quinta-feira, 23 de abril de 2020

365. O Silêncio dos Culpados


Jober Rocha*


                      O filme 'O Silêncio dos Inocentes', lançado em 1991 e dirigido por  Jonathan Demme, com base na obra de Thomas Harris, recebeu cinco prêmios Oscar: pelo melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor atriz e melhor roteiro.
                                 Tratava-se de um filme de terror em que uma jovem agente do FBI, tentando obter informações que levassem a captura de um ‘serial killer’, solto e matando mulheres, foi ao presídio entrevistar um notório e violento criminoso psicopata, condenado a prisão perpétua por nove assassinatos.
                                       Nas últimas três décadas, inúmeros crimes em série, também, foram cometidos por governantes de esquerda e seus cúmplices, que comandaram o país de forma tirânica durante todo este período, transformando a vida do brasileiro em um verdadeiro filme de terror. 
                                            Tanto é assim que as operações judiciais conhecidas como Mensalão e Lava a Jato levantaram todo um esquema criminoso que havia sido inteligentemente montado para o desvio de verbas públicas em benefício das nossas autoridades principais, como também para comprar o apoio dos parlamentares e de outras autoridades dos três poderes da república, além de transferir dinheiro para países comunistas do continente, de forma a  os fortalecer, política e economicamente, com o objetivo de estender o comunismo para os demais países da América do Sul, seguindo orientações emanadas do Foro de São Paulo (entidade que congregava centenas de movimentos comunistas da América do Sul).
                                                Evidentemente que só ficamos sabendo destes fatos porque alguns dos envolvidos, presos pela ação corajosa e patriótica de um grupo de juízes, promotores e delegados, resolveram romper o 'silêncio dos culpados' e revelar todo o esquema da organização criminosa que montaram, em troca de receber os benefícios da chamada ‘delação premiada’.
                                               Durante estas três décadas em que os cleptocratas reinaram absolutos, conduzindo o país para o abismo, inúmeros economistas, políticos, empresários, cientistas sociais, juristas, jornalistas, etc, eram pródigos em escrever artigos, textos, teses, discursos e pronunciamentos, elogiando os péssimos governantes e suas malfadadas políticas. 
                                            Certamente, tirando de lado os discursos ideológicos partidos dos fanáticos pelo marxismo, estes elogios que os referidos profissionais faziam, nada mais eram do que retribuições feitas ás benesses que teriam recebido dos referidos governos, seja em termos de cargos na administração dos três poderes; contratos para fornecimento de bens e serviços para o Estado; concorrências públicas para obras, vencidas de forma fraudulenta; aquisição de empresas públicas, privatizadas por valores abaixo daquilo que valiam; promoções na carreira pública; apoio financeiro a juros subsidiados, de instituições públicas; perdão de dívidas; renúncia fiscal; decretos e leis que beneficiavam determinadas empresas ou grupos econômicos; etc. 
                                              Tendo o país quebrado, em razão de políticas erradas, do desvio de recursos públicos (em uma desenfreada corrupção que uniu em verdadeiras organizações criminosas políticos, empresários, executivos do governo e de empresas estatais), bem como de empréstimos, doações, perdões de dívidas, etc., para países socialistas do continente e da África, visando fortalecer seus governos socialistas/comunistas; o povo, consciente da necessidade de dar um basta aos desmandos destes sucessivos governos de esquerda, elegeu, em 2018, Jair Bolsonaro, deputado federal liberal e reconhecidamente honesto, para proceder ás mudanças econômicas, políticas, sociais e morais que se faziam necessárias.
                                              O novo presidente assumiu suas funções em janeiro de 2019 e, desde então, estas têm sido totalmente cerceadas pelos integrantes do antigo sistema, ainda presentes e atuantes no legislativo e no judiciário.
                                         Medidas propostas pelo novo governo são bloqueadas no parlamento e deixam de entrar em vigor por decurso de prazo ou, então, são consideradas inconstitucionais pelos casuísmos aplicados, sem pejo, pela suprema corte. A independência e a harmonia, pregadas pela Constituição com relação aos três poderes da república, há muito foi rompida sem nenhuma providência concreta por parte de quem tem o dever de agir como moderador em casos como este.
                                              Nota-se que todos aqueles que enalteciam os antigos governos com seus textos panegíricos, na atualidade, encontram-se em um silêncio profundo, tanto quando os membros dos antigos governos já condenados ou ainda em julgamento. Suas preocupações, percebe-se, jamais foram com o futuro do país, mas, apenas, com seus futuros pessoais e o futuro de seus grupos ideológicos de aproveitadores dos recursos públicos para fins privados. Tendo as torneiras sido fechadas e a corrupção combatida com rigor, as odes que costumavam fazer aos governantes do momento cessaram.
                                          O que se vê na mídia, partindo tanto destes oportunistas mencionados quanto de militantes políticos e de ativistas ideológicos travestidos de intelectuais, são críticas destrutivas às políticas propostas pelo presidente e por seus ministros, técnicos nas respectivas áreas ao invés de simples políticos encarregados de desviar recursos para si mesmo e para seus partidos. 
                                          Os culpados pela situação caótica a que o nosso país foi conduzido ao longo das últimas três décadas (período em que os dados e informações de natureza econômicas e sociais foram, inúmeras vezes, manipulados ou distorcidos para esconder a triste realidade em que vivíamos; em vários de seus aspectos muito semelhante àquela da Venezuela) tentam, hoje, se defender de seus desmandos e atos vis ou traiçoeiros praticados contra a nossa pátria e a sua população, atacando e buscando dificultar ou inviabilizar a administração do presidente Bolsonaro.
                                               Muitos desses inimigos da democracia uniram-se a alguns governadores e prefeitos, aproveitando-se da pandemia que grassa no país e no mundo, para tentar parar a nossa economia, criar desemprego e falências; em suma, levar o país ao caos e tentar, com isso, derrubar o atual presidente.
                                                 Estes inimigos públicos da nação brasileira ainda não se deram conta de que tentar desestabilizar o governo, com a criação de crises artificiais que dificultem ou impeçam a governança, pode conduzir o país a uma encruzilhada que, fatalmente, fará com que enveredemos pela convulsão social, com a consequente guerra civil que se seguirá, ou para um regime militar de força, como aquele da década de 1960, com o fechamento do congresso e do STF, além da prisão de muitas autoridades sabidamente envolvidas com ilícitos penais.
                                                Em seus delírios de grandeza e de soberba, estes inimigos da democracia só pensam em seus interesses particulares e grupais, olvidando-se das carências estruturais do nosso povo.
                                                É o cumulo vermos ex autoridades, já condenadas por diversos crimes cometidos contra a nação e a sua população, ao invés de estarem presas cumprindo integralmente suas penas, desfrutarem da liberdade passeando pelo país e pelo exterior com recursos públicos e criticando, pública e impunemente, por onde passam, o presidente da república, seus ministros e os planos e programas governamentais.
                                               É inadmissível que cidadãos brasileiros, autoridades públicas eleitas pelo nosso povo carente, torçam para o quanto pior melhor, única e exclusivamente, para verem retornar um novo governo de esquerda, igual aos demais que já se mostraram tão nefastos ao país e que poderiam, como ocorreu com o filme de terror Silêncio dos Inocentes, ganhar também prêmios de melhor desempenho em desvio de recursos públicos, em crimes de lesa pátria, em sucateamento da infraestrutura social e das forças armadas, em nepotismo, sinecuras e na instituição de altos salários e mordomias, por eles mesmos aprovadas, em total descompasso com a nossa realidade social e com as realidades vigentes nos parlamentos dos demais países democráticos.
                                                Imagino que o silêncio dos culpados se deve ao fato de não desejarem produzir provas contra si mesmo, o que é um direito de todo criminoso, mesmo que seus crimes sejam já de domínio público. 
                                                    Mas não me refiro ao silêncio dos culpados no tocante às suas eventuais culpas passadas e sim ao fato de não esboçarem nenhuma atitude positiva para ajudar o Brasil a sair da crise em que se encontra. 
                                                  O único político que rompeu o silêncio dos culpados, passando por cima de um passado pelo qual foi condenado e preso, e se dispôs a ajudar o atual presidente denunciando publicamente um complô para tirá-lo do poder, foi o deputado Roberto Jeferson. Os acusados pelo deputado, figuras importantes no cenário nacional, por mais estranho que possa parecer ainda não vieram à público para desmenti-lo. O parlamento não instituiu nenhuma Comissão Parlamentar de Inquérito para ouvir o deputado e apurar a denúncia. O Poder Judiciário, pelo que eu saiba, nenhuma atitude tomou. Os chefes militares, como sempre, usando do tradicional sigilo, nada deixaram extravasar.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro fundador da Academia Brasileira de Defesa – ABD e membro titular do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.





