terça-feira, 28 de agosto de 2018

245. Inês ainda não é morta! *


Jober Rocha**


                                         A História mundial está cheia de episódios em que, lutando contra todas as adversidades e obstáculos que se lhes apresentavam, determinadas pessoas seguiram em frente, sem desanimar e sem se acovardar. Algumas obtiveram a vitória como prêmio, puderam usufruir dela e receberam o reconhecimento de seus contemporâneos; outras, foram derrotadas e perderam as suas vidas; mas, posteriormente, conquistaram o título de heróis e, para sempre, serão venerados e lembrados pelos seus companheiros. 
                                                   No entanto, inúmeras vitórias dos primeiros e muitas das derrotas dos segundos, não foram justas e nem meritórias; tudo depende, sempre, em qual dos lados estavam pelejando os representantes do bem e da justiça, os únicos a fazerem jus ao título de heróis, segundo a minha maneira de ver. 
                                                 Digo isto, porque, também, os criminosos, muitas vezes, obtêm vitórias, usufruem delas e são reconhecidos pelo resto da quadrilha; da mesma forma que alguns destes, depois de mortos, continuam sendo reverenciados por suas facções criminosas.
                                                    Os recentes acontecimentos da guerra civil urbana que assola, na atualidade, a cidade e o Estado do Rio de Janeiro tem, constantemente, evidenciado episódios de confronto em que tombam combatentes de ambos os lados da contenda. De uma parte os representantes da lei e da ordem, eufemisticamente chamados, pela esquerda, de guarda pretoriana das elites capitalistas (quando combatem a eles e aos criminosos comuns, por eles protegidos e treinados como potenciais membros de um eventual Exército Revolucionário, a ajuda-los na tomada e na manutenção do poder para a implantação do chamado narco-socialismo bolivariano), da outra os criminosos  e suas diversas facções que possuem total liberdade de ação em muitos territórios já dominados nas periferias urbanas e em várias outras regiões do interior do Estado (e, pelos esquerdistas, chamados, também eufemisticamente, de pobres e inocentes vítimas de um sistema capitalista selvagem, cruel e injusto).
                                                       Desde os tempos de Leônidas (540 a.C- 480 a.C) com os seus 300 guerreiros espartanos, que ficaram para proteger a retirada do exército grego, bloqueando e impedindo o imenso exército persa, chefiado por Xerxes, de entrar na Grécia através do Desfiladeiro das Termópilas, homens corajosos se dispuseram a dar as suas vidas pela independência e sobrevivência de seus países. 
                                                  No caso mencionado dos espartanos, todos eles morreram naquela batalha que a História preservou com o nome do desfiladeiro. Este episódio tem servido como exemplo do poder que um exército patriótico pode exercer, defendendo o solo pátrio, com apenas um pequeno grupo de combatentes portadores de honra e de fidelidade.
                                                     Em nosso próprio país, ao longo de edificantes exemplos no passado, possuímos diversos casos de abnegação, de coragem e de patriotismo, dos quais destacarei, apenas, o do tenente Antônio João Ribeiro (1823-1864); embora a Segunda Grande Guerra e as missões de paz das quais participamos, a seguir, como também a ação diária de policiais estaduais e federais, estejam repletas de episódios do mais puro heroísmo e de enormes sacrifícios pessoais por parte de nossos militares, policiais e, também, de nossos civis.
                                                            O tenente Antônio João Ribeiro (1823-1864), que mencionei, era comandante militar de Dourados, na então província de Mato Grosso. Em 1864, a frente de quinze companheiros, liderou a defesa da província ante a invasão dos militares paraguaios, em número muito superior, no episódio da nossa História conhecido como Guerra da Tríplice Aliança.
                                                       Antes de morrer, enviou ao seu chefe militar a seguinte mensagem, que se tornou célebre: “Sei que morro, mas meu sangue e o dos meus companheiros servirão de protesto solene contra a invasão do solo da minha pátria”.
                                               Um monumento na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, em sua homenagem, relembra para a posteridade o histórico fato, em reconhecimento à sua bravura e a de seus subordinados.
                                                        O lado contrário, àquele que subverte a ordem, as leis, a moral e os bons costumes, também possui os seus mártires, que, no entanto, não podem ser chamados de heróis; posto que, lutavam por seus interesses particulares e mesquinhos (ou pelos proveitos de seus bandos e quadrilhas, que vivem em função do mal) e não pelos interesses da coletividade, que vive em função bem.
                                                        Alguém poderá argumentar: de qual lado está o bem e de qual está o mal? 
                                                      Quanto a genealogia do bem e do mal, ficarei ao lado do filósofo Immanuel Kant   em sua obra ‘Crítica da Razão Prática’, quando afirma que a religião (cuja principal preocupação gira em torno do bem e do mal ou das virtudes e dos vícios) não pode ser baseada na ciência nem na teologia, mas, sim, na moral. 
                                                          Na obra do filosofo, encontramos os seguintes pensamentos: 

                                                   “Temos de encontrar uma ética universal e necessária; princípios ‘a priori’ de moral, tão absolutos e certos quanto a Matemática. Temos de mostrar que a razão pura pode ser prática; isto é, pode, por si só, determinar à vontade, independentemente de qualquer coisa empírica; que o senso moral é inato e não derivado de experiência. O imperativo moral de que precisamos, como base da religião, deve ser um imperativo absoluto, categórico”.
                                               “A mais impressionante realidade em toda a nossa experiência é, precisamente, o nosso senso moral, nosso sentimento inevitável, diante da tentação, de que isto ou aquilo está errado. Podemos ceder; mas, apesar disto, o sentimento lá está”.
                                            “E uma boa ação é boa não porque traz bons resultados, ou porque é sabia, mas porque é feita em obediência a esse senso íntimo do dever, essa lei moral que não vem de nossa experiência pessoal, mas legisla imperiosamente e ‘a priori’ para todo o nosso comportamento, passado, presente e futuro”.

