Dos 16 bilhões mencionados, em processo de
dor e doenças, tem-se:
4 bilhões de enfermos buscando o bem,
4 bilhões de criaturas perversas que,
deliberadamente, agem mal,
8 bilhões em estado de apatia, indiferença,
indecisão e desânimo.
Estatísticas
do Brasil:
* 191,5 milhões de encarnados,
* 766 milhões de desencarnados.
Em uma residência com 5 espíritos encarnados,
transitarão cerca de 20 espíritos desencarnados.
Alguns autores estimam o número médio
de encarnações a que cada ser humano foi submetido, até o presente, da seguinte
forma:
Suponhamos que todos nós já tenhamos
vivido na Terra desde o surgimento dos primeiros homens, na pré-história, e
consideremos, por hipótese, que todos nós tenhamos passado por um mesmo número
de encarnações, apenas neste planeta.
Existe um total de cerca de seis
bilhões de espíritos encarnados, atualmente, no nosso planeta (efetivo total da
população mundial). Alguns estudos apontam para cerca de 120 bilhões de
nascimentos de seres humanos, ocorridos no planeta Terra, desde o surgimento do
homem primitivo até o presente.
Dividindo-se este número pelo número
atual de habitantes, chegaremos a um total de 20 encarnações, em média, para
cada habitante existente na atualidade, supondo, conforme já dito, que todos
reencarnaram no mesmo planeta, a Terra.
Evidentemente, esta hipótese considera
que a evolução alcançada por todos os espíritos tenha sido a mesma, até o
presente, o que não deve ser verdade. Como se trata de um valor médio, do qual
não conhecemos a variância nem o desvio padrão, alguns indivíduos poderão ter
tido muito mais encarnações e outros muito menos, que as vinte consideradas.
(Continua)
_*/
Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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