segunda-feira, 20 de abril de 2020


364. Uma estória sobre um deputado e seu assessor parlamentar


Jober Rocha*


                                       - “No ano de 2040, um pesquisador consultando velhos arquivos da Câmara dos Deputados, em Brasília, encontrará um documento biográfico sobre um determinado deputado, escrito trinta e poucos anos antes por um escriba da casa encarregado de relatar para a posteridade a biografia dos parlamentares que por ali passaram, que, por força do destino, havia caído atrás de uma estante onde permanecera escondido até então” – falou-me o médium em um tom baixo e de forma pausada.
                                    Isto me foi segredado há alguns dias por um médium, vidente famoso, que conheço desde longa data e que tem fama de acertar sempre tudo aquilo que prevê.
                                   O documento biográfico, cuja síntese psicografada pelo referido médium apresento neste texto, menciona que ali, em Brasília, no final da década de 1990 e durante a década de 2000, vivia um deputado tido como muito honesto, conhecido por seus eleitores como ‘mito’ e que, em certa ocasião, foi abordado por um jovem estudante de Ciências Políticas na saída da Câmara. O jovem demonstrou-lhe o desejo de ser seu assessor parlamentar e discípulo, pois, além de admirá-lo muito, almejava seguir também a carreira política. 
                                  Após ouvi-lo por algum tempo e fazer-lhe algumas perguntas para investigar o seu nível intelectual, seu caráter e seus objetivos, o deputado aceitou, por fim, tomá-lo por assessor parlamentar e discípulo. 
                                      Entretanto, alertou-o de que antes de conseguir seu intento, ele deveria submeter-se a quatro provas: a da Terra, a do Ar, a da Água e a do Fogo. O parlamentar, que havia sido oficial paraquedista e guerreiro de selva no passado, resolvera submeter seu aprendiz a um teste, como aqueles a que ele mesmo se submetera durante sua vida militar, para ver se o jovem tinha mesmo vocação e força de vontade para empreender aquilo a que se propunha.  
                                      A Prova da Terra - segundo disse o deputado- consistiria em deixá-lo encarcerado em uma caverna por vários dias para que, na escuridão e no silêncio daquele ambiente, fizesse uma séria reflexão sobre a necessidade de o ser humano eliminar a ignorância e o erro, as superstições e o preconceito, que mantêm aprisionados o espírito e a consciência. 
                                         A Prova do Ar - conforme falou o deputado - consistiria em levá-lo a uma alta montanha em um dia de mau tempo, para que naquele ambiente rarefeito e ao sabor das intempéries ele entendesse que a vida, como o ar, está sujeita a contínuas flutuações e a contraditórias variações. O ar, fonte da vida humana com as suas correntes, agitações e estagnações, possuiria um paralelo com o progresso dos indivíduos e dos povos. O progresso era o avançar coletivo, que encontraria obstáculos a vencer. Como o mau tempo que é sucedido pela calmaria, após as revoluções do progresso viria, sempre, uma esperada paz das instituições libertadas. 
                                    A Prova da Água - afirmou o deputado - consistiria em conduzi-lo em uma embarcação ao alto mar e atirá-lo pelo costado do barco ao oceano, amarrado em uma corda. O oceano, como um símbolo do povo, embora inerte na calmaria, é agitado e revolto pelo movimento que lhe dá o vento. A sua instabilidade e a sua fúria retratam os caprichos e as vinganças cruéis de um povo desordenado. Suas correntes são como às da opinião popular e o político patriota, para servir ao povo, deve arriscar-se a ser esmagado pela sua fúria cega, como um marinheiro tragado pelas ondas do mar.
                                           A quarta e última prova, a do Fogo - segundo as palavras do deputado- consistiria em fazê-lo atravessar uma fogueira cujas chamas purificadoras traduziriam a aspiração, o fervor e o zelo de trabalhar, com dedicação, pelas causas em que se empenhasse; principalmente, aquelas relacionadas com o bem-estar do povo.
                                        O jovem aceitou, sem vacilar, a condição estabelecida pelo deputado, naquela ocasião já considerado como um verdadeiro mestre pelo candidato a assessor parlamentar. Vencidas as quatro provas, o neófito passou a acompanhar o deputado em todos os momentos do dia. Observava como este se portava no trato com as pessoas, como se conduzia nas vezes em que era solicitado pelas autoridades para algum conselho ou opinião e ouvia-o, atentamente, quando este fazia seus pronunciamentos na câmara, muitas vezes sendo vaiado e apupado pelos políticos de esquerda que lhe faziam oposição, em sua maioria respondendo a processos criminais na justiça, só interrompidos graças ao foro privilegiado de que desfrutavam. Por vezes o deputado era visto pelo assessor como um verdadeiro Davi, enfrentando sozinho diversos Golias. 
                                       O assessor pôde perceber que aqueles pronunciamentos que o mestre fazia no plenário, iam, em sua maioria, contra as verdades pré-estabelecidas, reconhecidas e adotadas pelos demais parlamentares que lhe faziam oposição, que eram maioria e formavam a base de apoio do governo de esquerda no poder. Em certa ocasião o assessor, comentou aquele aspecto da questão com o deputado e mestre, ouvindo, então, deste, o seguinte argumento: 
                                         - Meu caro assessor e aprendiz, você me chama de mestre e todo mestre é aquele que ensina. O que é versado em alguma ciência ou arte, o que serve de base ou de guia. Na essência da reflexão, o verdadeiro mestre é aquele que é senhor de si mesmo. Alguém com um espírito diferenciado cuja vida tem o sentido de ensinar, seja por palavras, por ações ou por exemplos.
                                        Ser um mestre extrapola a própria definição da palavra. É mais do que apenas um adjetivo, sendo uma condição que se exerce. O verdadeiro mestre possui a tarefa de educar, de dar rumo, direção e sentido, tanto para a sua vida quanto para a dos seus discípulos. Sempre que nos posicionamos contrários aos conceitos ou verdades, anteriormente estabelecidos, apresentando novas maneiras de visualizar e entender antigas questões, somos alvo dos pré-conceitos, dos sectarismos e das discriminações. 