                                                             Portanto, caros amigos leitores, sempre existira, em qualquer contenda, dois (ou até mais) lados. Entretanto, o lado correto é aquele em que os contendores não lutam por seus interesses mesquinhos, egoístas e ilegais; mas, sim, pelos interesses honestos, altruistas e legais, presentes e futuros, de toda uma coletividade.                                                      
                                                           Esse senso ‘ a priori’ de que nossa atitude é errada, quando ela realmente é, está sempre presente em nosso íntimo; embora muitos indivíduos não sigam o que diz a sua voz interior.
                                                     Todos sabemos, por exemplo, em qualquer lugar do planeta e em qualquer época ou ocasião, que furtar algo que não nos pertença é errado; que não devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que os outros nos fizessem; que maltratar, agredir ou abandonar pessoas vulneráveis são coisas erradas; embora todos os dias nos deparemos com tais ocorrências sendo praticadas em todos os quatro cantos do planeta.
                                                      Tais acontecimentos podem ser bem justificados por profissionais do Direito e da Retórica; mas, mesmo absolvidos os seus protagonistas pelas leis humanas, eles mesmos, no íntimo, sabem que procederam de forma errada, em razão deste sentimento interno do dever, que está presente em todos os seres humanos conforme bem menciona Kant.
                                                  Os psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e neurologistas, poderão identificar e estudar patologias mentais que impeçam estas percepções mencionadas, mas, elas serão sempre exceções para justificar a regra.
                                                      A razão disto tudo, que até aqui foi dito por mim, é para reafirmar que o nosso país está vivendo uma situação, que tende a se acirrar; na qual o bem e o mal travam um combate mortal que já produziu milhares de vítimas e que ainda produzirá muitas mais. O bem é representado por aqueles que pensam, honestamente, no todo; isto é, no bem-estar da população brasileira. O mal é representado por aqueles que só pensam em si, em seus grupos, em seus partidos; em suma, em seus interesses mesquinhos de poder e de riqueza.
                                               Esse combate está sendo travado, diuturnamente, entre os agentes da lei e da ordem e os narcotraficantes, nas periferias pobres das cidades, e, também, entre os promotores de justiça, procuradores da república, juízes, e os chamados ‘criminosos de colarinho branco’, nas grandes cidades e na capital federal.
                                                     Todavia, o aparelhamento político-ideológico promovido nas últimas duas décadas, nos três poderes da república, tem dificultado a ação dos verdadeiros agentes da lei e da ordem, que pensam apenas na coletividade, cujo trabalho, muitas vezes é sabotado, desqualificado, desacreditado ou, simplesmente, destruído por aqueles que só pensam em si mesmo e nos interesses de seus grupos ideológicos, venais ou ambas as coisas ao mesmo tempo.
                                                         O próximo governo que teremos, a partir de 2019, irá, sem dúvida, definir para que lado a balança irá pender: se para o lado do bem ou do mal. Não teremos, certamente, outra oportunidade de reverter um quadro que se apresenta caótico e catastrófico, a exemplo do grande país vizinho, a Venezuela, que enveredou pelo mesmo caminho que alguns ideólogos, nacionais e internacionais, pretendem para o nosso país.
                                               A pergunta que faço, finalizando este texto, é se continuaremos a ter exemplos, como aqueles dados pelos patriotas que tivemos no passado, para legar às nossas gerações futuras como uma demonstração de que, felizmente, “Inês ainda não é morta” *; pois continua viva no coração dos brasileiros que amam este país e que por ele, se preciso for, darão as suas próprias existências.

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_*/ "Inês é morta" é uma expressão da língua portuguesa que significa "não adianta mais". Hoje em dia a frase é usada para expressar a inutilidade de certas ações. Muitas vezes esta expressão completa é "Agora é tarde, Inês é morta", o que indica que é tarde demais para tomar alguma atitude a respeito de algo.



_**/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018




244. Andando entre ruínas às vésperas das eleições de outubro



Jober Rocha*



                                         A história humana já viu, e ainda verá por muito tempo, surgir alguns seres predestinados a antever (ou a prever) o futuro, tanto de pessoas quanto de reinos, de impérios e de países.
                                                      Desde os mais remotos tempos os indivíduos têm buscado orientação sobre as suas vidas, nos oráculos, nas profetizas, em videntes e nos adivinhos.
                                                      O oráculo consistia na resposta dada por uma divindade a uma questão pessoal, através de artes divinatórias. Com o passar do tempo o termo também passou a designar o intermediário humano consultado, que transmitia a resposta da divindade e, até mesmo, o local que era considerado como solo sagrado previamente preparado para tal prática.
                                                      Tais oráculos só podiam ser dados por certas divindades, em determinados lugares, por pessoas determinadas e respeitando-se rigorosamente os rituais. Além disto, interpretar as respostas da divindade, que se exprimia de diversas maneiras, exigia uma iniciação daquele a transmitir as respostas.
                                                     Alguns deuses se expressavam por intermédio das entranhas e pelo fígado das vítimas sacrificadas (humanas ou animais); outros através de cascalhos, búzios e ossadas. Alguns através dos sonhos futuros daqueles que os consultavam.
                                                        A profetisa, por sua vez, era aquela mulher que falava em lugar do Deus e era escolhida entre as mais velhas da região. Ela se exprimia em versos ou, ao menos, se exprimiu assim por longo tempo, conforme alguns historiadores nos relatam.
                                                      Da mesma forma se expressavam os videntes, sendo um de seus maiores expoentes o francês Michel de Nostradamus (1503-1566), reconhecido por suas acertadas previsões e cuja principal obra foi ‘As Centúrias’, quadras em versos métricos decassílabos reunidas em grupo de cem.
                                                    Por sua vez, um grande poeta português chamado Antero de Quental (1842-1891), segundo a minha opinião pessoal, ademais de poeta era outro que também possuía o privilégio da vidência (ou a maldição desta, segundo alguns curiosos, cujos futuros previstos se apresentavam terríveis, assim consideravam o dom daqueles que o possuíam). Em versos feitos no século XIX, Quental já previa situações que ocorreriam em nosso país e no Continente Sul Americano no século XXI.
                                                  Em seu belíssimo poema denominado ‘Tentanda Via’ (em uma tradução descompromissada: 'O caminho deve ser tentado') o escritor retrata, com extrema fidelidade, segundo a minha particular interpretação, a situação do Brasil atual e de sua gente, após quase duas décadas de governos de esquerda (2003 à 2018) que deixaram o país arrasado e em ruínas, vendido e entregue a sanha estrangeira, com empresas falidas e o povo desempregado; em razão da má administração, dos desmandos, do aparelhamento do Estado por políticos e seus partidos objetivando a implantação do chamado Socialismo Bolivariano, do nepotismo, das sinecuras, dos apadrinhamentos e do desvio de recursos públicos para partidos políticos e para contas particulares de políticos, executivos, empresários, etc. Menciona, também, o poeta, segundo minha interpretação, fatos recentes vividos por todo o Continente Sul Americano.
                                                    Após a passagem destes governos de esquerda mencionados, o saldo deixado em nosso país foi de 13,7 milhões de pessoas desempregadas (13,1%); um déficit orçamentário da ordem de 200 bilhões de reais; 341,6 mil empresas tiveram suas atividades encerradas nos últimos anos, sendo que destas 13,8 mil eram indústrias; a desnacionalização de setores como a geração e a distribuição de energia, a agroindústria, a aviação comercial; as telecomunicações, etc, etc, etc.
                                                   O coordenador da Operação Lava a Jato (ação policial e do Ministério Público brasileiro que desbaratou um esquema bilionário de corrupção no país envolvendo políticos, empresários e servidores públicos), procurador da república Deltan Dallagnol, declarou que cerca de 200 bilhões de reais são desviados anualmente dos cofres do governo pelas quadrilhas que agem nos poderes da república.
                                                     Assim, a cada verso do poema de Antero de Quental, podemos fazer alusão à episódios da vida nacional e do continente, desde o início dos anos 2000. Aqueles que acompanharam a vida brasileira e possuem boa memória poderão fazer as analogias necessárias.
                                                       Entre um verso e outro procurei, eu mesmo, entre parênteses, da mesma forma como fazem aqueles que tentam interpretar os versos de Nostradamus, buscar uma alusão de Quental à acontecimentos brasileiros passados e presentes, bem como aos desejos e esperanças futuras do nosso povo, ainda não concretizadas; mas que, de alguma forma, se relacionassem com os belíssimos versos escritos. No vigésimo quarteto, cujo título deste meu presente texto a ele alude, fiz questão de escrever os versos em letras maiúsculas para dar-lhes maior destaque, por me afigurar como sendo um dos mais belos sonetos já escritos em língua portuguesa.
                                                    Que os leitores acompanhem os versos do poeta e vejam se tenho ou não razão sobre aquilo que afirmo:



