414. Futuramente,
conheceremos mais e saberemos menos?
Jober Rocha*
A velha frase “Só sei que nada sei!”, atribuída ao filósofo Sócrates (470
a.C. – 399 a.C.), jamais foi tão verdadeira como nos dias atuais e como será,
também, no futuro próximo. Esta frase de Sócrates teria sido uma resposta que
deu à mensagem do Oráculo de Apolo, em Delfos, que afirmou ser ele o mais sábio
homem grego.
Quanto mais a Ciência se desenvolve e com ela a tecnologia, novos produtos
são inventados e colocados nos mercados mundiais para atender a uma população
em crescimento ávida por novidades. Da mesma forma, novos produtos, restritos,
são desenvolvidos para serem utilizados, apenas, pelas elites para as quais
foram elaborados e que, por eles, podem pagar. Assim, a cada novo dia nossos cientistas
conhecem mais sobre todos os campos da Ciência e nós, o povo, cada vez sabemos
menos sobre a verdade que nos cerca.
A empresa Microsoft, segundo notícias da mídia, registrou recentemente a
patente de uma nova tecnologia envolvendo robôs, Inteligência Artificial e os
chamados ‘chatbots’ (programas de computadores que tentam simular um ser humano
na conversação com as pessoas. O objetivo é responder às perguntas, de tal
forma que as pessoas tenham a impressão de estar conversando com outra pessoa e
não com um programa de computador). Este atual programa da Microsoft abrirá
novas portas para que nós, os seres humanos, sejamos iludidos e enganados, por
sabermos cada vez menos onde a verdade se esconde?
O mencionado programa irá permitir a construção de um robô fisicamente
idêntico a uma pessoa viva ou, até mesmo, já morta, utilizando suas
características pessoais (como voz, gestos, tiques nervosos, entonação, memória
– no caso de pessoas ainda vivas, e aspectos da vida de pessoas já falecidas, disponíveis
em fotos, cartas, fitas e discos magnéticos, filmes, etc.), vestindo-se da
mesma maneira e conversando sobre assuntos triviais, históricos, profissionais,
etc., sem que o interlocutor perceba que está dialogando com um robô.
A inteligência artificial embutida no robô possibilitará que este aprenda
com os diálogos mantidos com seus interlocutores e responda com base nos
conhecimentos que lhe foram previamente introduzidos.
Evidentemente esta nova tecnologia trará, no mínimo, consequências de
caráter moral, ético, psicológico e judicial.
Por ser idêntico a uma pessoa viva ou morta, o robô poderá substitui-la
em diversas oportunidades. Políticos poderão ter seus sósias substituindo-os em
solenidades, inaugurações, discursos públicos.
Robôs feitos à imagem e semelhança de qualquer pessoa poderão comprometer
as pessoas verdadeiras com atitudes públicas indecorosas, abusivas, violentas,
etc.
Um robô poderá cometer um crime de morte, se deixar ver por testemunhas e
fugir, comprometendo a pessoa verdadeira que de nada saberia.
Será possível organizar um complô palaciano para assassinar o presidente
da república e colocar em seu lugar um robô, que fala e age de forma idêntica a
dele.
O escritor Mark Twain (1835 – 1910) em sua obra ‘O Príncipe e o Mendigo’
anteviu algo parecido: Na Inglaterra, no
século XVI, pouco antes da morte de Henrique VIII. Tom Canty, um menino muito
pobre e cheio de imaginação, consegue entrar no palácio real para ver Edward, o
príncipe de Gales. O príncipe leva-o para seu quarto e lá eles descobrem como
são parecidos. Trocam de roupas e percebem que não há diferença entre os dois.
Edward sai do palácio como Tom e não consegue mais entrar, porque ninguém o
reconhece com as roupas de mendigo. No palácio Tom é confundido com Edward e
todos pensam que o príncipe de Gales está ficando louco, porque havia esquecido
tudo e nem reconhecia seu pai, Henrique VIII.
Com a atual tecnologia isto não ocorreria, pois o robô se lembraria de
tudo e, ademais, poderia receber instruções externas vindas de seus criadores.
A perfeição já atingida na robótica é de tal ordem que casais de robôs,
com corpos e feições humanas já executam danças, já praticam patinação no gelo
e fazem outros esportes com perfeição. O progresso, nestas áreas mencionadas,
tem caminhado exponencialmente.
Já li em algum lugar, dito por um cientista, que daqui a mais trinta ou
quarenta anos os casamentos serão quase todos realizados entre pessoas e robôs.
Chama-se Robofilia a prática de sexo com robôs.
Os robôs hoje disponíveis, já contam com tecnologia que faz com que se
assemelhem muito aos humanos: pele, cabelos, cheiro e aparência geral de quase
humanos, podendo ser customizados ao gosto do comprador (tamanho corporal, cor
da pele, dos olhos, dos cabelos, etc.).
Os robôs atuais já apresentam
sensações, movimentos e falam palavras e diálogos pré-programados. Prevê-se em
futuro próximo e notadamente com a implantação do projeto da Microsoft, que todas
as atuais limitações serão sanadas e eles serão praticamente idênticos aos
seres humanos, só que com performances melhoradas.
As leis terão que ser aperfeiçoadas, pois inúmeras situações, ainda nem imaginadas,
poderão vir a ocorrer futuramente. Por exemplo, poderá existir amor entre humanos e robôs? Poderão existir ciúmes entre humanos e robôs? São questões estas, ainda, irrespondíveis.
Todavia, o aspecto principal desta nova tecnologia, segundo penso, será o
de poder mascarar a verdade, fazendo com que não saibamos distinguir o falso do
verdadeiro. Isto já ocorre com as noticias divulgadas pela mídia. Grande parte
do que é veiculado por esta trata-se das chamadas ‘Fake News’ ou mentiras.
Criaram-se empresas para separar o joio do trigo, mas, algumas destas, por
ideologia ou por dinheiro, apresentam o trigo como sendo joio e este como sendo
trigo, criando ainda mais confusão.
Viveremos no futuro em um mundo de mentiras conhecido como Matrix, o
mundo que acreditaremos ser real para que não percebamos a verdade?
Neste caso, poderíamos viver eternamente presos a um Sistema de
Organização Política, Social e Econômica que, constantemente alimentado por
mentiras, nos sujeitariam a um modo particular de ver, de entender e de viver,
diariamente, as relações sociais em que estamos inseridos.
Viveríamos desta forma em um sistema de servidão da qual, por dela não
nos darmos conta, jamais pensaríamos em nos libertar?
São questões a serem respondidas pelas novas gerações. Se estas forem suficientemente
corajosas, menos crédulas, mais desconfiadas e mais exigentes, poderão se
libertar de elites maléficas e egoístas, que desejam implantar uma Nova Ordem
Mundial na qual apenas eles sairão ganhando e os demais perdendo. Caso
contrário, as gerações vindouras selarão para sempre seus destinos de escravos
em uma servidão consentida.
_*/ Economista e doutor
pela Universidade de Madrid, Espanha.