                                                Desta forma, para continuar sendo um verdadeiro mestre, é preciso ter coragem, determinação e ousadia para desafiar o sectarismo, a ignorância e os eventuais interesses contrariados. Ser um aprendiz, por sua vez, é ser um incansável pesquisador objetivando aprender um pouco mais a cada dia. O grande desafio do aprendiz, entretanto, é o de colocar em prática o conhecimento adquirido; em suma, transformar-se em um mestre. Muitos aprendizes, egoisticamente, continuam aprendizes para sempre. Não têm a intenção nem a pretensão de ensinarem aquilo que aprenderam para novos aprendizes, cortando, por assim dizer, a corrente da transmissão do conhecimento.
                                              Muitos mestres, embora cumprindo a sua missão de ensinar, continuam, também, sendo eternos aprendizes. Pensam como aquele antigo filósofo grego que disse: - Apenas sei que nada sei! 
                                             Reconhecem estes mestres – continuou o deputado - que a vida é um eterno aprendizado e que tudo aquilo que venham algum dia a conhecer será, sempre, apenas uma gota no vasto oceano do que existe para ser conhecido.
                                           Por outro lado, existem os bons e os maus mestres. Não apenas no sentido de que uns possam transmitir seus ensinamentos melhor do que outros; mas, porque, se existem mestres que ensinam apenas virtudes, existem aqueles que ensinam virtudes e vícios e também os que ensinam apenas vícios. 
                                        A evolução, de uma maneira geral, ocorre dialeticamente. É necessária a existência do contraditório para que se chegue à verdade ou o mais próximo possível dela. A tese e a antítese são as duas vertentes que possibilitam a síntese, que é um passo adiante de ambas; ou seja, um estágio superior de evolução. 
                                   Esta é a razão de existirem vícios e virtudes no “equipamento de sobrevivência” com que nós, os seres humanos, fomos dotados previamente, pelo Criador, para sobrevivermos em um meio inóspito como o da Natureza do nosso planeta.
                                                  O Criador, por sua vez, não estabeleceu nenhuma discriminação entre as suas criaturas; se olharmos com uma perspectiva de múltiplas encarnações ou de múltiplos retornos. Sob esta ótica, todos os espíritos têm, portanto, as mesmas chances de evolução, sem a premência do tempo. Ora nascendo como homens, ora renascendo como mulheres; ora vindo saudáveis, ora retornando enfermos; ora surgindo belos, ora apresentando-se feios; ora vivendo ricos, ora existindo como pobres, etc. 
                                                    Desta forma, as mesmas oportunidades serão concedidas a todos, em épocas e lugares diferentes, para que extraiam destas múltiplas existências os ensinamentos que lhes permitirão seguir evoluindo continuamente.  Não devemos desperdiçar as nossas existências e as experiências que estas nos proporcionam, aproveitando-as, ao máximo, em busca do nosso progresso espiritual. Com estas últimas palavras, o mestre e deputado finalizou a sua explanação.
                                             O assessor, que já havia sido inoculado pelo vírus do marxismo na faculdade onde estudava, meditando no que o deputado havia dito, pensou consigo mesmo:
                                              - “Se existem, realmente, múltiplas encarnações, eu posso muito bem deixar para a próxima o aprendizado que pretendia obter nesta. Considerando a perspectiva da imortalidade da alma e a infinitude do tempo, uma existência a mais ou a menos não fará a menor diferença para a evolução do meu espírito! Nesta eu posso aproveitar ao máximo o ‘toma lá dá cá’, que vejo sendo realizado diariamente nesta casa pelos políticos da base governista. Vou procurar um deputado de esquerda para assessorá-lo, pois terei com ele muito mais oportunidades de ganhar algum dinheiro do que seguindo este meu deputado que é totalmente honesto”.
                                              Assim, tão logo o expediente da Câmara terminou naquele dia, o assessor, sorrateiramente, apanhou as suas coisas pessoais e deixou, para sempre e sem mesmo olhar para trás, o gabinete que por tanto tempo dividira com aquele deputado honesto, tomando o rumo do restaurante da câmara onde ouvia o som de música e vozes femininas das integrantes das várias mídias que apoiavam o governo de esquerda no poder. Ali no restaurante acabou conhecendo um deputado de esquerda que, após uma noitada regada a uísque e garotas, lhe prometeu uma vaga em sua assessoria parlamentar, desde que devolvesse metade do salário que ganharia como assessor.
                                                         Anos depois aquele deputado honesto veio a tornar-se Presidente da República com mais de 57 milhões de votos. O jovem assessor, tendo conseguido mais tarde atingir seus objetivos e entrar para um partido político de esquerda, foi eleito vereador em um município próximo da capital. Pouco depois elegeu-se deputado e, hoje, responde a diversos processos por malversação de verbas públicas, tráfico de divisas, sonegação de impostos e formação de quadrilha.
                                                     - “O antigo assessor, hoje deputado, só não foi preso, ainda, enquanto redijo este documento, em razão de uma imunidade parlamentar alegada nos autos por seus advogados, pagos todos com recursos públicos” – afirmava o escriba da câmara em sua biografia sobre a vida do ex deputado honesto eleito presidente, biografia esta extraviada durante tantos anos na biblioteca da Câmara, segundo está mencionado no resumo psicografado pelo médium meu amigo. 
                                                 O médium não entrou em detalhes sobre como via o período de governo do ‘Mito’ como presidente; mas, considerando a sua capacidade de vidência, o fato de ser eleitor de Jair Bolsonaro e o largo sorriso com que terminou a confidência que me fez, acredito que soubesse de ‘algunas cositas mas’ que, no entanto, resolvera saborear sozinho...