Tentanda Via
 
                                                                           Antero de Quental

 (I)

Com que passo tremente se caminha
Em busca dos destinos encobertos!
Como se estão volvendo olhos incertos!
Como esta geração marcha sozinha!


(Alude a marcha da nova geração brasileira tentando se livrar do mesmo destino trágico da Venezuela, que, tendo adotado o socialismo bolivariano, está com sua economia falida, com o povo à mingua, passando fome e fugindo para países vizinhos, dentre os quais o Brasil)



(II)

Fechado, em volta, o céu! O mar, escuro!
A noite é longa! O dia, duvidoso!
Vai o giro dos céus, vem vagaroso...
Vem longe ainda a praia do futuro...


(Em razão do aparelhamento do Estado brasileiro pela esquerda, segundo o autor, a possibilidade de nos livrarmos do mesmo destino do grande país vizinho, a Venezuela, ainda, é um sonho distante)



(III)

É a grande incerteza, que se estende
Sobre os destinos dum porvir, que é treva...
É o escuro terror de quem nos leva...
O futuro horrível que das almas pende!

 
(Comenta, ainda, sobre a história recente do país e da própria América do Sul, com organizações como o Foro de São Paulo, URSAL e UNASUL, cujas estratégias visam a implantação do bolivarianismo em todo o continente, com todas as suas mazelas e sequelas)



(IV)

A tristeza do tempo! O espectro mudo
Que pela mão conduz... não sei aonde!
– Quanto pode sorrir, tudo se esconde...
Quanto pode pungir, mostra-se tudo.


(Menciona o papel dúbio da Mídia, subserviente às verbas públicas de propaganda, que ora censura ou impede a divulgação das más notícias contra os políticos venais, governantes e suas falcatruas, ora divulga notícias inverídicas sobre possíveis candidatos honestos e de ficha limpa da oposição)



(V)

Não é a grande luta, braço a braço,
No chão da Pátria, à clara luz da História...
Nem o gladio de César, nem a glória...
É um misto de pavor e de cansaço!


(Fala do sentimento niilista e de desânimo que contagia o povo, ao constatar que os protestos em praça pública, as críticas ao descalabro e a má gestão, nada disso vale ante autoridades comprometidas com este aparelhamento do Estado, que não ouvem os anseios populares e que fazem o que bem querem, passando, inclusive, por cima das leis impunemente)


(VI)

Não é a luta dos trezentos bravos,
Que o solo, amado, beijam quando caem...
Crentes que traz um Deus, e à guerra saem,
Por não dormir no leito dos escravos...


(Volta ao mesmo assunto, tratando da luta inglória e da ação ineficaz dos milhares de agentes da lei e da ordem, caídos pela pátria em defesa do povo e das instituições democráticas e cujas ações são, frequentemente, combatidas pela Mídia de Esquerda, que apoia os criminosos a quem denominam, eufemisticamente, de pobres vítimas do Sistema Econômico Capitalista)



(VII)

É a luta sem glória! É ser vencido
Por uma oculta, súbita fraqueza!
Um desalento, uma íntima tristeza
Que à morte leva... sem se ter vivido!


(Fala sobre a ação da polícia, do Ministério Público e das demais autoridades patrióticas e honestas que, com frequência, desalentados, veem todo o seu trabalho ruir face a decisões esdrúxulas de magistrados, muitas vezes, indicados para seus altos cargos pelos próprios réus que julgam)



(VIII)


Não há aí pelejar... não há combate...
Nem há já glória no ficar prostrado –
São os tristes suspiros do Passado
Que se erguem desse chão, por toda a parte...

 
(Volta a mencionar a lembrança popular sobre o período em que o país esteve submetido ao Movimento Militar de 1964 e a falta de ação atual dos próprios militares, ao conviverem com tantos e tamanhos descalabros que levaram o país à ruína)



(IX)

É a saudade, que nos rói e mina
E gasta, como à pedra a gota d'água...
Depois, a compaixão, a íntima mágoa
De olhar essa tristíssima ruína...

 
(É a continuação da ideia contida no verso anterior, onde o povo recorda com saudade os tempos do crescimento econômico, da abundância de empregos, das altas taxas de crescimento econômico, comparando-o com o legado de crise e desemprego dos governos de esquerda)



(X)

Tristíssimas ruínas! Entristece
E causa dó olhá-las – a vontade
Amolece nas águas da piedade,
E, em meio do lutar, treme e falece.


(Menciona sobre o papel dos intervencionistas, que clamam sem sucesso pelo retorno dos militares ao poder, após toda esta destruição da economia e das instituições democráticas promovida pelos sucessivos governos de esquerda)



(XI)

Cada pedra, que cai dos muros lassos
Do trêmulo castelo do passado,
Deixa um peito partido, arruinado,
E um coração aberto em dois pedaços!

 
(Fala sobre o esfacelamento das instituições democráticas, do ensino, dos transportes, da segurança pública, das posições de destaque que já tivemos em vários setores econômicos e que perdemos, após a devastadora passagem dos governos de esquerda)



(XII)

A estrada da vida anda alastrada
De folhas secas e mirradas flores...
Eu não vejo que os céus sejam maiores,
Mas a alma... essa é que eu vejo mais minguada!


(Menciona que, ademais dos prejuízos de ordem material e moral impingidos ao nosso país e a nossa gente pelos governos de esquerda, preocupa-o o ânimo do nosso povo em procurar mudar o quadro atual. Nota um certo desânimo popular, motivado pelo descrédito no patriotismo e na honestidade de nossas elites e autoridades) 



(XIII)

Ah! Via dolorosa é esta via!
Onde uma Lei terrível nos domina!
Onde é força marchar pela neblina...
Quem só tem olhos para a luz do dial

 
(Trata aqui da ditadura do judiciário, que, muitas vezes passa por cima do legislativo, e no qual a lei, em determinadas ocasiões, é aplicada de forma distinta, segundo aqueles que a julgam e segundo os réus que são julgados)



(XIV)

Irmãos! Irmãos! Amemo-nos! É a hora...
É de noite que os tristes se procuram,
E paz e união entre si juram...
Irmãos! Irmãos! Amemo-nos agora!


(Protesta contra a técnica gramscista adotada pelos governos de esquerda, de dividir a população em negros e brancos, pobres e ricos, homo e heterossexuais, nordestinos e sulistas, católicos e protestantes, visando desunir e criar falsos antagonismos para, com isso, promover a luta de classes e poder implantar mais facilmente o socialismo bolivariano em meio ao caos reinante. Pede que nos unamos todos em busca de um destino comum)



(XV)

E vós, que andais a dores mais afeitos,
Que mais sabeis à Via do Calvário
Os desvios do giro solitário,
E tendes, de sofrer, largos os peitos;


(Fala sobre os cristãos e demais religiosos, muitos desanimados ao verem alguns dos sacerdotes da suas religiões apresentarem posições ideológicas comunistas ou socialistas, sobre o título eufemístico de Teologia da Libertação (ou outro qualquer nome que lhe atribuam), e incentivarem, liderarem e até mesmo participarem de movimentos campesinos de invasão a propriedades rurais produtivas e a consequente destruição maldosa de instalações, equipamentos, culturas permanentes e temporárias, além do abate de animais de criação)



(XVI)

Vós, que ledes na noite... vós, profetas...
Que sois os loucos... porque andais na frente...
Que sabeis o segredo da fremente
Palavra que dá fé – ó vós, poetas!


(Conclama todos os escritores e intelectuais, patriotas, honestos e preocupados com os destinos do nosso país a se manifestarem, sem medo, buscando esclarecer o povo e favorecer mudanças no atual quadro deplorável de falência moral e econômica pelo qual passamos)



(XVII)

Estendei vossas almas, como mantos
Sobre a cabeça deles... e do peito
Fazei-lhes um degrau, onde com jeito
Possam subir a ver os astros santos...

 
(Continuando o pensamento anterior, o poeta pede que os intelectuais ajudem o povo a entender as opções que se apresentam para as próximas eleições: a continuação do 'status quo', com a eleição de um candidato de esquerda, do atual quadro de miséria, desemprego, censura, obscurantismo, desvio de recursos públicos, descumprimento das leis, leniência com o crime, etc. ou a mudança radical de tudo isto, com a eleição de um candidato liberal progressista e anticomunista)



(XVIII)

Levai-os vós à pátria misteriosa,
Os que perdidos vão com passo incerto!
Sede vós a coluna de deserto!
Mostrai-lhes vós a Via dolorosa!


(Conclama, ainda, os escritores e intelectuais não contaminados pela ideologia de esquerda, a alertarem o povo para a Via dolorosa por que passa o povo venezuelano e que deverá ser a mesma por que iremos trilhar no futuro, caso persistam governos de esquerda em nosso país)



(XIX)

Sim! Que é preciso caminhar avante!
Andar! Passar por cima dos soluços!
Como quem numa mina vai de bruços
Olhar apenas uma luz distante!


(Incentiva a todos a seguirem confiantes, a deixarem de lado o passado com suas ideologias espúrias e ultrapassadas, em busca de uma nova solução para nossos graves problemas econômicos, políticos e sociais, que teremos de enfrentar a partir do próximo governo)



(XX)

É PRECISO PASSAR SOBRE RUÍNAS,
COMO QUEM VAI PISANDO UM CHÃO DE FLORES!
OUVIR AS MALDIÇÕES, AIS E CLAMORES,
COMO QUEM OUVE MÚSICAS DIVINAS!


(Neste belo verso, o poeta diz que não devemos renunciar ao nosso destino de potência, que embora tendo sido reduzidos a uma deplorável situação por governos venais e incompetentes, a esperança de um futuro promissor ainda brilha no coração dos brasileiros. Não devemos dar ouvidos àqueles que são contra a ordem e o progresso e que apostam no quanto pior melhor, buscando implantar ideologias avessas ao nosso passado e a nossa índole)



(XXI)

Beber, em taça turbida, o veneno,
Sem contrair o lábio palpitante!
Atravessar os círculos do Dante,
E trazer desse inferno o olhar sereno!


(Diz que tendo sofrido o que sofremos nos últimos governos, devemos ter o bom senso de fazer uma boa escolha nas próximas eleições, elegendo um candidato liberal, pró desenvolvimento, aliado às potências capitalistas que deram certo e não às comunistas, empobrecidas por anos de engodo e de escravidão de suas populações)



(XXII)

Ter um manto da casta luz das crenças,
Para cobrir as trevas da miséria!
Ter a vara, o condão da fada aérea,
Que em ouro torne estas areias densas!

 
(Conclama o povo a seguir acreditando em um poder supremo, atemporal, que ilumine nosso novo presidente e sua equipe, deixando de lado os tradicionais e conhecidos políticos venais e identificados com ideologias ateístas, totalitárias e de partido único)



(XXIII)

É, quando, sem temor e sem saudade,
Puderdes, dentre o pó dessa ruína,
Erguei o olhar à cúpula divina,
Havereis de então ver a nova claridade!


(Conclama o povo a votar naquele candidato identificado com os valores tradicionais de nossa gente, candidato este que irá superar nossas dificuldades presentes e proporcionar um futuro melhor ao país, à sua economia, à sua gente e às suas instituições democráticas)



(XXIV)

Havereis de então ver ao descerrar do escuro,
Bem como o cumprimento de um agouro,
Abrir-se, como grandes portas de ouro,
As imensas auroras do Futuro!