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro fundador da Academia Brasileira de Defesa – ABD e membro titular do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

363. Meditação

             

Jober Rocha*



                                 Ouvindo, à noite, a música Meditation from Thais, do compositor Jules Massenet (que considero como das mais belas já produzidas em todas as épocas), veio-me à mente uma grande preocupação com o nosso futuro como povo e como nação.
                                                Terminada a música, fiquei meditando sobre as consequências trágicas que certamente poderão advir da pandemia que nos assolou e dos reflexos danosos da crise política, institucional e econômica pela qual estamos passando.
                                                   A epidemia, por si só, já seria um grande problema, dado a inexistência de vacina contra o vírus e a sua grande capacidade de contágio. A crise política, institucional e econômica, por sua vez, já seria um problema de dimensões colossais. Infelizmente, juntaram-se os dois problemas. Ainda mais, surgiu uma agravante que foi o tratamento político dado por parlamentares, governadores e prefeitos, a esta doença perigosa que já havia feito milhares de vítimas pelo mundo a fora.
                                                  Declarações confusas sem base em estudos sérios, estatísticas equivocadas ou fraudadas, medidas restritivas impostas ao comércio, à indústria e a circulação de pessoas foram colocadas em prática por autoridades municipais e estaduais, contrariando a vontade do presidente da república e apoiadas por parlamentares da câmara e do senado, além de diversos ministros do STF. 
                                                   Um deles proibiu o presidente Bolsonaro de derrubar decisões de governadores e prefeitos, bem como de suspender o isolamento social (quarentena) imposto por estes em seus Estados e Municípios. Prisões têm sido realizadas, em algumas cidades e capitais, de pessoas que desobedecem ao toque de recolher diuturno.