 
(Finalizando, o poeta afirma, com sua visão premonitória, que do resultado destas próximas eleições brasileiras estarão selados, para sempre, os destinos do nosso país. Acredita ele que, sob a orientação do novo presidente e da sua competente equipe, nosso futuro será promissor, deixando para trás, de uma vez por todas, a desfaçatez, a mentira, a venalidade e o mau agouro que sempre caracterizaram o nosso ambiente político)


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

243. Os Papéis da Teologia e do Ateísmo na raiz da Criminalidade Brasileira

 Jober Rocha*


                                Não é minha pretensão, neste pequeno texto, elaborar uma tese sobre as razões que levam, em nosso país, inúmeras pessoas oriundas das classes sociais A, B, C e D a delinquir.
                                               Pretendo, apenas, como alguém do povo, raciocinar um pouco sobre tema que pode ser tão complicado quanto tão simples, dependendo da dimensão e do enfoque que se lhe queira dar; bem como, dos interesses envolvidos em tentar resolvê-lo ou não.
                                                   O assunto, com certeza, tem sido explorado de maneira séria por pensadores religiosos, cientistas sociais, filósofos, psicólogos e juristas, desejosos de entender os processos cognitivos que conduzem os seres humanos a burlarem com frequência as leis ou a delas nem sequer fazerem caso. Tem, também, sido explorado por ideólogos, por políticos e por religiosos de esquerda; como também, por comerciantes da justiça e da polícia e por uma multidão de inocentes úteis, que sempre costumam seguir os passos e dar ouvidos a estas cinco categorias anteriormente mencionadas.
                                                   Creio que os dois pontos de vista fundamentais, a serem abordados nestas considerações, são, em primeiro lugar, aqueles referentes a ideia do mal convivendo junto com a divindade (isto é, à Teodicéia, um ramo da Teologia, cujo nome foi atribuído ao filósofo e matemático Leibnitz, no século XVII) e proposto pelo filósofo grego Epicuro (341 a.C - 271 a.C) nos seguintes termos: Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é que Ele não os impede?
                                                    O segundo ponto de vista é o do Ateísmo, que consiste na doutrina ou atitude de espírito que nega, categoricamente, a existência de Deus, asseverando a inconsistência de qualquer saber ou sentimento direta ou indiretamente religioso, seja aquele calcado na fé ou na revelação, seja o que se propõe alcançar a divindade em uma perspectiva racional ou argumentativa.
                                                       Assim, estaríamos frente a duas situações hipotéticas distintas: os criminosos de todas as classes sociais agiriam da forma como agem ou por que Deus não existe, e neste caso vigoraria a lei maior do salve-se quem puder, ou, se Ele existe, agiriam da maneira como agem por que Ele não impede que as pessoas violem as leis ou, até mesmo, as coloca em situações tais que as impele a violá-las em determinadas ocasiões (quando, por exemplo, vivendo em miséria extrema e com fome e sede, roubam comida e bebida). 
                                                     Estas seriam, pois, em tese, as duas situações que influenciariam o comportamento dos criminosos no que se relaciona à violação das leis: ou Deus não existe e os homens se comportam como animais que buscam, apenas, satisfazer seus instintos básicos; ou Deus existe, mas não se importa com as criaturas que criou, deixando-as ao chamado “Deus dará”; só que, neste caso, nada dando...
                                                    Iniciaremos pensando um pouco sob a ótica do Ateísmo, dominante naqueles que concorrem para a consecução de crimes, pois almejam esta situação com vistas a acirrá-la, e que é aquela forma utilizada pelos ideólogos, políticos e religiosos de esquerda interessados na convulsão social, para, assim, poderem implantar as suas ideias tortas de justiça e de paz social. 
                                                  Estes tendem a fazer uso das teorias marxistas e gramscistas, já conhecidas por muitos leitores. Segundo estes, seria justamente atuando junto às forças vivas da nação, como a Mídia, o Ministério Público, os Três Poderes da República, o Sistema de Ensino, a família, as Forças Armadas, o Sistema Econômico e as Igrejas, de forma dissimulada e sub-reptícia, através do suborno e da ação revolucionária, que eles visariam a tomada do poder e a implantação de sua ideologia marxista pela ‘denominada’ via pacífica proposta por Antônio Gramsci, ideólogo Italiano.
                                                    Neste quanto pior melhor, os criminosos de todas as classes sociais, agindo livremente e mesmo incentivados, possuiriam um importante papel na desestruturação das instituições, seja pela desintegração moral, pela ação deletéria, perversa e tendenciosa, intimidando às populações e impondo um clima de terror nas cidades e nos campos. 
                                                    Tais criminosos, notadamente aqueles ligados ao narcotráfico e a política, seriam um embrião do futuro exército popular revolucionário armado, a combater as remanescentes forças da lei e da ordem e a parcela da população anticomunista, que se oporiam à implantação de um Estado Totalitário no país. 
                                                Quanto aos criminosos, em si mesmo, creio que a grande maioria professa algum tipo de crença ou religião, embora não a pratiquem com frequência, conforme pesquisa efetuada em comunidades periféricas carentes do Estado do Rio de Janeiro, onde se encontram pessoas das classes C e D. O mesmo, todavia, deve se passar entre os criminosos oriundos das classes A e B, por possuírem estes maior noção de como as coisas se passam no submundo do poder. A violação das leis humanas, para eles, não é algo que lhes acarrete maiores preocupações de ordem Metafísica; pois, como sempre ocorreu com os povos violentos da antiguidade, politeístas, desde que o indivíduo fizesse suas oferendas para aplacar a eventual ira dos deuses lares e das divindades locais, estes não se preocupariam em prejudica-lo em suas atividades quotidianas, fossem elas legais ou ilegais. Os deuses locais tratavam das colheitas, das chuvas, dos animais, dos rios, das matas, etc. Não estavam preocupados com a violação das leis humanas, desde que os sacrifícios e oferendas fossem realizados, ritualisticamente, por seus seguidores. Estas leis e códigos, eventualmente existentes, eram problemas humanos, segundo as crenças dominantes na antiguidade.
                                              A legalidade ou não de suas ações tratavam-se de considerações estabelecidas, e acordadas ou não, entre os seres humanos; nada tendo a ver com as divindades. Isto que vigorava na antiguidade, estou certo de que ainda vigora, na atualidade, entre a maioria dos violadores das leis em nosso país.
                                                   A continuação, mencionaremos os mercadores da justiça e da polícia, que tanto podem ser ateus como religiosos. Estes, ao fazerem do combate ao crime as suas profissões, acabaram sendo contaminados pelo agressivo vírus dos lucros fáceis do crime e tornaram-se também criminosos. São os casos, por exemplo, daqueles profissionais da justiça que vendem sentenças e alvarás de soltura, casos estes frequentemente noticiados pela imprensa e que, quando descobertos e comprovados, conduzem os envolvidos, simplesmente, muitas vezes, a uma prematura aposentadoria bem remunerada. 
                                                        Da mesma forma aí se incluem as prisões e solturas de criminosos, por parte de profissionais das policiais que, muitas vezes, enriquecem através da chamada ‘Mineira’; isto é, toda vez que prendem algum criminoso importante na hierarquia do crime tornam a soltá-lo, mediante o pagamento de um resgate, para, no futuro, tornarem a prendê-lo de novo se a oportunidade se apresentar e voltar a repetir tudo novamente. 
                                                    Estes, caso professem alguma religião, possuem o mesmo mecanismo psicológico-metafísico, que separa bem as atividades ilegais, que praticam, dos chamados pecados religiosos. Eles estariam, apenas, segundo imaginam, sendo mais espertos do que os seus colegas de profissão que não procedem da mesma forma. As leis, segundo pensam, foram feitas por seres humanos, para serem violadas por seres humanos. Muitos separam até uma parte daquilo que ganharam ilicitamente para oferecer aos deuses e às divindades nos quais acreditam. Isto vale, também para os servidores públicos dos três poderes da república que se deixam corromper em concorrências fraudadas; através de advocacia administrativa; de favorecimentos, de renúncia fiscal e de empréstimos subsidiados a pessoas, empresas ou grupos econômicos.
                                                      A seguir, pensaremos um pouco em termos de Teodicéia, que consiste, como já visto, em um ramo da Teologia que trata da coexistência de um Deus todo-poderoso, de infinita bondade, com o mal. O principal problema da Teodicéia é o de explicar como Deus pode ser justo, tendo em vista a realidade da dor, do sofrimento e da infelicidade por que todos passam durante suas existências. Como acreditar, filosoficamente, em um Deus bom, justo e amoroso, criador do Céu, da Terra e de todos os seres, animados e inanimados, face as injustiças e maldades presentes no dia a dia de todos os indivíduos? As vítimas dos assaltos diários, muitos deles com feridos e mortos, o que pensam sobre a proteção do Criador prometida, pelas religiões, aos bons e aos justos? Quais as considerações de ordem metafísica, se é que as têm, daqueles que delinquem?
                                                      Os filósofos judeus explicavam, no caso específico do povo judeu (monoteísta), que eles estavam sendo punidos por haverem pecado contra Deus e que Este os fazia sofrer apenas por isso. 
                                                         No cristianismo, também monoteísta, entretanto, como responder ao fato de que aqueles que seguiam os preceitos divinos, faziam suas obrigações, oravam, tinham fé, eram virtuosos e, mesmo assim, continuavam a sofrer? 
                                             A corrente apocalíptica, encontrada na Bíblia, considera que a infelicidade, a injustiça e o sofrimento são condições que vigoram enquanto as forças do mal governam temporariamente o mundo. Em breve, o Criador, interferindo sobre estas forças e destruindo-as, fará com que os pobres de espírito, os oprimidos e os carentes de justiça reinem soberanos. Aqueles que, em razão da brevidade da vida, não conseguirem alcançar esta graça na atual existência, restaria, apenas, esperar, sob a forma espiritual, pela ressurreição que ocorrerá no final dos tempos. A Última palavra será sempre a do Criador que, ao ressuscitar os mortos, proporcionará justiça a todo indivíduo, seja para recompensá-lo seja para puni-lo. 

                                           O Professor Bart D. Ehrman, em sua obra ‘Quem Jesus Foi? Quem Jesus Não Foi’?  afirma que: 
                                          “A ressurreição do corpo, foi, gradativamente, transmutada para uma mensagem de céu e inferno, na qual o julgamento aconteceria, não no final dos tempos; mas, no fim da vida das pessoas. O que importa, agora, é o mundo do sofrimento (em baixo) e o mundo de êxtase no céu (em cima). O dualismo, assim, passou a ser espacial, ao invés de temporal”. 
                                              “Acima é o lugar onde Deus habita e abaixo é o lugar onde ele, decididamente, não habita; pois, neste lugar só existe o mal. É para onde a sua alma irá para punição eterna, caso você tenha se recusado a ficar ao lado de Deus e tenha rejeitado Cristo”. 
                                           “Resumindo, com o passar do tempo, a noção apocalíptica de ressurreição do corpo foi transformada na doutrina da imortalidade da alma. O que surgiu em seu lugar foi a crença em céu e inferno, uma crença não encontrada nos ensinamentos de Jesus ou de Paulo; mas, inventada tempos depois por cristãos que se deram conta de que o Reino de Deus nunca seria implantado nesta Terra”. 
                                                 Juan Antonio Estrada, em sua obra ‘A Impossível Teodicéia - A Crise da Fé em Deus e o Problema do Mal’, após analisar a Teodicéia Filosófica, a Teodicéia Teológica, a Teodicéia Racionalista Moderna e a Antropodicéia, conclui que não existe uma justificação racional para o mal, sendo esta, tão somente, usada para validar racionalmente a fé e o compromisso impregnado de esperança a que ela dá origem.
                                                       Assim, a explicação para a existência dos crimes e violações às leis, tão comuns em nossa sociedade, perderia aquela componente metafísica da tentação ou influência demoníaca sobre as criaturas divinas; posto que, Deus (bondade e amor) e Demônio (maldade e ódio) são duas entidades mutuamente excludentes, da mesma forma como ocorre com Deus (ordem e perfeição) e com o Caos (desordem). 
                                                    Digo isto por que, conforme raciocinava Voltaire, antes de Deus não poderia existir o Caos (segundo afirmam os cientistas), pois Deus sempre existiu, por definição, e não teria sido criado pelo caos e nem convivido junto a este, pois um significa a ordem e o outro a desordem. O mesmo ocorre com os conceitos de Deus e Céu e de  Demônio e Inferno, que são apenas alegorias religiosas, já que mutuamente excludentes. Se Deus é infinito, fonte de amor e bondade, todo poderoso, eterno e está em todas as partes, não sobraria lugar em seu reino, por definição, para o Demônio, fonte de maldade, e para o Inferno, local de sofrimento eterno.
                                                   Em minha modesta maneira de ver a questão, a evolução social e material da raça humana seguiria, sempre, um processo dialético (ou como costumam dizer aqueles que militam com o Direito, o contraditório) em razão dos conflitos que surgem entre os indivíduos, comunidades, raças, nações, etc., motivados por interesses antagônicos ou divergentes (frutos, em grande parte, do egoísmo das pessoas e de condições geopolíticas e meio ambientais) e que precisariam ser solucionados. Com a evolução espiritual não seria diferente. Esta, por sua vez, também seguiria este processo dialético de evolução.
                                                       O Criador, que nunca necessitou evoluir, não teria necessidade de conter, em si, sentimentos opostos ou Maniqueístas. Tais sentimentos pertenceriam, apenas, aos seres humanos e foram instaurados, em nosso espírito pouco evoluído, ao encarnarmos, como parte do instrumental necessário para vencermos nossos conflitos interiores e exteriores (frutos todos, volto a dizer, do egoísmo e/ou das condições inóspitas e brutais do meio ambiente terrestre, das espécies animais e das raças humanas), que precisariam, também, ser solucionados em busca da nossa evolução material e espiritual. 
                                                       Se nossos espíritos fossem totalmente evoluídos (quando o Ego já teria sido fatalmente eliminado) não teríamos desejos nem conflitos a solucionar, conforme afirmava Sidarta Gautama e, portanto, não faríamos mais uso do processo dialético, nem possuiríamos mais sentimentos viciosos; posto que, seríamos portadores apenas virtudes.
                                                    As religiões ou doutrinas, que definem o Criador como uma Entidade ao mesmo tempo boa e má (presenteando e castigando); o fazem, tão somente, para inspirar medo aos rebanhos de fiéis e poderem mantê-los por perto sob o controle dos seus pastores e demais intermediários, que afirmam fazer a ponte entre a criatura e o Criador.
                                                     Mas, voltando ao assunto principal deste texto, creio que a única causa responsável pela elevada delinquência em nossa sociedade não é de ordem social, psicológica, filosófica ou metafísica, mas decorre, exclusivamente, da sensação de impunidade, presente no ar que respiramos, nas cenas que vemos, nas conversas que ouvimos, nas matérias que lemos. 
                                                        Nossos criminosos não são influenciados a seguirem as trilhas que seguem, e a persistirem nelas, pela presença ou ausência de conceitos metafísicos ou filosóficos, por problemas de ordem psicológica ou social; mas, tão somente, pela certeza da impunidade e das penas brandas (pesadas na teoria, mas brandas na prática), fazendo com que todos acreditem que o crime aqui compensa.
                                                     Estes mesmos infratores que aqui barbarizam, ao frequentarem países onde vigoram a pena de morte ou a prisão perpétua, onde a polícia é eficiente e rápida, da mesma forma como ocorre com a justiça, comportam-se legalmente e seguindo todas as regras estabelecidas, como os demais cidadãos locais. Aqui em nosso país eles agem de forma diferente, por saberem que a impunidade é a tônica. O mesmo ocorre com cidadãos de países sérios que passam a viver no nosso país. Dentro de pouco tempo, muitos deles, já estarão infringindo as leis, como muitos de nós também costumam fazer por aqui.
                                                     Mais do que nunca, precisamos de autoridades corajosas e decididas a endurecer as leis que tratam dos crimes, das contravenções e dos atos ilícitos; como também a sanear o Sistema Policial Judiciário nacional, tratando infratores e criminosos como aquilo que na realidade são; isto é, infratores e criminosos.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