                                                     Para muitos ficou bastante claro a intensão de agravar a crise na Saúde com o agravamento da situação econômica e social, contabilizando prejuízos a imagem do presidente Jair Bolsonaro com vistas ao seu impeachment.
                                               Cerca de 600 mil pequenas empresas já fecharam suas portas em virtude destas medidas restritivas impostas pelos governadores e prefeitos. Aproximadamente nove milhões de empregados foram demitidos, segundo levantamento do SEBRAE.
                                               A falta de informação é generalizada, principalmente em razão da grande mídia haver perdido a credibilidade. Os governos estaduais não têm, até o momento, ajudado aos contribuintes com a redução de impostos (ICMS, IPVA, IPTU, etc.), dilação de prazos, perdão de dívidas, redução de mordomias de autoridades, programas de distribuição de alimentos, renda mínima, etc.
                                                     Segundo o SEBRAE, dez milhões de empresas pararam de operar, sendo dois milhões por decisão própria e oito milhões por determinação dos governos estaduais.
                                                       Milhares destas empresas jamais voltarão a operar da forma como operavam anteriormente. As vendas em muitas delas deverão ser feitas, daqui para a frente, pela internet, com redução de custos e com forte nível de desemprego, que deverá passar a ser estrutural em virtude da redução da atividade econômica.

                                                    De uma previsão inicial de crescimento de 2,17% para este ano, passou-se a uma previsão de recessão. O próprio FMI prevê uma recessão mundial neste ano. 
                                                   A taxa de câmbio foi fortemente alterada, com o real despencando frente ao dólar, tanto em razão da incerteza quanto a redução do comércio internacional. Com uma economia dependente da circulação de bens, moedas e pessoas, a determinação dos governadores de oposição ao governo federal fez com que a economia parasse, em uma atitude reconhecidamente política com a finalidade de desestabilizar seu governo através de uma grande crise econômica.
                                                          Esta grande crise deverá atingir o país mais para o final do ano, com estados falidos, desabastecimento e desemprego. Poderão ocorrer saques, principalmente sob a liderança dos presidiários libertados por nossas autoridades judiciárias sob a falsa alegação de humanidade para evitar que se contaminassem. Bastava proibir as visitas, pois os presos já se encontravam confinados. Suas libertações os levará para as periferias congestionadas onde, aí sim, terão oportunidade de se contaminar e de contaminar parentes e familiares. Nosso país foi o único que abriu as portas das prisões para os criminosos condenados, em um ato de extrema irresponsabilidade. Tais prisioneiros jamais voltarão para suas celas, mesmo após cessado o perigo de contaminação, mas não cessarão de delinquir.
                                                         Neste interregno, a China se aproveitou para adquirir empresas brasileiras e tentar renegociar os preços de commodities, forçando as suas baixas sob a alegação de que romperia os contratos e deixaria de importar produtos brasileiros. As principais commodities brasileiras são a soja, a cana-de-açúcar, o café, o minério de ferro, a carne bovina, o cacau, o alumínio e algumas outras.
                                                     A Força Tarefa norte-americana que segue em direção à costa da Venezuela com o objetivo específico de prender o ditador Maduro (teoricamente por seu envolvimento na indústria do narcotráfico, como ocorreu com o ex presidente do Panamá, Noriega), tem causado apreensão em muitas autoridades brasileiras. Na eventual prisão do ditador e seu interrogatório nos USA, poderão surgir os nomes dos principais financiadores do narcotráfico em nosso país, cujos nomes podem ser fornecidos à Interpol e suas extradições solicitadas ao governo brasileiro para serem julgados nos USA.
                                                    O fato é que, embora exista uma crise interna pelo poder, o destino do Brasil será decidido fora do Brasil, como até então tem sido. Se Trump for reeleito presidente, a esquerda deverá ser banida não só do país, mas de todo o continente. 
                                                 China, Rússia e Iram, que têm anunciado a pretensão de defender o presidente Maduro contra sua deposição e prisão) ademais da distância que os separam do continente sul americano, não possuem, conjuntamente, poderio bélico para enfrentar os USA e seus aliados em uma guerra convencional e muito menos em uma descartável (por significar perdas inadmissíveis para todos os seus participantes) guerra atômica. 
                                                    O próprio grande trunfo da China, seu enorme exército, é praticamente inútil em uma guerra travada a milhares de milhas do território chinês. A logística para estes três países se mostraria impraticável, frente a logística norte-americana. O bloqueio naval do Atlântico Sul cortaria a remessa de alimentos e de matérias primas vitais para a China
                                                 A aliança de Trump e Bolsonaro, atualmente existente, após a reeleição do primeiro nos USA, selará o destino da cleptocracia que nos governa desde várias décadas. Ela sabe disto e por isso tem pressa em virar o jogo, tirando Jair Bolsonaro do poder o mais rápido possível e implantando um governante de esquerda.
                                                    A própria situação da China no contexto mundial irá, certamente, se modificar depois deste trágico episódio. Além das ações sendo movidas contra o governo chinês por um escritório de advocacia dos USA (sob a alegação de contaminação criminosa pelo vírus) e pela Índia, outros países poderão aderir a iniciativa. 
                                               Parecem existir provas concretas de que houve, ao menos, irresponsabilidade das autoridades chinesas em não divulgarem imediatamente a presença do vírus em seu território, permitindo que ele se espalhasse pelo mundo antes que as autoridades mundiais de saúde tomassem conhecimento da sua propagação na China. Por outro lado muitos países e cidadãos, ao redor do mundo, deverão, a partir de agora, boicotar produtos chineses (até mesmo pelo receio de que contenham corona vírus), ademais de haver uma sensível redução do turismo mundial para a China.
                                                   Diversos países deverão, além de impedir a venda de suas indústrias para a china, repatriar suas indústrias já instaladas na China (o presidente Trump já ordenou que as empresas norte-americanas retornassem aos USA), enquanto, em virtude do boicote aos produtos chineses novas industrias deverão surgir fora da China, produzindo os produtos chineses boicotados. O governo japonês destinou 2,2 bilhões de dólares para ajudar as empresas japonesas a deixarem a China e se relocarem em outros países.
                                                       O fato é que a China atual, em que pese sua milenar sabedoria Confuciana, por querer morder mais do que conseguiria mastigar, desta vez pisou na bola e atraiu a ira de grande parte da humanidade.
                                                         Minha meditação me levou a concluir que após este dilúvio, a humanidade fatalmente irá se modificar. Valores tradicionais cairão por terra dando lugar a novos valores. Hegemonias serão perdidas. Novos costumes e procedimentos irão surgir, tanto na vida social quanto nas relações de trabalho. Alguns esotéricos afirmam que o próprio planeta, como um organismo vivo, está respondendo aos seres humanos pela destruição que estes têm causado ao planeta, ao longo dos séculos e mais intensamente na atualidade, com a poluição das águas, do ar e com a extinção da fauna e da flora.
                                                 Penso que se todas as criaturas são obras de Deus para uma finalidade específica, pois nada no universo foi criado sem sentido ou sem finalidade, o Corona vírus veio para fazer, apenas, aquilo para o que foi previamente programado...