sábado, 11 de agosto de 2018

242. Sobre as velhas amizades e o nosso eterno egoísmo...


Jober Rocha*



                                 Recente uma matéria que recebi pelo ‘whatsapp’, vinda de um amigo de infância, dizia o seguinte:

                                       “Talvez um dia todos nós, amigos eternos, iremos nos separar e sentiremos saudade de todas as conversas jogadas fora, dos sonhos que tivemos, da amizade que desfrutamos. Os dias irão passar e com eles os meses e os anos, até que esse contato que sempre mantivemos entre nós se torne cada vez mais raro.
                                         Uma ocasião, no futuro, nossos filhos verão aquelas velhas fotos que tiramos juntos e perguntarão: - Quem são essas pessoas? 
                                              Naquela oportunidade, com toda a certeza, a saudade irá bater em nossos corações e em nossas mentes e, com os olhos cheios de lágrimas, diremos: - São meus velhos amigos e foi com eles que vivi os melhores momentos da minha vida”!

                                                  O texto, capaz de nos emocionar na atualidade, evidentemente, buscava destacar o papel da amizade na vida das pessoas. Ocorre que implícito neste destaque, que é dado à amizade, encontra-se a figura do nosso velho egoísmo. 
                                                        Aos leitores que não entenderam aonde eu quis chegar com este meu pensamento, explico-me melhor: o que o texto deixa implícito, para aqueles que conseguem ler nas entrelinhas, é que, no futuro, os nossos olhos cheios de lágrimas não chorarão pela amizade que tínhamos pelos nossos antigos companheiros; mas, sim, pelos melhores momentos das nossas vidas, que poderiam ter ocorrido, também, na companhia de outras pessoas que não esses velhos amigos pranteados. 
                                                        Essa saudade e este resgate, que buscamos em nosso passado, dizem respeito a uma época em que ainda tínhamos sonhos, em que desconhecíamos as vicissitudes que o destino nos reservaria e na qual os nossos entes mais queridos ainda estavam todos vivos. São estas características e estas particularidades que fazem com que sintamos saudades daquela fase de nossas existências, nos emocionemos e vertamos as copiosas lágrimas mencionadas no final do texto recebido.
                                                     Quando falamos dos amigos da juventude e logo as imagens de alguns deles nos venham instantaneamente à mente, com toda a certeza, como sempre ocorreu desde que o primeiro homem pisou o solo do planeta, constatamos, em razão da distância que nos separa daquele tempo e por possuirmos, hoje, maior conhecimento sobre os seres humanos e suas idiossincrasias do que tínhamos naquela época, que aqueles velhos amigos eram, também, regidos por seus próprios interesses e por suas eventuais necessidades, sonhos e objetivos. 
                                                       Assim, não podemos afirmar com plena convicção e sem medo de errar, principalmente depois de transcorridos tantos anos, que nossos velhos e inesquecíveis amigos nunca chegaram a nos trair ou a nos enganar, quando não de fato e de forma concreta, ao menos em desejo ou em vontade; que nunca tiveram nenhum pensamento mau a nosso respeito e que sempre foram nossos amigos fiéis e incondicionais; que nunca conspiraram contra nós, principalmente quando nossos interesses mútuos conflitavam. 
                                                  Da mesma forma, esses questionamentos também podem ser feitos com relação aos nossos antigos amores que, na ocasião em que ocorreram, todos nós julgávamos únicos e eternos.
                                          Creio que foi o filósofo Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C.), em sua ‘Ética a Nicômaco’, um dos primeiros a escrever substancialmente sobre a amizade, que considerava uma virtude extremamente necessária à vida. Segundo alguns pesquisadores, os escritos de Aristóteles consistem na mais completa e bela análise que, filosoficamente, já se fez sobre o fenômeno da amizade. Pena que, naquela oportunidade, a Ciência da Psicologia ainda não tivesse sido desenvolvida e atingido o estágio atual, pois estou certo de que o filósofo teria abrilhantado, ainda mais, as suas conclusões sobre o assunto.
                                                 Embora o conhecimento e o estudo dos fenômenos de ordem psicológica já fizessem parte da Filosofia desde o tempo dos filósofos gregos, o termo Psicologia só foi encontrado, pela primeira vez, em livros filosóficos do século XVI. Foi formado pela junção de duas palavras gregas: ‘psique’ (alma) e “logos” (doutrina ou ciência); sendo a alma considerada como o princípio subjacente a todos os fenômenos da vida mental e espiritual.
                                                     Só a título de curiosidade encontramos que, no ano de 1590, Rudolf Goclenius já se referia a Psicologia como sendo a Ciência da Alma; todavia, apenas em 1879 a Psicologia separou-se da Filosofia, da qual até então fizera parte
                                                    Pode-se constatar, segundo afirmações de diversos pensadores da antiguidade, que a felicidade e o prazer sempre foram os dois grandes objetivos humanos, a nortearem as ações dos indivíduos durante as suas existências terrestres e a constituírem fonte inesgotável de ocupação do tempo e da mente dos filósofos e dos homens de Ciência, desde priscas eras.
                                                     Assim, buscando as origens das ações humanas que conduziriam à felicidade ou à infelicidade, através do campo da Ciência, o médico e psicanalista Sigmund Freud (1856-1939) estabeleceu o Princípio do Prazer (ou do egoísmo) que, traduzido em outras palavras, seria o desejo de gratificação imediata que acompanharia todos os indivíduos em suas ações. Tal desejo conduziria o ser humano a buscar o prazer e a evitar a dor, mais ou menos na mesma linha de raciocínio seguida desde a antiguidade clássica por alguns filósofos.  