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro Fundador da Academia Brasileira de Defesa - ABD e membro titular do Centro Brasileiro de estudos estratégicos – CEBRES.

terça-feira, 7 de abril de 2020

362. Um breve ensaio sobre a Saciedade


Jober Rocha*



                                Saciedade é o vocábulo que tenta descrever a sensação ocorrida nos seres humanos no intervalo de tempo compreendido entre o fato de eles acabarem de se satisfazer de alguma necessidade física e voltarem a sentir, novamente, a sua necessidade. 
                                                  A Saciação, por sua vez, refere-se ao tempo decorrido entre o ser humano começar a usufruir do que quer que seja e o fato de sentir-se saciado com aquilo que está usufruindo.
                                                        Um estudo aprofundado sobre a Saciedade, teria, evidentemente, implicações de ordem biológica, psicológica, sociológica, antropológica e econômica, para ficarmos apenas nessas poucas ciências.
                                                      A saciedade, como imagino, vigora para as necessidades de natureza física, mas não vigora para os desejos de natureza emocional, psicológica e intelectiva, que dependem de fatores subjetivos, culturais e da própria idiossincrasia comportamental de cada um. Como os desejos não físicos se passam no plano mental, emocional e psicológico, aparentemente não podem ser saciados.
                                                    Como possíveis exemplos de alguns destes últimos, menciono as vontades de amar e de odiar; de poder e de riqueza; de adquirir conhecimentos; de ensinar e de fazer o bem. 
                                                     Ninguém, que esteja dominado pela emoção, se julga saciado a ponto de achar que já amou ou odiou o suficiente algo ou alguém; ninguém psicologicamente ambicioso e egoísta, considera que já possui níveis de poder e de riqueza que lhe bastam; ninguém, intelectualmente curioso e amante do conhecimento, julga que já adquiriu o conhecimento que precisava e que pode parar de aprender a partir de então; ninguém que possua um caráter filantrópico e caridoso, além de vocação para o magistério se considera farto de fazer o bem ou de ensinar aquilo que sabe. 
                                                  Os mecanismos fisiológicos que existem regulando à saciedade biológica, que extingue uma necessidade vital, não existem para comandar as saciedades emocionais, psicológicas e intelectivas dos desejos. Talvez os únicos mecanismos que possam conduzir à saciedade destes desejos mentais, emocionais e psicológicos sejam a maturidade e a evolução espiritual que os tornem desnecessários; porém, se tratam de fatores de difícil consecução, entendimento e mensuração.
                                               Vê-se, pois, que alguns desejos não podem ser saciados, mesmo que realizados frequentemente e tais desejos, insaciáveis, possuem a característica de acompanhar seus portadores até as próprias sepulturas; desde, é claro, que estes não evoluam espiritualmente e amadureçam mentalmente, passando a considerar como algo sem importância a vontade continua e intensa que tinham de realiza-los.
                                                Inicialmente, com respeito à saciedade de necessidades físicas, os compêndios de Medicina nos ensinam que, biologicamente, quando a quantidade de glicose no sangue cai abaixo de determinado nível, começa a sensação de fome e quando a glicose sanguínea está acima deste nível, tem início da sensação de saciedade biológica ou física.
                                                  Esse processo biológico chamado de saciedade, também, é causado por vários estímulos. Um deles é a distensão da parede gástrica motivada pelo armazenamento, no estomago, do alimento ingerido. O tempo de permanência do alimento ali depende, principalmente, da sua composição e não apenas da quantidade. Quanto mais gordura estiver contida no alimento, maior o tempo necessário para o esvaziamento gástrico.
                                                    Por outro lado, quando o alimento passa do estômago para o intestino, um sinal químico de saciedade é produzido, pois o intestino libera um hormônio para o sangue, a colecistocinina, em resposta à presença das proteínas e das gorduras contidas no alimento que chega.  
                                                 Estes sinais de fome e de saciedade vão todos para o hipotálamo, estrutura cerebral que analisa as condições corporais e gera as respostas apropriadas. O hipotálamo é um centro de processamento de informações que recebe os vários tipos de sinalizações como, por exemplo, a concentração de nutrientes (entre estes os níveis de glicose no sangue) ou o grau de distensão do estômago. 
                                             Em síntese esta é a forma pela qual o corpo humano trata biologicamente as situações representadas pela fome e pela sua saciedade. 
                                                            Algo semelhante passaria, ainda biologicamente, com a sensação de sede. Quando a concentração osmótica do sangue sobe e este se torna mais concentrado, é disparado um alerta de que o corpo precisa de mais água, provocando a sensação de sede.
                                               Quando o indivíduo começa a beber água, esta leva um certo tempo para ser absorvida pelo sistema digestivo e levada até os tecidos carentes. Só depois que isto ocorre é que o organismo se sente verdadeiramente hidratado e pode comunicar o fato ao cérebro. Todavia, o corpo necessita frear a sede antes que ele todo se reidrate, para evitar excesso de ingestão de líquidos.
                                                      Segundo a ciência entende, o circuito da sede no cérebro funcionaria como uma rodovia de duas mãos. Essa estrada passa pela região cerebral chamada ‘lamina terminalis’ e por outra região chamada ‘núcleo pré-óptico medial’.  Quando o corpo detecta falta d’água, os neurônios vão se excitando um a um (como luzes de freio de carros, no trânsito, que vão se iluminando uma atrás da outra) e essa excitação se ramifica pelo cérebro espalhando esses sinais e criando a sensação generalizada de sede.
                                                  Na pista da rodovia em sentido contrário, localiza-se um tipo diferente de neurônio, que também trabalha em sequência, só que inibindo os seus vizinhos ao invés de excitá-los. Essa sequência é ativada pelo simples ato de o indivíduo beber um único gole d’água. A simples sensação física de beber algo líquido já ativa os neurônios anti-sede, reduzindo-a.
                                                    Saciedades quanto a eliminação de dejetos líquidos e sólidos individuais, também são regidas por mecanismos biológicos; todavia, não entraremos em detalhes sobre tais processos para não nos alongarmos desnecessariamente.