                                                    O Princípio de Prazer (por Freud estabelecido), opor-se-ia ao Princípio de Realidade (também por ele formulado) que se caracterizaria pelo adiamento da gratificação do prazer. O Princípio da Realidade faria, assim, parte do amadurecimento normal do indivíduo, ao aprender a suportar a dor e adiar a gratificação do prazer. Ao fazer isso, ele passaria a reger-se menos pelo Princípio do Prazer e mais pelo Princípio da Realidade, embora, subjacente aos seus atos reinasse o prazer ou o egoísmo; isto é, o amor exagerado aos próprios interesses ou ao exclusivismo, que leva uma pessoa a se tomar como referência a tudo.
                                                          Em sua atuação clínica, segundo narram os seus biógrafos, Freud chegou à conclusão de que a mente funcionava de modo a desejar alcançar o prazer e evitar o desprazer. Assim, se por último lugar o psiquismo buscava eliminar excitações, por primeiro lugar almejava alcançar prazer. Logo, a sensação de prazer era a experiência qualitativa de uma redução de excitações dentro do psiquismo, ou seja, prazer significava descarga de excitações.
                                                       Mesmo que os meus queridos leitores possam não acreditar nisto, estou convencido de que o fator que faz com que busquemos expandir as nossas amizades, principalmente na fase da mocidade, é este malfadado Princípio do Prazer, descrito por Freud. 
                                                    O Princípio da Realidade faz com que sejamos mais seletivos com respeito à novas amizades na idade madura e, mais seletivos ainda, na idade provecta. Nossos prazeres com a maturidade são de outras naturezas (referem-se ao aprendizado e ao trabalho de um modo geral ou ao conhecimento acerca de alguma coisa específica, em particular; as viagens; ao acompanhamento da vida dos filhos, dos netos e familiares; aos prazeres da mesa e da cama, etc.). A mocidade, no entanto, nos pega totalmente desprotegidos e com a guarda aberta, seja em razão de ainda não termos conseguido refrear ou domar integralmente o nosso EGO, seja pela ânsia de conhecimentos sobre tudo o que é novo e desconhecido, seja pela falta de maturidade e de experiência de vida; assim, acabamos, em muitos casos, sendo verdadeiros escravos de determinados prazeres nesta fase da vida, sendo a obtenção e a conservação de amigos um deles. É nessa época que são desenvolvidos também os vícios, que podem vir a abreviar a nossa existência ou a desencaminhá-la, e alguns destes vícios costumam ser, na realidade, trazidos até nós pelos próprios amigos de então.
                                                       Mas, seguindo a linha de raciocínio anterior, lembro-me bem de um depoimento que ouvi de um ex - combatente da Segunda Guerra Mundial, que havia saltado de paraquedas em território francês durante o desembarque na Normandia, no Dia D. Ele fora convidado a repetir, sessenta anos depois, o salto que fizera naquele fatídico dia 06 de junho de 1944, junto com outros paraquedistas sobreviventes. Na ocasião do novo salto, ele declarou: - Venho aqui, hoje, resgatar o meu passado!
                                                       Notem que ele não disse que veio rever velhos amigos ou companheiros de juventude e de caserna, mas, apenas, resgatar o seu passado, época em que, certamente, era saudável, nada temia e tinha todo um futuro pela frente. 
                                                Ao fazê-lo, através daquele salto comemorativo, era como se tudo aquilo que vivenciou fosse revivido em sua mente, como se ele rejuvenescesse novamente através de uma mágica poção constituída pela emoção de pular de uma aeronave no vazio, suspenso, apenas, por um simples paraquedas. 
                                                   Ali, pendurado naquele paraquedas no espaço, não estava mais o ancião carcomido pela velhice, pelas enfermidades, pelas dívidas, pelas infelicidades da existência e pela proximidade da morte; mas, simplesmente, o jovem que nada temia, que acreditava no futuro e que resolvera enfrentar seus desafios, medos e temores em busca de um destino melhor e promissor.
                                                         É esse mesmo sentimento que todos nós vivenciamos ao nos reunirmos com velhos amigos de infância ou de juventude. O que buscamos, através das conversas que mantemos e das recordações que teimamos sempre em trazer à baila e reviver, nestas ocasiões, é retornarmos àqueles anos em que tudo podíamos e que o futuro somente a nós mesmos pertencia, segundo acreditávamos. Ao fazer isto, estaríamos tentando trazer de volta o passado e mantê-lo aprisionado, mesmo que por alguns minutos, enfatizando, assim, mais o Princípio do Prazer que o Princípio da Realidade, já que este jamais poderá ser comparado com aquele.
                                                        Não foram os amigos os responsáveis pelos melhores momentos de nossas vidas, embora possam ter participado deles. Como alguém já disse, em alguma ocasião, a felicidade estará, ou não, sempre dentro de nós mesmos. Não a encontraremos solitária, vagando pelas ruas a procura de alguém em quem possa se instalar e, no momento seguinte, fazer feliz. 
                                                    Não quero que pensem, contudo, que sou refratário a amizade nem aos amores. Eles nos ajudam a suportar, muitas vezes, o pesado fardo da existência humana e servem de apoio e incentivo para que nos superemos e consigamos nos realizar plenamente.
                                                Finalizando, como tudo na vida possui, no mínimo, duas interpretações, reporto-me a dois pensamentos opostos sobre a amizade:
                                               “É preciso ter sempre alguém em quem se possa confiar e falar abertamente, ao menos em um raio de dez quilômetros. Não adianta se estiver mais longe do que isso”. (Guerdjef).

                                                “Não te abras com teu amigo, que ele outro amigo tem; e o amigo do teu amigo, possui amigos também...” (Mario Quintana).


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.