                                                  Biologicamente a capacidade de se sentir saciado fisicamente varia entre os indivíduos. Alguns se saciam com pouco e outros necessitam de muito para se sentirem saciados, seja lá do que for.
                                            As saciedades emotiva e psicológica, conforme dito anteriormente, não ocorrem entre nós seres humanos, principalmente, por dependerem da maturidade e da evolução espiritual e em razão de estarem ligadas, na minha opinião, a questão da busca da felicidade, cuja definição pode ser a de um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos, que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou o júbilo. 
                                                 Tais estados, se na definição teórica de felicidade são duráveis, na prática quotidiana são efêmeros ou momentâneos e se passam no plano mental e das emoções, razão pela qual não permitem que deles atinjamos qualquer forma de saciedade.
                                              Devido a inconstância dos seres humanos, atingido um desejo que proporcione felicidade, logo em seguida ele será substituído por outro, tornando o ser humano infeliz novamente por não o ter, ainda realizado. Portanto, momentos de felicidade alternam-se a momentos de infelicidade, fazendo com que aquela não seja durável no tempo e, portanto, não atinja um nível de saciedade nos seres humanos comuns que a procuram.
                                               A felicidade teria, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior e poderia ser abordada pela ótica da filosofia, das religiões e da psicologia. Discorreremos um pouco sobre cada uma delas, antes de tentar chegar onde desejamos. 
                                               É fato pacificamente aceito que, desde os primórdios dos tempos, a almejada felicidade tem sido buscada pelo homem. Filósofos, pensadores e religiosos sempre se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena.
                                           O primeiro filósofo a tratar da felicidade foi Zoroastro (VII A.C.) na Pérsia, atual Irã, ao afirmar que no final dos tempos o bem venceria sobre o mal. O bem incluía a beleza, a justiça, a saúde e a felicidade. Quase na mesma época, na China, Lao Tse afirmava que a felicidade poderia ser obtida tendo como modelo a Natureza. Outro filósofo chinês, Confúcio (também da mesma época) afirmava que a felicidade poderia ser atingida mediante o disciplinamento das relações sociais.
                                               Três séculos depois, o filósofo grego Aristóteles (IV A.C.) associou a felicidade à virtude, pois a vida virtuosa seria uma vida feliz. A felicidade consistia, pois, em uma atividade da alma. Assim, um homem feliz seria um homem virtuoso.
                                                          Outros filósofos gregos também discorreram sobre o tema, como Epicuro (Epicurismo) e Pirro de Elis (Ceticismo). A escola grega conhecida como Estoicismo, criada por Zenão, afirmava que a felicidade seria alcançada através da tranquilidade e que esta poderia ser atingida pelo autocontrole e pela aceitação do destino.
                                                Mais recentemente Jean Jacques Rousseau, filósofo francês, afirmava que o ser humano foi originalmente feliz, mas que a civilização havia destruído este estado de felicidade. Para retomá-lo, a educação humana deveria conduzir o homem à sua simplicidade original.
                                                    Auguste Comte, com sua Escola Positivista, nomeou a Ciência e a Razão como os elementos fundamentais para se atingir a felicidade.
                                                               Relativamente à abordagem Religiosa da felicidade, para o Budismo, doutrina surgida na Índia e criada por Sidarta Gautama (VI A.CC.), a felicidade suprema seria atingida, apenas, pela superação dos desejos do EGO. A felicidade consistiria, assim, na ausência ou libertação do sofrimento. Esse apelo humano ao atendimento dos desejos do ego é que conduziria ao sofrimento e impediria os seres humanos de encontrarem a felicidade plena.
                                                     Para o Cristianismo, religião sobre Jesus Cristo surgida a partir do Concilio de Nicéia em 325 D.C., o amor seria o elemento fundamental da harmonia, necessária para o estado de felicidade. Alguns pensadores cristãos afirmavam que a felicidade era a visão da essência de Deus.
                                                   No Islamismo, religião fundada por Maomé, a caridade e a esperança em uma vida após a morte seriam os elementos fundamentais da felicidade.
                                                     No que se refere a abordagem religiosa, que prega uma vida virtuosa e livre de desejos, constata-se ser extremamente difícil, se não quase impossível, viver em um mundo concorrencial regido pelo consumo de bens materiais (consumo este que move a economia e que gera empregos e renda às populações) e pela economia capitalista de mercado (onde as ‘regras do jogo’ em muitos países do mundo são, quase sempre, desumanas e imorais, quando não ilícitas) não desejando consumir ou não sendo obrigado, com frequência, a comportamentos viciosos ou ilegais. 
                                                        O dilema enfrentado pelos seres humanos nestas condições (teoria versus prática) leva-os, muitas vezes, a estados angustiantes de conflito, que conduzem à depressão e ao stress. Muitos recorrem ao uso de drogas e de medicamentos, para poderem continuar convivendo em sociedade. Tais indivíduos, com certeza, não são felizes.
                                         Com respeito à abordagem psicológica, o psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), considerado como o criador da psicanálise, defendia que todo ser humano é movido pela busca da felicidade, através daquilo que ele denominou de Princípio do Prazer. Esta busca, entretanto, seria fadada ao fracasso, devido à impossibilidade de o mundo real satisfazer a todos os nossos desejos. A isto, Freud deu o nome de "Princípio da Realidade". Segundo Freud, o máximo a que poderíamos aspirar seria uma felicidade parcial. A psicologia positiva - que dá maior ênfase ao estudo da sanidade mental e não às patologias - relaciona a felicidade com emoções e atividades positivas. A conclusão de Freud, por si só, evidencia a impossibilidade de atingirmos a saciedade dos desejos e, quando muito, atingiríamos uma saciedade parcial.
                                                   Com relação à abordagem psicológica, ainda, constata-se que a Mídia moderna enfatiza (em sua ânsia para expandir o consumo, o Capitalismo e a Economia de Mercado) o uso de conhecimentos sobre a psicologia humana, vinculados ao desejo de ter poder, de possuir beleza física e saúde, de alcançar status social, etc., oferecendo produtos e serviços que, supostamente, permitiriam alcançar aqueles objetivos. Evidentemente, estabelecida esta ‘cultura’ quem não participa dela por razões econômicas sente-se infeliz.
                                          A abordagem social vincula a felicidade do indivíduo à posse de emprego, de moradia, de alimentação suficiente, de segurança, de saúde, de laser, de diversão, etc. 
                                                       Relativamente à abordagem social, ainda, é patente que aqueles moradores da periferia, em áreas carentes, sem infraestrutura de saúde, saneamento, transporte, segurança, habitação, etc. não possuem motivos para considerarem-se felizes.
                                                        Ideologicamente, alguns pensadores vinculam a felicidade a aspectos tais como pertencer ou não a determinadas classes sociais, viver ou não em determinados sistemas econômicos, etc. O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes, como elemento fundamental para se atingir a felicidade humana. Adam Smith (1723-1790) achava que a iniciativa privada e a livre concorrência, eram a base para a riqueza das nações e a felicidade de seus habitantes.  J. M. Keynes (1883-1946) propunha uma política intervencionista do Estado, através de medidas fiscais e monetárias, para reduzir os efeitos dos Ciclos Econômicos que, em épocas de depressão, deixavam as populações empobrecidas e infelizes.
                                                        Constatamos, assim, que a felicidade depende de fatores internos e externos ao indivíduo. Muitos são felizes na total carência e na adversidade, dependendo apenas de como encarem a Metafísica da vida e da morte. Outros tantos são infelizes na total abundância e na ventura, em razão de suas convicções Metafísicas relativas, também, a vida e a morte. Vê-se, portanto, que a saciedade relativa aos desejos depende, apenas, do fato de o indivíduo não os desejar. Para tanto, seriam necessárias uma elevada maturidade e uma acentuada evolução espiritual.
                                                      Aqueles seres mais preocupados com o fato de ter (materialistas), normalmente, são mais infelizes que os preocupados com o fato de ser (espiritualistas), já que os primeiros sentem mais as perdas materiais que os segundos. Contraditoriamente, aqueles indivíduos mais ignorantes (mais pobres de espírito, menos esclarecidos ou mais inocentes), que tendem a contentar-se com o pouco que sabem por desconhecerem quase tudo, são incapazes de uma avaliação do contexto geral da vida e, neste particular, se consideram relativamente felizes em suas existências de pouco saber.
                                                         Concluindo, a condição de Saciedade é algo que pode ser alcançada apenas biologicamente; posto que está vinculada a necessidades orgânicas dos seres humanos e a biologia da Natureza, desde o surgimento do homem na superfície do planeta, já providenciou mecanismos que permitam atingi-la. 
                                        Já com os desejos, que não representam necessidades humanas, por se tratarem de condições não fundamentais para a manutenção da vida, estando afetos a fatores psicológicos, emocionais e intelectivos, a saciedade não ocorre normalmente, pois para que tal se desse seria necessário a abolição destes próprios desejos pelo indivíduo. 
                                          A saciedade, neste caso, poderia ocorrer, porém, apenas, em algumas pessoas mais evoluídas e poderia ser entendida como a condição em que, reconhecida pelo indivíduo a não necessidade do desejo em virtude do seu amadurecimento intelectual ou da sua evolução espiritual, este não voltaria a sentir novamente a necessidade daquele desejo.
                                         Como já mencionado anteriormente, a saciedade dos desejos ocorre com frequência entre pessoas religiosas, pouco ligadas nas coisas materiais e profundamente espiritualizadas.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro fundador da Academia Brasileira de Defesa – ABD e membro Titular do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.